segunda-feira, 30 de abril de 2018

Com São Januário e seus fantasmas


Foto: Carlos Gregório Jr./Vasco

O Vasco segue vivo na Libertadores na raça, na força genuína de sua camisa, moldada e alimentada por mais de um século de todo mundo contra, na entrega de seus jogadores, no grito de sua torcida e graças, sobretudo, a São Januário e seus fantasmas.

E de repente, com um a menos contra o melhor time do grupo, perdendo por 1 a 0 com gol do craque revelação argentino do momento, vendido também para o futebol europeu como o nosso, mas com o cotovelo tinindo e por isso jogando, ainda, com a camisa do Racing, de repente São Januário fez a parte dele, de novo, como já tinha feito nos 4 a 0 sobre o respeitável Jorge Wilstermann, da Bolívia.

Maneca e Lelé, juntos, com o auxílio ainda de Fausto e de Ipojucã, todos profundos conhecedores daquele gramado, os quatro baixaram unidos em Thiago Galhardo. Pikachu, que já tem Eli ao seu lado para toda a Libertadores, teve também Paulinho de Almeida, Clebson e Orlando Lelé. E se Ríos já conta com a proteção de Ismael, pra ajudá-lo a ganhar na trombada, na força e na bola dos zagueiros baixaram também Dimas, Chico, Pinga e Vavá, assim como pousaram no gramado o inventor da bicicleta, Leônidas da Silva, Russinho, Dirceuzinho, Heleno de Freitas e Ademir de Menezes, o Queixada, pra ungir Wagner no toque no alto, de primeira, do gol do empate, o único, até agora, do Vasco na fase de grupos.

Não, não perdemos de novo para o Racing e poderíamos ter ganhado, não fosse a defesa de Musso no chute de Pikachu, que poderia ter passado a Riascos entrando livre na diagonal pela direita, poderia, se os protetores colombianos do além de nosso atacante mais amado tivessem se apresentado, se Duvier, entrando no segundo tempo e logo cansado, se ele não tivesse errado quase tudo que havia tentado até então, com a atenuante de pelo menos duas bolas roubadas na vontade. E como nem Tesourinha, nem Friaça nem Sabará deram as caras pela camisa que o colombiano vestia, pelo estádio, então nosso lateral artilheiro deve ter feito mesmo o mais aconselhável quando arriscou o chute com endereço certo que entraria, se o goleiro argentino não pegasse pelo rabo.

Racing com um a mais e encolhido, segurando o empate no fim da partida contra todos os fantasmas de um estádio nonagenário, contra um time com um a menos, extenuado, e uma torcida toda ela de pé, inflamada, orgulhosa de ver Paulão, Henrique e até Bruno Silva (xingado avidamente por mim das sociais, sim, perto da arquibancada, quando errou duas vezes em saída de bola, mas que iniciou a jogada do empate e deu o passe pra Pikachu, pro nosso quase gol da vitória), feliz por ver Werley ganhando divididas com o auxílio de Augusto, de Domingos da Guia, de Bellini, Brito, Orlando, Brilhante e Itália, incendiada pela goleada da semana anterior, pelos 4 a 0 fora o baile amenizados por Martin Silva que, no entanto, não tiraram o respeito pelo Vasco do nosso grande adversário, campeão da Libertadores de 1967, primeiro time argentino a ganhar a Copa Intercontinental, logo contra o glorioso Celtic de Glasgow.

O Racing ganhou a Libertadores de 67 num jogo desempate contra o Nacional do Uruguai no mesmo estádio Nacional de Santiago do Sul Americano de 48. Ganhou também a primeira das Supercopas dos campeões da Libertadores, com Fillol  no gol, na final fora de casa contra o Cruzeiro, no mesmo Mineirão onde irá enfrentar o mesmo adversário na última rodada desta fase de grupos, em jogo de vital importância para nosotros. O Racing, depois da Supercopa de 1988, nunca mais chegou forte pra ganhar um título sulamericano e agora, trinta anos depois, chegou.

Lautaro Martinez é um cracaço, nível Paulinho, e em volta dele há um time bem armado em que até Donatti, aquele trapalhão grandão do Flamengo, até Donatti joga bola. O Racing está tinindo, um dos favoritos, sem dúvida, pra ganhar essa Liberta, e por isso faz o dever de casa direitinho, age focado, respeitando a história, interessado em não desagradar em nada, não nessa hora, os deuses da Bola.

Antes de nos golear, mas só depois dos trinta e tantos do primeiro tempo, depois de quase levar gol em três lances e depois de ver nosso goleiro pegar o primeiro de dois pênaltis, o Racing tuitou a honra de receber no seu estádio, El Cilindro, o primeiro campeão da América. Antes da volta, retuitou o Sul Americano de 1948 com foto do Expresso da Vitória, então só resta agradecer a reverência, mais esse carimbo vindo de um grande da América legitimando nossa maior conquista, maior que a Libertadores no Centenário.

Com um a menos contra essa grande equipe, com camisa campeã, o Vasco dominou o segundo tempo, levou alguns contra-ataques e no mais perigoso de todos eles, Barbosa, que assistia sentado, encostado na estátua de Romário com certa preguiça, enquanto seus companheiros eternos se esfalfavam para ajudar a levar o time dito limitado à frente, sempre avançado, imprensando o adversário tido como muito melhor, Barbosa até levantou a cabeça nesse instante, mas logo viu que não precisava, que Martin Silva garantiria, como garantiu.

E foi de Pikachu também a última chance da partida, ao receber na lateral da grande área, mas aí já eram 48 e tanto do segundo tempo, quase quarenta minutos jogando com um a menos e nem Orlando Lelé, nem Eli, nem Paulinho de Almeida nem Clebson conseguiram fazer com que o cruzamento cansado do pequeno grande Yago, rasteiro, passasse do primeiro zagueiro à sua frente. Fim de jogo, e o Vasco dependerá agora, além das próprias forças, do mais louco dos times argentinos, o inigualável Racing Club de Avellaneda.

Foi essa a vontade dos deuses da Bola, então que seja feita, mas antes, claro, temos de fazer o nosso na decisão caseira, contra o Cruzeiro de 74, de 98 e de 2000, mas também de 75 e das tantas Copas do Brasil (quatro?) nas quais fomos, por eles, eliminados. Que a arbitragem coincidentemente não estrangeira (justamente quando volta o Vasco à Liberta, voltam os juízes da CBF nos jogos entre brasileiros) não influencie em nada o resultado, que o jogo seja jogado. O que interessa é que poderíamos estar agora com menos chance de classificação, com mais uma derrota para o Racing no saco, essa em casa, e virtualmente eliminados, mas não estamos, não ainda. O Vasco segue vivo na Libertadores na raça, na força genuína de sua camisa, moldada e alimentada por mais de um século de todo mundo contra, na entrega de seus jogadores, no grito de sua torcida e graças, sobretudo, a São Januário e seus fantasmas.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Guerra e paz no Vasco, sem trégua da mídia

Foto: Carlos Gregório Jr./Vasco

O time está em semana decisiva, com final de Campeonato Carioca e jogo fundamental pela Libertadores, fora de casa? Tome notícias sobre HD, possíveis novas eleições ou coisa parecida. A estreia no Brasileiro foi boa, temos outro jogo decisivo fora de casa na Libertadores? Que venham as notinhas de bastidores em off, sem fontes definidas a dizerem que tudo anda tenso dentro de São Januário, que todos brigam, que Paulinho já está vendido e nunca, nunca mais voltará a jogar no Vasco, e vendido estará por menos de R$ 100 milhões, sim, por bem menos que o Vinicius Júnior e também, claro, por menos que o Paquetá, e assim vamos seguindo.

