Foto: Carlos Gregório
Rivais fortes se fortalecem junto, entre si, se alimentam um do outro pra crescer. É assim no mundo todo porque é assim que mandam os deuses da Bola. E se numa certa cidade toda a mídia trabalha pra enaltecer um dos rivais e ferrar o outro, se ela, mídia, acha que nem maior rival mais o time dela tem, de tão superior aos outros, então os deuses da Bola intervêm e só isso explica, só na mitologia podemos achar justificativa pra tantos vexames seguidos no maior sonho deles, tantas frustrações que o especialista e seus colegas, a cada temporada, têm de esquecer pra continuar achando o clube deles o maioral, incomparável, sem rival no pedaço.
Esqueçam
todos, agora, que nos dois jogos deste Brasileirão 2018 o Vasco não perdeu para
o maior de todos os times do Rio, insuperável no estado segundo a grande mídia
esportiva. Tirem já da cabeça, apaguem da memória a realidade de que, além de
empatar em 1 a 1 os dois jogos, o Vasco, tanto no Maracanã, no turno, quanto
agora no Mané Garrincha, neste returno, jogou mais que o adversário, que por
sua bela arrancada no campeonato, em honra às vitórias iniciais que garantiram
as fanfarronices tão divertidas de sempre deles, será aqui chamado, até o fim
deste texto, de Segue O Líder. Pois limemos de vez a lembrança deste último
jogo, em Brasília, no qual o Vasco amassou o supermegahipertime adversário até
abrir o placar, com Ríos, é o que pede o especialista sabidamente torcedor do
Segue O Líder, que se equivoca logo no título, em corpo bem maior que o resto
do texto, erra em negrito pra dizer que não importa o resultado de Brasília
porque o Vasco, minha gente, esse clube que tirou quatro pontos do time dele na
caminhada (sim, ainda dá, vamos lá, na raça, torce, por dentro, o especialista...)
rumo ao título, esse Vasco safado, desgraçado, pode acabar.
A crônica
muito provavelmente já estava pronta antes do clássico do sábado retrasado, e o
especialista não diz que o Vasco pode acabar assim, textualmente. Expressa em
termos vagos aquela vontade inconfessável de ver o Vasco como, talvez, a
Portuguesa de Desportos, rebaixada todo mundo sabe como, pra salvar quem, numa
história escabrosa jogada pra debaixo do tapete, encoberta, esquecida por toda a
dita grande mídia que tem, a propósito, toda ela, guardadas honrosas exceções,
o mesmo desejo incubado do especialista, desejo este nascido entre nós, humanos, no
ano da graça de 1923, e reforçado ao longo das décadas pra explodir no dia 18
de janeiro (meu aniversário e é compulsivo, tenho de falar isso sempre,
desculpa aí) de 2001, quando o Vasco foi tetracampeão brasileiro e cantávamos
nós todos na arquibancada, rindo das carrancas de locutores e comentaristas, da
revolta dos especialistas com o giro da história, entoávamos todos
nós, vascaínos, loas a Pedro de Lara, Aracy de Almeida e Elke Maravilha.
O futuro em
13 partidas, diz o título da crônica do especialista sabidamente torcedor do
Segue O Líder, quando faltam 14 jogos para o Vasco até o fim do campeonato. Do
texto, o trecho destacado, também em negrito, atrela o primeiro campeão
continental de todos os tempos, o primeiro clube de outro continente a ser
campeão em solo europeu, vencendo o único pentacampeão mesmo, seguido, da Champions,
durante o tal pentacampeonato, contra o mesmo Di Stéfano, freguês de 48, atrela
esse clube ao verbo sobreviver. E antes, na tevê, o especialista tinha dito que
um quarto rebaixamento seria uma tragédia difícil de recuperar. Tão vago quanto
sombrio, soturno...
