quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Começa hoje, no solo do Chile, sagrado há 70 anos


Que Barbosa abençoe Martin Silva, que Augusto, Wilson e Rafagnelli se postem junto a Erazo, a Ricardo, que Jorge ilumine Henrique e que Eli faça Pikachu igualá-lo em tamanho, se for preciso; que Danilo guie os passes de Wellington e Desábato, que Ismael sopre a dica do gol a Andrés Rios, que Paulinho honre Chico, Friaça e Ademir e que Lelé encarne em Evander

A culpa é toda deles, dos deuses da Bola, que fizeram do Vasco o primeiro campeão continental da história e setenta anos depois, no redondo da data tão caro às pautas jornalísticas, contra todos os prognósticos dos especialistas, que em uníssono previam luta ferrenha contra o rebaixamento, deram ao time, de novo, a dádiva de disputar o maior título da América, e iniciando a trajetória no mesmo Chile do Campeonato dos Campeões Sulamericanos de 1948.

É hoje, no Chile, mas não na capital Santiago, onde foi disputado o torneio que mesmo com quarenta, cinquenta rebaixamentos programados, se for o caso com mudança de diretoria, manterá sempre o Vasco a justificar o adjetivo usado pela Conmebol em seu site pra falar do clube, mítico, quando o assunto é disputa de título sulamericano. O jogo é em Concepción, segunda maior cidade do Chile, onde o Vasco também já esteve num mata-mata de Libertadores, como mostra a foto acima do Romário em frente ao colombiano Navarro Montoya, goleiro por muito tempo do Boca, no duelo com o inevitable goal do Baixinho, mas vencido mesmo por Juninho Paulista.

O jogo de hoje não é contra o Deportes eliminado em 2001, mas contra a Universidad de Concepción, com quem nunca nos defrontamos e por isso, mais do que nunca, todo respeito ao adversário, concentração total nessa hora em que o time começa a principal competição da década açoitado sem parar pelo noticiário negativo. A mídia poderia até, quem sabe, exaltar um pouco a campanha considerada extraordinária, imprevisível, por ela mesma, mas desde o feito conquistado num São Januário em festa, depois de atacado e interditado, o que se viu nas tevês, sites, jornais e revistas, se é que ainda existem, foi só eleição, juíza, polícia, neste segundo golpe jurídico-midiático em curso contra o Vasco, ainda.

O Globo, por exemplo, não gastou uma linha da matéria de quase página inteira sobre a estreia do Vasco na Taça Libertadores da América de 2018 pra falar do Sulamericano de setenta anos atrás, nem com a bicoincidência do local e da data redonda, nem quando disse no início do texto que o Vasco tem uma Libertadores, sem qualquer referência a outro campeonato. Mas o jornal falou de política, ainda, de urna, HD ou qualquer que seja a estratégia pra emplacar o candidato que a mídia apoia incondicionalmente, mas que não consegue dizer quem é.

Nenhum perfil detalhado até agora, onde trabalhou, que projetos realizou, se é casado, tem filho, se pagou ou não a escola do filho, nada disso foi revelado até agora pela mídia que pra definir seu preferido, o homem certo para o Vasco no momento da renovação dos direitos televisivos, do mesmo grupo político que assinou, anunciando o contrato satisfeito, o rebaixamento progressivo, ano a ano, das cotas do clube em relação a Corinthians e Flamengo, pra definir seu candidato a presidente do Vasco a mídia não vai muito além, nunca, do nome dele e de dois sorrisos de cartaz de político, o do candidato e o do Edmundo.

O processo de ataque de fora ao Vasco, que continua, incluiu o torniquete financeiro instituído ao clube pela emissora investigada por tanta propina que o FBI diz que ela pagou por aí, por tantas décadas, emissora que, dona de fato do futebol brasileiro, tem por praxe adiantar sempre algum dos contratos aos clubes, ainda mais na difícil virada de ano, sem mais receita dos jogos e com custos dobrados. Mas não dessa vez pro Vasco, nada de adiantamento de contrato e o clube perdeu seus principais jogadores da defesa e do meio-campo, num erro, com relação ao setor defensivo, dessa vez de Eurico Miranda, porque Anderson Martins deveria ter o dele garantido não importa como, do bolso da diretoria, do empresário, tinha que ficar no clube de qualquer jeito como jogador essencial que era, mas vá saber, vá saber se a saída dele também não é coisa dos deuses da bola. Afinal de contas, Ricardo está aí, surgindo justamente agora, e Paulão e Erazo têm pinta, juntos, de futura zaga histórica.