Perdemos, então, o Campeonato Carioca. Depois de duas vitórias incríveis (com destaque para o gol histórico do vaiado Fabrício na semifinal contra o Fluminense), menos de quatro dias depois do zero a zero contra o Cruzeiro no Mineirão, pela Libertadores, quando perdemos Paulinho, depois de ter um jogador expulso aos trinta e seis do primeiro tempo, o mesmo Fabrício, em sua primeira e única falta na partida, depois de aguentar por mais de uma hora, com um a menos, o rival que tivera a semana inteira pra se preparar, descansar, sem viagem muito menos jogo de Libertadores fora de casa, depois de tudo isso o Vasco tomou o gol no último minuto e sucumbiu ao Botafogo na decisão por pênaltis. Paciência, vida que segue e o registro que não pode deixar de ser feito aqui: em 1948, o Vasco também foi vice do Botafogo no Carioca, naquele ano com a decisão no lendário gramado de General Severiano, à base de pó-de-mico.

Perdemos o Estadual, mas ganhamos na estreia do Brasileiro, mais uma virada no último minuto, empatando aos 41 do segundo, virando aos 53 num pênalti que explica, logo na primeira rodada, porque o Vasco ficou um Brasileiro inteiro sem um penaltizinho marcado a favor dele, até a última rodada do ano passado. Rildo botou na frente, deixou o zagueiro na saudade e caiu quando o defensor chegou atrasado, batido, desesperado botando pé, canela, joelho e coxa na frente dele pra tentar parar nosso sobrinho do vento, que pulou pra não ser tocado e, veloz como só ele, caiu, deixando ao juiz que acompanhava de longe, porque não há juiz no mundo que acompanhe de perto um contra-ataque puxado por nosso super Riberildo, legando ao árbitro a certeza, correta, de que Rildo só não ficou de pé até o fim da jogada pela chegada atabalhoada do zagueirão vendido no lance.

Pênalti claro, corretamente marcado e abalizado até, pasmem, por Arnaldo César Coelho. “Se eu fosse juiz também marcaria. O zagueiro foi imprudente”, disse o juiz da final da Copa do Mundo de 1982, ao vivo, na tevê. Nada que impedisse a grita dos de sempre, daqueles ex-juízes de garfadas históricas contra nosotros que, hoje comentaristas, continuam apitando contra o Vasco, e mais ainda dos especialistas torcedores ferrenhos do queridinho. Todo e qualquer pênalti marcado a favor do Vasco, para a mídia, é polêmico. Fosse Vinicius Jr. no lugar de Rildo no lance, e estariam os mesmos especialistas a exaltarem a velocidade e a sagacidade da joia superfaturada da Gávea, que pulou bem na hora num lance que, só pela entrada do zagueiro, já caracterizaria o pênalti claro, diriam todos os comentaristas de arbitragem.

O Vasco ganhou jogando bem, pressionando o grande Galo mineiro sem desistir até o fim e arrancando a vitória em casa na raça, e agora vai à Argentina para o mais difícil dos jogos desta fase da Liberta, contra o Racing. E mesmo que, porventura, vença hoje, mesmo que empate na atitude, na força, na garra, a imprensa esportiva continuará a sacar seus cartuchos programados contra o Vasco, aproveitando essa coincidência incrível dos últimos anos no Judiciário, de nos casos de interesse da televisão, dos jornais, das rádios e sites de notícias, em todas as esferas, nesses casos, a Justiça decidir exatamente de acordo com a vontade da dita grande mídia.

Assim começamos o ano, com o time classificado pra Libertadores quando todos os especialistas previam o rebaixamento. Um motivo e tanto para um início de ano seguinte animado, com boas notícias, só que não pra mídia. HDs apreendidos, mexidos, devolvidos, urnas impugnadas em dez minutos, sem nem tempo pra leitura de processo, sem que a mídia especializada gaste uma vírgula pra questionar qualquer coisa, não, pelo contrário, a mídia abaliza, leva tudo a sério, inclusive a invenção de um triunvirato esdrúxulo, incluindo o candidato apoiado incondicionalmente pelos especialistas, ainda que eles não digam quem é o cara, onde trabalhou, nada, porque o sujeito foi candidato em 2014, foi candidato de novo em 2017, tem o apoio de dez entre dez especialistas da chamada mídia esportiva mas não há e nunca houve, até agora, um perfil detalhado publicado sobre ele seja em site, em jornal, na tevê ou em revista.

O que se sabe sobre o candidato da mídia para presidir o Vasco é que ele faz parte do grupo político que não marcou a eleição no tempo devido, simplesmente não marcou a eleição e hoje clama por democracia, e sem marcar a eleição teve seu mandato esticado em seis meses pela Justiça, e nesses seis meses confessou dívidas e mais dívidas pra completar o saldo final de dívidas triplicadas deixado por tal grupo político, com o clube em ruínas, sem água, com o muro caído, as piscinas verdes, a base sem alojamento e o apoio irrestrito da mídia.

Sabe-se também que ele, o tal candidato, deu entrevista coletiva quando ganhou de presente mais uma decisão-relâmpago da Justiça. Atropelou os Poderes do próprio Clube, arrotou sobre 119 anos de história não de qualquer outra instituição esportiva, mas do Vasco da Gama, pra se proclamar presidente e pronto, com a linguagem de playboy da night travada por algum especialista em marketing, oratória, mas ainda ali, irremovível. Fora as contradições, de chamar de desmanche os R$ 10 milhões arrecadados com o reserva Mateus Vital e com Madson, que é obviamente pior que Pikachu, de chamar isso de desmanche e reclamar, em seguida, das renovações de contrato que protegeram as duas maiores joias da base: Paulinho e Evander.

Querem o quê? Dificultar as vendas? Perguntou o candidato aoiado pela mídia, na cara dura, sem perder qualquer apoio por isso, na coletiva que mostrou o tamanho de seu despreparo para o cargo almejado. A ascensão de tal sujeito à Presidência do Vasco foi evitada na noite histórica do dia 19 de janeiro, na sede da Lagoa. Um gesto dos mais raros em qualquer disputa política, o apoio em troca de nada, de cargo algum, zero, do presidente do clube tirado do poder duas vezes por interferência de fora, da Justiça domesticada pela mídia, selou a derrota e o isolamento político do grupo político mais nocivo ao Vasco. Nada, no entanto, que arrefeça a sanha da mídia também conhecida como flapress, sanha pela guerra interna, eterna, no Vasco.

