domingo, 20 de novembro de 2022

Como há cem anos


E no primeiro jogo no Caldeirão sagrado com a estátua do artilheiro máximo da Cruz de Malta, artilheiro maior do campeonato brasileiro em todos os tempos e assim também do campeonato carioca, (...) no gol exato da estátua ali inaugurada explodiu um novo garoto dinamite, Figueiredo, fazendo o gol inaugural de seus quatro, até aqui, como profissional do Vasco, todos golaços, e o primeiro deles no jogo que sacramentou a entrada do clube, para não mais sair, no G quatro.

Então Thiago Rodrigues fechou o gol como Acácio no Morumbi em dezembro de 89, como Carlos Germano no Maraca no mesmo mês, em 97, como Helton no Monumental de Nuñez em 2000 e como Barbosa, contra o mesmo River, no solo sagrado do Estádio Nacional de Santiago, ao pé da Cordilheira dos Andes, em março de 1948, antes de todos os outros títulos continentais da história, de todo o planeta, de todos os clubes. Então Nenê converteu o pênalti como Roberto em 77, como Romário, Jorginho Paulista, Viola e os Juninhos no campo do Rosário, contra o Rosário Central em solo argentino, duas fases antes daquela que seria a maior virada de toda a história desse tal de futebol.

E o pênalti foi convertido porque antes trombou Raniel com o goleiro, da mesma maneira que já tinha trombado contra o mesmo Ituano em São Januário, e também contra o Londrina, numa das vitórias mais importantes de todo o campeonato, e da mesma forma que certamente trombou Ismael, igualmente centroavante e negro, contra peruanos, bolivianos, equatorianos, chilenos, uruguaios e argentinos, fazendo gol decisivo como o do 1 a 0 contra o Emelec, ou abrindo caminho para outros de Lelé, Ademir, Friaça e Danilo no maior, para sempre, de todos os títulos. E negro como eles, Raniel e Ismael, também atacante, trombou antes Claudionor Corrêa, o Bolão, antes de todos os outros, trombou com os zagueiros adversários há cem anos, com a camisa vascaína.

Há cem anos o Vasco subia à divisão principal do futebol de seu estado pela primeira e última vez com o pessoal da foto ao lado, e esse de chapéu branco no meio, acima do lendário goleiro Nelson e negro como ele, mais forte, mais alto, justificou a marra da foto sendo o artilheiro do Vasco no certame, autor de quatro gols, simplesmente, no jogo que sacramentou o acesso, 8 x 3 no Carioca, no gramado da Rua Moraes e Silva, ancestral do quase centenário caldeirão de São Janu. Claudionor Corrêa, o Bolão, atacante em 1922 e meia, volante, jogando mais recuado contra os tais Flu, Fla, Bota, América e outros times da burguesia branquinha criada em Paris, ajudando o Vasco dos negros, dos portugueses sem entrada nos salões com rapapés e vitrais, a ganhar de todos eles, logo de cara, direto da segunda pra vencer o campeonato da primeira, com Nelson ainda no gol, mais Leitão e Mingote, Cláudio, Oitenta e Quatro, Torterolli, Paschoal, Negrito e no meio, gigante, origem da linhagem de Fausto, Danilo, Alcir, Dunga, Mazinho, Zé do Carmo, Allan e Douglas Luis, Claudionor Corrêa, o Bolão.

Então Andrey Santos, último e atual dessa linhagem de volantes craques, foi expulso, assim como Nelson nada craque em 97, antes do hat-trick com letra e tudo de Edmundo e de Maricá sacramentando o rival goleado, de quatro, assim como Júnior Baiano em 2000, pra tornar mais inacreditável ainda a maior virada de todos os tempos, contra o campeão brasileiro da Série A de 2022, time com o mesmo nome do último adversário do certame de 1922, o saudoso Palmeiras carioca, vencido pelo Vasco por cinco a zero no campo do Andaraí, com dois de Torterolli, um de Cardoso Pires, outro de Negrito e mais um dele, Claudionor Corrêa, o Bolão.

