segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Que comece a Era de Aquário

Foto:  Rafael Ribeiro/Vasco

E no fim, na pressão, 47 anos depois de Jorginho Carvoeiro, negro, fazer o gol do primeiro campeonato brasileiro do futebol do Rio, Caio Eduardo, também negro, fez o gol da primeira Copa do Brasil Sub 20 carioca, numa jogada que lembrou outro lateral-esquerdo negro, o injustiçado, sempre vaiado Fabrício, naquele gol antológico contra o Fluminense no último minuto.


Com os erros de sempre, quando quem comanda o Vasco segue o script da mídia esportiva, com os garfos tradicionais do calendário cebefêglobino beneficiando todo ano, no mesmo canal, o “todo poderoso timão” e o queridinho, o sonho de quarentena, após ensaiar realização com o clube na liderança do campeonato no dia de seu aniversário, com 100% de aproveitamento, dois artilheiros, ataque mais positivo, defesa menos vazada e um jogo a menos, esvaiu-se rapidamente, em meio aos risos de narrador e comentarista da tevê pra chave de braço de Felipe Mello num jogador vascaíno, que redundou não em falta pra gente, não, mas na repetição de uma falta perigosa contra o Vasco que já havia sido desperdiçada pelo adversário, o que, claro, não foi sequer notado nem pelo narrador nem pelo comentarista, que acharam tão engraçado o golpe no atleta vascaíno.

Mas deixemos tudo isso, todos os problemas, as roubalheiras e dissimulações midiáticas de sempre para os pitacos em itálico lá embaixo, porque este texto é de festa, porque neste domingo, 3 de janeiro de 2021, foi entregue a primeira taça de toda uma década, de todos os esportes, de todo o planeta, e esta taça, remetendo ao futuro, é vascaína. Teve erro capital de arbitragem contra a gente? Teve, claro. Primeiro a anulação de um gol de Gabriel Pec por um toque de braço de Caio Lopes que ver mesmo, com certeza, ninguém viu a não ser o bandeirinha que levantou na hora seu instrumento, um bandeira que, assim como a juíza e a outra bandeirinha, era do Rio de Janeiro, o que causou certo calafrio neste calejado escriba vascaíno.

Vasco e Bahia na final e o trio de arbitragem, da CBF, é do Rio de Janeiro? Questionei pra mim mesmo, em voz alta, sozinho, com a certeza absoluta mantida até agora, de que nenhum dos três, nem a árbitra, nem a bandeira nem o bandeirinha, era ou é cruzmaltino. E depois do gol anulado, com o Vasco ganhando de 2 a 0 veio o primeiro do Bahia, falta clara, nítida, inquestionável no goleiro Cadu, mas mesmo assim o gol foi validado, e logo após a virada do time baiano, quando o paraguaio Matias Galarza foi puxado pela camisa a milímetros fora da área e continuou a ser puxado dentro dela, e caiu, e levantou, e driblou o segundo zagueiro e faria o gol ou tocaria pra Laranjeira livre, fazê-lo, a juíza parou tudo. Não deu a vantagem, clara chance de gol, pra dar o pênalti? Pra expulsar o zagueiro? Nem uma coisa nem outra, a juizona não deu a vantagem, que seria muito provavelmente gol, pra dar falta fora da área e cartão amarelo. Aí voltou atrás e resolveu dar o vermelho, achando talvez que seria um pouco demais, e o jogo seguiu com o placar que não daria o título ao Vasco, e nem narrador, nem especialista, nem ex-juíza comentarista de arbitragem repararam na vantagem não dada, na clara oportunidade de gol do Vasco interrompida para que fosse dada a falta fora da área.

Mas tudo bem, tudo certo, porque Gabriel Pec resolveu homenagear Maradona com a humildade de quem sabe que está a anos-luz de distância do cara e por isso, depois de passar por quatro correndo e driblando, não quis passar também pelo goleiro e fazer ele, o gol, não. Tocou pra Laranjeira como quem diz que mais que individual, o futebol é coletivo. E no fim, na pressão, 47 anos depois de Jorginho Carvoeiro, negro, fazer o gol do primeiro campeonato brasileiro do futebol do Rio, Caio Eduardo, também negro, fez o gol da primeira Copa do Brasil Sub 20 carioca, numa jogada que lembrou outro lateral-esquerdo negro, o injustiçado, sempre vaiado Fabrício, naquele gol antológico contra o Fluminense no último minuto.

Campeão da primeira Copa do Brasil Sub 17, com Philippe Coutinho no time e derrotando na final o Santos de Neymar, o Vasco de Mazaropi, Roberto, Geovani, Romário, Mazinho, Sorato, Carlos Germano, Bismarck, William, Edmundo, Felipe, Pedrinho, Helton, Allan, Douglas Luiz e Paulinho é campeão invicto da Copa do Brasil Sub 20 de 2020 num empate em 3 a 3, jogaço no solo pisado por Fausto, Leônidas da Silva, Danilo, Ademir, Friaça, Vavá, Bellini e Domingos da Guia, na decisão contra o glorioso Esporte Clube Bahia, primeiro campeão nacional do Brasil.

