sábado, 28 de outubro de 2017

Um juiz, dois jogos, quatro pontos, um escudinho da Fifa


E chegou enfim o dia das opções infinitas na série proposta por este blog, de, a cada jogo do Vasco, pinçar um erro crasso de arbitragem contra o time de sempre, a favor do adversário da vez. E como são tantos e tão diversos os erros a favor do Flamengo e contra o Vasco, pra falar de um apenas escolhemos falar de dois, dois pênaltis escandalosos não marcados pelo mesmo juiz em dois jogos, um no turno, outro no returno, dois empates, quatro pontos perdidos no apito do mesmo árbitro que dariam ao clube nada mais nada menos do que um pentacampeonato nacional, e que para o juiz em questão renderam até premiação.

Tem de tudo, e muito. Tem bola entrando mais de 30 centímetros na cara do juiz de linha, tem ladrilheiro posto pra dentro do gramado pela diretoria, tem cortadas de defensores dentro da área, mergulhos do mesmo lateral durante nove, dez anos, jamais contados pela mídia, tem as expulsões providenciais, se for preciso até com encenação do árbitro simulando agressão, tem de tudo, e muito, quando o assunto envolve Vasco, Flamengo e arbitragem.

E chegou enfim o dia das opções infinitas na série proposta por este blog, de, a cada jogo do Vasco, pinçar um erro crasso de arbitragem contra o time de sempre, a favor do adversário da vez. E como são tantos e tão diversos os erros a favor do Flamengo e contra o Vasco, pra falar de um apenas escolhemos falar de dois, dois pênaltis escandalosos não marcados pelo mesmo juiz em dois jogos, um no turno, outro no returno, dois empates, quatro pontos perdidos no apito do mesmo árbitro que dariam ao clube nada mais nada menos do que um pentacampeonato nacional, e que para o juiz em questão renderam até premiação.

O nome dele é Péricles Bassols e no primeiro jogo ele até começou bem, cometendo a raridade de expulsar um jogador rubro-negro no começo do jogo, sem tirar junto um atleta do Vasco. Também seria um tanto além do ridículo habitual não expulsar Welinton depois de o zagueiro flamenguista perder a bola bisonhamente pra Diego Souza e dar uma rasteira por trás do atacante vascaíno, que partia livre na meia-lua da grande área, sem ninguém entre ele e o goleiro que dali a três anos admitiria, sincero, achar mais gostoso ganhar roubado.

O Flamengo tinha Ronaldinho Gaúcho na descendente e, como hoje, era incensado pela mídia especializada como elenco estelar, com Welinton de titular, favorito a tudo, ao Brasileiro principalmente. O Vasco era campeão da Copa do Brasil, tinha Felipe, Juninho Pernambucano, Diego Souza, Dedé e, com um a mais, massacrou o adversário o jogo todo até que todos viram do gramado o técnico Ricardo Gomes ser levado de ambulância, à beira da morte.

O time absorveu o baque e continuou a imprensar o megaultrafavoritaço ao campeonato no campo dele, acuado, tomando bola na trave, vendo o goleiro salvar uma, duas, até que no último minuto Bernardo recebe na área, domina e toma no tornozelo o carrinho de Léo Moura, o mesmo de tantos pênaltis conquistados em mergulhos de aqualouco, nunca sequer questionados pelos especialistas. Péricles Bassols nada marca, o jogo termina 0 a 0 e no returno, numa dessas coincidências de falar ‘puxa, que coincidência’, o mesmo Bassols é escalado para o Vasco x Flamengo da última rodada do campeonato, na qual os dois times chegaram em situações inversas, de acordo com as previsões iniciais dos especialistas.

O Flamengo não tinha mais chances de título e precisava desesperadamente de um ponto que fosse pra garantir vaga na pré-Libertadores. O Vasco, apesar do pênalti não marcado por Bassols no primeiro turno, apesar dos gols anulados de Diego Souza contra Santos, Fluminense e Figueirense, dos pênaltis não marcados contra o mesmo Santos, contra o Palmeiras, o Inter, o São Paulo e o Bahia, apesar de tudo isso o Vasco chegava à última rodada brigando, ainda, pelo campeonato, e começou o jogo dominando de novo, amplamente, e abrindo logo o placar em cabeçada de Diego Souza.

Domínio total, absoluto, e no fim do primeiro tempo Diego Souza invade a área e é puxado de maneira gritante por Willians, com a faixa branca da camisa do vascaíno avançando muito além da largura do calção preto. Perto do lance, sem ninguém entre ele e a cena, Bassols de novo nada marca. No segundo tempo, talvez pra compensar o inevitável cartão vermelho a Welinton no primeiro turno, o juiz expulsa Jumar, deixando, pela milionésima vez, o Flamengo em vantagem numérica no confronto.

O jogo termina empatado, o Corinthians fica com o campeonato e o Flamengo consegue a vaga pra dar mais um vexame internacional, a primeira das três eliminações seguidas na fase de grupos da Libertadores. Já o digníssimo árbitro, por ajudar, com seus erros claros, a decidir o campeonato, recebe o escudinho de juiz da Fifa sem um comentário sequer, nem um questionamentozinho da mídia especializada, que também logo abafou as denúncias do juiz que perdeu o escudinho pra Bassols, que saiu falando em esquema de resultados e citando diretamente o time campeão.

Bassols ostentou, certamente garboso, seu escudinho Fifa por cinco anos, até perdê-lo em janeiro deste ano, quatro anos antes da aposentadoria forçada. Hoje, o juiz brasileiro mais antigo no quadro da Fifa é Ricardo Marques Ribeiro, que apitou aquele Vasco x Chapecoense da arrancada da reta final de 2015, no Maracanã, aquele do pênalti marcado com a bola batendo na cintura de Rodrigo, e do pênalti não marcado pro Vasco logo depois, com o braço levantado do defensor da Chape cortando a bola na cara do bandeira. Ricardo Marques Ribeiro é também o juiz escalado para o clássico de hoje, no Maracanã, em que o Vasco pode passar o Flamengo na tabela, tudo, claro, numa coincidência danada.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Dois gols contra é bom, três é demais, e o ar blasé que dá bandeira


...mesmo com a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz, até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é Vaaaassco...

Quando Nenê bateu o escanteio fechado e Mateus Galdezani, do Coritiba, cabeceou pra dentro da rede, logo aos quinze do primeiro tempo, não deve ter faltado vascaíno otimista pensando em torcer com fervor pelo Botafogo contra o Corinthians, ainda mais com o super líder dando mostras e mais mostras de que pode, sim, deixar escapar o título. Quatro vitórias seguidas, uma delas num clássico, outras duas fora de casa e as duas últimas graças a um gol contra, tudo isso seria um sinal cabal, inquestionável, de que os deuses da bola estariam voltando a atuar, unidos, a nosso favor. Mas veio o chute de Rildo no segundo tempo, o desvio no peito de Breno que tirou Martin Silva da bola e o terceiro gol contra, pode-se dizer, em dois jogos, este um pouco demais, ao decretar o empate que, apesar de frustrante, acabou por deixar o Vasco a uma vitória simples de entrar na zona de classificação pra Libertadores, tirando dali o Flamengo.