Então o
especialista começa a fazer aquilo que muitos como ele adoram fazer: sendo
torcedores de outros times, dizem como pensa, detalham o que sente a torcida
vascaína, e é impressionante a quantidade de gente que torce pro Vasco e,
pasmem, neles acredita. Na breve análise das passagens pela Série B do único
bicampeão sulamericano do Rio (e bi não no ano, nem no mês, mas na semana do
Centenário), o especialista não fala do golpe jurídico-midiático engendrado em
2006 e concluído em 2008, o primeirão, cobaia pra todos os outros no país e no
continente que tiveram sucesso graças à eficiência sem resistência dessa
parceria infalível, da justiça com a mídia, do Lugo no Paraguai ao impeachment
sem crime no Brasil, tocado pelo Cunha, da juíza inventando um triunvirato
entre inimigos pra implodir de vez o Vasco, só pode ser, à prisão sem provas de
um ex-presidente com base na sentença encomendada de um juizeco fascista,
compadre do desembargador encarregado da segunda instância, tudo baseado num
powerpoint de bolotas, só palavras, sem documentos, nada, só a fé do procurador
messiânico, investidor sagaz do Minha Casa Minha Vida com os bolsos cheios de
auxílio-moradia, só isso e, ah, ia esquecendo, isso e mais uma matéria do mesmo
jornal onde o especialista sorridente assina sua crônica, matéria essa em off e
também sem qualquer vestígio de prova, claro.
O
especialista não falou nada das contingências jurídico-midiático-políticas que
levaram ao primeiro rebaixamento, não citou a troca de comando imposta pela
Justiça no meio do campeonato, a queda do oitavo para o décimo sétimo lugar em
dois, três meses, nem falou do jogo sem policiamento de 2013, jogadores do
Vasco vendo parentes e amigos, mulheres, crianças e senhores de idade,
inclusive, sendo ameaçados de levar porrada de uma turba que, sem PM na área,
já tinha enquadrado os dez ou quinze seguranças de matinê de boate, ou show de
banda coreografada adolescente, e faria sabe lá o quê com a “torcida civil” do
Vasco se por lá também não estivesse a nossa própria turba, ora pois, a nossa
sempre presente (como em todos os outros clubes do planeta) “torcida militar”,
que mesmo em menor número resolveu encarar.
Pela reação
da nossa turba, pela interrupção do avanço do inimigo enfurecido, em maior
número, pela resistência dos nossos que também foi, digamos, eivada da mais
extrema violência (com a ressalva de um negão esguio, de branco, que uma hora
encara um sujeito três vezes maior que ele e troca bonito, enfia um, dois,
três, quatro socos e tapas na cara do sujeito sem ser acertado por nenhum do
outro, briga boa, de verdade, desculpa aí, contra a violência sempre, mas somos
machos, porra, e um contra o outro, sem arma, sem machucar mais ninguém, isso é
menos ruim), mas por entramos na porrada generalizada pegamos seis ou sete
jogos sem torcida ou em campo neutro, enfim, sem mando de campo e perderíamos o
direito de jogar em São Januário mesmo que nossa turma ferrabrás não reagisse,
porque contra o Corinthians, em Brasília, na mesma situação, sem polícia,
quando a “torcida militar” do Timão partiu pra cima dos “civis” vascaínos, dando
até tapa na cara de um sujeito de cabelos brancos, aí o Vasco era o mandante,
então os dois clubes perderam o mesmo número de mandos de campo, isolando ainda
mais a gente como o time que mais perdeu mandos de campo, disparado, na Justiça
Desportiva do Brasil, quiçá de todo o mundo da Bola. Ê, coincidências...
Mas nada
disso é contado, lógico, alongaria por demais a crônica na qual o especialista
resume tudo com a festa da primeira volta à elite, com taça de papel e volta
olímpica no Maraca lotado, dando exemplo de Corinthians, Atlético Mineiro e
Grêmio que fizeram o mesmo e errando de novo um pouquinho, dizendo que os três
só caíram uma vez quando o Grêmio, na verdade, caiu duas. Na segunda campanha
na Série B não havia a mesma mobilização da torcida, afirma o torcedor do Segue
O Líder, e talvez pra isso tenham ajudado os seis primeiros jogos sem torcida
ou fora do Rio, ainda que tenha sido no primeiro deles, na estreia, que a galera
cruzmaltina tenha feito história mais uma vez, se reunindo em volta do velho e
vituperado São Januário pra fazer o time ouvir seus gritos mesmo com os
tribunais impondo o estádio vazio, prática que, de tanto que o clube é punido,
tornou-se já tradição da nossa torcida, mais uma criação das mais originais, lindas,
saída desse tal Vasco da Gama.
