segunda-feira, 1 de junho de 2020

Sonho de quarentena

Foto: João Albert/Folhapress/Agif


Com os títulos, deu-se o milagre, e cem entre cem vascaínos daqueles que ainda não percebiam, perceberam como num estalo a importância do gesto de Calçada após a eleição de 1985, dando a Eurico, o adversário por ele derrotado, o cargo principal de sua gestão. Pacificação é a palavra.


Então veio o coronavírus, e os deuses da Bola, aproveitando os desígnios de seus superiores, decidiram mostrar de novo sua preferência, mas não no Carioca não terminado, depois da contaminação de vinte e oito jogadores ou integrantes de comissões técnicas, pelo menos, e da morte de um árbitro dos mais queridos, de verdade, pela mídia especializada. Sem Botafogo e Fluminense, certíssimos nessa história, o Carioca foi dado por terminado antes da final da Taça Rio entre o queridão da imprensa e o Voltaço. O Vasco deu a sorte dos jogadores que se mostraram contaminados  após os testes visando a reapresentação e acabou ficando de fora também, apesar da vontade explícita de seu presidente que deixou como legado, com mais essa atitude lamentável, a certeza de 99,8% dos sócios votantes do clube de que depois da vergonha histórica de ir a reunião como escada do colega das dez crianças mortas, queimadas, pra lamber bota do presidente de merda, frouxo, lambão e vestido, a propósito, com a camisa do vice do Liverpool, o mandatário vascaíno não podia ganhar outro mandato, quaisquer que fossem os resultados que, com a benção dos deuses da Bola, começaram a vir já no jogo de volta contra o Goiás pela Copa do Brasil, no fim de setembro, num estádio vazio bem no meio do país, que não era o Serra Dourada.

O time já não tinha Raul, negociado com o Galo mineiro, ou com o Santos, ou com o São Paulo em transação que legou ao Vasco, além da economia de quase R$ 2 milhões pela liberação do pagamento de atrasados, outros R$ 300 mil pela liberação do atleta antes do fim do contrato, dinheiro todo usado não para enfiar os alunos do Colégio Vasco da Gama em contêineres, não, jamais, mas para o pagamento de dívidas do clube com o Fisco, fornecedores e, principalmente, funcionários. O mesmo destino tiveram os R$ 14 milhões provenientes da negociação de Allan do Napoli para o Everton, os R$ 5 milhões da venda de Matheus Vital, do Corinthians para o Napoli, os R$ 900 mil da saída de Evander daquele time impronunciável da Dinamarca para o Porto e os R$ 28 milhões caídos do céu e da venda triliardária de Philippe Coutinho ao Newcastle, enquanto Paulinho assumia a titularidade do Bayer Leverkusen para, dali a um ano, render muito mais, e Douglas Luis aportava no Manchester United, agora que negócios entre clubes do mesmo país também rendem um percentual ao formador. E esse negócio, no caso, rendeu R$ 3 milhões ao Vasco, dois milhões a mais do que a venda de Danilo do Nice para o Mônaco.

Com a sorte de ter dívidas em real e receitas em euro ou dólar graças à força de sua base, formada no único colégio criado dentro de um clube nunca, em tempo algum, num contêiner, mas num prédio escolar de verdade,  com  R$ 51,2 milhões em caixa sem precisar vender joia alguma da base, sem gastar um centavo pra trazer mais ninguém além do elenco atual, o Vasco meteu três a zero no Goiás com o time todo sem salário atrasado, alinhado com três zagueiros, Breno, Castan e Ricardo, Pikachu mais solto na direita, Henrique na lateral-esquerda e no meio, Andrey, Guarin e Benitez. A dupla de ataque foi Cano e Marrony, cada um fazendo um gol no primeiro tempo. No banco, voltando de contusão, Talles Magno entrou pra fazer o terceiro por cobertura, da intermediária. Passamos pra pegar o Vitória, outro adversário historicamente encruado, em jogo único, como passou a ser jogada a Copa do Brasil em todas as fases a partir dali, jogo difícil, com Fernando Miguel fazendo grande atuação, como contra o Goiás, até sair com contusão semelhante a que o tirou do time em 2019. Jordi entrou e, como na decisão da Copa BH de 2013, contra o mesmo Vitória, pegou um pênalti para garantir a vitória magra, suada, por 1 a 0, gol de Andrey, em petardo de fora da área. 