O time está em semana decisiva, com final de Campeonato Carioca e jogo fundamental pela Libertadores, fora de casa? Tome notícias sobre HD, possíveis novas eleições ou coisa parecida. A estreia no Brasileiro foi boa, temos outro jogo decisivo fora de casa na Libertadores? Que venham as notinhas de bastidores em off, sem fontes definidas a dizerem que tudo anda tenso dentro de São Januário, que todos brigam, que Paulinho já está vendido e nunca, nunca mais voltará a jogar no Vasco, e vendido estará por menos de R$ 100 milhões, sim, por bem menos que o Vinicius Júnior e também, claro, por menos que o Paquetá, e assim vamos seguindo.

Por isso tudo, então, pra tentar entender como chegamos até este momento da história em que todas as eleições vascaínas vão parar na Justiça, pra marcar a diferença entre os grandes presidentes dos 120 anos de vida do Vasco e o candidato da mídia que, por coincidência, claro, faz parte do grupo político que aceitou passivamente o rebaixamento das cotas de televisão do Vasco, no contrato que será renovado ou não durante a atual gestão (será por isso tanto empenho da mídia em apoiar o candidato que ela não diz quem é? Será?), por tudo isso é mais do que necessário falar agora da política vascaína, iniciada com o presidente inaugural do clube, Francisco Gonçalves Couto Júnior, e que teve sua primeira eleição revolucionária logo aos seis de idade, com um negro sendo alçado à Presidência dezesseis anos depois de abolida a escravatura. Cândido José de Araújo, talvez quem sabe primo, foi reeleito em 1905 pra ser o presidente na conquista do primeiro campeonato de remo do clube, então somente de regatas, e justo no ano da inauguração do Pavilhão da Enseada de Botafogo aí de cima, marco do esporte e da história da cidade, e graças aos deuses não só da bola, nesse caso, mas de todos os esportes, obrigado por mais esse capricho da nossa história.

Prova cabal da miscigenação da Casa Grande com a Senzala que formou a nossa gente, nossa raça, a imagem aí embaixo, de Cândido José de Araújo, ou Candinho, na fila mais baixa, no meio do chamado Grupo dos XIII, assim mesmo, com algarismos romanos, deita por terra as teorias de historiadores, escritores ou especialistas, torcedores, claro, de outros times, constrangidos com o comecinho das histórias de seus clubes do coração e que por isso insistem em jogar o Vasco na mesma vala racista dos outros grandes clubes cariocas. Nada que impeça, lógico, tais historiadores, escritores e especialistas de continuarem tentando, botando na conta do português e fingindo não ver o fato por si só inquestionável, a eleição de um presidente mulato na mesma época em que outros clubes da cidade até aceitavam negros como jogadores e olhe lá, mas só se estes fossem muito necessários ao time e não fossem tããão escuros assim, pra que qualquer oh! de espanto de sócios ou torcedores pudesse ser resolvido na base do talquinho.

O português, por sua vez, de tamanco ou não, com o lápis atrás da orelha no balcão e mesmo rico, industrial ou dono de corretora na bolsa de valores, este tinha também, ora pois, sua cota do vasto, infinito preconceito reproduzido de geração pra geração da sociedade local em suas altas castas, e mais ainda nas médias. E tais castas tão plenas de nobreza, segundo elas próprias, não poderiam mesmo tolerar quietas o Vasco do português chegando na área com um time de pobres, negros, brancos, mulatos e dando que dando nos rapazes bem-nascidos do América, do Botafogo, do Flamengo e do Fluminense.

Vasco campeão em seu primeiro campeonato, marcando com vitórias seus primeiros confrontos com os outros ditos grandes times da cidade e tendo como vice adivinhem quem: aquele time da Gávea que onze anos antes havia nascido, vice também, para um tal Payssandu Cricket Club cuja sede atual fica, olha só, em frente a do rival derrotado, segundo colocado em seu primeiro campeonato. Veio então a resposta, irada, das classes abastadas, gerando com a indignação afrontada de sua revolta a oportunidade para o surgimento de outro presidente histórico do Vasco.

Derrotados nos gramados, os dirigentes dos outros clubes se apegaram em alguma regra do campeonato, como era também regra, no caso lei, a escravidão havia menos de quarenta anos, se apegaram a um ponto qualquer da legislação criada por eles mesmos pra exigir a expulsão imediata de quase todo o elenco campeão do Vasco, alegando lá qualquer coisa que acharam mais elegante pra não dizer a verdade, que a expulsão coletiva se daria porque todos eram pobres, negros ou mulatos. José Augusto Prestes era o presidente vascaíno no ano de 1924 e é dele a Resposta Histórica ao presidente da federação da época, que passaria a ter seu sobrenome relacionado a playboys, herdeiros de milionários.

Na carta de Prestes, o Vasco informava seu desligamento da liga toda ela, inteira, por ele derrotada, pra conquistar o bicampeonato em outra liga, proletária, não-racista, o primeiro dos seis títulos invictos do clube, nenhum deles com juiz comemorando gol roubado. O texto de José Augusto Prestes em resposta ao Guinle tricolor ou rubro-negro, dá no mesmo, é o mais antigo, talvez único registro da democratização do futebol no país ainda agrário, uma ode visionária em todo o seu humanismo, ode à liberdade que todo menino pobre tem de sonhar em ser jogador de futebol, mas como já foi falado aqui, na apresentação deste blog, para a mídia da época, ainda antes de existir O Globo a Resposta Histórica virou colunão, espremida num canto de página e publicada depois de uma introdução impaciente, mal-humorada.

Por falar na mídia outrora mera espectadora, torcendo sempre contra, hoje muito mais ativa, partícipe do negócio, em nome da concisão deste texto que será inevitavelmente grande pra garay, aqui nos apegamos a estes dois grandes presidentes do Vasco e pularemos os demais de outras cravadas na pedra da história, na pele dos rivais de todo o país e do continente, não mais apenas da cidade, uma cravada como primeiro campeão continental do planeta, com o Expresso da Vitória, outra como primeiro campeão na Europa, vencendo o único pentacampeão europeu, hoje com doze taças no saco, durante este pentacampeonato, e sem Bellini e mais metade do time, que ficou no Rio disputando o torneio no qual, mesmo tendo jogado somente no Santos no Brasil, no palco sagrado do Maracanã pré-padrão Fifa surgiu para o mundo, com a camisa cruzmaltina, um certo Pelé, fazendo gols no Belenenses de Portugal, no Dínamo de Zagreb e no... Flamengo.

Houve ainda um 7 a 2 sobre o Barcelona no campo deles, mais uma Teresa Herrera e dois estaduais de lambuja, o segundo num inédito, até hoje, supersupercampeonato, dois triangulares contra o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e contra o vice, de novo, o rubro-negro da Gávea. Tudo isso com Bellini, Orlando, Vavá, Sabará, Pinga e Cia, no triênio glorioso de 1956/57/58, mas pularemos este período positivo de nossa história, e também outros nem tanto, pra falarmos da política do Vasco de onde começa a memória, no caso o Triênio 1980/81/82, quando o presidente era Alberto Pires Ribeiro e começava a se consolidar como personagem forte no clube um sujeito chamado Eurico Miranda.