Munidos de dois fla x flus pelas quartas-de-final da Copa Sulamericana, de olho na briga pelo título, na luta contra o rebaixamento, no Grêmio enfrentando o Barcelona no solo sagrado do Monumental de Guaiaquil, onde Mauro Galvão gritou o Casaca embaixo da Libertadores, focando em todos esses assuntos importantes os especialistas conseguiram, na análise da rodada passada do Brasileiro, passar ao largo com a exceção de comentários esparsos, sumidos, deste fato curiosíssimo, de o time apontado como virtual rebaixado antes do campeonato estar a uma vitória, no confronto direto, de trocar de lugar com o supermegatime milionário, candidato, nas previsões de início do ano, a todos os títulos possíveis e imagináveis, mesmo com Pará na lateral e Rafael Vaz na zaga.

E o técnico do Vasco ainda é o ex-técnico do Flamengo, escorraçado de lá pela própria torcida, indignada com o fato de o supermegatime milionário ter sido eliminado na fase de grupos da Libertadores, pela terceira vez seguida, e não conseguir sentir nem cheirinho do líder do campeonato. Pois Zé Ricardo tem mesmo a chance de fazer história de maneira agradabilíssima pra nós, vascaínos, e diante disso é impossível não se lembrar do programa de debates visto depois da rodada na qual o Vasco venceu o Grêmio e o Flamengo perdeu para o Botafogo.

Um dos especialistas, rindo, pedindo licença pra fantasiar, imaginou a hipótese de o Zé Ricardo botar o Vasco na Libertadores tirando o Flamengo, o que causou entre os quatro ou cinco outros debatedores expressões senão de desagrado, de surpresa, de como alguém poderia propor um disparate daqueles com uma diferença, ali, de quatro pontos, e logo o assunto foi abafado pra discussões, na visão deles, mais importantes. Hoje, nesta semana em que a diferença é de três pontos, com o mesmo número de vitórias pra cada lado, o comportamento da flapress vem sendo semelhante, e isso tem muito a ver com o ar blasé adotado pelo lado de lá, sempre disposto a minimizar rivalidades acreditando que, desse jeito, mostra algum tipo de superioridade, comportamento que surtiria muito mais efeito se eles não dessem tanta bandeira.

Iiiisso aqui não é Vaaaassco, canta a torcida rubro-negra em todos os jogos de seu time, podendo cantar qualquer outro possível adversário do Rio, do Brasil ou do planeta, mas escolhendo o Vasco, sempre, por algum motivo que a tal “indiferença” com relação ao clássico não explica. Foi também por causa do Vasco que a torcida do Flamengo inventou, com a Fla-Madrid, as camisas que nada mais são do que a prova física, o registro pra história do uso deliberado de instrumentos alheios com o intuito de atingir prazeres por si só impossíveis de conquistar, o que pode ser muito melhor traduzido com o popular e chulo “gozar com o pau dos outros”.

Mesmo assim, mesmo com a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz, até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é Vaaaassco...

No mesmo programa, o especialista que não é flamenguista nem vascaíno, nem tricolor, nem Olaria, nem Bangu nem América, o autor de uma das melhoras crônicas do título brasileiro de 1997, no Jornal do Brasil, disse que Botafogo e Vasco respeitam o Flamengo demais e o Fluminense, nem tanto. Por isso, na tese desse especialista, o Flu jogaria melhor do que os outros dois contra o Fla. E ouvindo isso fica difícil não perguntar o que tem a ver com respeito uma bola entrar mais de 30 centímetros e o gol não ser validado, ou um impedimento clamoroso no gol do título, no minuto final, ou a anulação de um gol legítimo como o de Dodô na final de 2007, ou qualquer outro das dezenas de erros de arbitragens que, nos jogos decisivos, por uma dessas “coisas do futebol”, favorecem sempre o mesmo time.

Que os vascaínos não se revoltem com essas coisas, que, pelo contrário, se divirtam com esse tipo de comentário, porque eles podem até sumir de vez em quando, como ali entre os anos de 1997 e 2000, mas sempre voltam, fazem parte de um receituário antigo, a mistura de muita exaltação de um lado, com vista grossa pra comemorações de árbitro em gols ilegais e sopradas no ouvido do juiz de terno e gravata, e do outro lado o desdém calculado, adicionado à dose exagerada da ingenuidade em achar que falando, repetindo, superdimensionando campeonatos cariocas conquistados com faltas inexistentes ou minimizando um torneio continental, o primeiro deles, pode-se mudar algo há tanto tempo estabelecido pelos deuses da bola, desde o primeiro confronto, em 1923, com vitória vascaína, e de virada, no ano de estreia do Vasco na primeira divisão carioca, estreia como campeão e tendo como vice, o Flamengo.

Depois de uma sequência feliz de três vitórias seguidas e quatro textos, sempre nos dias dos jogos, o A pauta é Vasco entra agora no ritmo da semana cheia, no qual o post do dia útil, sem jogo do Vasco, pode ser publicado na segunda, na terça, na quarta, na quinta ou na sexta, a depender do humor, do tempo disponível, dos graus das febres dos filhos etc. Fora isso haverá sempre o texto do dia do jogo, com um erro de arbitragem marcado contra o Vasco, a favor do adversário da vez, cronograma a ser seguido por aqui, com a disciplina de um militar rastafári, até o fim do campeonato.

No mais, com relação ao último jogo, fica o lamento por Wellington não ter tocado pra trás aquela bola que ele preferiu carimbar no goleiro, e a decisão de voltar atrás novamente em termos editoriais, nessa metamorfose constante que é o blog. Depois de questionar a escalação de Wagner e ele fazer aquele golaço contra o Avaí, depois de tentar o mesmo com Thalles e ele dessa vez confirmar minhas previsões de brincadeirinha, depois de decidir não dar mais pitacos sobre jogadores específicos e ver o time marcar dois gols contra em dois jogos, e mais nada, tenho a dizer que contra o Flamengo espero de Mateus Vital aquela jogada na raça a partir da intermediária, ganhando de um na dividida, do outro no carrinho e se levantando pra fazer o gol de fora da área, pegando na veia. E de Andrés Ríos espero nova expulsão, mas dessa vez levando alguém do outro lado junto, de preferência o Juan.

sábado, 21 de outubro de 2017

Mais um pênalti não marcado, e os bons augúrios de um gol contra


Passada a vigésima nona rodada, pela primeira vez não se ouvem mais especialistas relacionando o Vasco a qualquer risco de rebaixamento, como fizeram todos desde antes do início do campeonato, e continuavam, em menor número, mas continuavam, até a vitória aparentemente sem graça no histórico gramado do Serra Dourada

Há algo de promissor numa vitória por 1 a 0 contra o lanterna, com um gol contra. Um calor desgraçado no campo enorme do Serra Dourada, maior que o burocrático padrão Fifa, chato, o time jogando em ritmo de dois pra lá dois pra cá, nosso melhor zagueiro deixando o campo lesionado, Nenê isolando lançamentos acima do ponto mais alto das traves do futebol americano e mesmo assim o Vasco saindo com os três pontos, completando pela primeira vez, depois de cinco anos, três vitórias seguidas na Série A, tudo isso deve ser efusivamente comemorado.

A chave foi virada. Passada a vigésima nona rodada, pela primeira vez não se ouvem mais especialistas relacionando o Vasco a qualquer risco de rebaixamento, como fizeram todos desde antes do início do campeonato, e continuavam, em menor número, mas continuavam, até a vitória aparentemente sem graça no histórico gramado do Serra Dourada, que colocou o time, de vez, na luta pelo tricampeonato sul-americano. Vitória garantida por Martin Silva lá atrás, com três ou quatro defesas providenciais, e com gol de novo trabalhado, com a participação até de Bruno Paulista.