Nas oitavas, o adversário seria outro de retrospecto desfavorável na Copa do Brasil, o Santos, algoz em 2016, roubado, e 2019, mas antes haveria o Brasileiro que, sem outro jeito, diante das circunstâncias da pandemia, teve de ser reduzido e disputado em cinco grupos regionais, um estádio só pra cada grupo com jogos únicos entre os quatro times de cada grupo, um com os quatro grandes do Rio, outro com os quatro grandes de São Paulo, no Pacaembu, outro do Sul, com Gre-Nal e Atle-Tiba, outro do Nordeste, com Bahia, Sport, Ceará e Fortaleza, e outro da meiuca, com o Galo se dando bem num grupo com Bragantino, Goiás e Atlético-GO. Os cinco campeões dos cinco grupos decidiriam o Brasileiro num pentagonal decisivo em Brasília e foram eles o Inter, o Santos, o Galo, como já dito, o Sport Recife e, graças a um golaço de Nenê de falta que decretou o empate do fluzão com o mengo da Gávea, e ao gol de cabeça de Marrony no último minuto, que também empatou a partida contra o rival das papeletas, e mais as vitórias sobre Botafogo e Flu, 2 a 1 e 3 a 0, com gols de Cano e Pikachu na primeira e Marrony, duas vezes, e Cano na segunda, o Vascão se classificou pro pentagonal final muito parecido com o de 74, nosso primeiro campeonato, isso quando a Libertadores e, principalmente, a Sulamericana, também já tinham voltado, tudo sem torcida, claro.

Na Liberta, todos os brasileiros se classificaram, o que manteve Vasco e Bahia como os únicos representantes do país na Sula, mas por pouco tempo, porque o mesmo Independiente que eliminara o Fortaleza eliminou também outro tricolor nordestino com as mesmas cores na segunda fase, enquanto o Vascão passou pela LDU, vingando nossa última eliminação no torneio contra a terceira colocada no grupo de River e São Paulo. Dois a Zero, dois de Marrony, o primeiro emendando de canhota, de bate-pronto, o cruzamento de Henrique pela esquerda, o segundo cabeceando certeiro, pro chão, o centro de Pikachu pela direita e a atuação antológica de Jordi em Montevidéu, no vazio estádio Centenário, onde foram disputadas, em cinco dias, oito das 32 partidas únicas da segunda fase. Nas oitavas regionalizadas da Liberta, só o mengão, segundo de seu grupo, atrás do Del Valle, não jogou contra brasileiro. Reencontrou o River, primeiro de seu grupo, por isso jogando em casa, em seu estádio sem torcida, e metendo quatro a zero com tal tranquilidade que mais gente, aqui e ali, passou a reparar em como Lucas Pratto não entrou lá com muita disposição na disputa fundamental com Arrascaeta, aos 43 do segundo tempo da última final, em como o zagueirão careca deles se deixou empurrar docilmente por Gabi no segundo gol, e em como aquela bola era defensável. O Santos eliminou o Palmeiras em confronto antológico, 5 a 4, o que não nos deixou de beneficiar, diga-se de passagem, porque o Santos entremeou esse confronto com as oitavas da Copa do Brasil contra o Vasco, e com um de Pikachu, de pênalti, e outro de German Cano, de voleio, veio a classificação quatro dias depois da vitória sobre a LDU, três dias depois de Palmeiras x Santos.

Com a discrição de seus tempos de jogador, Ramon ganhou o grupo do Vasco e conseguiu variar bem o time tanto tática quanto tecnicamente, passando do 3-5-2 ao 4-4-2, combinando um 5-3-2 com eventual 4-2-4 e, se preciso, o 6-3-1, variando bem o elenco que, com as cinco substituições, teve em Miranda, Bruno Gomes, Marcos Júnior, Werley, Tiago Reis e Lucas Santos bons reservas, contribuindo com gols e assistências decisivas, como a de Lucas contra o Atlético-PR nas quartas, a dominada no balão estourado dando já o toquinho por debaixo da perna de Honda e o lançamento imediato de trivela, com a bola fazendo curva e descaindo fazendo ventinho no cocuruto do zagueiro, exatamente no peito de German Cano que já tinha feito o primeiro, conferindo de cabeça o cruzamento, perfeito, de Henrique, e pro segundo deixou quicar antes de soltar a bomba. No fim, 3 a 1, o terceiro de Guarin, de fora da área, antes do gol de honra deles, no último minuto. Foi também de Lucas Santos o quarto e último gol da tranquila vitória sobre o Olimpia, nas oitavas da Sulamericana, 4 a 1, com mais dois de Cano e um de Talles Magno. No mesmo Estádio Defensores Del Chaco, três dias depois, a mais valiosa de nossas atuais joias fez sua melhor exibição no ano, três gols e o passe para o quarto, de Marrony, na vitória por 4 a 2 sobre o Deportivo Cali.