Com os louros do retorno triunfal de Roberto Dinamite, dando mais uma de suas voltas nos colegas rubro-negros que tinham tudo acertado com o futuro pior presidente da história do Vasco, Eurico se achou em condição de sair da Chapa União Vascaína, que conseguira vencer Agathyrno da Silva Gomes, há onze anos no cargo. Lançou-se candidato contra um ex-aliado, Antônio Soares Calçada, e perdeu a eleição de 1982, que teve ainda Agathyrno em terceiro, na sua primeira e derradeira tentativa de retomar a Presidência.

Nessa época ouvia-se sempre aquilo que parecia lenda, que se um dia o Vasco se unisse, se as diferentes correntes políticas remassem juntas, o clube seria imbatível. Mas não houve sinal de união na eleição seguinte, em 1985. Eurico tentou de novo, dessa vez só ele e Calçada, e a diferença bem mais apertada em favor da situação mostrava o clube dividido, rachado, até que o presidente reeleito, num dos gestos mais benéficos à história vascaína, chamou Eurico para assumir a Vice-Presidência de futebol do clube.

Seguiu-se então um período mágico de paz política e, como rezava a profecia, o Vasco de fato passou a dominar o cenário. Roberto em fim de carreira, fazendo aquilo para o qual fora talhado, gols ainda, muitos, e abrindo as portas pra Geovani, Romário, Bismarck, William, Sorato e o maior de todos eles, Iomar do Nascimento, Mazinho, e depois pra Edmundo, Valdir Bigode, Carlos Germano, Pimentel, Helton, Felipe e Pedrinho, a base forte formada ao lado de Bebeto, dos Juninhos, de Ricardo Rocha, Mauro Galvão, Tita, Luizão, Dunga, de Viola e de Donizete Pantera, entre outros nomes consagrados, contratados pra manter o time disputando tudo quase sempre lá em cima, até chegar ao melhor momento de sua história depois do inigualável Expresso da Vitória.

Campeão brasileiro, carioca, da Libertadores e do Rio-São Paulo, o Vasco deixava traumas de nascença em dois dos jornais mais conhecidos da flapress, lançados nesse período, um em 97, o outro no ano da graça de 1998. A eles, torcedores nervosos de qualquer adversário do clube, restavam as secadas internacionais, e somente em nível mundial, como nos vices de 98 e 2000, este último marcando pra todo o sempre o Vasco como primeiro e até agora único clube carioca a participar de um Mundial da Fifa, saindo dele invicto, com a lembrança da festa no Maracanã lotado, da vitória arrasadora sobre o campeão europeu, em casa, com gol de placa, coisa que nenhum outro time jamais chegou perto de fazer não só na cidade, mas em todos os outros quatro continentes que não a Europa.

O ano de 2000 foi também o da última eleição pra presidente do Vasco que, cumprindo a tradição dos 102 anos anteriores, não foi parar na Justiça, a última vez em que os sócios decidiram os destinos do clube sem interferências de fora. Calçada, cansado, saiu de cena pra subida natural de Eurico à cabeça da chapa que, como nos quatro pleitos anteriores, ganhou de lavada. A mídia então investia pesado no que podia, no caso, o carioquinha roubado de sempre, com jogador do time dela se jogando e o juiz dando pênalti, falta no último minuto, com o time dela fazendo mais de sessenta faltas num jogo só, na decisão, e ficando com onze até o fim, na raça.

E se podia fazer graça naquele ano com os vices vascaínos no Mundial, no Carioca e no Rio-São Paulo, a mídia se preocupava nos últimos meses do milênio, porque o Vasco insistia, chegava à reta final da temporada brigando em duas frentes, prestes a fazer história como único clube, até hoje, a ganhar ao mesmo tempo um Brasileiro e um torneio oficial continental, a Copa Mercosul, na maior virada da história. Mas ainda não tinha ganhado nada, estava perto disso, a quatro jogos de um campeonato, a dois ou três do outro, quando a mídia virou a chave e deixou de secar, apenas, pra começar a participar mais ativamente de tudo.

O jogo foi o primeiro da semifinal do Brasileiro contra o Cruzeiro, em São Januário, e a matéria era de uma das futuras estrelas do jornalismo esportivo nacional, para o principal telejornal da área. Corria o mês de dezembro no Rio de Janeiro, um calor infernal e a polêmica da semana havia sido em relação ao calendário, com o Vasco, pra variar, sendo mostrado como o mau-mau da historinha, muito malvado por se recusar a jogar a tabela preparada de acordo com a grade de programação da TV investigada, sonegadora, que naquela época e bem antes já vivia à base de propina, de acordo com o FBI.

Tal tabela dizia que o Vasco deveria fazer o segundo jogo da decisão da Copa Mercosul contra o Palmeiras, em São Paulo, na terça-feira, aí descansava e viajava no mesmo dia, talvez, pra jogar na quinta contra o Cruzeiro, no Rio. Isso mesmo: final da Mercosul na terça, em São Paulo, e semifinal de Brasileiro na quinta, no Rio, e por não aceitar isso o Vasco foi alvo da tentativa de ironia do repórter, que chega a dizer, num dado momento da matéria, que teria sido melhor jogar na quinta porque seria à noite, não haveria sol.

Sorridente, bem-humorado, o renomado jornalista não esconde sua alegria ao gravar a passagem com o jogo encerrado, depois de o Vasco abrir 2 a 0 no placar e deixar o Cruzeiro igualar, sendo obrigado a partir dali a vencer no Mineirão ou empatar por três a três. Pra completar teve a demissão de Oswaldo de Oliveira no vestiário, nova oportunidade pra retocar, reforçar o personagem do ditador irascível ao comentar a decisão de Eurico que certamente, garantiam os especialistas, abalava o time, tornando tudo mais difícil, tese mais que comprovada no intervalo da final da Mercosul, com mais um vice encaminhado e a alegria da mídia em geral a transitar entre o suspiro aliviado de alguns por ter-se evitado a tragédia, ao êxtase daqueles que até gargalhavam, prevendo novas ironias.

Então Jorginho Paulista foi ungido, tocado pelos deuses da Bola assim como o xará dele, do Tetra, futuro técnico campeão invicto, e também Paulo Miranda, Clébson, Odvan e todos que ninguém cita quando fala desse jogo, inclusive Nasa e Júnior Baiano, este o responsável maior pelo drama todo da coisa. Aconteceu aquilo que nunca nenhum outro time do planeta tinha feito e atônita, com o grito entalado de vice na garganta a mídia mal teve tempo de absorver o “vice é o caralho” gritado por Odvan e Juninho Paulista no alto do alambrado, junto com a torcida na arquibancada do Parque Antárctica, nas janelas de todo o Brasil e onde quer que houvesse um vascaíno no planeta naquele dia, àquela hora.

Nem bem três dias depois, com atuação impecável de Euller, Romário, Juninho Pernambucano e dele, Júnior Baiano, vieram os 3 a 1 sobre o Cruzeiro em pleno Mineirão e o que era ironia, ou tentativa de, virou guerra, “jornalismo de guerra contra o Vasco”, como confessouum dos especialistas, em entrevista a outro, ao vivo.