O volante de 1,90m de altura que se joga ao solo em nove de cada dez disputas de bola, dessa vez não tinha adversário por perto e, de pé, rolou a bola pra trás, pra Breno, que tocou para Andrés Rios, que passou a Pikachu, correu pra direita e recebeu de volta pra fazer o cruzamento de primeira, reto, rasteiro, com a bola triscando a linha da pequena área, dentro dela. Com Nenê e Mateus Vital atrás, olhando, a dupla de defensores do Atlético Goianiense completou o serviço, e aqui fica o registro da suprema coincidência que talvez queira dizer alguma coisa, o fato de os dois gols contra a favor do Vasco neste Brasileiro terem acontecido fora de casa, contra rubro-negros, provocados por cruzamentos de jogadores argentinos, ambos barbudos, Rios contra o Dragão, Escudero contra o Vitória, os dois inaugurando o placar no primeiro tempo.

Vá saber o que isto quer dizer, vá saber, mas o fato é que o Vasco conquistou sua terceira vitória seguida e aqui no blog continuará a ser respeitada, sem a menor pretensão de tirar onde de pé quente, ainda, a tradição iniciada no texto de apresentação para a primeira delas, contra o Avaí na Ressacada. O adversário da vez é o Coritiba, eternamente do goleiro Rafael e seu visual Dennis Hopper em Sem Destino, bigodudo, cabeludo e fechando o gol no Maracanã lotado por 90 mil pessoas, pra ver a final do Brasileiro de 85 entre Coritiba e Bangu, no tempo idílico que parece não voltar mais, de quando o Brasileirão tinha final.

Para o Vasco, no entanto, o Coritiba será sempre aquele time que nos venceu na melhor de nossas derrotas, a única que rendeu taça, no caso a Copa do Brasil nunca antes conquistada, depois de oito anos sem títulos, de onze sem um troféu nacional. Só que o assunto, como manda a tradição que completa hoje dez dias, é erro de arbitragem, e nesse caso não há como não repetir a dose do último texto, não há como deixar de citar mais um pênalti em Nenê não marcado, o derradeiro dos vários, diversos erros grosseiros de arbitragem contra o Vasco na arrancada digna de aplausos de pé, sempre, da reta final do Brasileiro de 2015.

Na última rodada do campeonato, com o Vasco precisando da vitória para não cair e, além disso, da não derrota do Fluminense para o Figueirense em Santa Catarina, aos 3 minutos do segundo tempo Bruno Gallo escorrega na hora de chutar, ou passar, na entrada da área adversária no semi-alagado gramado do Couto Pereira. Gallo consegue passar, ou chutar, mesmo assim, a bola bate na perna do jogador do Coritiba dando carrinho e sobe. Dentro da área, Riascos ganha no alto de seu marcador e cabeceia a bola entre a marca do pênalti e a linha da pequena área, com Nenê de frente pra ela, entre dois defensores.

Um pela frente, outro por trás, o sanduíche em Nenê é mais ostensivo que um BigMac fotografado pra propaganda. O comentarista de arbitragem aí ao lado, por exemplo, não tem dúvidas em afirmar que foi pênalti, claro, mas o juiz, desses agora todo marombados, pertinho do lance, ostentando boa forma física, prefere nada marcar. Não passa nem um minuto quando a bolinha vermelha da emissora avisa: gol do Figueirense.

Dezenove anos depois de ver os vascaínos vencerem, sem qualquer interesse mais no campeonato, dois de seus adversários diretos na campanha do primeiro rebaixamento de um time grande carioca, em 1996, o Fluminense fez o que já se esperava dele, e mesmo se o juiz tivesse marcado o pênalti claro em Nenê no Couto Pereira, mesmo assim o Vasco seria rebaixado, com boa parte da mídia especializada gostando e ignorando não só esse, mas todos os outros erros de arbitragem que tiraram do time, no mínimo, 14 pontos.

A péssima campanha no primeiro turno provocou a queda e pronto, sem influência de erro de arbitragem, sentenciou a mesma mídia especializada que previa de novo o Vasco rebaixado em 2017 e agora, depois da vitória contra o lanterna, com gol contra, é obrigada a guardar suas previsões na gaveta, as mesmas para o ano que vem, muito provavelmente, em relação ao Vasco.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O rapa pelas costas e a vitória no peito e na raça

Foto: Vasco

Bastam três, quatro jogadores em volta do juiz, revoltados no calor da contenda, pra que qualquer reclamação contra o Vasco seja abalizada pela mídia esportiva com a tal da polêmica nos títulos e matérias sobre o jogo, a palavrinha que deixa no ar muita coisa sem nada definir, pelo contrário, deixando tudo nebuloso, mesmo quando se trata de um caso claro, tão nítido quanto a bola no peito de Nenê, no peito e na raça pra fazer o gol da vitória, completando jogada em que a bola atravessou toda a largura do gramado e voltou um pouquinho, rolando pelos pés de sete jogadores do Vasco, o que não deixa de ser alvissareiro.

No campo de ataque do Vasco, pela esquerda, Anderson Martins recebe o empurrão por trás de Bruno Silva, antes de rolar pra Ramon, e fica discutindo com o volante do Botafogo. Ramon toca mais pra trás ainda, quase na linha divisória, onde Jean recebe e rola logo pra Breno. A bola adentra dez ou vinte centímetros no campo de defesa vascaíno, mas logo volta ao ataque com o passe de Breno a Madson na direita. Madson encontra Mateus Vital e este erra o passe final acertando, tocando longa demais a bola pra Nenê que bate no defensor do Botafogo e volta no peito do camisa 11 vascaíno. Nenê ainda é puxado pelo botafoguense Igor Fernandes, mas prefere não cavar a falta na entrada da área, seguir na jogada e chutar pra fazer o gol, golaço, aliás, da vitória suada do Vasco no clássico truncado.

Os jogadores todos do Botafogo reclamaram mão de Nenê no lance, assim como reclamaram mão de Madson um minuto antes, e reclamaram ainda de outra mão, de Ramon. Então acontece um desses fenômenos na cobertura da mídia esportiva exclusivos, quase, do Vasco. Os comentaristas de arbitragem, os repórteres e narradores concordam, todos, que não houve nada nos lances além de um toque involuntário na mão de Madson, com a bola batendo antes na coxa dele, que estava quase colado ao atacante adversário que a tocara. O juiz não interferiu no resultado, concordam todos, e mesmo assim nas capas de jornais, sites e na tevê fala-se em polêmica, como se tivesse ocorrido algum benefício ao vencedor como, por exemplo, um gol em impedimento e com o braço numa final de Copa do Brasil.

Todos concordam que não houve influência da arbitragem, mas há aqueles especialistas que, assim concordando, com a ressalva de que seria muito difícil evitar o possível erro, dizem achar difícil demais, simplesmente impossível afirmar que a bola bateu no peito do jogador diante de uma imagem congelada da bola batendo no peito do jogador. Pode ter roçado no braço e ninguém conseguiu ver, supõe um, a reclamação dos botafoguenses foi enfática demais, ressalta outro, e assim cria-se a polêmica. A bola bateu no peito de Nenê, não na mão, mas entra na lista das “polêmicas” da arbitragem no campeonato do mesmo modo que o braço estendido de Jô pra garantir mais três pontinhos ao líder.

Basta que o adversário reclame, parece. Bastam três, quatro jogadores em volta do juiz, revoltados no calor da contenda, pra que qualquer reclamação contra o Vasco seja abalizada pela mídia esportiva com a tal da polêmica nos títulos e matérias sobre o jogo, a palavrinha que deixa no ar muita coisa sem nada definir, pelo contrário, deixando tudo nebuloso, mesmo quando se trata de um caso claro, tão nítido quanto a bola no peito de Nenê, no peito e na raça pra fazer o gol da vitória, completando jogada em que a bola atravessou toda a largura do gramado e voltou um pouquinho, rolando pelos pés de sete jogadores do Vasco, o que não deixa de ser alvissareiro.