E no primeiro jogo no Caldeirão sagrado com a estátua do artilheiro máximo da Cruz de Malta, artilheiro maior do campeonato brasileiro em todos os tempos e assim também do campeonato carioca, jogo, a propósito, dos mais importantes do campeonato, contra o todo poderoso Bahia, primeiro de todos os campeões brasileiros da história, exatamente no gol onde foi feita finalmente a justiça da balança, de um lado este que no Brasil é inigualável, do outro, simplesmente, o maior fazedor de gols em jogos oficiais do mundo da história, maior que Pelé, Maradona, Puskas, Cristiano Ronaldo, Gerd Muller e Eusébio, Roberto Dinamite e Romário, os dois criados em São Januário, eles que jogaram juntos e graças a todos os deuses da Bola por ter tido idade pra ver isso ao vivo em 1985, em 86 e, principalmente, em 87, e cada um atrás de um gol do estádio histórico, lendário, muito mais do aquém do além do sagrado, e nesse estádio, no gol exato da estátua ali inaugurada, explodiu um novo garoto dinamite, Figueiredo, fazendo o gol inaugural de seus quatro, até aqui, como profissional do Vasco, todos golaços, e o primeiro deles no jogo que sacramentou a entrada do clube, para não mais sair, no G quatro.

Há cem anos, Claudionor Corrêa, o Bolão, vindo do Bangu pra virar lenda no Vasco, fez os dois gols na vitória fundamental contra o Vila Isabel, então nosso maior adversário, único a nos vencer, um a zero no turno do campeonato, e no returno a virada, dois a um, do futuro time da virada, assim como foi de virada, a única em São Januário, a sofrida vitória sobre o Criciúma com Caldeirão sempre lotado, no jogo em que mais ficou clara, nítida, a vontade dos deuses da Bola, cem anos depois de Bolão, sobre o desfecho do campeonato, jogo esse no qual mais uma vez foi decisivo um jogador de 41 anos, ainda evoluindo pelos gramados, e que faria dois gols num jogo só também, contra o Brusque em casa, os dois de bola rodando e o toque de maestro, canhoto, craque.

Então Nenê recebeu a assistência meio que escorregando de Edimar, que certamente teve ajuda no lance de Orlando Lelé, de Coronel e de Jorge, e muito provavelmente também do sujeito na sua posição há cem anos, Nolasco. Recebeu no reflexo, porque só deu tempo de deixar a testa na direção da bola e o resto ficou com os deuses da bola que tocou no zagueiro, desviou do goleiro e entrou de mansinho. Então Fábio Gomes, no máximo esforçado, subiu com a perfeição de um Ademir de Menezes, testou com o faro de gol de Vavá e, por que não, com a estrela de Claudionor Corrêa, o Bolão, e até o especialista, na transmissão, afirmou que alguém lá em cima queria muito o acesso do Vasco.

E se o Nacional do Uruguai tem para sempre um lugar guardado no coração de todo vascaíno conhecedor da história, pelos três a zero aplicados no todo poderoso River, La Máquina, que nos garantiu a vantagem do empate na decisão da primeira taça continental de todas, assim também deve acontecer com o saudoso Americano, não o de Campos, mas do Engenho de Dentro, único time a conseguir empatar com o nosso, há cem anos, e que tomou um a zero do Vila Isabel num pênalti no comecinho, mas conseguiu virar, dois a um, para dar a liderança finalmente, a quatro rodadas do fim do certame, ao Vasco.

Há cem anos, no segundo jogo mais importante do campeonato, contra o querido Americano do Engenho de Dentro, na partida anterior à da garantia da taça Claudionor Corrêa, o Bolão, fez novamente os dois gols da vitória, dessa vez por dois a zero, e dois gols fez também, no momento crucial da primeira virada do time da virada, fora de casa, a melhor notícia recebida durante a temporada, o cria craque, Alex Teixeira, finalmente de volta. Voltou porque quis, simples assim, aceitando o que o Vasco tinha pra oferecer e claro que foi criticado por estar fora de forma, claro que teve um gol anulado, embolado, sem dar pra vaticinar nada com certeza, daqueles que são anulados ou não, a depender da camisa e da importância do fato, e o gol de Alex Teixeira, que seria o do empate contra o Brusque no jogo da volta, claro que foi anulado, mantendo a sequência negativa recorde fora de casa, que só seria quebrada pelo próprio Alex Teixeira nos quase inacreditáveis, não fosse o Vasco o Vasco, três a dois no Operário, naquela que o blog considera a maior vitória do campeonato.