Só então, com a classificação assegurada às semifinais das duas Copas, é que começou a decisão do Brasileirão, na qual até Bruno César foi efetivo, com dois gols em dois jogos do pentagonal final, um de falta, contra o Santos, decretando a vitória por 2 a 1, o primeiro de Marrony; e o outro com um chutaço da quina da grande área, o segundo dos 3 a 1, de virada, sobre o Inter, o primeiro também de Marrony, de cabeça, e o terceiro de German Cano. O regulamento, como o de 74, previa um duelo final se dois times terminassem empatados em pontos, sem contar nem confronto direto nem saldo de gols. Por isso, com o empate com o Sport em 2 a 2, um de Marrony e outro de Cano, o Vasco chegou a última rodada com 7 pontos, a uma vitória do título que poderia ficar ainda com o adversário do jogo derradeiro, o Atlético-MG, que tinha cinco, e com o Sport, que folgava na rodada e tinha 8 pontos.

Tudo se encaminhava para a decisão contra o Sport, com o 1 a 1 que teimava, Cano abrindo o placar pra gente e alguém do Galo empatando, e o Galo de Sampaoli vindo pra cima tresloucado, Breno, Ricardo, Andrey e Castan tirando, até que Guarin, do nada, descola o lançamento e não foi Marrony nem Talles Magno quem arrancou, mas ele, Lucas Ribamar que ganhou do zagueiro no corpo, na corrida e só ele e o goleiro, cara a cara, em vez de tocar por cima, por baixo ou pelo lado, não, Ribamar pedalou e levou o goleiro na ginga, e deu mais dois, três passos até entrar com bola e tudo e, ainda assim, com humildade em gol. Vasco campeão brasileiro e das janelas a explosão ensandecida de dezenas de milhões de vascaínos. Cerca de um mês depois, veio a Copa do Brasil, a mesma explosão de alegria na semifinal contra o Inter, dois a zero, Claudio Wink de falta e, de cabeça, Pikachu. E na final contra o Grêmio, com Tiago Reis subindo de cabeça pra fazer o gol único da decisão, aos 42 do segundo tempo, dando ao Vasco, enfim, o double, Copa e Campeonato no mesmo ano, nos tirado na mão grande em 2011.

E o melhor, a maior benção deste sonho de quarentena chegaria antes da glória maior do ano, da Sula que só viria a ser decidida em fevereiro de 2021. Com 78% dos votos dos que estavam com Campello em 2017, mais 100% dos que estavam com Eurico, mais 30% dos que estavam com Horta e 1,2% dos que preferiram Brant, venceu o melhor candidato, disparado, nas eleições presidenciais do Vasco, Luis Manuel Fernandes, o melhor quadro, com entrada no meio empresarial e em Brasília, e que bateu na tecla certa do que era e sempre foi o mais importante para o Club de Regatas Vasco da Gama: a pacificação, o fim da guerra interna, eterna, com as seguidas intervenções do Judiciário nas eleições de um clube apenas de sua jurisdição, só este clube entre os grandes demandando a atuação da Justiça Comum que à Roma Antiga voltou, ou então foi só até o intervalo entre nossos Primeiro e Segundo Reinado pra reinventar o triunvirato e só no Vasco, em todas as eleições, só no Vasco aconteceu esse tipo de coisa durante a sequência iniciada, por uma dessas coincidências incríveis, depois do SBT na camisa, no dia 18 de janeiro de 2001.

