segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A praia é Vasco


Foto: Conmebol

Com todo o respeito e a licença pedida aos times originais da praia, mais três das quatro Libertadores até aqui disputadas, podemos repetir mais uma vez, com mais certeza ainda, que entre os clubes de tradição nos gramados, no Rio, no Brasil, na América e em todo o planeta, a praia é Vasco.

A praia é raiz, é história, é Tubarão, Pelicano e Canolongo, é Paulo César Caju, Júnior Negão e Júnior. A praia é o Copaleme, o Juventus, o Ordem e Progresso, o Lagoa, o Guaíba e todos os outros times do quase centenário futebol de areia de onze, legítimo, entre eles o Paula Freitas, o Lá Vai Bola, o Radar e o Dínamo. A praia uma hora virou pop, com a tevê mostrando jogo ao vivo da seleção com o goleiro Paulo Sérgio, Edinho, Claudio Adão e Zico, mas pra isso teve de enxugar, ficar menor, mais fácil de transmitir, mas nunca que os times da tradição de um Columbia, de um Ouro Preto, de um Porongaba ou de um Tatuís iam aderir a isso, imagina, jogo sem ser no onze contra onze, na areia, debaixo de sol, e em campo com medida oficial ou quase, não, praia é raiz, é história, é tradição; e pra honrar isso tudo em modo consumível pelo grande público, com transmissão ao vivo dos jogos na tevê ou na rede, sobrou espaço para os times de camisa e aí, entre os times de camisa pesada, desculpa aí, merrrmão, mas a praia é Vasco.

O tricampeonato da Libertadores de Futebol de Areia, conquistado no último dia 21 de setembro fora de casa, em Luque, no Paraguai, é o título mais recente de uma série que tem ainda as Copas do Brasil de 2012 e 2014, uma contra o Sampaio Corrêa, outra contra o Sport, campeão brasileiro de 1987, na final com arena lotada em Manaus, e tem ainda os Brasileiros de 2017, em outra final com o Sampaio, e o de 2019, tendo como vice, dessa vez, o velho freguês da Gávea; e como se não bastasse, tem o maior de todos os títulos, em 2011, o primeiro Mundial de Clubes transmitido ao vivo em rede aberta, pelo Esporte Espetacular, e que poderia continuar a ser, sempre, se o resultado fosse outro.

O primeiro Mundialito de Futebol de Areia foi disputado no estado de São Paulo, teve a chancela da Fifa e a participação do Barcelona, do Milan, do Boca Juniors, do Sporting de Portugal, do Lokomotiv Moscou e do americano Seattle Sounders. Do Brasil tinha o Corinthians e o Santos, anfitriões, e do Rio tinha o Flamengo e o Vasco. Um draft, tipo o da NBA, decidiu a formação dos times, já que o trabalho de futebol de areia ainda era incipiente em quase todos os clubes, com a exceção do Vasco, graças ao grande craque, depois treinador e depois gerente vascaíno de coração, Júnior Negão. Gilberto da Costa já era o treinador do time em 2011, mas foi de Júnior Negão a base e a ideia de todo o trabalho desenvolvido no Vasco que chegou desacreditado, como sempre, ao Mundialito, até porque no tal draft coube ao Corinthians o jogador tido como melhor do mundo na época, Buru, e ao coirmão da Gávea coube o maior artilheiro, André, que viria a ser, de fato, o goleador máximo do torneio, enquanto ao Vasco, como grande craque, coube um jogador tido como velho, passado, que era o Jorginho.

E a primeira fase confirmou os prognósticos de todos os especialistas, com o Vasco não conseguindo vencer a não ser nos pênaltis, o freguês de sempre da Gávea e o Boca Juniors, perdendo pro Milan e pro Barça e só se classificando porque entravam quatro dos cinco times do grupo. Nas quartas, pegamos o todo-poderoso Corinthians, segunda opção preferida da Globo pra transmitir sendo campeão do mundo, ao vivo, no Esporte Espetacular, e lembramos, no placar, 5 a 2, o presidente do clube na época, péssimo dirigente, mas artilheiro incomparável que meteu cinco, 5 a 2 no mesmo Timão na volta da Espanha. E na semifinal, contra a primeira opção no coração da emissora pra mostrar na final, o placar novamente remeteu ao Dinamite, o mesmo 5 a 4 da decisão por pênaltis de 1977, decidida na última cobrança pelo maior artilheiro da história do Campeonato Carioca e também do Campeonato Brasileiro.