Muita, mas muita gente mesmo, quando fala ou pensa, ou comenta ou se lembra da final do Brasileiro de 2000 acha que o jogo da queda do alambrado foi em São Januário por exigência do Vasco, e não porque o Maracanã estava incrivelmente impossibilitado, sabe-se lá por quê, de receber uma decisão do principal campeonato nacional marcada para o Rio e Janeiro. Isso é fruto do tal “jornalismo de guerra”, declarado contra o Vasco e contra Eurico, sem trégua, depois daquela que bem poderia ser chamada de segunda Resposta Histórica do clube, dada inevitavelmente ao vivo, pra todo o país, no dia, impossível não dizer aqui, desculpe, mas no dia do aniversário de vinte e nove aninhos deste que vos escreve, comemorado ao som do ritmúúúúú..... ritmo de festa da arquibancada que entoava ainda loas a Elke Maravilha, Aracy de Almeida e Pedro de Lara.

Vasco tetracampeão brasileiro com a marca do SBT na camisa, e também campeão nacional e continental de basquete, masculino e feminino, único clube do continente que, vencedor do verdadeiro Mundial Fiba ao bater o campeão da Ásia/Oceania e, depois, o da Europa, disputou uma partida oficial contra um time campeão da NBA, no caso o San Antonio Spurs das Torres Gêmeas, Tim Duncan e David Robinson, na final do Mc Donald’s Championship de 1999, em Milão, e não em dois jogos numa casa de espetáculos da Barra contra um time israelense de férias, cansado.

Na virada do milênio, o Vasco era ainda campeão da Liga Futsal com Manoel Tobias, tinha Gustavo Borges na natação, Rodrigo Pessoa no hipismo e com eles a maior delegação de um clube apenas nos Jogos Olímpicos de Sidney, e não tinha sido vice de novo no futebol como queria a mídia, não, tinha acabado de ganhar dois campeonatos ao mesmo tempo, um nacional, outro continental, e o sentimento da maioria esmagadora dos especialistas em relação àquela equipe pode ser medido alguns anos depois, com o lançamento de mais um ranking baseado na vontade de jornalistas, pra agradar as torcidas de sempre.

Lançada em 1970, a revista Placar teve enorme relevância na infância e adolescência, mas já estava decadente quando saiu na capa com o ranking dos melhores times do Brasil desde o nascimento da publicação, que tinha no topo, claro, o time de Leandro, Andrade e José Roberto Wright, de Adílio, Anselmo e do soco por trás em Mario Soto, na covardia, de Zico, do ladrilheiro e das papeletas amarelas. Aquele Vasco de Helton, dos Juninhos, dos Jorginhos, de Felipe, Mauro Galvão e Viola na reserva? Aquele Vasco ficou pra lá do décimo lugar, segundo a Placar, atrás do Corinthians de 90, de Neto, Wilson Mano e Tupãzinho.

Foi da mesma revista outro ranking, este dos 100 maiores jogadores brasileiros da história, no qual não figurava o maior artilheiro de todos os campeonatos brasileiros juntos, desde a Taça Brasil de 1959, e que também é até hoje o maior goleador de todos os cariocas. Sim, a revista listou os 100 jogadores brasileiros mais relevantes do século e não incluiu o maior artilheiro da história do Vasco, dando a bandeira final, se entregando no editorial que tentava justificar aquilo com a pergunta na primeira linha: cadê o Roberto Dinamite?

Mais uma dessas coincidências contra o Vasco, muito provavelmente, mas logo sanada, com Roberto passando a ser exaltado pela revista e por todos os especialistas que começaram a se lembrar muito mais dele e a elogiá-lo não só como o grande artilheiro que foi, mas como candidato a presidente de um clube de massa, bicampeão sulamericano, mais que centenário. Em torno do ex-ídolo aglutinou-se toda a oposição vascaína, com apoio incondicional da mídia, e assim, quinze anos depois de iniciada, com o saldo da Libertadores no Centenário, do reconhecimento do Sulamericano de 48, da Mercosul, de três Brasileiros, um Rio-São Paulo, de seis Cariocas, seis Taças Rio e sete Taças Guanabara, mais cinco títulos continentais de basquete, quatro no masculino, um no feminino, outros dois campeonatos brasileiros com Charles Byrd, Vargas e Rogério, mais um com Janeth e títulos às pencas no remo, no futsal e em várias outras modalidades, com o Vasco na condição de campeão nacional de futebol, futsal e basquete, só isso, estava encerrado o glorioso período de paz na política vascaína.

Pleito inaugural dos tempos de guerra, no qual Eurico Miranda venceu Roberto por um placar mais apertado que sua derrota pra Calçada em 85, a eleição de 2003 foi a primeira da história do clube a parar na Justiça, que tinha algum prurido, ainda, algum apego aos autos, aos fatos, e por isso manteve o resultado, sem pensar em desrespeitar a soberania de um clube do tamanho do Vasco. Aqui é preciso confessar que eu mesmo, aos trinta e um de idade, vivendo e trabalhando no entorno da grande mídia na época, eu mesmo votei em Dinamite em 2003, tal era o clima criado pelo jornalismo de guerra. Mas não em 2006, quando as intenções, alianças e desejos da “turma do bem” para o clube, segundo quase todos os especialistas, já estavam bem nítidos e por isso a diferença de votos em favor de Eurico foi ainda maior, na eleição que teve participação efetiva, decisiva, da mídia, fazendo sua guerra com algo que não podemos, por favor, chamar de jornalismo, e por isso chamaremos, por assim dizer, de jornalgolpismo, uma maneira de praticar a profissão de jornalista muito em voga hoje em dia, aliás, em várias editorias.

Um dos jornais da flapress com trauma de nascença, no caso o de 97, escalou um repórter que era sócio do clube e não pagava mensalidade há um certo tempo, sem condições, portanto, de votar. Muito esperto, malandro, o repórter passou pela triagem inicial com seu crachá de imprensa, sem mostrar que era sócio, o que só fez no local de votação, onde escondeu o crachá do jornal traumatizado por tomar de quatro recém-nascido, com Edmundo rebolando, mostrando a língua, e o Vasco tricampeão brasileiro.

Ah, moleque! Deve ter pensado o repórter esperto, malandro, ao conseguir votar escoltado por sujeitos com a camisa da oposição, como se o protegessem. A capa “bombástica” do diário traumatizado, moleque, reforçou a segunda ação na Justiça da oposição, em sua segunda eleição, e Eurico, que também tinha lá sua parcela de culpa pelo clima beligerante, ficou no cargo por um ano e meio até que a Justiça marcou nova eleição sem julgar o mérito da ação, no caso a mesma alegação de agora, uma tal urna a ser impugnada, onde votou o tal repórter e este que vos escreve, que já contou aqui esse caso, três ou quatro textos abaixo, e que, sem ter o seu nome na lista de votantes, assinou em separado ao chegar na segunda triagem, como deve ter feito o repórter esperto, com a diferença de que eu mostrei minha carteira de sócio na entrada, com os devidos comprovantes de pagamento.