Sem a torcida nos estádios para vaiar Lucas Santos e Tiago Reis como já vaiaram Philippe Coutinho, Jardel e Allan Kardec, com Ramon iluminado em seu ano de estreia, tirando o melhor de cada um de seus jogadores, o presidente eleito teve a sorte de ver o time conquistar a Sula já como presidente de fato, empossado duas semanas antes do último jogo do quadrangular final, sensacional, entre Vasco, Independiente da Argentina, Nacional de Medellin e Peñarol em Montevidéu, num Centenário vazio. Com os títulos, deu-se o milagre, e cem entre cem vascaínos daqueles que ainda não percebiam, perceberam como num estalo a importância do gesto de Calçada após a eleição de 1985, dando a Eurico, o adversário por ele derrotado, o cargo principal de sua gestão. Pacificação é a palavra, e pacificado, como no período glorioso de 1986 a 2000, o Vasco venceu o Nacional de Medellin por 3 a 2, um de Guarin, um de Cano e outro de Marrony. Contra o Peñarol, Talles fez os dois no empate em 2 a 2 e na última rodada o Independiente tinha empatado com Peñarol e Atlético Nacional, que também empataram entre eles, e podia ser campeão se nos vencesse, mas o empate era nosso, e foi mantido até os 41 do segundo tempo, 0 a 0 até Marrony receber passe primoroso de Martin Benitez, invadir a área e tocar no canto, um ano, exatamente, depois da noite em que mais de 18 mil vascaínos, como num prenúncio da pandemia que estava por vir, enfrentaram a tormenta no Rio de Janeiro pra lotar São Januário e incentivar o time o tempo inteiro, sem vaias nem outras babaquices, porque era duelo internacional, e de mata-mata.

Depois, finda a temporada, o clube ganhou R$ 190 milhões com as vendas de Marrony ao mesmo Mônaco de Danilo, de Andrey à Internazionale e de Lucas Santos ao Shaktar. O Corinthians resolveu apostar na nostalgia e, admirado com as boas atuações de Castan e Bruno César, deu 10 milhões ao Vasco para liberar a dupla, que foi substituída, em rápidas negociações, por Diego Souza e Dedé. Bruno Gomes assumiu a vaga de Andrey e no lugar de Martin Benitez, vendido pelo Independiente ao futebol espanhol, com o Vasco ficando com R$ 5 milhões pela ponte, voltou Souza, junto com o substituto de Marrony, seu parceiro de geração Allan Kardec. Mais dinheiro entrou com a dança das cadeiras de nossa base forte na Europa e um novo período de glória prosseguiu para o clube da Zona Norte carioca campeão em seu primeiro campeonato, e de maneira revolucionária, saindo da segunda divisão com negros e brancos misturados, todos pobres e dando que dando nos riquinhos bem nascidos, filhinhos de papais exploradores, corruptos, racistas, nossos adversários. 

Esse time das Camisas Negras, com a mesma Cruz vermelha no coração, ganhou a faixa diagonal que marcou a origem do Expresso da Vitória, o maior de todos os times, de todos os tempos de sua cidade, que fez do Vasco, para toda a eternidade, o primeiro campeão continental da história, dono ainda do maior número de gols em um jogo só de Copa, sete contra a Suécia, quatro de Ademir (artilheiro de 50, até hoje o brasileiro com mais gols em um Mundial, nove), dois de Chico e um de Maneca. Depois, no ano da graça de 1957, os deuses da Bola botaram este clube em dois lugares ao mesmo tempo, um em cada lado do Oceano Atlântico, para torná-lo, em solo europeu, o primeiro campeão intercontinental da história, que de quebra ganhou a Teresa Herrera e, na mesma excursão, em pleno Camp Nou, deu de sete no Barça, enquanto em casa, no Maraca, Bellini defendia a Cruz de Malta um ano antes de levantar a taça do segundo título brasileiro na Europa, ao lado de um moleque de 16 anos chamado Pelé que fez cinco gols com a camisa do Vasco, contra o Belenenses, o Dínamo de Zagreb e o Flamengo, chamando atenção pra sua primeira convocação pra Seleção, dali a alguns dias.

E ao demonstrar ser o homem certo para que o Vasco nunca mais precisasse de "homens certos", ao iniciar com seus dois mandatos seguidos o período de rodízio amigável entre diversas correntes, dois mandatos seguidos pra cada presidente, como se fosse combinado, Luis Manuel Fernandes deu início ao mais longevo período de estabilidade, paz e vitórias do Vasco, iniciado na temporada tresloucada do coronavírus e com uma pitada fundamental de diferença em relação a outros períodos de glória, a tomada de consciência de todos os vascaínos, milagrosa, de que a guerra política interna, eternamente a ocupar quase todo o espaço do nosso clube nos noticiários da mídia especializada, só não é boa, única e exclusivamente, para o Vasco.


Pitacos em itálico


O Sulamericano de 1948, por sua vez, costuma ser ignorado por locutores, repórteres e comentaristas porque colocou o Vasco em outro patamar eterno, porque nenhum outro clube no mundo, nunca mais, pode ser o primeiro campeão continental da história do futebol neste planeta, e falar isso, para a mídia especializada, deve ser muito difícil.