O Chile tem o deserto do Atacama, tem os lagos andinos e a Ilha de Páscoa, e tem o clima que a história mostra fazer muito bem ao Vasco. Foram seis jogos lá pelo Sulamericano de 1948, mais dois na Libertadores, um em 1990, outro em 2001 e nenhuma derrota, cinco vitórias e três empates. Até as projeções matemáticas, portanto, estão hoje contra o Vasco que não tem mais Madson, nem Anderson Martins, nem Mateus Vital nem Nenê, mas tem a camisa, campeã sulamericana antes mesmo da existência da Libertadores.

Que Barbosa abençoe Martin Silva, que Augusto, Wilson e Rafagnelli se postem junto a Erazo, a Ricardo, que Jorge ilumine Henrique e que Eli faça Pikachu igualá-lo em tamanho, se for preciso; que Danilo guie os passes de Wellington e Desábato, que Ismael sopre a dica do gol a Andrés Rios, que Paulinho honre Chico, Friaça e Ademir e que Lelé encarne em Evander; e que a mídia siga o exemplo do Globo Esporte na tevê hoje, com a bela matéria sobre o primeiro título continental vascaíno, como já tinha feito há uns anos, sem nem o clube estar na Libertadores.

Que parem as máquinas mantenedoras da guerra sem fim no Vasco, que a torcida esqueça as disputas políticas, os candidatos inflados pela mídia e se concentre no que realmente interessa. Diretas Já? Agora não, obrigado, quem sabe daqui a três anos, com respeito ao processo eleitoral, aos beneméritos e sem interferência de fora, de quem não é Vasco, sem tumultuar o clube ao bel prazer de quem torce contra. A campanha a receber adesão em massa agora, de todos juntos num mesmo ideal, deve ser outra, com palavras de ordem parecidas, mas com outro rumo, o rumo do Tri.

Liberta Já! 


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Precisamos falar da camisa, mas não por causa da marca


Um pequeno condor bem acima do escudo com o 1 ou o 2 da Libertadores, menor que o escudo, no menor tamanho possível, aliás, um condor preto na camisa branca de faixa preta, branco nas camisas negras, tendo embaixo, singelo, discreto e pra sempre, o ano, 1948, no qual e antes do qual nenhum outro time do mundo pode dizer que foi campeão continental, a não ser o Vasco. 

A Diadora vestiu durante anos a seleção da Itália, a famosa Squadra Azzurra tetracampeã do Mundo, mas há protestos raivosos contra a marca nas redes sociais. São vascaínos, adolescente a maioria, mas também, pasmem, adultos, todos muito preocupados com a futura marca da camisa do Vasco, ainda não anunciada oficialmente, se ela será legal, da moda, ou não. Há quem faça graça com o nome da empresa que fará a operação no Brasil, caso seja a Diadora a escolhida, gargalhando em kkkks sucessivos como se os nomes das revendedoras da Nike ou da Under Armour no País não fossem também muito, muito engraçados.

Para o blog aqui, a propósito, não podendo acontecer a volta da Kappa, disparada a melhor das opções não importando a grana envolvida, tanto faz a marca da camisa, desde que o clube se mantenha a boas milhas de distância, na história, do desastre neste quesito que foi a Champs. Tanto faz a marca, se não for a Kappa, mas por outro lado há, por aqui, a preocupação sincera com a camisa pra Libertadores, pela necessidade cabal, do agora ou nunca, de se marcar uma conquista de maneira indelével, pra sempre na camisa, no caso a maior conquista da história do Vasco, inigualável em todo o planeta, por ter sido a primeira.

Como se sabe, por determinação da Conmebol os campeões da Libertadores passaram a ostentar, na edição do torneio no ano passado, os escudos com o desenho da Taça e o número de títulos que cada um conquistou. Como se sabe, também, a Conmebol reconheceu o Campeonato Sulamericano de Clubes Campeões, realizado em 1948, no Chile, como único precursor e com o mesmo valor da principal competição do continente, incluindo o Vasco, primeiro campeão continental do planeta, na disputa da Supercopa dos Campeões da Libertadores, um ano antes de o time ganhar de fato a Taça, sem ajuda de juiz, eliminando argentino e na semana do Centenário.