Muito tem se falado sobre a Era de Aquário, ainda mais com o alinhamento recente da Terra com Júpiter e Saturno, evento que ocorre de 400 em 400 anos, segundo os cientistas. Não há consenso, porém, nem definições sobre quando começou ou começará a nova Era de Aquário, quando o mundo vai voltar a ser dominado pelas pessoas legais, pelo bem, pelo alto astral. O palpite deste blog é que ela começou na noite deste domingo, 3 de janeiro, no gramado histórico, revolucionário, da sagrada Colina.

Pitacos em itálico

Perguntando bem moderno, esperto, se tinha que esperar o time entrar na zona de rebaixamento para demitir o técnico, nosso presidente contratou também um português, também de cabelos longos, também chamado por alguns jogadores, tão ridiculamente como o outro, de mister, e em poucas rodadas o time estava onde ele tanto temia.

*Se Guilherme Parede estava impedido quando cruzou para German Cano empatar em 2 a 2 o clássico contra o queridinho, no turno do Brasileiro, estava por uma unha, uma falange no máximo, e como nem unha, nem falange, nem dedo, nem mão nem braço contam para marcação de impedimento, ele não estava impedido. Ponto. Mas sabe cumé, né, o queridinho disputa o título, ponto a ponto, com ajuda do Var contra Botafogo, Grêmio, Santos e não poderia ser diferente, jamais, contra o Vasco. Então, com o jogo empatado, o juizão botou a mão no ouvido e em menos de um minuto, sem polêmica, sem ir conferir na lateral, sem o menor constrangimento fez o sinal da telinha e anulou o gol, e todos os narradores e comentaristas que não tinham visto o impedimento na hora, não tinham nem cogitado isso, passaram a ver a irregularidade, claro, com a ajuda do Var, cuja tecnologia consiste em três sujeitos na frente de uma tela emitindo opiniões, foi, não foi e sempre, nas horas cruciais, nos lances realmente importantes, decidindo para os mesmos times, sobretudo nos jogos, contra o Vasco, do queridinho carioca e do queridão paulista.

Se for difícil engolir, se for algo tão claro como a posição legal de Parede no gol de Cano contra o Flamengo, é só botar uma linha azul, outra vermelha embolando tudo, sem deixar ninguém ver nada direito porque as linhas estão atrapalhando, é só dizer que as linhas são tecnologia e pronto, o narrador não vai contestar, o comentarista vai acatar e não haverá a velha polêmica que pelo menos havia antigamente depois de episódios como o do ladrilheiro, das papeletas amarelas, da bola tirada de dentro do gol com a mão, da expulsão do craque, depois do segundo melhor e depois de um time inteiro do adversário pra garantir. Com o Var, o gol legal de Cano virou ilegal e isso não é mais assunto na imprensa, acabou, o Var falou, tá falado, e se ele não falar, não se manifestar quando deveria, tudo bem também, desde que seja contra o Vasco.

*No jogo entre Vasco e Corinthians em São Januário, Fábio Santos fez falta em Parede, de novo ele, no início do lance do gol da vitória de 2 a 1 do time paulista, no finzinho. O Var, que em 2019 anulou um golaço de Pikachu contra o Grêmio achando uma falta uns 15 minutos antes do complemento da jogada, e que em 2020 viu falta de Bruno Gomes para anular um gol de Ribamar contra o Athletico, dessa vez ficou mudo, calado, e toda essa pandemia não alterou a rotina de todo ano, contra o queridinho e contra o todo poderoso timão, o Vasco ser roubado.

*E nossa moderna diretoria, que pegou o dinheiro dos salários dos professores pra colocar os alunos do Colégio Vasco da Gama em contêineres, como os do fatídico Ninho, mostrou novamente desconhecimento estarrecedor do que é ser Vasco, ao resolver imitar de novo o queridinho. Nosso presidente, que colocou a Havan nos ombros de nossa camisa ao custo quase simbólico pra tamanha afronta, de pouco mais de dois milhõezinhos, demitiu com muito profissionalismo o treinador barato, ex-jogador ídolo e campeão de tudo pelo clube, e que tinha conseguido resultados excelentes para o time que tinha nas mãos, inclusive a liderança do campeonato. Perguntando bem moderno, esperto, se tinha que esperar o time entrar na zona de rebaixamento para demitir o técnico, nosso presidente contratou também um português, também de cabelos longos, também chamado por alguns jogadores, tão ridiculamente como o outro, de mister, e em poucas rodadas o time estava onde ele tanto temia. De volta para o futuro agora, de novo sob o comando do profexô flamenguista. Pois que seja, o futuro a Deus pertence, e aos garotos de nossa base forte, campeões da Copa do Brasil Sub 20.

*E saímos da Sula nas oitavas, depois de eliminar o Oriente Petrolero na Bolívia e o Caracas na Venezuela. Perdemos um único jogo no torneio, tomamos um único gol em São Januário e foi o suficiente para cairmos diante do respeitável Defensa y Justicia, deixando a sensação de que essa Copa Sulamericana 2020 valeu por fazer do Vasco o único clube de outro país a jogar na Argentina no dia da despedida de Diego Maradona desta dimensão em que nos encontramos, e com gol de argentino vascaíno, aliás, golaço de Cano, que, como não poderia deixar de ser, homenageou o grande ídolo.

*E de novo a Justiça decidiu quem vai ser o presidente do Vasco, e de novo esta decisão foi a do agrado de nossa mídia esportiva.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...