Com relação ao “pênalti” de Ramon, a prova de que nada houve é o mesmo X com a faixa das costas que Anderson Martins já fizera contra o Sport, comentado dois textos abaixo, tanto o lateral quanto o zagueiro com o braço totalmente escondido atrás de ombro e peito. Niente, nada a marcar e segue o campeonato, seguindo junto a tradição do A pauta é Vasco, iniciada há sete dias, de enumerar um erro de arbitragem contra o adversário da vez na rodada, no caso o digníssimo Dragão, o Atlético Goianiense do craque das balanças e biscotinhos recheados.

Walter joga muita bola e todo cuidado é pouco com o gordinho que impediu a estréia consagradora de Thalles nas quartas-de-final da Copa do Brasil de 2013. Uma matada no peito no alto, uma dominada, literalmente, de bunda, duas ajeitadinhas e o lançamento perfeito, de direita, pro gol que, junto com o segundo do Goiás, mais o erro esperado da arbitragem anulando o de Luan, eliminaria o Vasco, ofuscando os dois primeiros gols no jogo, ambos do garoto que fazia seu primeiro jogo no profissional, o segundo com Juninho Pernambucano abrindo livre na direita, pra ficar cara a cara com o goleiro, e o garoto preferindo chutar de fora da área, no ângulo.

Hoje Thalles talvez esteja mais largo do que Walter, mais pesado, o que é ainda mais triste de ver pra quem estava no Maracanã naquela estreia do garoto centroavante, matador, que, melhor, como estreia, só Edmundo e Romário tiveram. Triste demais ver tanto talento sendo desperdiçado, ainda mais depois de ter sido ele, Thalles, o salvador na tensa reta final da Série B, aquele que, na hora H, garantiu o acesso. Mais triste ainda ver a torcida apoiando a derrocada, fazendo piada, preferindo Kelvin, Júnior Dutra, qualquer um ao garoto saído da base.

Thalles será ainda, junto com Wagner, responsável pelo fim de qualquer previsão ou opinião deste blog sobre algum jogador em particular, em termos de escalação. Depois de dizer que Wagner era o problema na escalação pra pegar o Avaí na Ressacada, quis brincar dizendo que não esperava de Thalles, contra o Botafogo, nem um peteleco na direção de gol, e o único peteleco que ele deu, do meio do campo, não foi na direção do gol. Errando ou acertando, melhor parar por aqui e ir logo ao que interessa pra cumprir a tradição de uma semana de idade, até porque vem dando certo.

O erro pinçado desta vez é deste ano, do jogo do turno, e tem tudo a ver com esta suprema coincidência de ser o Vasco hoje, na vigésima nona rodada, o único time do campeonato a não ter sequer um pênalti assinalado a seu favor até agora. Teve o puxão na camisa do Pikachu no primeiro tempo da primeira rodada, minutos depois do pênalti mal marcado para o Palmeiras, teve também Everton Ribeiro defendendo com a mão o cruzamento de Nenê, dentro da área, e contra o Atlético Goianiense, no último dia de festa com São Januário lotado, muitas crianças, antes da tocaia do Vasco x Flamengo, foi o rapa por trás no mesmo Nenê, que já tinha decidido o jogo fazendo o gol de falta no primeiro tempo, da vitória por 1 a 0 e entrava livre pela esquerda, na frente do goleiro, quando tomou o calço, ou rasteira, ou banda por trás do defensor rubro-negro. Tiro de meta marcado, decide a arbitragem, e segue o campeonato. 

sábado, 14 de outubro de 2017

A queda pra trás, dando impulso, e a volta da torcida


Uma vitória sobre o favorito Botafogo com um Maracanã lotado por 90% de vascaínos seria a virada de chave definitiva no campeonato, a entrada de vez na briga pelo tricampeonato sul-americano, exatos 20 anos após o bi, com a expectativa de cinco jogos, ainda, com Caldeirão lotado.

Teve apito influenciando de novo na Ressacada, teve a mídia especializada dizendo novamente que tava tudo certo, mas dessa vez o Vasco conseguiu segurar a vitória tranquila transformada, por sua senhoria, em dramática. E como o Vasco venceu, o blog manterá a tradição iniciada no último texto, de a cada rodada, contra o adversário da vez, relembrar um erro crasso de arbitragem contra o time, de preferência com o aval da imprensa na base de tira-teimas enviesados ou comentários de ex-árbitros que em campo eram os reis da polêmica, ladrões notórios. Parece difícil, garantir que tenha havido erros desse tipo contra o mesmo time em tantos jogos, cada qual com um adversário diferente, mas pra quem é Vasco, é fácil.

Hoje temos pela frente o glorioso Botafogo, e com relação a campeonato Brasileiro, pra ficar só na era dos pontos corridos poderíamos relembrar com gosto os 4 a 0 de 2004, com show de Petkovic e Valdir Bigode já no fim da carreira dele de artilheiro, ou a vitória de 2007 com golaço de Jorge Luiz de cabeça, as duas no Maraca, sem falar no 2 a 0 de 2011 e no 1 a 0 de 2012, ambos no Nilton Santos. Mas o assunto é erro de arbitragem, então o jogo a ser citado é o do comecinho do Brasileiro de 2008, quando o estádio Nilton Santos ainda era Engenhão, todo azul, e o Vasco vencia por 1 a 0 até o jogador do Botafogo chamado Fábio receber na área já desequilibrado, de costas para o marcador, aos 39 minutos do segundo tempo.

O jogador alvinegro dominou a bola e começou, ele, a cair, deu ainda dois, três passos pra trás, dando impulso, caindo mais ainda sem que o zagueiro vascaíno fizesse nada além de ficar atrás, marcando, até cair ele também com a carga do outro, à sua frente, se jogando pra trás. O juiz, que já tinha expulsado um jogador do Vasco naquele segundo tempo, assinalou o pênalti convicto, e o juiz era o mesmo, conhecido como Índio, da expulsão do Luis Fabiano do texto em destaque lá embaixo, o mesmo também do encontrão e da expulsão de Moraes, dez anos antes, tudo uma enorme coincidência, lógico.

Lúcio Flávio converteu o pênalti aos 41, aqueles dois pontos fizeram falta na conta final do rebaixamento e o narrador do jogo ainda disse que tinha sido pênalti, sim, claro, ainda que esta não tenha sido a opinião do comentarista, hoje narrador, que tem entre suas características o constante bom humor e deixou escapar a risada enquanto o lance era mostrado em câmera lenta, dizendo apenas que tinha “ficado na dúvida”, pra emendar com aquela declaração típica de quem não tem o que falar, a terminar em reticências: “como é o futebol...”

Com relação ao último jogo, o que tenho a dizer é que espero sentado, tentando controlar a ansiedade, o dia em que um jogador do Corínthians, ou do Flamengo, ou mesmo do São Paulo ou do Fluminense venha a ser expulso da maneira como aconteceu com Andrés Ríos. Deve ser histórico, deve ter sido a primeira vez na história do futebol que um jogador recebeu o cartão vermelho ao dar um lençol no adversário, o que não exime o argentino da culpa de cometer a burrice, ainda mais vestindo a camisa do Vasco, de jogar os braços pra trás naquela situação.