A Globo então mostrou, ao vivo, pra todo o Brasil, o Vasco sendo o primeiro campeão mundial da história do Futebol de Areia, e Jorginho fez um gol apenas em todo o campeonato, mas jogou muito, deu assistências, liderou o time e deu o passe pro gol final do título, de Betinho, o quarto da vitória de 4 a 2 sobre o Sporting na decisão, de virada. O Vasco chegaria ainda a outra decisão de Mundial, em 2015, na qual perdemos para o Barcelona, nos pênaltis, por 3 a 2, e poderia chegar a outras, mas estranhamente, apesar de ser o maior campeão da América do Sul, disparado, o clube tricampeão da Libertadores foi preterido dos dois últimos Mundiais, para os quais foi convidado outro time da mesma cidade do Rio de Janeiro, o queridinho da mídia que não é detentor de absolutamente nenhum título internacional, e que nas duas vezes em que representou o Brasil sem título pra isso, uma em São Paulo, outra em Moscou, não chegou nem à final.

A Conmebol, felizmente, respeitou critérios para elencar os clubes que participariam da primeira Libertadores de Futebol de Areia e o Vasco representou o Brasil por ter sido, ora pois, campeão brasileiro, ao derrotar na final, por 5 a 1, o glorioso Sampaio Corrêa, bicampeão da Copa do Brasil (2016-2018), assim como nós. E na Libertadores, a primeira, assim como o Mundialito de 2011, vencemos todos os jogos, sendo o mais difícil na primeira fase, 7 a 5 sobre o Deportes Iquique, do Chile. Na semifinal metemos 11 a 1 no peruano Punta Hermosa e na final pegamos outro time de camisa, argentino, no caso o Rosario Central, rival na final da Copa de Ouro, em Los Angeles, 1987, dos torneios amistosos mais legais que disputamos nos gramados, e adversário também nas quartas da Copa Mercosul, pelo qual passamos no sufoco, fora de casa, nos pênaltis, no caminho pra maior de todas as viradas, na virada do milênio. Já na final da Libertadores da Areia, foi mais fácil, e o Vasco fez 8 a 1 no campeão argentino, conquistando a primeira de todas as Libertadores da Areia, assim como conquistara o primeiro Mundial.

Como campeão, o Vasco disputou a segunda Libertadores, no Paraguai, e venceu de novo todos os jogos, sendo o mais difícil dessa vez a própria decisão contra o mesmo Malvin, uruguaio, que na primeira fase vencemos de dez, 10 a 1. Na final foi mais difícil, 8 a 5 e veio o Bi. Em 2018 perdemos a decisão para o Vitória, nos pênaltis, depois de um 8 a 8 sensacional no tempo regulamentar, e não teríamos como disputar o Tri este ano se não tivéssemos sidos, mais uma vez, campeões brasileiros, em cima do vice Flamengo, que como prêmio pela derrota ganhou a vaga de presente para o Mundialito na Rússia, onde foi eliminado, por mais uma dessas coincidências, por um time português, o Sporting de Braga, que meteu 4 a 0 no coirmão na semifinal, antes de ser campeão vencendo o Catânia, da Itália.

Campeão brasileiro de 2018, o Vasco voltou à Libertadores para conquistar o Tri namelhor de todas as finais, contra um adversário tradicional, grande em seu país, dono da casa. A torcida do Cerro Porteño lotou a arena de Luque, o presidente do clube estava lá, três ou quatro vascaínos doidos representando o clube na arquibancada e o time da casa ainda abriu 2 a 0 no placar, mas o Vasco, se não é o 103 Praia Clube nem o Urca, se não é o Maravilha nem o Grêmio Leblon, nem o Torino, o Vasco é Vasco, e virou com gols de Jordan, Antônio Bernardo, Luiz Henrique e Edson Hulk. Vasco tricampeão da Libertadores de Futebol de Areia. E com o primeiro Mundial de todos, mais a liderança em campeonatos brasileiros e Copas do Brasil, sem falar nos estaduais e no Rio-São Paulo, com todo o respeito e a licença pedida aos times originais da praia, mais três das quatro Libertadores até aqui disputadas, podemos repetir mais uma vez, com mais certeza ainda, que entre os clubes de tradição nos gramados, no Rio, no Brasil, na América e em todo o planeta, a praia é Vasco.