*Tá pertinho ainda, logo ali, a virada que deixou a mídia alucinada, expôs as entranhas da flapress com o editor em delírio, vestindo o "manto" e chorando, pulando, correndo e gritando inebriado com a virada épica, sensacional, de 0 a 1 pra 2 a 1, um golzinho apenas de diferença, em campo neutro, no 11 contra a 11, com três trilhões a mais de dinheiro que os adversários e contando, com jogador dopado, o juiz e agora o VAR ajudando. Tá pertinho e ela própria, a mídia especializada, resolveu fazer a enquete pra definir, de uma vez por todas, o maior jogo da história, a maior vitória dos clubes do Brasil, cada torcida votando na maior vitória de seu time pra depois os especialistas definirem a maior, e essa tal virada que deixou outro registro, para a posteridade, da flapress em ação, a comparação demolidora das capas de jornais dos vices mundiais de Vasco e Flamengo, com o Vasco tendo jogado muito mais contra o Real do que o fla contra o Liverpool, essa virada com um golzinho só de desvantagem foi eleita pela torcida do time preferido dos especialistas, à frente do passeio sobre os bêbados indiferentes do Liverpool, e claro que teve especialista votando nela como maior jogo de todos os tempos, claro, mas mesmo eles tiveram vergonha, ou pelo menos a maioria dos especialistas teve vergonha de não votar, como maior jogo da história, na virada de 0 a 3 pra 4 a 3 numa final continental, contra um time grande na casa dele e com um a menos, a maior virada da história do futebol que aconteceu não apenas na virada de um mísero século, mas de todo um milênio.

*Já foi falado aqui, reiterado trocentas vezes, que não há título mais importante na história do Vasco do que o Sulamericano de 1948, nem nunca haverá. Mas se for pra falar de maior jogo, por todas as circunstâncias, por ser única, feito que um clube apenas conseguiu em todo o planeta, em todos os tempos, virar de 0 a 3 pra 4 a 3 em 45 minutos, numa final continental, e na virada do Milênio, por tudo isso a decisão da Mercosul é, de fato, o maior jogo da história do Vasco, porque, afinal de contas, é o maior jogo da história do futebol, como reconheceu a própria mídia especializada em sua enquete com seus especialistas. Tal reconhecimento foi entremeado com a exibição do VT da final da Libertadores conquistada não no ano nem no mês, mas na semana do Centenário, e foi só assistindo o VT com a mesma transmissão da época, Galvão e Cia, sem a emoção do momento, que foi possível reparar que o Sulamericano de 48 não foi citado uma vez sequer durante toda a transmissão. E pensando, pensando, deu pra chegar à teoria que acredito ser a mais pura verdade, que além da matemática inigualável de meter quatro perdendo de três, de ter sido mais recente, a virada maior é lembrada e reverenciada pela mídia especializada porque seria um tanto ridículo não fazê-lo, e porque não é algo pra sempre, definitivamente, inigualável, paira ainda a esperança de especialistas e demais torcedores de outros clubes de ver seus times fazendo algo parecido. Alguns muito, muito empolgados acham até que uma vitória de dois perdendo por um só golzinho já superou isso. O Sulamericano de 1948, por sua vez, costuma ser ignorado por locutores, repórteres e comentaristas porque colocou o Vasco em outro patamar eterno, porque nenhum outro clube no mundo, nunca mais, pode ser o primeiro campeão continental da história do futebol neste planeta, e falar isso, para a mídia especializada, deve ser muito difícil.

*Entre tantas conquistas únicas, o Vasco também é o único clube que teve como torcedores Ruben Fonseca, Flávio Migliaccio e Aldir Blanc, vítimas desses tempos soturnos de pandemia e fascismo. Procurei fotos do Migliaccio e do Rubem com a camisa do Vasco também, pensando em postar aqui, mas não achei, ainda bem, na verdade, porque essa aí do lado é mais do que suficiente pra representar o que é ser vascaíno nesses tempos de luta, luta que, no caso do Vasco, nesse momento, deve ser, mais do que nunca, pela paz interna, duradoura e irrestrita.

*E depois de um ano, certinho, publicando neste modelo bimestral, com estes pitacos em itálico no fim, a pandemia dobrou o intervalo entre os textos, que não devem continuar quadrimestrais, espero, mas talvez subam pro tri, textos trimestrais é a tendência, daqui em diante, quatro por ano, e se ficou alguma dúvida referente ao assunto principal, vital para nosso amado clube este ano, aqui se reitera, reforça e reafirma que este blog é sócio estatutário, com direito a voto, e vota, pra presidente do Vasco, em Luis Manuel Fernandes. 

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

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