Na campanha
de 2016 o time vinha de um bicampeonato carioca, o bi invicto. Entrou rasgando
na Série B, ganhando os cinco ou seis primeiros jogos, empatando um e ganhando
mais dois, três, quatro seguidos até que bateu o recorde de invencibilidade em
jogos oficiais da história do clube, ultrapassando em um jogo, vejam vocês, o
recorde de todos os tempos do Segue O Líder. Em clássicos, o time de 2015/2016
superou números do Expresso da Vitória, oito, nove jogos sem perder do Segue O
Líder, que era favoritíssimo, segundo a mídia, mas acabou eliminado pelo Vasco,
sem drama, no mata-mata das oitavas da Copa do Brasil de 2015, derrotado no
mesmo ano no Carioca, na Copa e no Brasileiro (duas vezes, no turno e returno),
trifeta inédita que nenhum dos dois clubes tinha, até então, entre eles, e além
disso outros tantos jogos sem perder do Fluminense, ganhando duas, três finais
seguidas do Botafogo, outro fato inédito, tudo isso conquistou o time que, em
2016, liderando com folga até depois da virada pro returno da Série B, tinha
como grande objetivo do ano, a Copa do Brasil.
E depois da
eliminação nas oitavas, contra o Santos, com São Januário lotado, pulsando, o
time vibrando, virando, inflamando até mais uma participação especial da
arbitragem da CBF, com a eliminação no grande objetivo da temporada o Vasco
desanimou e foi perdendo a liderança da Série B, depois perdeu a segunda colocação
e quase perde a terceira, só que não. Na última rodada, podendo simplesmente
não voltar à Série A se não vencesse o Ceará, o Maraca estava lotado e o Vasco
saiu perdendo no intervalo de 1 a 0, com um gol muito parecido com o da derrota
do Segue o Líder para o mesmo Vozão, no mesmo Maraca, este ano.
Houve
protestos, claro, mas predominou o apoio até porque Thales deu o ar de sua
graça, na época quase magra, fazendo os dois da virada no comecinho do segundo
tempo e aí foi o alívio, sim, mas, sobretudo, a festa, mais de 50 mil pessoas
cantando a alegria de torcer pelo time da Virada (0 a 3 pra 4 a 3, só a gente),
todo mundo pulando, o Maraca balançando, tremendo, e o especialista, na
crônica, ele que não estava na arquibancada, só viu o alívio, não viu nada da
festa, das conquistas históricas daquele ano, nada além do alívio a não ser a
mistura contraditória entre apatia e a revolta orquestrada, graças à bovinada
de vascaínos crentes que só eles na grande mídia, que naquele 2016 estava ainda
mais revoltada com o acesso do Vasco, porque aquele foi o ano do cheirinho.
Depois de sonhar com o título sem entrega-entrega do Segue O Líder, de se
esbaldar com o tal cheirinho, mantendo a prática de somar um aos títulos
brasileiros que o clube dela realmente tem, depois de prever o hepta que seria
hexa, a mídia toda viu o time dela ficar no caminho com seis, sete ou oito
rodadas de antecedência, e aí restou o sonho da Série B, de ver o Vasco não
subir, imagina, mas o Vasco acabou que subiu e o especialista torcedor do Segue
O Líder, naquela campanha, mais que qualquer gol, virada ou recorde de
invencibilidade, viu mesmo a revolta.