Da falta da expulsão de Ríos saiu o gol do Avaí, com o jogador do time catarinense cabeceando impedido pra Betão completar pra rede, tendo ainda empurrado Paulão pra ganhar a bola, mas tudo por tão pouquinho, milímetros de impedimento, duas mãozinhas espalmadas nas costas do vascaíno, rápido, que os especialistas puderam dizer tranquilamente, na cara dura, que não tinha acontecido nada, que o gol era absolutamente legal.

O fato de o time ter conseguido segurar a vitória fora de casa nessas condições, com um a menos, é um ótimo sinal, ainda mais na rodada anterior à volta da torcida, e não em São Januário, numa medida acertada até pra proteger nosso estádio da sanha de um Ministério Público aloprado. Uma vitória sobre o favorito Botafogo com um Maracanã lotado por 90% de vascaínos seria a virada de chave definitiva no campeonato, a entrada de vez na briga pelo tricampeonato sul-americano, exatos 20 anos após o bi, com a expectativa de cinco jogos, ainda, com Caldeirão lotado.

Mas na mídia especializada, engraçado, a cobertura sobre este jogo de suma importância foi direcionada, no caso do Vasco, mais pra fora dos gramados. O resultado pode influenciar diretamente na eleição do Vasco, marcada pra daqui a menos de um mês, diz o jornal O Globo, e também o comentarista flamenguista no programa de debates ao vivo na tevê, dando a impressão de estarem muito preocupados.

O time vem de uma vitória fora de casa, onde nem o virtual campeão venceu, mas tem gente na imprensa que prefere falar de eleição no Vasco. E como no último texto eu disse que o único senão na escalação do time era o Wagner, e o Wagner virou Robben com dois minutos de jogo, fazendo um golaço, dessa vez eu digo que não espero nada, nem um peteleco sem força na direção do gol, não espero nem isso de Thalles. E todos ao Maraca.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O pênalti de pinball e o retorno do principal

Foto: Alexandre Loureiro

Três toques na bola com os braços abertos dentro da área, dois com o esquerdo, um com o direito, e o pênalti marcado a favor do Vasco, nos ambientes refrigerados onde ditam suas sentenças os especialistas, ex-jogadores e comentaristas da arbitragem, foi contestado. Um lance polêmico, diziam alguns, enquanto outros, com certeza absoluta, diziam não ter acontecido nada. Três toques na bola com os braços abertos dentro da área.

Passado o êxtase panamenho, a despedida da Holanda de Robben e a confirmação da força argentina, pra desgosto dos adeptos da rivalidade de publicidade, o futebol volta hoje ao que interessa. O Vasco entra em campo pra pegar o Avaí na Ressacada, palco da vitória “cala boca” da semifinal de 2011, deixando a torcida local quietinha desde o início, assistindo. E cenário também,a Ressacada, do pênalti de pinball feito pelo meia Marquinhos, do Avaí, no empate em 1 a 1 da arrancada final no Brasileiro do 2015, quando a imprensa deu mais uma mostra do tratamento todo especial, diferenciado, que reserva ao Vasco.

Leandrão recebeu livre na esquerda, entrou na área e recebeu a marcação de Marquinhos, que deu o carrinho com os braços abertos, pra trás. Leandrão tentou o drible, o corte com a direita pro meio da área, mas a bola foi interceptada, primeiro, pelo braço esquerdo de Marquinhos, que raspou nela, depois pelo braço direito do marcador, que rebateu ela de volta no braço esquerdo. Três toques na bola com os braços abertos dentro da área, dois com o esquerdo, um com o direito, e o pênalti marcado a favor do Vasco, nos ambientes refrigerados onde ditam suas sentenças os especialistas, ex-jogadores e comentaristas da arbitragem, foi contestado. Um lance polêmico, diziam alguns, enquanto outros, com certeza absoluta, diziam não ter acontecido nada. Três toques na bola com os braços abertos dentro da área.

Os melhores momentos dessa partida mostram a anulação de um gol do Vasco quando o jogo estava 0 a 0, sem que fique nem um pouco claro por que o gol foi anulado. E seria um gol de Julio dos Santos, o único da trajetória do meia, centroavante, volante e zagueiro paraguaio no Vasco. Caberia até processo, talvez, se as chances de sucesso não fossem ínfimas na Justiça do local do acontecido, ainda mais para um paraguaio, e a favor do Vasco. Houve também nesse jogo o pênalti de um toque só no braço de Madson, que estava fora da área, pênalti que o Avaí acabaria desperdiçando, e no fim da partida a “leitura” da mídia especializada era de que a arbitragem tinha sido “polêmica”, prejudicando os dois lados, isso, com relação a supostos benefícios ao Vasco, somente porque o juiz assinalou o pênalti de pinball, dos três toques na bola com os braços abertos dentro da área.

Três toques no braço. Na mesma jogada. E a mídia contestando, dizendo que não tinha sido pênalti, como disse, aos brados revoltados na figura do comentarista de óculos, já citada aqui num texto abaixo, que o Vasco havia sido beneficiado contra o São Paulo naquele mesmo campeonato, quando sofreu o gol ilegal de empate, com falta e impedimento no mesmo lance. Era o Brasileiro de 2015 e ali estava sendo dado passo adiante no tratamento dispensado pela mídia esportiva ao Vasco, no qual, além de passar a ser permitido, na visão deles, qualquer toque de mão dos adversários do time dentro da área, não bastavam mais os seguidos erros contra a equipe vascaína, uns nem falados, outros registrados, porque era impossível não o serem, mas logo esquecidos. Agora o Vasco é prejudicado e a mídia, além de disfarçar, trata de reverter a situação, e sem o menor receio do ridículo, acreditando mesmo, no isolamento das redações onde todos sorriem e se elogiam, que qualquer coisa que diga vira verdade.

Houve o erro crasso do gol do braço do Jô, mais um ponto escandalosamente tirado do Vasco, no apito, e um jornal do Rio, na semana do ocorrido, tratou de destacar um tal levantamento da CBF sem nada contestar, claro, pra dizer que o Vasco, na verdade vinha sendo beneficiado pelas arbitragens. Não havia no relatório o pênalti em Pikachu contra o Palmeiras, na primeira rodada, nem a mão de Éverton Ribeiro contra o Flamengo nem o rapa por trás que Nenê recebeu na área do Atlético Goianiense, tudo normal, do jogo, no entender da CBF que, pra dizer que o Vasco estava sendo beneficiado, destacou dois jogadores que deveriam ter sido expulsos quando receberam o amarelo, lances nitidamente de interpretação. E como prova cabal, irrefutável, dos benefícios ao Vasco, o relatório da CBF que o jornal engole mastigadinho, sem questionar, cita o gol de Caio Monteiro marcado a dois, três minutos do fim do jogo que o Botafogo vencia por 3 a 0. A irregularidade do lance, segundo a CBF? Um tranco de Luis Fabiano no marcador antes de dar o passe pra Caio Monteiro, tranco que em 2009, se fosse dado por Adriano, não provocaria nada além de comentários na mídia sobre o quanto o Imperador era forte.

E na rodada seguinte ao gol do braço do Jô, Anderson Martins interceptou com o peito o cruzamento de um jogador do Sport, na Ilha do Retiro, tendo o braço fazendo um xis com a faixa das costas de sua camisa, de tanto que estava atrás do corpo. E o juiz marcou o pênalti. O bandeirinha avisou que não tinha sido e o juiz voltou atrás na marcação. Não houve entrada em campo de ninguém de terno, pra falar alguma coisa no ouvido do juiz, como no Fla x Flu de 2016, o lance foi decidido no campo, entre a equipe de arbitragem, mas mesmo assim a mídia especializada cravou com certeza absoluta, convicta, que tinha sido o vídeo e que, portanto, o Vasco, que teria um pênalti marcado contra ele por um toque inexistente de braço, no jogo seguinte à derrota com o gol do braço do Jô, o Vasco então foi beneficiado porque o pênalti não foi marcado.

