quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O Vasco, a imprensa e um blog no meio


Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Fluminense teve que assistir o filho bastardo ser maquiado e transformado em populista, pra enfrentar o time do português, do negro, do pobre, do povo, enquanto o Botafogo foi ser gauche na vida.


Antes de começar a apresentar o blog, é preciso dar um aviso. Há outro blog pairando na web como um eterno exercício, cujo endereço é o nome, igualzinho, deste. Fui eu que fiz, também, mas por alguma razão que escapa aos meus parcos conhecimentos na área, perdi a capacidade de mexer nele e fui obrigado, então, a tirar o artigo definido do endereço deste blog novo, atualizado, certinho, que agora se inicia com a pretensão de tratar desta relação tão conflituosa, com mais obsessão do que ódio recíproco, entre o Vasco e a imprensa esportiva.

Não existe a menor pretensão por aqui, é bom que se diga, de protestar contra o tratamento dispensado pela mídia especializada ao glorioso Vasco da Gama, primeiro campeão continental da história. A imagem lá embaixo, por exemplo, é de um jornal da época do documento que pode ser apontado como o mais importante da história do Vasco, quiçá de todo o futebol brasileiro, a resposta histórica contra o preconceito escancarado e o racismo ainda não tão velado, pior ainda, da aristocracia carioca nos anos vinte. O texto pode ser considerado o marco da popularização, no Brasil saído havia menos de quarenta anos de um regime escravagista, do esporte mais popular do planeta, mas no jornal ao lado saiu com uma introdução mal humorada, impaciente, começando com “só agora...”, naquele espaço de uma coluna, no canto, desprestigiado e chamado, no jargão das redações, de colunão.

O Globo ainda não existia, mas já havia a "grande mídia" e ela já torcia, como hoje, para o mesmo time, por isso não há a menor pretensão aqui de mudar algo tão arraigado neste setor tão importante para o bom funcionamento de nossa sociedade. Por isso, também, será seguida por aqui uma regra básica, na medida do possível: somente quem transitou dentro das quatro linhas do campo de jogo, ou comandou quem joga e jogava, como treinador ou na diretoria, terá seu nome exibido neste blog. Somente jogadores e juízes, talvez treinadores e, se for extremamente necessário, dirigentes. Dessa forma espero evitar que se cometam injustiças por aqui, que se nomeie um, dois, três ou quatro jornalistas como se eles, no geral, não fizessem parte de um universo de certezas pré-concebidas, de preferências definidas, do qual, se quiserem manter seus empregos, não podem sair.

A impressão assim, de fora, é de que a maioria não se incomoda nem um pouco, pelo contrário, até gosta de mostrar sempre a opinião contrária ao Vasco, seja discutindo lances polêmicos com ex-árbitros engravatados que, no campo, tanto nos prejudicaram, seja opinando contra o time até na retirada do direito histórico ao lado de sua torcida no Maracanã, conquistado no gramado, dizendo que tudo não passa de uma grande bobagem sem nem ver ainda o contrato suspeito que, supostamente, garantia a retirada, assinado por outro clube da cidade em acordo traçado com a empreiteira investigada sem qualquer informação ou comunicado ao dono do direito retirado, primeiro campeão do Maracanã com o Expresso da Vitória e o jornal ao lado falando em "vitória final" no título, sem conseguir dizer que o Vasco era campeão nem no subtítulo, onde, aliás, ressaltou "cenas lamentáveis nos últimos minutos" e algo relacionado à arbitragem. 

Não, o A pauta é Vasco não vai lutar contra essa tendência natural de nossa grande mídia, de opinar contra o nosso time. O blog acredita, tanto quanto crê nos deuses da bola, que esse comportamento único, diferenciado, da imprensa em relação ao Vasco sempre foi motor da história do clube, alimentando as conquistas igualmente únicas, diferenciadas, da camisa com a qual Pelé fez seus primeiros gols no Maracanã, aos 17 anos, e daí foi convocado pela primeira vez pra Seleção. Sem essa atenção toda especial dedicada pela mídia ao Vasco, não haveria a Libertadores na semana do aniversário do Centenário, nem virada de 0 a 3 pra 4 a 3 em final de torneio continental, com um a menos e na casa do adversário enorme em títulos, torcida, tradição, vitória que nenhum outro time no planeta tem, e isso tudo na virada não do século, mas do milênio.

