domingo, 13 de setembro de 2020

O sonho não acabou

Foto: Marcos de Paula/AllSports
    

            Aí veio o jogo contra o Dragão em São Januário, mais um gol de um toque só de German Cano e a certeza de que mesmo com o melhor início de Brasileiro em alguns anos, mesmo com o time visivelmente mais consistente, com zaga firme, meia eficiente, artilheiro nato e craque em formação criado em casa vai ser muito, muito difícil que o Vasco vença um torneio de pontos corridos com Var e pago, patrocinado por ela, mídia esportiva.


Marrony e Guarin saíram e exagerei um pouco no valor recebido pelo Allan, apesar de ter acertado o clube do negócio. O restante da roda do mercado na Europa também não girou ainda como o esperado para as crias de nossa base e o futebol voltou antes de minhas previsões, sem nenhuma das alterações no calendário imaginadas por conta da pandemia, sem nem uma tabela pensada pra reduzir o número de viagens dos clubes, com o Grêmio, por exemplo, indo ao Ceará jogar com o Vozão e três dias depois com o Fortaleza, e o Fortaleza indo pra Porto Alegre uma vez só, pra jogar logo com Grêmio e Inter e pronto, não, nada disso foi feito nem, ao que parece, pensado, afinal estamos no Brasil. No Sonho de quarentena do texto anterior, acertei também a saída do Raul, embora nem tenha cogitado o Bragantino, mas meu maior acerto, modéstia à parte, foi quando disse que “com a discrição de seus tempos de jogador, Ramon ganhou o grupo do Vasco e conseguiu variar bem o time tanto tática quanto tecnicamente, passando do 3-5-2 ao 4-4-2, combinando um 5-3-2 com eventual 4-2-4 e, se preciso, o 6-3-1”. Começo a escrever este texto após a derrota para o Atlético Goianiense em casa, com arbitragem de Héber Roberto Lopes, há 17 anos, pelo menos, garfando o Vasco, que será melhor analisada, a arbitragem e sua dobradinha com a transmissão da mídia, nos Pitacos em itálico lá embaixo. Começo a escrever este texto após uma derrota em casa jogando, apesar da arbitragem, menos que o adversário, começo a escrever horas antes de um clássico no campo do rival para afirmar, ao mesmo tempo esperançoso e convicto, que o sonho não acabou.

Já nos jogos-treinos do retorno de pandemia deu pra notar, vá lá, jogos-treinos, mas duas goleadas de cinco seguidas fazia tempo que o Vasco não dava, e na estreia do Brasileiro Felipe Bastos foi o cara, com Benitez começando a dar o que falar. No jogo seguinte, contra o São Paulo, também em São Januário, Cano mostrou ao Brasil suas cartas, Andrey continuou a jogar muito e deu outra assistência de craque pro artilheiro argentino abrir o placar contra o Ceará fora de casa. Felipe Bastos varou de novo e no último minuto ele, Lucas Ribamar, arrancou e tirou de Fernando Prass batendo de chapa pra colocar o Vasco, no dia de seu aniversário de 122 anos, na liderança do campeonato com dois artilheiros, o ataque mais positivo e a defesa menos vazada, tudo isso com um jogo a menos.

O mesmo Andrey das assistências providenciais a Cano arrancou no último minuto contra o Grêmio e não tocou pra Bruno César livre dentro da área, preferiu chutar e o Vasco perdeu os primeiros dois pontos, no quarto jogo do campeonato, e no quinto a ducha de água fria com a Lei do Freguês. A cada três ou quatro anos ganhando todas do tricolor dos vitrais das Laranjeiras, temos que perder uma, diz a Lei, pra manter intacta, ao longo dos séculos, tamanha freguesia. Pelo menos teve gol de Talles Magno, desencantando finalmente com a nossa muy pesada camisa 11. Depois veio um empate jogando bem contra o Santos na Vila Belmiro, com Bastos de novo, pela quarta vez, varando, e Cano frio, de pênalti, ele que decidiu contra o Athletico em São Januário, sem goleiro, depois de jogadaça de Benitez com participação, também, de Pikachu. Aí veio o jogo contra o Dragão em São Januário, mais um gol de um toque só de German Cano e a certeza de que mesmo com o melhor início de Brasileiro em alguns anos, mesmo com o time visivelmente mais consistente, com zaga firme, meia eficiente, artilheiro nato e craque em formação criado em casa vai ser muito, muito difícil que o Vasco vença um torneio de pontos corridos com Var e pago, patrocinado por ela, mídia esportiva.

Ponto corrido é muito difícil, mas temos duas competições de mata-mata nesta louca temporada do coronavirus, uma delas não paga pela tal mídia, muito provavelmente sem juiz da CBF. Com o que já deu pra ver do Vasco ramonizado deste ano, temos time, sim, pra ganhar a Sulamericana, torcendo para que todos os brazucas passem na Libertadores, pra nos livrarmos do mal de arbitragens como a do marombado contra o Cruzeiro na Liberta de 2018, Caldeirão lotado e o cara valida o primeiro gol dos caras com três em impedimento e pronto, tá feito o serviço, finalizado o Vasco na Libertadores. Sem esse tipo de arbitragem hoje completamente esquecida, enterrada pela mídia especializada, temos chances enormes na Sula, e mesmo com essas arbitragens temos chance, também, na Copa do Brasil, porque, afinal de contas, Vasco é Vasco, como mostrou a classificação diante do Goiás, que não foi o 3 a 0 tranquilo, sem sustos, previsto aqui, mas veio de qualquer maneira, nos pênaltis, com gol de Henrique, golaço de Benitez e atuação antológica de Fernando Miguel.