O Vasco é, portanto, bicampeão sulamericano, não importa o nome do campeonato, mas a Libertadores vem aí, nossa camisa terá o escudo de campeão no meio e paira a dúvida sobre qual número será exibido dentro dele, se o 2 ou o 1. E na opinião deste blog a diretoria do Vasco não deve gastar um segundo de energia com essa questão. O escudo da Conmebol tem até o desenho da Libertadores e o Sulamericano, disputado 12 anos antes da primeira Taça, nunca poderia ser, ora pois, uma Libertadores, se este nome ainda não existia. Deve-se perguntar à Conmebol: e aí, qual vai ser, um ou dois? E depois, logo acima do escudo com a Liberta e o número, um ou dois, deve-se homenagear pra toda a eternidade do Vasco a maior conquista do clube, incluindo um singelo detalhe na camisa exclusiva para jogos internacionais, que deve ter apoio incondicional dos conselhos de beneméritos e deliberativo.

Disputado num estádio apenas, sempre lotado, tendo ao fundo a Cordilheira dos Andes e com o mesmo número de times e países da primeira Libertadores, o Sulamericano de 48, além do reconhecimento oficial, teve como decisão o jogo que, tendo acontecido de fato, paira na categoria do lendário. O Expresso da Vitória contra La Máquina, simplesmente o maior time de um clube da Argentina em todos os tempos, no caso o River Plate que, entre outros craques consagrados, tinha em campo um tal de Di Stéfano.

Tinha ainda o Nacional do Uruguai, o anfitrião Colo Colo, o glorioso Litoral da Bolívia, o tradicionalíssimo Municipal do Peru e até o inesquecível Emelec. E gol do Emelec a mídia até narra, revoltada, quase chorando de tanta raiva e a gente, vascaíno, gargalhando à vontade, mas falar do Sulamericano de 48, ela, a mídia, quase não fala. Um programa aqui, uma referência rápida ali e mais nada, e tem jornalista que ainda trata do assunto como se a Conmebol não tivesse reconhecido oficialmente o título, tecendo lá a fantasia que, segundo a ótica dele, lhe dará mais clics, likes ou coisa parecida.

Se houvesse na época uma soneca coletiva improvável dos deuses da bola e o campeão viesse a ser, imaginem, o queridinho da mídia, tão achincalhado e derrotado, coitado, nos jogos lá fora, se esse impossível acontecesse o Sulamericano de 48 viraria filme, minissérie e especial de tevê, talvez anual. Mas não foi o Flamengo o primeiro campeão continental da história. Foi o Vasco, e por isso o campeonato é deixado de lado, esquecido o máximo possível, relegado ao único asterisco das listas de campeões, estaduais, nacionais ou internacionais, que não aumenta o número de títulos.

Nesse contexto, portanto, cabe ao Vasco, o grande campeão, não só falar sobre esta conquista sempre que possível, mas também fazer com que falem, a cada jogo internacional do time, do campeonato que além de incomparável em história, magia, tem também a mais bela e significativa das taças, o condor dos Andes, gigante entre as aves, que voa mais alto entre todas as espécies do continente.

Um pequeno condor bem acima do escudo com o 1 ou o 2 da Libertadores, menor que o escudo, no menor tamanho possível, aliás, um condor preto na camisa branca de faixa preta, branco nas camisas negras, tendo embaixo, singelo, discreto e pra sempre, o ano, 1948, no qual e antes do qual nenhum outro time do mundo pode dizer que foi campeão continental, a não ser o Vasco. E como a camisa seria exclusiva pra jogos internacionais, a ideia do A pauta é Vasco prevê ainda a retirada, com todo o respeito, das oito estrelas em cima da Cruz de Malta, pra não bater com as três que ficariam em cima, em curva, projetando novas conquistas a rodearem o condor de futuras estrelas que se juntariam às que lá estariam, uma da Libertadores, outra da Mercosul e a terceira pelo ano da graça de 1957.

As oito estrelas permaneceriam impávidas em cima da Cruz de Malta na camisa nacional, que não teria o condor, claro, mas isso é detalhe, outro papo, outro passo. O importante agora é aproveitar o redondo da oportunidade que se apresenta, os 70 anos do nosso primeiro campeonato continental, pra marcá-lo, reverenciá-lo pra todo o resto da história, e esperar pra ver sem ressentimento nem raiva, se divertindo, isto sim, esperando pra ver se a mídia fala ou não fala, dando o devido valor, desta conquista histórica. Fora isso, se não for a Kappa nem a Champs, se o dinheiro envolvido for justo, importante, e se a camisa não rasgar, na boa, que se dane a marca.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...