Na volta, no
início do Brasileiro de 2017, o mesmo especialista cravou, convicto, que o
Vasco iria brigar, e muito, pra não cair. O Vasco acabou na Libertadores, com a
mesma pontuação do Segue O Líder, que brigaria pelo título, segundo a bola de
cristal do cara, mas ficou à frente do virtual rebaixado graças ao saldo de
gols e a três toques de mão que, tivessem sido marcados ou não, poderiam dar ao
Vasco até seis pontos de vantagem sobre o megahipergrana-injetado rival:
Éverton Ribeiro cortando cruzamento de Nenê dentro da área quando o Vasco x
Segue O Líder do turno estava 0 a 0, foi a primeira das três mãos; Jô e seu
braço, garantindo a vitória do futuro campeão, foi a segunda; e a terceira mão,
providencial, foi do zagueirão do Vitória no último minuto, menos mão que a de
Éverton Ribeiro, muito menos mão que a de Jô mas esta, no tumulto da barreira do
rubro-negro baiano, esta sim, ao contrário das outras, marcada. Pois é.
Na crônica,
o especialista dá a impressão de não ter absorvido ainda, até hoje, o choque da
previsão furada. Quando fala da classificação que ninguém previa, parece se
atrapalhar um pouco numa frase longa, aliás, para os padrões jornalísticos,
longuíssima, como muitas deste texto, inclusive esta, e diz, no fim das contas,
resumindo a parte toda do meio, que até mesmo a volta à Libertadores (...)
conseguiu deixar os rebaixamentos no passado. Era o “nem” no lugar do “até” que
o especialista, quase com certeza absoluta, queria botar ali, mas a vida
corrida das redações, o tempo pra entregar a crônica, tanta coisa pra fazer
depois, a frase longa, enfim, relevemos, o cara quis dizer o contrário do que
disse e se atrapalhou um pouco porque, se por um lado está contente, sorridente
com a concretização, enfim, de suas previsões com a chegada do Vasco, mesmo com
um a jogo a menos, à zona de rebaixamento, por outro lado, mais importante pra
ele, está triste.
Depois de
ser eliminado da fase de grupos da Libertadores por três vezes seguidas, uma
delas bem mais que as outras, mas todas engraçadas, depois da La U, do Defensor
de Martin Silva e do América de Cabañas, depois de micos e mais micos o Segue O
Líder conseguiu, este ano, se classificar pras oitavas de final da principal
competição do continente, graças principalmente à grande atuação contra o
Emelec, na cidade sagrada de Guayaquil, da joia superlavajatofaturada vendida a
preço estratosférico ao poderoso Real Madri, que não atendeu aos apelos, não
ouviu os conselhos ao vivo e impressos do especialista e de quase toda a mídia
especializada, dando conta de que, mesmo tendo pago os tubos e deixado, já, o
moleque atuar mais de um ano inteiro pelo clube que recebeu a grana, o clube
espanhol teria ainda mais vantagens deixando ele mais tempo por aqui.
Vinicius Júnior
foi embora e sem ele o Segue O Líder, que já não tinha conseguido ganhar nem do
River Plate nem do Independiente Santa Fé na fase anterior, foi eliminado pelo
Cruzeiro que, basicamente, liquidou a parada no jogo da ida. O Segue O Líder
cumpriu sua sina de amarelar pateticamente num jogo decisivo de Libertadores,
aumentou sua vantagem já considerável em relação aos rivais brasileiros na
condição de clube mais vezes eliminado em fases, digamos, preliminares da
competição, pré-quartas, e a jóia superlavajatofaturdada já treinava há
semanas, quase dois meses e nada de ser relacionado para o time de cima, ainda
que o especialista tivesse cravado, segundo fonte dele lá, disse que Vinicius
Júnior não seria nem emprestado nem iria pra o time B do Real Madri, não, ia
ficar no time de cima, treinando com os craques todos porque era, sim,
considerado do elenco principal, só que ainda hoje, duas, três, talvez quatro
semanas depois dessa informação o craque em questão continua atuando só pelo
time B, e já foi dispensado da primeira rodada da Champions, nem relacionado
foi pra estreia contra a Roma, e nesta última rodada do campeonato espanhol,
neste fim de semana, quase ficou no banco, chegou a concentrar com o time todo
mas, na hora do jogo, ficou de fora, mais uma vez. Nem no banco.