 

Pitacos em itálico

E logo em seguida de todos nem falarem em título pro Vasco após a vitória no clássico, o apresentador chamou assim o próximo assunto: “agora vamos falar de alguém que vai brigar pelo título claramente, mas que hoje perdeu, tropeçou”. Era o queridinho, claro, que perdeu na mesma rodada para o time que levara de 3 a 0 do Vasco.

*Vendo e revendo o lance do gol anulado de Cano contra o Atlético Goianiense, em câmera lenta, parando e voltando a imagem, só dá pra ter uma certeza absoluta. A de que a bola bateu antes no braço do zagueiro, dentro da área, e só depois bateu no argentino, se no braço, na costela ou no sovaco, não dá pra saber com certeza, nem com a imagem parada. Outra certeza que temos vendo e revendo o lance é a de que o braço do zagueiro não, não estava colado ao corpo, e numa disputa tão próxima com Cano, se a bola não batesse no braço não colado ao corpo do zagueiro do Atlético dentro da área, não só não bateria no nosso super mega artilheiro como poderia sobrar pra ele livre, de frente pro goleiro. Pênalti? Não para o comentarista de arbitragem da transmissão do jogo, que não só afirmou sem sombra de dúvida que tal braço descolado na bola, em disputa muito próxima com o atacante, não influenciou na jogada, como viu, com visão de raio-x, microscópica, o braço, sim, de Cano na bola, com certeza absoluta como todos os especialistas que o seguiram e também não questionaram o pênalti antes do braço do argentino, e o mesmo VAR que evitou duas derrotas do queridinho nos últimos minutos, marcando pênaltis parecidos, achou que pro Vasco, no último minuto, não era pra marcar, e é por isso que pra ganhar um campeonato decidido às vezes desse jeito, com a maior naturalidade, sem polêmica, teremos que ser sempre, cada vez mais, muito mais Vasco.

*Mas claro que não há a menor possibilidade de título segundo a mídia especializada, nem para o especialista que decidiu defender as chances de objetivos maiores para a equipe cruzmaltina no campeonato, na mesa redonda em que todos repetiam a ladainha de sempre após mais uma vitória, a de que brigar pelo título, nem pensar, o Vasco não vai, não vai e pronto, sem chance. Pois o especialista resolveu divergir dos colegas e disse que, sim, o Vasco ia brigar na parte de cima da tabela. “O Vasco pode, sim, brigar pelo segundo, terceiro, quarto lugar, por que não?”, questionou o especialista que resolveu defender nosso time, sem nem resvalar no primeiro lugar. Na mesa redonda do mesmo canal, após a vitória sobre o São Paulo, alguém resolveu perguntar, rindo obviamente, se o Vasco brigaria pelo título, e todos os demais debatedores caíram na gargalhada. Hoje, após a vitória sobre o Botafogo naquele que foi, até agora, o melhor jogo do campeonato, com o Vasco chegando à quarta colocação com um jogo a menos e o ataque mais positivo, um deles chegou a dizer que o Botafogo tinha mais jogo que ponto, e o Vasco tinha mais ponto que jogo, o que foi repetido, a propósito, por outros dois especialistas em outro canal. Pelo menos ninguém mais caiu na gargalhada, o que já é um bom sinal. Ah, e logo em seguida de todos nem falarem em título pro Vasco após a vitória no clássico, o apresentador chamou assim o próximo assunto: “agora vamos falar de alguém que vai brigar pelo título claramente, mas que hoje perdeu, tropeçou”. Era o queridinho, claro, que perdeu na mesma rodada para o time que levara de 3 a 0 do Vasco.

*Termino de escrever este texto feliz, inebriado com a vitória fora de casa sobre o mesmo time que venceu o Galo, que tirou dois pontos do queridinho no Maraca e só não venceu por causa do VAR. Teve gol de Ribamar, de Cano a la Pelé e Bernardo, conferido o rebote no embalo da jogada, e de Igor, o Catatau. após jogada em que Marcos Júnior encarnou Patrick Vieira, Zé do Carmo, Beckenbauer e Tigana. E ao analisar a partida, o especialistas que "defendia" o Vasco disse que "o Pikachu ainda falta um pouco", contribuindo para o estranho movimento de manada das redes que atinge um ou dois ou três jogadores de uma vez e nos últimos dias vem sendo direcionado, simplesmente, para o jogador do elenco do Vasco que mais gols tem com a camisa do clube. E na vitória de 3 a 2 sobre o Botafogo no Nilton Santos, Pikachu salvou um gol quando estava 0 a 0, depois acertou um chutaço de fora da área que por alguns centímetros não resultou no gol de Talles Magno. Pikachu participou do primeiro gol, tabelando com Marcos Jr. e deixando, com um toque, à feição pra Benitez cruzar e provocar a lambança na zaga adversária, e se foi batido por Kalou, craque de nível internacional, na jogada do segundo gol botafoguense, conseguiu desarmar o marfinense em outro lance parecido mais pro fim da partida, depois da defesaça fotografada pelo André Durão, de Fernando Miguel, que pegou outra de cara, assim como na final revolucionária da Taça Guanabara de 2019, voou também em ponte linda e começa a ganhar a confiança deste fã eterno de Martín Silva. E depois dessa vitória, dessa atuação de Pikachu, ainda teve gente se dizendo vascaíno e falando mal de nosso lateral nas redes, o que só leva este blog a torcer para que o público não volte tão cedo aos estádios, não esse público.

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