Veio então o golpe, a mudança de diretoria no meio de um campeonato Brasileiro e o time que tinha ficado em sexto em 2006, a um travessão da Libertadores mesmo com as arbitragens contrárias de sempre, e que no ano seguinte chegara a liderar o campeonato, caindo depois de um turno inteiro no G4 pra terminar em décimo, sem nem flertar com a zona da degola, esse mesmo time que em 2008 já havia ganhado do futuro vice, Grêmio, e figurava em nono lugar no meio do primeiro turno, quando Roberto e sua trupe assumiram, esse time em três ou quatro rodadas estaria na zona de rebaixamento, num processo de depreciação e desmonte acelerado, que olhando de hoje parece até premeditado, com o discurso pronto pra tragédia anunciada.

Saíram logo Jean e Morais, antes da demissão do técnico Antônio Lopes, multicampeão pelo Vasco, porém ligado demais a Eurico, rezava o ódio calculado, a política de terra arrasada que alçou Tita ao cargo de treinador vascaíno, ele e sua agência de jogadores, nenhum deles de muito destaque nem talento, mas vários contratados para o resto do campeonato, assim como o suposto grande reforço apresentado de cara pela nova diretoria, o ex-zagueiro rubro-negro Fernando, algo como o Márcio Araújo da época, ele, Márcio, que saiu da Gávea este ano, finalmente, e em todas as matérias sobre sua despedida na mídia estava lá o gol do título do carioca de 2014, e nenhuma delas mencionava mais, nem quatro anos depois do fato, que o gol foi marcado em clamoroso impedimento.

Sete anos depois de encerrada a paz política no Vasco, o time foi rebaixado pela primeira vez na sua história e a culpa não era da diretoria apoiada pela mídia, alçada ao comando do clube pela Justiça no meio de um certame pra desmontar a equipe que, há nem dois anos, tinha ficado em sexto. Não, a culpa era do Eurico, e não da diretoria que vestiu o Vasco com um abadá ridículo, fabricado por uma tal Champs, muito menos do primeiro vice-presidente jurídico dessa diretoria, o primeiro de todos na história do clube a pedir remuneração pelo cargo, coisa de 50 mil por mês na época, em nome, dizia ele, do profissionalismo, e o primeiro também a ser responsável pela eliminação do Vasco numa competição, no caso a Taça Guanabara de 2009, quando a equipe, classificada no campo para as semifinais, perdeu a vaga por escalar um jogador irregularmente na primeira rodada, e numa derrota, fiando-se na garantia dada pelo vice-presidente profissional, remunerado.

Em 2009, com o Vasco na segunda divisão, não havia mais jornalismo de guerra. A mídia dava apoio incondicional à diretoria do clube que conseguiu até a raridade de ser ajudado pela arbitragem, mas somente na Série B, não na semifinal da Copa do Brasil contra o Corinthians de Ronaldo Fenômeno, na qual deixou de ser marcado pênalti de Chicão em Elton, ignorado pelo juiz em frente ao lance, o mesmo árbitro que já tinha deixado de marcar dois pênaltis claros em dois empates do Vasco em 2006, ambos em São Januário, um em cima de Jean, contra a Ponte Preta, outro em Leandro Amaral, contra o Santos, e que, terminada a carreira, teria emprego garantido de comentarista na emissora investigada,segundo o FBI, por pagar propinas e mais propinas, muita propina pelos diretos de transmissão do futebol brasileiro.

Entre desvios de direitos de jovens da base negociados no exterior, comprovados com extrato bancário da conta no paraíso fiscal, do amigo do presidente, destruindo gradativamente os alojamentos dessa base em São Januário, o ginásio e o parque aquático, a nova diretoria seguiu com apoio incondicional da mídia e em dado momento, como sói acontecer na história do Vasco, foi beneficiada pela ação dos torcedores mais influentes do nosso amadoclube, no caso, os deuses da Bola.

Sem pagar quase nada a ninguém, triplicando dívidas milionárias o Vasco formou, em 2011, um timaço, o melhor desde o ritmo de festa de janeiro de 2001. Fernando Prass, Allan, Dedé, Anderson Martins, Ramon, Eduardo Costa, Rômulo, Felipe, Diego Souza, Éder Luís, Alecssandro, mais Fágner, Bernardo, Élton, Cristóvão Borges, Ricardo Gomes e todos os que abriram os caminhos da Copa do Brasil para o Vasco da Gama formaram o único elenco campeão nacional no meio do ano, na maior de nossas derrotas na fria noite de Curitiba, que seguiu disputando o Brasileiro, até o fim, ponto a ponto com o segundo time preferido da mídia, o Corinthians, que disputa cabeça a cabeça com o Flamengo a preferência da torcida entre os especialistas.

Seis, sete gols legais anulados, mais sete, oito pênaltis não marcados, dois contra o mesmo time, um no turno, outro no returno, com o mesmo juiz que ganhou de presente o escudinho da Fifa findo o campeonato, com o Vasco a três pontos de igualar o feito do Cruzeiro vencendo Copa e Brasileirão no mesmo ano, mas não, mostrando que não importava a diretoria, nem o presidente, que o time continuava a ser prejudicado sistemática e escancaradamente pelas arbitragens simplesmente porque é o Vasco do português, do pobre branco, negro ou mulato lá de trás.

No ano seguinte, na Libertadores, foi preciso de novo a ajuda da arbitragem pra decidir quem seguiria dali, das quartas-de-final, rumo ao título mundial, se o Vasco ou o Corinthians. Paulinho fez de cabeça a dois minutos do fim do jogo, Cássio defendeu o chute de Diego Souza no Pacaembu, mas antes disso, no jogo de ida em São Januário, Alecssandro marcou de cabeça fora da pequena área, o quase xará dele Alessandro dava condição caminhando lá na lateral direita, atrás da linha da pequena área, e o bandeirinha marcou impedimento. Comentaristas, câmeras e computadores de todas as emissoras confirmaram o gol legal e seguiu o jogo com mais esse erro decisivo em favor do mesmo time de sempre num confronto entre Corinthians e Vasco. Então alguém da maior emissora, que leva ou vai com as outras pro mesmo lado, sempre, porque todas torcem contra o mesmo time, alguém deve ter pensado que ficava mal, depois do que acontecera no Brasileiro de 2011, ratificar assim, pra sempre, mais este lapso de um juiz contra o primeiro campeão continental do planeta, ali, como agora, em busca do Tri sulamericano.

Faltando menos de cinco minutos pra terminar o tempo regulamentar, a bola rola em algum lugar do gramado e o narrador anuncia espantado, empolgado até, falando algo parecido com: gente, olha só, tem um tira-teima novo, um ângulo novo que só nós conseguimos pegar com nossa supermegatecnologia... E a curva exibida chega a envergonhar, a imagem congelada com a bola já tendo saído da cabeça de Diego Souza e todo mundo fingindo não perceber esse pequeno detalhe, o congelamento não no momento do toque, como se deve em casos de impedimento, mas um pouquinho só depois, porque senão não dava nem pra enganar com o tira-teima inacreditável, a cara-de-pau computadorizada mostrando que Alecssandro estava, sim, impedido, coisa de milímetros, segundo o tira-tema versão remix logo reproduzido por todas as outras emissoras que também tinham dado o gol como legal, mal anulado, e que se retificavam felizes, convictas, pra dizer que o time delas venceu sem ajuda do apito o confronto que, de acordo com as regras da International Board, deveria ter sido decidido nos pênaltis.