O bandeirinha ainda estava vendo o Anderson Martins de costas, pode muito bem ter notado, àquela distância, o xis às costas do zagueiro, do cruzamento da faixa preta com a pele clara de seu braço, mas ninguém nem cogitou essa possibilidade, mesmo sem sujeito de terno no gramado, sem invasão. Foi o vídeo e pronto, e o Vasco foi beneficiado, e assim continua hoje o Brasileiro para a equipe vascaína, com um único senão no time escalado, que se chama Wagner, um desses falsos craques que só atrapalham, escolhido como titular quando há no elenco, para a posição, pelo menos quatro opções melhores, que são, pela ordem, Pikachu, Guilherme, Evander e Escudero.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Ode aos goleiros e ao jornalista estrangeiro


 "...o especialista estrangeiro foi o único na mesa, e na cobertura em geral da final, que se saiba, foi o único a lembrar que o goleiro mais decisivo da decisão, vencedor, campeão, vinha do que ele chamou ao vivo, na lata, de grande escola do Vasco da Gama. Fábio era do Vasco, garoto, quando Carlos Germano era titular e Helton era reserva."

Enquanto não volta o Brasileiro, nesse período chato do calendário sem jogos do Vasco, é tempo ainda de lembrar o último grande acontecimento do futebol nacional, a final apoteótica da Copa do Brasil em dois embates sofríveis, decididos, com o reconhecimento e a condenação da mídia especializada, pelos goleiros. E no programa de tevê que tem redação no nome, cujo apresentador, diga-se de passagem, é um dos poucos no ramo a cutucar a flapress de vez em quando, neste programa estavam reunidos o editor da sacaneada no Muralha (aquela do editorial de primeira página retirando o apelido do goleiro) e o jornalista estrangeiro.

Na manhã seguinte à sofrida derrota rubro-negra, derrota no pênalti do craque do time, que assim provou fazer jus, sim, claro, à tradição da camisa 10 da Gávea, na manhã seguinte à derrota que alçou o Flamengo ao posto de maior vice da história da Copa, o clima na grande mídia em geral era muito mais de tristeza, perplexidade, do que de alegria. Ninguém nunca iria imaginar, nesse clima, nem bem dez horas depois da escorregada final de Thiago Neves, ninguém jamais pensaria em homenagear ao vivo, justamente, o Vasco, ninguém a não ser o jornalista estrangeiro, no caso, do país dos inventores do esporte.

Imune às verdades e veredictos repetidos a esmo nas redações daqui pra justificar o protecionismo, que a torcida é maior, compra mais, reclama mais, o especialista estrangeiro foi o único na mesa, e na cobertura em geral da final, que se saiba, foi o único a lembrar que o goleiro mais decisivo da decisão, vencedor, campeão, vinha do que ele chamou ao vivo, na lata, de grande escola do Vasco da Gama. Fábio era do Vasco, garoto, quando Carlos Germano era titular e Helton era reserva. O jornalista estrangeiro lembrou isso e disse, ainda, que o goleiro do Cruzeiro, que pegou pênalti do Luan na semifinal e do Diego na final, aliava a frieza, a colocação de Germano com a elasticidade de Helton, o que não deixa de ser verdade.

O assunto foi rapidamente debelado, não se falou mais de Vasco na mesa, claro, mas aqui fica o elogio tardio à capacidade de observação do jornalista estrangeiro, e a defesa de cada vez mais intercâmbio na nossa mídia esportiva, pra arejar conceitos, valorizar mais a história em detrimento da quantidade de cliques ou curtidas. Fica também a inspiração para um texto em homenagem aos goleiros históricos, campeões pelo Vasco, e como quem escreve nasceu em 1972, pede-se licença ao Nelson mitológico de 1922, 23 e 24, ao Jaguaré inigualável de 1929 e 31 (de quem peguei o rosto emprestado no perfil, não sei se perceberam), ao maior de todos, Moacir Barbosa, ao Carlos Alberto de 1956 e 57, ao Andrada de 1970 e 74 e a outros goleiros de antigamente, porque só é possível falar de quem se viu jogar no campo, in loco, e nesse caso a lista tem de começar com um goleiro que tem tudo a ver com a grande questão da decisão, a escolha pra que lado pular na decisão por pênaltis, esse saltando aí em cima, na foto do Wilson Alves Cordeiro.

Mazaropi já tinha pegado, sem rebote, o pênalti de Zico na decisão da Taça Guanabara de 1976. No ano seguinte, a decisão era do segundo turno, ainda não Taça Rio, e o Vasco, bicampeão da Taça Guanabara em 1977, seria o campeão estadual se vencesse. Assim como Alex Muralha, bode expiatório das frustrações alimentadas no dia-a-dia dos prognósticos sempre positivos da mídia, nas três primeiras cobranças do adversário, no caso o Flamengo, Mazaropi pulou para o mesmo lado e tomou o gol. Muralha manteve-se fiel à sua direita e deu no que deu. Mazaropi trocou o canto na quarta cobrança, do então garoto novo Tita, e defendeu. O Vasco foi campeão carioca e ali, no Maracanã lotado, Mazaropi conquistava mais 90 minutos sem ser vazado, na caminhada que lhe rende até hoje o recorde mundial absoluto, disparado, de minutos seguidos sem tomar gol, 1816 minutos de maio de 1977 a setembro de 78, muito por conta também de uma linha de defesa com Orlando Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antônio, que ficou um turno inteiro do estadual sem levar gol e tinha o singelo apelido de Barreira do Diabo.

O que mais dizer de Mazaropi? Que ele mandava abrir a barreira quando o Zico ajeitava a bola pra bater falta na entrada da área, mandava abrir e pegava, e que ele também fez história no Grêmio, campeão da Libertadores e Intercontinental, pegando, de novo, pênalti fundamental, contra o América de Cáli. E Mazaropi defendia ainda o Vasco quando o sucessor dele já nos dava alegrias, pegando tudo no denso nevoeiro da serra, antes e depois do gol de Anapolina.

Acácio era o goleiro do Serrano na vitória histórica da briosa equipe petropolitana, que tirou do Flamengo a chance de um inédito tetracampeonato, ainda que em três anos, em 1980. Dois anos depois foi alçado à titularidade às vésperas do triangular final do campeonato, entre Vasco, Flamengo e América. E diante de Tita, Adílio, Nunes e toda essa gente que o outro lado canta em verso e prosa, diante dessa galera, recém saído do Serrano, do banco do Mazaropi, Acácio fechou o gol com direito a defesa em chute pegando na veia de Zico dentro da área, iniciando uma bela tradição pessoal, de agarrar como nunca em decisões, sem deixar passar nada, o que conseguiu repetir nos estaduais de 1987, 88 e, principalmente, no Brasileiro de 1989.

Acácio conseguiu ainda pegar mais pênaltis que Mazaropi, beneficiado também por ter jogado todos os jogos de um Brasileiro em que o empate, em qualquer jogo da fase inicial, levava à decisão dessa forma. Num jogo contra o Fluminense, todo mundo acertou e a decisão ficou para os goleiros. Acácio pegou o chute de Ricardo Pinto e, depois, fez o gol chutando no canto fraco, errado, pererecando. Pegou ainda pênalti do Higuita, num jogo depois anulado, na Medellín onde reinava Pablo Escobar. E no solo sagrado do Estádio Nacional de Santiago, onde Barbosa fez o que fez contra o River Plate de Di Stéfano, Acácio honrou a tradição pegando o pênalti decisivo contra o Colo Colo, nas oitavas-de-final da Libertadores de 1990. Um ano depois, antes de ter sua trajetória erroneamente interrompida por Régis, o que nos custou o Brasileiro de 1992, Carlos Germano já se apresentava como legítimo sucessor de Acácio.