Então Raniel foi xingado, vaiado, assim como o foi Thiago Rodrigues após a doída derrota, única em casa, para o Sampaio, mostrando o lado ruim dessa torcida que carregou o time, de fato, em diversos jogos do campeonato. Raniel já tinha decidido contra a Macaca, contra o Londrina e o Criciúma, ambos fora de casa, além de já ter evitado derrotas para o CRB, fora, e para o Ituano e o Vila Nova em casa, e ainda assim começou e continuava a ser intensamente vaiado, xingado pela mesma torcida que já ofendeu com a mesma raiva, o mesmo ódio, Fabrício, Cristóvão Borges e Diogo Silva, sempre, infelizmente, o ódio maior direcionado a um jogador ou treinador negro.

E Raniel, simplesmente, depois de ser intensamente vaiado, xingado, fez o gol mais importante do acesso, batendo pênalti no último minuto, fora de casa, contra toda a torcida adversária, gol que seria raro, porque sendo do empate, valeu a vitória, graças ao ódio dessa vez do adversário. De quarto passamos a ser, após a decisão do STJD, terceiro colocado, mesma posição de 2014 e 2016, numa campanha de altos e baixos, com a experiência dos fortes, não necessariamente craques, e os deuses da Bola, mais uma vez, fazendo surgir ou amadurecer, de uma só vez, Andrey Santos e Figueiredo, já aqui falados, e Marlon Gomes, Pec e Eguinaldo, crias como Alex Teixeira e, poucos sabem, também o capitão Anderson Conceição, todos, crias ou não, no ataque, no meio ou na contenção, todos sucessores de Claudionor Corrêa, o Bolão.

Em 1922 Bolão anotou 15 gols em todo o campeonato, e em 2022 os deuses da Bola decidiram que acontecesse o que acontecesse, pandemia, terremoto ou SAF, um dos clubes da Série B a subir para a Série A de 2023, cem anos depois de 1923, teria de ser o Vasco.

Pitacos em itálico

E a semifinal do campeonato calhou de ser flamengo e Vasco e no jogo de ida, 0 a 0 até que o varmengo cruza a bola na área, a disputa no alto, embolada, e dá pra acreditar que uma semana depois da polêmica contra o Vasco, num lance praticamente idêntico o var então agiu e viu, sem sombra de dúvida, o pênalti marcado para o queridão da Gávea? Sim, dá pra acreditar, claro, e ninguém achou estranho entre os especialistas, ninguém nem lembrou do lance não marcado a favor do Vasco, só os comentários de praxe sobre a imensa superioridade técnica do time deles em relação ao Vasco, em mais uma vitória pela diferença mínima, com a ajuda fundamental da arbitragem.

*E o primeiro comentário do especialista loirinho, branquinho, ex-jogador mediano alçado por alguns empolgados à condição de craque, diante da invasão da torcida do Sport que arrombou o portão e, entre outras atrocidades, esmurrou e chutou uma enfermeira indefesa, que socorria feridos no gramado, diante disso o primeiro comentário do especialista louro, branco e privilegiado foi condenando o autor do gol, coincidentemente negro, por comemorar diante da torcida adversária com as mãos nos ouvidos, um gol, a propósito, importante pra, com o perdão da palavra, caralho. E mesmo que depois muitos outros especialistas tenham saído em defesa de Raniel dizendo acertadamente que nunca, jamais, ele poderia ser alçado a protagonista do lamentável fato, mesmo com o óbvio ululado, reiteradamente falado, Raniel foi expulso pelo juiz e pegou, de cara, sem contestação, dois jogos, mostrando o quanto é forte, certo ou, como nesse caso, errado, o quanto é poderoso um primeiro comentário.