A essa altura o time tinha a volta de Juninho Pernambucano, jogando ainda muito, e começara o Brasileiro pulando na liderança isolada com quatro vitórias nos quatro primeiros jogos, e um empate contra o Palmeiras em São Paulo no quinto, e foi mais ou menos por aí que o crédito começou a acabar, com o time disputando palmo a palmo a liderança com o Galo de Ronaldinho Gaúcho, e o Fluminense que quase faliu a Unimed um pouquinho atrás. Quem tinha botado algum na montagem daquele timaço quis logo o seu de volta sem pensar em possível título nacional, conquistado pela última vez havia doze anos, e o candidato natural ao Brasileirão de 2012, que já tinha perdido Rômulo, perdeu Allan, Fágner e Diego Souza e mesmo assim continuou disputando até o jogo contra o futuro campeão na última rodada do turno, com mais uma arbitragem daquelas, do juiz que é uma mistura de José Roberto Wright, José de Assis Aragão e Armando Marques dos novos tempos.

Marcelo de Lima Henrique ficou famoso com o pênalti que garantiu ao mais querido da mídia a Taça Guanabara de 2008. Um a zero Botafogo, jogo duro, sem ameaças ao gol alvinegro até o cruzamento no bololô da área, a queda obviamente pra baixo do jogador flamenguista com o puxão na camisa no agarra-agarra, pra cima, e o apito rápido, na hora, como que ensaiado pra garantir a festa da torcida. Dois anos depois, com Marcelo de Lima Henrique sendo considerado o melhor árbitro do campeonato pela mídia local, o Botafogo seria recompensado pelo juiz na mesma final da Taça Guanabara, mas não contra o Flamengo, claro, contra o Vasco, o mesmo Vasco de Diego Souza, que na penúltima rodada do Brasileiro de 2011 teve seu gol anulado no primeiro minuto de jogo, com a invenção de um impedimento decretada pelo juiz elogiado a toda hora pela mídia.

Com Marcelo de Lima Henrique o Flamengo bi vice do Independiente, alijado da Libertadores na fase de grupos ano sim outro também e um terceiro ainda, seguidos, o rubro-negro eliminado pelo San Lorenzo, pela Universidad Católica, pelo Léon, pelo Bolívar, pelo Olímpia, Boca, Peñarol, Nacional, pelo Defensor, pelo Once Caldas, pelo River Plate, pelo Argentinos Juniors, pelo América do México e pelo Palestino, e tem mais, mas não dá pra falar tudo, não há ar suficiente e seria enfadonho citar num só texto, mesmo enorme como esse, todos os times estrangeiros que já eliminaram o clube que, com Marcelo de Lima Henrique, numa dessas coincidências danadas do futebol, tem retrospecto de Bayern de Munique.

Pois tal juiz, capaz de transmitir superpoderes ao clube da Gávea, naquele Vasco x Fluminense de 2012, decisivo, abriu os braços e mandou seguir o jogo como quem diz internamente, é agora, quando o lateral tricolor cortou o cruzamento perigoso com o tapa de mão aberta dentro da área, iniciando o contra-ataque que redundaria no primeiro gol do Fluminense. Depois, com o jogo empatado, no último minuto um jogador tricolor, muito esperto, empurrou o primeiro homem da barreira do Vasco e a bola passou justamente ali, naquele ponto, pra entrar no gol vascaíno e Marcelo de Lima Henrique, nada, nada marcou a não ser o gol que fez o Flu pular de vez pra liderança até o fim do campeonato, e o Vasco dar seu último suspiro como grande time, entrando de vez no declínio que foi dar na segunda queda, sem que dessa vez fosse tão fácil quanto a outra pra gritar que a culpa era do Eurico.

A queda num jogo sem policiamento, no qual a segurança era tipo de matinê de boate, com parentes de jogadores do Vasco na arquibancada agredidos ou ameaçados de na batalha campal entre torcidas organizadas e a covardia mostrada na hora em que tinha de tirar o time de campo sepultaram politicamente, espero que para todo o sempre, o ex-ídolo Roberto Dinamite, que fez a vontade de todos ali, menos do Vasco, acovardou-se bananamente na hora H pela enésima vez, e o clube que presidia havia cinco anos foi rebaixado sem que o procurador do STJD se preocupasse a mínima com parente de jogador em campo podendo ser agredido na arquibancada, falta de policiamento, briga generalizada, chute na cabeça, nada.

O importante era o outro caso, pra salvar o Fla e o Flu afundando a Portuguesa, a entrada de um jogador sabidamente irregular em campo a mando não do técnico, mas do presidente do clube. Estranho, estranho demais, mas não pra mídia, que nunca mais tocou no assunto, talvez porque o caso envolva a dupla da moral e dos bons costumes, segundo ela, o Fla e o Flu, fundados, ambos, por racistas, que também são (ô, coincidência...) os únicos clubes a vencerem campeonatos brasileiros com adversários entregando dois jogos pra cada um deles, na reta final.

Teve também o roubo espalhafatoso do Carioca de 2014, com a incrível bola que entrou pra caralho à beça na fuça de um vendido que atuava como juiz de linha, seguida da falta que ninguém viu se entrou ou não, que o Martin Silva rebateu, escondeu a bola do vetê com o corpo todo dele, sem dar chance pra ninguém saber mesmo, com certeza, se ela entrou ou não, mas o queridinho tava perdendo de um a zero, então o tira-teima mostrou, o narrador opinou e o comentarista de arbitragem ratificou: gol, na raça, sem discussão, menos de vinte minutos depois da bola que entrou trinta centímetros e nada, segue o jogo.

E na final do mesmo campeonato, a cena final foi dele, Marcelo de Lima Henrique, validando o gol que os jornais hoje nem falam mais que foi muito impedido, e a mídia continuava em trégua com a diretoria que se desfizera de Rômulo, Allan, Diego Souza, Dedé, Fernando Prass, de um timaço inteiro e deixava o clube em frangalhos, com água cortada, patrimônio abandonado, sem time de basquete durante toda a gestão, com as dívidas triplicadas e a ideia genial de, no finzinho do mandato, contratar um advogado flamenguista pra tentar tirar o título do Flamengo sabe onde? Na Justiça Desportiva.