Uma hora
vai, uma hora o especialista acerta e o garoto fará sua estreia, e será
brilhante não importa o que aconteça, e aí toda a mídia amiga terá acertado,
sim, em esperar pelo retorno ansiado, assim como acertaram todos mesmo que com
mais de um ano de atraso, acertaram nas previsões unânimes com a chegada do
Vasco, enfim, com dois jogos a menos, à zona de rebaixamento. O especialista
acertou também, com o mesmo atraso, e com a mesma preferência, no que se refere
ao Vasco, pelos assuntos políticos, por manter sempre viva a guerra interna que
corrói o clube por dentro desde o SBT na camisa.
E hoje
ainda, cumprindo o mesmo roteiro da primeira queda, de dez anos atrás, tentando
anular a eleição na Justiça esse mesmo grupo político das dívidas triplicadas,
do menino morto na base, dos muros caídos, em ruínas, do coco no ginásio
abandonado, das piscinas esverdeadas, de duas quedas e a terceira engatilhada,
esse mesmo grupo recebe ainda hoje o apoio de toda a mídia, na qual se inclui o especialista, triste com mais uma eliminação do Segue O Líder na
Libertadores, mais um ano de frustração depois de sonhar com a mais sonhada das
conquistas, de preferência sem juiz dessa vez, continua a sonhar o
especialista, agora para o ano que vem, sonha sem perceber, o torcedor do Segue
O Líder, que o time dele conseguiu outro título continental além daquela,
digamos, polêmica Libertadores, conseguiu a Mercosul de 1999,
no ano em que ganhamos o Rio-São Paulo, no meio do período que, com a exceção obrigatória do Expresso da Vitória, foi o
de glória maior do clube hoje, segundo ele, com a sobrevivência ameaçada, esse
tal Vasco da Gama.
Depois do
brilhareco em sua estreia na competição, com a sorte de não cruzar com
argentinos nem uruguaios, e na fase final pegando times tradicionais, sim, do
Chile, da Bolívia e da Colômbia, porém sem qualquer conquista, até hoje, fora
de seus domínios, depois de conseguir levar a taça com a ajuda primordial (sem
a qual, nada) da atuação circense de um certo José Roberto Wright, o Segue O
Líder teve ainda eliminações até certo ponto dignas, até ver o Vasco chegar e
levar a Copa Libertadores no ano do Centenário, e dois anos depois dar aquela
virada inacreditável e levar, também, a Mercosul, e duas, três semanas depois
levar o Tetra Brasileiro ao vivo na Grobo pra todo o Brasil, com o SBT na
camisa, e aí começou a guerra, o jornalismo de guerra contra o Vasco, como já
foi dito por aí, que culminou com a primeira, depois a segunda e, enfim, com a
terceira queda do clube, enquanto na outra ponta o Segue O Líder voltava a ter
participação bem mais efetiva na Libertadores.
Campeão da
Copa dos Campeões, assim o Segue O Líder voltou à Liberta no segundo ano da
guerra interna do Vasco. A Copa dos Campeões dava vaga no principal torneio do
continente, mas parou de dar depois da terceira edição, quando o Payssandu do
Pará, o glorioso Papão da Curuzu, foi campeão e fez sua história, sim, na
Libertadores, ganhando do Boca em plena Bombonera. E o Segue O Líder, como
campeão da tal Copa dos Campeões, caiu no grupo da Universidad Católica, do
Olímpia e do Once Caldas, e ficou em último, eliminado por antecipação na fase
de grupos quando dois times se classificavam. Depois vieram duas eliminações
nas oitavas e no ano da mais engraçada delas, do Cabañas, o Vasco enfim caiu.
Subiu no ano seguinte, campeão, assim como o Segue O Líder conseguiu, no
primeiro campeonato da história sem o maior rival, ser campeão depois de 17
anos de jejum, daquele jeito meio estranho deles, inédito, porque foi o
primeiro do bi brasileiro do entrega-entrega, da dupla Fla-Flu.