Pitacos em itálico

E no Brasileiro continuou o VAR interpretando, chamando uma hora pra uma coisa, em outra, não, esquadrinhando toda a jogada desde o gandula em gols de determinados times e nos de um certo outro olhando a Lua, assoviando, até que veio o passo além, aquilo que derrubou qualquer limite para o favorecimento, porque se com o VAR tinha acabado a discussão, era o que vídeo mostrava e pronto, agora, não, agora tem a paralaxe, a física, a astronomia, tudo o que for necessário pra mostrar que, dependendo do caso, da cor da camisa, da importância pro resultado do impedimento marcado ou não, aquilo que o vídeo tá mostrando não é, não, ainda mais se mostrar gol legal do Vasco contra o Corinthians na casa deles, ou impedimento no único golzinho, fundamental, de uma vitória do queridão.



*Talles Magno mandou o lençol de lambreta no marcador do Fortaleza, tomou o chute no peito, sem precisar ter levado a mão na cara (tomara que alguém tenha falado isso pra ele), mas não deixou de provocar o justo cartão vermelho do adversário e encaminhar a vitória de 1 a 0 supermegahipernecessária, voltando a vencer em casa com Pikachu, ufa, desencantando e a mídia especializada, claro, questionando o pênalti marcado pro Vasco enquanto todos os outros marcados para o queridinho da Gávea são justos, muito justos, justíssimos.Talles Magno jogou muito novamente, ainda mais para seus parcos 17 aninhos, jogou muito e se despediu porque, cumprindo o acordo de cavalheiros com a CBF, o Vasco o liberou para a Copa do Mundo Sub 17, enquanto o super mengão legalzão fez o mesmo acordo pelo tal Ranier, mas na hora agá não liberou pra Seleção, não, porra nenhuma, o mais novo Neguebinha Júnior da famosa escola de amarelões mimados da Gávea. E tudo certo pra mídia especializada, direito do clube, e ainda veremos a CBF ajudando mais o Flamengo e prejudicando ainda mais o Vasco ao longo deste campeonato e dos próximos. Faz parte.