A calma desde muito novo, as defesas parecendo, todas, fáceis, a colocação perfeita e o primeiro tricampeonato da história do Vasco com o mesmo goleiro nos três anos, assim começou Carlos Germano quando, enfim, se firmou no Vasco. A impressão, pelo menos a da memória combalida, é de que ele não caía, nem quando pulava lá no canto, nem pertinho do ângulo, no alto, como na falta do Gallardo na semifinal da Libertadores, em São Januário. O Carlos Germano dava a impressão de que pulava e continuava sempre de pé, tal a simplicidade com que ele defendia as bolas, sem nada de acrobático, como se cumprisse a rotina de sempre, batendo ponto, sem chegar nem perto, graças aos céus, de cometer o pecado de vibrar antes do apito final, por qualquer defesa isolada, imperdoável na gangorra que é a vida de um goleiro.

Foi desse jeito calmo, caindo de pé, sem perder o ar de sujeito tranquilo, cumpridor de seus deveres, que Carlos Germano evitou talvez uma briga feia, totalmente desarrazoada, na arquibancada apertada do Maracanã, no minuto final da decisão do Brasileiro de 1997, quando Oséas subiu deixando Odvan na saudade, pra cabecear o cruzamento perfeito a dois passos da pequena área e na frente dele, tapando a visão do lance bem naquela hora apareceu do nada a mão do vendedor, as faixas, e o grito do cara: olha a faixa do Vascão campeão! Se a bola entrasse, era bem possível que este torcedor ensandecido, aos vinte e cinco de idade, entrasse numa de arrumar confusão sem razão alguma pra isso, mas nada aconteceu graças a Carlos Germano ali, no lugar exato pra defender sem cair, como se fosse fácil, garantindo o tri nacional e depois, no ano do Centenário, o bi sul-americano, ele que assim como Acácio e Mazaropi, tinha o seu sucessor no banco.

Herdeiro da linhagem de Nelson, Jaguaré e Barbosa, Helton entrou no time mais ou menos como Acácio, só que em vez de final de Carioca, foi jogado às feras no primeiro Mundial da Fifa. Na final não tomou gol e pegou pênalti do Marcelinho, e naquele ano mesmo iria protagonizar aquela que talvez seja a atuação mais espetacular de um goleiro do Vasco, pois parece mesmo não haver registros cinematográficos, infelizmente, do que Barbosa fez ao pé da Cordilheira dos Andes, diante do ataque tido como fulminante de La Máquina.

Contra o mesmo River Plate, só que no estádio dele, em pleno Monumental de Nuñez Helton deixou estupefatos os argentinos num jogo em que até drible de letra deu em atacante adversário, um jogo em que o Vasco foi pressionado constantemente por Burrito Ortega, Pablo Aimar, Saviola e Cia e... ganhou de 4 a 1. Depois o Helton conquistou Mercosul e Brasileiro ao mesmo tempo, como nenhum outro goleiro, e em termos de carreira, talvez tenha sido o mais bem sucedido de todos eles, pois fez história como titular absoluto, durante anos, de outro clube gigante, de outro continente, no caso o Futebol Clube do Porto, onde, entre algumas copas e campeonatos portugueses, ergueu como capitão a Liga Europa.

Fábio estava no banco de Helton e teve tempo de ser campeão estadual como titular absoluto em 2003. No ano seguinte, abandonou o clube que rondava a zona de rebaixamento pra ir fazer sua história no Cruzeiro, encerrando a feliz fileira de bons goleiros, um atrás do outro desde Andrada, e deixando um vácuo só preenchido cinco anos depois, por Fernando Prass.

Primeiro goleiro a erguer uma taça como capitão no Vasco, no caso a Copa do Brasil de 2011, Prass não conquistou outro título, mas fez aquela sequência de defesas cara a cara no fim do jogo contra o Flamengo no Brasileiro de 2010, num dos derradeiros jogos do velho Maracanã. E dois ou três minutos depois, já nos descontos, pegou falta do Petkovic, garantindo a não derrota para o maior rival naquele jogo histórico, o último do time no estádio de toda uma cidade, imortal, tão bem inaugurado, em termos de clubes, pelo Expresso da Vitória, com a primeira taça, e cuja alma foi assassinada pelo capital financeiro, sob sorrisos de ignorância complacente da mídia especializada sem um texto sequer, sem uma campanha contra nem qualquer contestação ao projeto que viria a descaracterizar e inviabilizar comercialmente o Maraca, todos, repórteres, editores, cronistas, todas à época embasbacados pelas cadeirinhas acolchoadas, dobráveis, do tal padrão Fifa.

Fernando Prass fez ainda outra incrível sequência de defesas cara a cara nos minutos finais, e contra outro rubro-negro, na vitória suada de 1 a 0 sobre o futuro rebaixado Atlético Goianiense, no Brasileiro de 2012. Lembro-me bem dessa porque vi de perto, da social de São Januário, e me recordo ainda mais da maioria da torcida, os mais jovens, saindo do estádio revoltada, vaiando porque o time tinha jogado mal, e eu felicíssimo com os três pontos no campeonato de pontos corridos, com a vitória do Vasco garantida por Prass que não tinha a unanimidade da torcida, era criticado por boa parte dela, inclusive, até sair do Vasco pra fazer sua história no Palmeiras, e passar a ser muito mais valorizado pelos vascaínos, até por quem não gostava dele.

O vácuo dessa vez foi de um ano apenas, tempo suficiente para um rebaixamento e pra que os ares cisplatinos nos enviassem o goleiro que já é bicampeão estadual, um deles invicto, e que defendeu o Vasco na maior sequência sem derrotas de sua história. Longa vida a Martin Silva, que ainda tem muito a conquistar até 2020 e além, honrando a tradição exaltada não por ninguém da triste, inchada imprensa esportiva nacional após derrota tão sofrida, na marca da cal, não, mas por ele que, assim como os goleiros, merece nossa homenagem: o jornalista estrangeiro.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O Vasco, a imprensa e um blog no meio


Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Fluminense teve que assistir o filho bastardo ser maquiado e transformado em populista, pra enfrentar o time do português, do negro, do pobre, do povo, enquanto o Botafogo foi ser gauche na vida.


Antes de começar a apresentar o blog, é preciso dar um aviso. Há outro blog pairando na web como um eterno exercício, cujo endereço é o nome, igualzinho, deste. Fui eu que fiz, também, mas por alguma razão que escapa aos meus parcos conhecimentos na área, perdi a capacidade de mexer nele e fui obrigado, então, a tirar o artigo definido do endereço deste blog novo, atualizado, certinho, que agora se inicia com a pretensão de tratar desta relação tão conflituosa, com mais obsessão do que ódio recíproco, entre o Vasco e a imprensa esportiva.

Não existe a menor pretensão por aqui, é bom que se diga, de protestar contra o tratamento dispensado pela mídia especializada ao glorioso Vasco da Gama, primeiro campeão continental da história. A imagem lá embaixo, por exemplo, é de um jornal da época do documento que pode ser apontado como o mais importante da história do Vasco, quiçá de todo o futebol brasileiro, a resposta histórica contra o preconceito escancarado e o racismo ainda não tão velado, pior ainda, da aristocracia carioca nos anos vinte. O texto pode ser considerado o marco da popularização, no Brasil saído havia menos de quarenta anos de um regime escravagista, do esporte mais popular do planeta, mas no jornal ao lado saiu com uma introdução mal humorada, impaciente, começando com “só agora...”, naquele espaço de uma coluna, no canto, desprestigiado e chamado, no jargão das redações, de colunão.