Em 2010 o
Segue O Líder até conseguiu passar das oitavas, ainda que jogando contra o
Corinthians, maior amarelão brasileiro nesta fase do torneio. Mas nas quartas não resistiu à La U, e dois anos depois
estava lá de novo, disputando a pré contra o Potosí e perdendo a primeira,
fora, pra ganhar no sufoco com seu técnico experiente, malandro, gritando
desesperado nos minutos finais, em casa, contra o time boliviano: acabou! Acabou!
Conseguiu a classificação pra ver o Vasco voltar à competição onze anos depois,
se classificando por antecipação na fase de grupos, passando na raça contra um
argentino nas oitavas, na Argentina, e sendo eliminado na última bola contra o
Timão, com a inevitável ajuda da arbitragem pra eles. Enquanto isso, o Segue O
Líder iniciava o tri inédito de eliminações na fase de grupos, seguidas, com a
mais engraçada de todas elas, aquela da qual até hoje a gente lembra de vez em
quando (gol do Emelec) e ri, não tem jeito.
O Segue O Líder
caiu de novo na fase de grupos em 2014, perdendo para um tal Leon do México em
pleno Maraca lotado. Em 2017, tomou aquela bolinha no último minuto, na
derradeira probabilidade ínfima de eliminação que, pra desespero de certos
comentaristas e narradores, se concretizou. E agora, neste ano, conseguiu
passar da fase de grupos, sim, conseguiu, e quando a esperança se renovava,
inclusive pro especialista, o Cruzeiro veio aqui e deitou e rolou, de novo o
Maracanã servindo de palco para uma atuação bisonha do time que confirmou ser chico,
muy chico em La Copa, como diria o resto todo do continente, campeão por acaso
uma vez, como o Argentinos Juniors ou o Once Caldas, outras duas zebras que não
tiveram, no entanto, tanta ajuda do juiz.
O Segue O
Líder ficou fora de mais uma Libertadores e o especialista, quando se diz
preocupado com a sobrevivência do Vasco, está triste, busca respostas, de como,
se até o Inter recentemente, o Galo, meu Deus, até o Galo, o Grêmio, o
Corinthians, até o Fluminense chegou à final e nunca a gente, por que, por que,
se pergunta internamente o especialista, sem cogitar a possibilidade aqui
levantada, a de tudo não passar de vingança daqueles que regem os rumos deste
esporte, a de que tudo poderia ser diferente, menos vergonhoso pra eles, se não
houvesse essa campanha velada e ao mesmo tempo, se é que é possível,
escancarada, essa vontade de 99,9% da mídia especializada de ver o Vasco fora
da jogada, Libertadores, então, nem pensar.
Rivais
fortes se fortalecem junto, entre si, se alimentam um do outro pra crescer. É
assim no mundo todo porque é assim que mandam os deuses da Bola. E se numa
certa cidade toda a mídia trabalha pra enaltecer um dos rivais e ferrar o
outro, se ela, mídia, acha que nem maior rival mais o time dela tem, de tão
superior aos outros, então os deuses da Bola intervêm e só isso explica, só na
mitologia podemos achar justificativa pra tantos vexames seguidos no maior
sonho deles, tantas frustrações que o especialista e seus colegas, a cada
temporada, têm de esquecer pra continuar achando o clube deles o maioral,
incomparável, sem rival no pedaço.
A
propósito, o Vasco ontem estreou a camisa 3, preta com a cruz vermelha no peito
e a faixa reta branca descendo da gola, em homenagem aos Camisas Negras de
1922/23/24. São Januário estava cheio, pulsando, o time não jogou muito bem e
Martin Silva salvou com três, quatro boas defesas até Pikachu, de pênalti,
abrir o placar. Gilberto empatou no fim do primeiro tempo, não comemorou, e
quando tudo se encaminhava pra mais uma noite de caos e revolta, o menino
Marrony, da base, cabeceou pra fazer 2 a 1. O Vasco saiu, ontem, da zona de
rebaixamento, ainda com um jogo a menos que todos os outros times, mas o
especialista e toda a mídia especializada com certeza sabem que o alívio é
passageiro, que o time é muito limitado e pode muito bem cair, pode até não sobreviver.