Até entrevista coletiva teve pra abertura da ação, com o advogado falando, mas claro que não deu certo, o que não diminuiu em nada o apoio da mídia não mais a Roberto Dinamite, que não dava, mas ao grupo político em torno dele, que como legado deixou também a drástica redução das cotas de televisão para o Vasco em relação ao Corinthians e ao Flamengo, ao aceitar passivamente a implosão do Clube dos Treze orquestrada por Ricardo Teixeira, outro antigo aliado da mídia durante anos, décadas de propinas e mais propinas, de acordo com o FBI. No tempo do Clube dos Treze, o Vasco estava no grupo dos cinco clubes mais bem pagos, igualmente. Com a negociação individual, a Globo pode oferecer bem mais aos seus dois clubes mais queridos, com a diferença para os outros aumentando a cada ano.

E mesmo com a morte de um menino da base expulsa de São Januário, terceirizada, o apoio da mídia não cessou ao grupo alçado ao comando do Vasco no embrião de todos os golpes jurídico-midiáticos que jogaram o país no atual estado de exceção, policial, com pobres e classe média quietos, dezenas de milhões deles desempregados, com medo, calados, vendo na tevê apresentadores sorridentes, não mais com o ranger de dentes de outrora, como se agora, sob a administração de uma quadrilha de ladrões, com juizecos e procuradores messiânicos entregando a economia nacional ao estrangeiro, com os ricos enriquecendo mais e mais, rápido, e o resto só vendo, como se agora estivesse tudo bem.

Com Roberto não dava mais, era preciso uma cara nova pra seguir apoiando e surgiu então Julio Brant, um rosto completamente desconhecido que era empresário, diziam, ou executivo de uma grande empreiteira, afirmavam outros, e que era amigo do Edmundo, o que dava pra ver pelo jogador sempre ali com ele, nas fotos, usando a mesma malfadada estratégia de atrelar um grande ídolo dos gramados à política, com o intuito claro, banal, de enganar a torcida.

A primeira tentativa de emplacar o desconhecido não deu certo. No calor ainda do desastre completo da administração Dinamite, a vitória na eleição de 2014 foi de Eurico Miranda com o dobro da votação dos outros dois candidatos, com cerca de 3 mil votos enquanto Brant e o outro candidato da oposição dividida, Roberto Monteiro, tiveram cerca de 1,5 mil cada, com o candidato da flapress um pouquinho só à frente. Era esse o quadro eleitoral do Vasco com Fernando Horta apoiando Eurico, com a promessa, diz ele, de encabeçar a chapa na eleição seguinte. Só que não, no entender do Eurico.

O então presidente vascaíno, que conquistara o bicampeonato estadual depois de 12 anos sem títulos, o segundo deles invicto, e em contrapartida não conseguiu evitar o rebaixamento fundamentalmente causado por erros e mais erros de arbitragem contra a gente, o presidente Eurico Miranda cometeu o erro de anunciar sua candidatura à reeleição durante a coletiva pra mostrar a todos as provas, documentos, nada de powerpoint nem convicção de procurador beato, não, provas mesmo de desvios de direitos federativos, confissões absurdas de dívidas milionárias, tudo feito pela antiga administração Bananamite, do grupo político de Júlio Brant, nos seis meses de lambuja em que permaneceu no comando do Vasco, graças à Justiça, tudo isso ofuscado pelo lead óbvio dado à imprensa inimiga pelo próprio Eurico.

Ao se lançar candidato, Eurico perdeu de imediato o apoio de Horta, e mesmo assim ganharia a eleição de 2017 se o quadro fosse mantido com dois candidatos de oposição, Júlio Brant, de novo, pelos amarelinhos, e Alexandre Campello no lugar de Roberto Monteiro, pelos verdinhos. Os dois então se uniram, no último minuto, e a vontade da mídia foi feita com a cabeça da chapa ficando com seu queridinho, em detrimento do outro candidato que, ao contrário do escolhido, era ao menos conhecido, com trajetória de décadas como médico do clube, num período dos mais vitoriosos.

E mesmo com essa união, Eurico venceria o pleito de 2017, mesmo com Fernando Horta candidato até o dia da eleição, com 400 votos na boca de urna enquanto Eurico e Brant já tinham passado dos mil quando o último colocado decidiu, no dia da eleição, anunciar também apoio a Brant, abaixando a cabeça aos interesses de mídia e muito provavelmente enterrando assim, com essa vergonhosa submissão a um completo desconhecido, qualquer possibilidade de um dia presidir o clube.

E mesmo com tudo isso, Eurico venceu a eleição. Foi preciso a artimanha na Justiça, prima do golpe jurídico-midiático de 2006-2008, precursor de todos os golpes que nos trouxeram até aqui no país, neste estado das coisas. Foi preciso impugnar votos calculados, com a ajuda até de uma teoria simplória, tatibitati, de um tal matemático, foi preciso nova interferência de fora pra que a mídia fizesse a vontade dela em relação ao Vasco. Só não contavam com a astúcia do Eurico, e também do Campello, ou melhor, do Roberto Monteiro.

No acordo de última hora pra tentar vencer Eurico, no desespero pra unir as chapas de oposição, Monteiro e Campello cederam a cabeça da chapa, mas garantiram metade das 120 cadeiras destinadas ao grupo vencedor da eleição. Eurico, como segundo colocado, tinha 30, mais a maioria esmagadora na outra metade do colégio eleitoral, a do Conselho dos Beneméritos.  Eurico ofereceu apoio a Campello em troca de nenhum cargo, nada, Campello entendeu a situação e usou muito bem seus 60 conselheiros pra se eleger presidente, evitando assim o mal maior que seria, indubitavelmente, a eleição do playboy desconhecido, apoiado, dizem, por conselheiro do Flamengo, o candidato ideal, na opinião da mídia esportiva, pra presidir o Vasco em momento de renovação de contratos televisivos.

O que aconteceu na noite de 19 de janeiro, no salão da Sede Náutica da Lagoa, foi histórico, algo que pode equivaler, quem sabe, ao gesto de Calçada chamando à união com Eurico. Um novo e longevo período de paz no Vasco, é o que deveria almejar todos os vascaínos, sobretudo quem presenciou os áureos tempos de 1986-2001, mas não é o que quer a mídia. A mídia esportiva semeou, insuflou e manteve à base de denúncias mastigadinhas, ridículas, a guerra interna eterna no Vasco e analisou o resultado da eleição da Lagoa com muita raivinha, bufando pela derrota de seu candidato inacreditável, misterioso, desconhecido.

Foi artimanha, traição e tudo mais de ruim, bradaram vários especialistas, chegando a citar uma tal vontade do sócio do clube, mas não a vontade que ganhou, de fato, a eleição, e sim a vontade imposta pela Justiça. Em nome dessa vontade conquistada no reino das benesses com dinheiro público, do auxílio-moradia e da toga, especialistas bradam ainda hoje, com o time a horas, agora, de entrar em campo na Argentina contra o Racing, onde aliás já vencemos. Bradam comentaristas cariocas e paulistas sobre a eleição do Vasco, defendendo todos o mesmo candidato despreparado, querendo novas eleições, mais decisões da Justiça, tudo pra tumultuar o máximo possível, pra não dar trégua nem com jogo decisivo em Copa do Brasil, nem em Brasileiro, nem em Libertadores. Não querem a paz, não no Vasco, nunca. Sabem muito bem, todos eles, do que, em paz, o Vasco é capaz.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...