O Globo ainda não existia, mas já havia a "grande mídia" e ela já torcia, como hoje, para o mesmo time, por isso não há a menor pretensão aqui de mudar algo tão arraigado neste setor tão importante para o bom funcionamento de nossa sociedade. Por isso, também, será seguida por aqui uma regra básica, na medida do possível: somente quem transitou dentro das quatro linhas do campo de jogo, ou comandou quem joga e jogava, como treinador ou na diretoria, terá seu nome exibido neste blog. Somente jogadores e juízes, talvez treinadores e, se for extremamente necessário, dirigentes. Dessa forma espero evitar que se cometam injustiças por aqui, que se nomeie um, dois, três ou quatro jornalistas como se eles, no geral, não fizessem parte de um universo de certezas pré-concebidas, de preferências definidas, do qual, se quiserem manter seus empregos, não podem sair.

A impressão assim, de fora, é de que a maioria não se incomoda nem um pouco, pelo contrário, até gosta de mostrar sempre a opinião contrária ao Vasco, seja discutindo lances polêmicos com ex-árbitros engravatados que, no campo, tanto nos prejudicaram, seja opinando contra o time até na retirada do direito histórico ao lado de sua torcida no Maracanã, conquistado no gramado, dizendo que tudo não passa de uma grande bobagem sem nem ver ainda o contrato suspeito que, supostamente, garantia a retirada, assinado por outro clube da cidade em acordo traçado com a empreiteira investigada sem qualquer informação ou comunicado ao dono do direito retirado, primeiro campeão do Maracanã com o Expresso da Vitória e o jornal ao lado falando em "vitória final" no título, sem conseguir dizer que o Vasco era campeão nem no subtítulo, onde, aliás, ressaltou "cenas lamentáveis nos últimos minutos" e algo relacionado à arbitragem. 

Não, o A pauta é Vasco não vai lutar contra essa tendência natural de nossa grande mídia, de opinar contra o nosso time. O blog acredita, tanto quanto crê nos deuses da bola, que esse comportamento único, diferenciado, da imprensa em relação ao Vasco sempre foi motor da história do clube, alimentando as conquistas igualmente únicas, diferenciadas, da camisa com a qual Pelé fez seus primeiros gols no Maracanã, aos 17 anos, e daí foi convocado pela primeira vez pra Seleção. Sem essa atenção toda especial dedicada pela mídia ao Vasco, não haveria a Libertadores na semana do aniversário do Centenário, nem virada de 0 a 3 pra 4 a 3 em final de torneio continental, com um a menos e na casa do adversário enorme em títulos, torcida, tradição, vitória que nenhum outro time no planeta tem, e isso tudo na virada não do século, mas do milênio.

Comentários tendenciosos, portanto, avais dados a erros de arbitragem contra o Vasco com inversão do ponto de vista como se o prejudicado fosse, na visão deles, beneficiado, tudo isso revolta, de fato, mas nada que justifique sair gritando por aí, gastando energia pra lutar contra algo que jamais será mudado, e que às vezes, na lei das compensações regida pelo destino, é até engraçado. O problema acontece quando os prejuízos ao clube ultrapassam as linhas do gramado, as páginas e telas da mídia especializada, e adentram nas entranhas, invadem o espaço privado, sagrado, de uma instituição centenária amada por dezenas de milhões.

A Justiça, com o apoio incondicional da dita grande mídia, já interveio uma vez no Vasco da Gama, impôs uma diretoria não eleita pelos sócios e foi um desastre, a pior administração da história do clube. Agora, tentam de novo usando os mesmos argumentos de dez anos atrás, as mesmas pessoas, e nesse caso cabe ao blog a esperança, talvez ingênua, de reduzir um pouco o número de vascaínos de verdade que ainda caem no conto dos jornalistas que primeiro são flamenguistas, ou Corinthians, a depender do estado, e depois são tricolores, santistas, botafoguenses, torcedores sinceros dos São caetanos da vida, dos Avaís, Figueirenses, do Luverdense ou do Bragantino, de qualquer time que enfrente o último deles na fila, aquele que, vindo da Zona Norte, das divisões mais baixas desde sempre afrontou a pacata burguesia e a decadente aristocracia da Zona Sul, que jamais engoliram o Vasco dos portugueses, dos negros, pobres e mulatos saído da segunda divisão e, logo no primeiro campeonato, dando que dando nos menininhos bem nascidos do Botafogo, do Flamengo e do Fluminense, revolucionando de vez, para todo o sempre, o futebol brasileiro, trazendo o povo pra dentro, abrindo as portas pra Fausto, Leônidas, Domingos da Guia, Eli, Sabará, Pelé e cia e definindo de vez o papel dos quatro grandes do Rio. Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Fluminense teve que assistir o filho bastardo ser maquiado e transformado em populista, pra enfrentar o time do português, do negro, do pobre, do povo, enquanto o Botafogo foi ser gauche na vida.

O novo ataque jurídico-midiático ao Vasco, com a imprensa atrás empurrando, esse é o motivo principal do surgimento deste blog, pra ir contra mesmo, de frente, contra essa imprensa que durante seis anos e meio fez vista grossa ao abandono gradativo, sistemático, de São Januário, à água sendo cortada, à piscina ficando esverdeada, aos rebocos caindo junto com o time, com as dívidas triplicando e um menino, até, de 14 anos, morrendo durante um treino na base, tudo no trágico período em que o clube foi administrado pela gente colocada lá pela Justiça, a mesma gente que agora tem o Ministério Público ao seu lado e o apoio amplo, total e irrestrito da mídia pra voltar.

É preciso ir contra isso, trabalhar pra desnudar esse novo conluio, novamente alicerçado em denúncias ridículas, de contos da carochinha, mas é preciso também exaltar esse tal de Vasco da Gama, e com o entusiasmo e a paixão de quem cresceu achando Catinha melhor que Garrincha, Guina melhor que Rivelino e o Orlando Lelé muito, mas muito melhor que o Leandro, e este último de fato, na lateral e na zaga. Por isso, e pra começar já com certo volume, além do que já foi escrito para o exercício que vaga por aí, no endereço que deveria ser deste blog, mais abaixo estão textos transferidos ou reproduzidos de outro blog bem pessoal, o Relatos, espécie de currículo virtual deste discreto jornalista.

Também é possível que apareçam pitacos sobre o time por aqui, talvez até em tom de desabafo contra um jogador ou outro, como Kelvin, infelizmente lesionado, mas que antes da lesão conseguiu não produzir nada de efetivo, nem gol, nem passe pra gol, nem jogada de gol, nada em seis meses com diversos comentaristas da grande mídia repetindo, iguais, que ele era "liso", que tinha dado outra vida ao Vasco ou coisa parecida e o fazendo, mais que tudo, por preguiça, porque não estavam preocupados com isso, queriam mais que o Vasco se danasse. Mas há vascaínos aos montes que assistem aos programas, que leem os jornais e acreditam, e por isso ficam nesse mal estar com o próprio time, reclamando de tudo, minimizando as conquistas. Pra ir contra isso, sempre que possível, é que o blog começa agora, com o aviso de que irá tratar de um tema apenas, de que aqui, a pauta é Vasco.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...