*E agora, minha gente, o favorecimento não tem limite com a nova, ultramoderníssima, avançada, inigualável paralaxe. Sabe o que é? Quem pergunta é o jornalão do grupo de mídia dono do campeonato, na edição de terça-feira, 8 de outubro, pra responder, na boca do juiz Ricardo Marques Ribeiro, que paralaxe vem da física, da astronomia, altíssima tecnologia que chegou com o VAR, minha gente, e serve para que todos nós, leigos, entendamos “que nem sempre a visão a olho nu corresponde à realidade”. “Ou seja”, continua o jornalão cada vez menor, enxugado por seguidos passaralhos, “a impressão dada pela TV pode não ser o que aconteceu, de fato, no campo.” Tudo porque o VAR tinha acabado de validar o gol único da vitória do Flamengo contra a Chapecoense num lance em que todos, olhando o vídeo, e até o comentarista de arbitragem da emissora, viram impedimento; e tinha acabado também, o mesmo VAR, de anular o gol do Vasco pra garantir a derrota roubada por 1 a 0 que faz parte do calendário esportivo nacional, todo ano a mesma coisa contra o Corinthians no estádio superfaturado deles, num lance em que até o comentarista sabidamente corintiano disse que viu mesma linha, assim como o resto das pessoas que assistiu o jogo na tevê.
O VAR veio para tirar as dúvidas, disseram todos os especialistas quando ele chegou, aprovando a boa nova em uníssono e pedindo muito, criticando inclusive os times que não queriam, como assim, perguntavam. Com o VAR, é o que mostra o vídeo, acabou a discussão, garantiam todos, mas não, porque ao contrário dos outros países, onde o que é, é e pronto, no Brasil o VAR chegou com a ferramenta fundamental do favorecimento sempre aos mesmos times, um deles em especial: a interpretação. Com a interpretação, pode tudo, qualquer teoria pode ser criada e abalizada, no ato, pelos especialistas, desde que beneficie o queridinho, como aconteceu logo no começo do ano, no primeiro jogo da decisão do Estadual do Rio, quando o comentarista de arbitragem da emissora dona também daquele campeonato afirmou categoricamente que o VAR errou ao anular o gol de Bruno Henrique, que estava coisa de quinze a vinte metros adiantado na hora em que a bola partiu do chute do companheiro de time. O VAR errou porque o zagueiro do Vasco desviou o chute, tentando abafar, e o desvio, segundo sua senhoria o ex-árbitro, foi um “erro técnico”. E pra arrematar sua teoria, eivada da inseparável interpretação, o comentarista explicou que no tal “erro” começou outra jogada, dando, assim, livre condição ao atacante do mengão de ter marcado. 
Confuso? Talvez, mas todos os comentaristas, de todos os canais, entenderam na hora e concordaram. Claro, erro técnico, o cara chuta de fora da área, o zagueiro corre pra abafar, desvia a bola que sobre pro atacante a quase vinte metros na frente do último defensor e o gol é legal porque é erro técnico, o zagueiro tinha de ter dominado o petardo, quem sabe, e sair jogando, não fez isso é erro técnico, começou outra jogada, claro, e todo mundo ratificou, concordou, criticou e no jogo decisivo o VAR não foi besta de chamar no lance do primeiro gol do queridão, quando Gabigol recebeu em impedimento na lateral, dominou e recebeu a falta, e da falta saiu o gol quando o Vasco, dizem, assustava o superpoderoso mengão.
E no Brasileiro continuou o VAR interpretando, chamando uma hora pra uma coisa, em outra, não, esquadrinhando toda a jogada desde o gandula em gols de determinados times e nos de um certo outro olhando a Lua, assoviando, até que veio o passo além, aquilo que derrubou qualquer limite para o favorecimento, porque se com o VAR tinha acabado a discussão, era o que vídeo mostrava e pronto, agora, não, agora tem a paralaxe, a física, a astronomia, tudo o que for necessário pra mostrar que, dependendo do caso, da cor da camisa, da importância pro resultado do impedimento marcado ou não, aquilo que o vídeo tá mostrando não é, não, ainda mais se mostrar gol legal do Vasco contra o Corinthians na casa deles, ou impedimento no único golzinho, fundamental, de uma vitória do queridão.

*Depois do trem-bala aí de cima, comemorando o belo gol de Marcos Jr que garantiu a vitória por 2 a 1 sobre o Galo no Horto, assim como em 2017, veio a derrota para o Santos em casa e depois o empate chato, 0 a 0 contra o Avaí na Ressacada. Então veio a lambreta de Talles Magno, o descarrego de nosso lateral artilheiro, 100 gols de Yago Pikachu no Papão e no Vascão (e isso não é pouco merrrmo), e depois da vitória suada contra o Fortaleza veio o batismo iluminado de Bruno Gomes, o golaço aço aço de Lucas Ribamar, tudo no ângulo, ganhamos a segunda seguida em casa, no clássico contra o Botafogo, assim como quando saímos da lanterna no turno, duas vitórias seguidas em São Januário, uma por 1 a 0, outra por 2 a 1, e o terceiro jogo seguinte em Porto Alegre, contra o Grêmio, que só não foi a primeira terceira vitória seguida da competição por causa do VAR bisonho, anulando o 2 a 0 na saída de bola do segundo tempo, dois gols de Pikachu. Dessa vez, depois das duas vitórias consecutivas voltamos a Porto Alegre, agora contra o outro grande de lá, o Inter, de quem não vencíamos no Beira Rio havia 12 anos, e o VAR dessa vez não atrapalhou, pelo contrário, fez o trabalho dele direitinho, marcando o atropelamento de Victor Cuesta em Henrique e anulando corretamente o golaço de D'Alessandro. E o jogador que mais precisava desencantar no Vasco, desencantou, Marrony, que já vinha jogando muito, já tinha feito jogada sensacional deixando Ribamar na cara do goleiro no primeiro tempo e, na base do oportunismo, ganhando primeiro na cabeça do zagueiro, triscando pra Rossi bater cruzado pra defesa do Lomba, depois trave e no rebote, de novo, Marrony, primeiro atabalhoado, depois rápido, com classe, pra tocar logo pra rede e definir a vitória grande sobre o Inter, 12 anos depois da última no Beira Rio, e cada vez mais esse Brasileirão, para o Vasco, vai ficando parecido com 2017.

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