*E bem antes, logo após o Campeonato Carioca, a mídia especializada achou uma equivalência entre 1922 e 2022, sem falar nada do título da segunda divisão carioca do Vasco. Pois a mídia especializada conseguiu juntar 22 e 22, cem anos depois, como os dois únicos anos nos quais o Vasco não venceu um clássico, mas como clássico em 1922, se todos os outros grandes do Rio não disputaram este ano o mesmo campeonato que o nosso, se todos sabemos que Flu, Fla e Botafogo jogaram pela primeira vez contra os Camisas Negras no ano da graça de 1923, primeira participação e primeiro título no campeonato carioca do Vasco? Pois a flapress é marota, malandra, e se não fala nunca do Sulamericano de 48, se considera uma vitória sobre escoceses bêbados com um goleiro vendido mais Mundial que os 4 a 3 no pentacampeão continental Real Madrid de Di Stéfano e cia, em solo europeu, durante este pentacampeonato, é mole pra eles inventar que o primeiro Vasco x flamengo não foi o 3 a 1 de virada em 1923 com Bolão também em campo, não, foi, na verdade, o único clássico que o Vasco jogou em 1922, uns 15 minutos de uma pelada de torneio início contra o supermengão que venceu por 1 a 0 e disso eles lembram, claro, na vã tentativa de mudar a história, sempre contra o Vasco.

*E no jogo da Taça Guanabara com o superqueridinho da mídia e do var, o Vasco, pra variar, teve um pênalti não marcado. Dois a um pra eles e no último lance o cruzamento, a disputa no alto e a bola no braço do defensor da Gávea. Pênalti? Var em ação? Não, nada, segue o jogo e ficou o placar de 2 a 1, golaço de Pec para o Vasco. E a semifinal do campeonato calhou de ser flamengo e Vasco e no jogo de ida, 0 a 0 até que o varmengo cruza a bola na área, a disputa no alto, embolada, e dá pra acreditar que uma semana depois da polêmica contra o Vasco, num lance praticamente idêntico o var então agiu e viu, sem sombra de dúvida, o pênalti marcado para o queridão da Gávea? Sim, dá pra acreditar, claro, e ninguém achou estranho entre os especialistas, ninguém nem lembrou do lance não marcado a favor do Vasco, só os comentários de praxe sobre a imensa superioridade técnica do time deles em relação ao Vasco, em mais uma vitória pela diferença mínima, com a ajuda fundamental da arbitragem.

 *E depois de decidir contra a eleição online para presidente do varmengo, a Justiça do estado do Rio de Janeiro deu nova decisão semelhante, dessa vez referente ao pleito para presidente do freguês eterno dos vitrais das Laranjeiras, dizendo também que o clube sem títulos internacionais tem soberania para decidir os próprios destinos sem a interferência do Judiciário que há 20 anos interfere na eleição do Vasco, Judiciário que, a respeito do nosso clube, aceitou, ratificou e oficializou a eleição numa enquete online feita por empresa suspeita, que abriu caminho pro novo Vasco comandado, agora, por um flamenguista, o Vasco da SAF.

*Nada que mude, graças aos deuses da Bola, a história passada, inigualável, do Vasco, que começa a ser contada como deveria, nas telas, primeiro pelo vascaíno Marco Antonio Rocha, camarada, com a ótima ideia do filme sobre o Sulamericano de 48, um título único, inigualável, que paira, sozinho, na categoria do lendário. E gente ainda mais famosa, como Lázaro Ramos e Taís Araújo, com a retaguarda da Amazon, está prestes a levar ao streaming a história mais bonita do futebol, dos Camisas Negras aí em cima, bicampeões cariocas nos nossos dois primeiros campeonatos e antes, há cem anos, heróis do nosso primeiro acesso, com Clauidionor Corrêa, o Bolão aí de boina, tirando onda deitado ao lado do goleiro Nelson.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...