Comentários tendenciosos, portanto, avais dados a erros de arbitragem contra o Vasco com inversão do ponto de vista como se o prejudicado fosse, na visão deles, beneficiado, tudo isso revolta, de fato, mas nada que justifique sair gritando por aí, gastando energia pra lutar contra algo que jamais será mudado, e que às vezes, na lei das compensações regida pelo destino, é até engraçado. O problema acontece quando os prejuízos ao clube ultrapassam as linhas do gramado, as páginas e telas da mídia especializada, e adentram nas entranhas, invadem o espaço privado, sagrado, de uma instituição centenária amada por dezenas de milhões.

A Justiça, com o apoio incondicional da dita grande mídia, já interveio uma vez no Vasco da Gama, impôs uma diretoria não eleita pelos sócios e foi um desastre, a pior administração da história do clube. Agora, tentam de novo usando os mesmos argumentos de dez anos atrás, as mesmas pessoas, e nesse caso cabe ao blog a esperança, talvez ingênua, de reduzir um pouco o número de vascaínos de verdade que ainda caem no conto dos jornalistas que primeiro são flamenguistas, ou Corinthians, a depender do estado, e depois são tricolores, santistas, botafoguenses, torcedores sinceros dos São caetanos da vida, dos Avaís, Figueirenses, do Luverdense ou do Bragantino, de qualquer time que enfrente o último deles na fila, aquele que, vindo da Zona Norte, das divisões mais baixas desde sempre afrontou a pacata burguesia e a decadente aristocracia da Zona Sul, que jamais engoliram o Vasco dos portugueses, dos negros, pobres e mulatos saído da segunda divisão e, logo no primeiro campeonato, dando que dando nos menininhos bem nascidos do Botafogo, do Flamengo e do Fluminense, revolucionando de vez, para todo o sempre, o futebol brasileiro, trazendo o povo pra dentro, abrindo as portas pra Fausto, Leônidas, Domingos da Guia, Eli, Sabará, Pelé e cia e definindo de vez o papel dos quatro grandes do Rio. Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Fluminense teve que assistir o filho bastardo ser maquiado e transformado em populista, pra enfrentar o time do português, do negro, do pobre, do povo, enquanto o Botafogo foi ser gauche na vida.

O novo ataque jurídico-midiático ao Vasco, com a imprensa atrás empurrando, esse é o motivo principal do surgimento deste blog, pra ir contra mesmo, de frente, contra essa imprensa que durante seis anos e meio fez vista grossa ao abandono gradativo, sistemático, de São Januário, à água sendo cortada, à piscina ficando esverdeada, aos rebocos caindo junto com o time, com as dívidas triplicando e um menino, até, de 14 anos, morrendo durante um treino na base, tudo no trágico período em que o clube foi administrado pela gente colocada lá pela Justiça, a mesma gente que agora tem o Ministério Público ao seu lado e o apoio amplo, total e irrestrito da mídia pra voltar.

É preciso ir contra isso, trabalhar pra desnudar esse novo conluio, novamente alicerçado em denúncias ridículas, de contos da carochinha, mas é preciso também exaltar esse tal de Vasco da Gama, e com o entusiasmo e a paixão de quem cresceu achando Catinha melhor que Garrincha, Guina melhor que Rivelino e o Orlando Lelé muito, mas muito melhor que o Leandro, e este último de fato, na lateral e na zaga. Por isso, e pra começar já com certo volume, além do que já foi escrito para o exercício que vaga por aí, no endereço que deveria ser deste blog, mais abaixo estão textos transferidos ou reproduzidos de outro blog bem pessoal, o Relatos, espécie de currículo virtual deste discreto jornalista.

Também é possível que apareçam pitacos sobre o time por aqui, talvez até em tom de desabafo contra um jogador ou outro, como Kelvin, infelizmente lesionado, mas que antes da lesão conseguiu não produzir nada de efetivo, nem gol, nem passe pra gol, nem jogada de gol, nada em seis meses com diversos comentaristas da grande mídia repetindo, iguais, que ele era "liso", que tinha dado outra vida ao Vasco ou coisa parecida e o fazendo, mais que tudo, por preguiça, porque não estavam preocupados com isso, queriam mais que o Vasco se danasse. Mas há vascaínos aos montes que assistem aos programas, que leem os jornais e acreditam, e por isso ficam nesse mal estar com o próprio time, reclamando de tudo, minimizando as conquistas. Pra ir contra isso, sempre que possível, é que o blog começa agora, com o aviso de que irá tratar de um tema apenas, de que aqui, a pauta é Vasco.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...