Foto: Carlos Gregório Jr./Vasco
O time está em semana decisiva, com final de Campeonato Carioca e jogo fundamental pela Libertadores, fora de casa? Tome notícias sobre HD, possíveis novas eleições ou coisa parecida. A estreia no Brasileiro foi boa, temos outro jogo decisivo fora de casa na Libertadores? Que venham as notinhas de bastidores em off, sem fontes definidas a dizerem que tudo anda tenso dentro de São Januário, que todos brigam, que Paulinho já está vendido e nunca, nunca mais voltará a jogar no Vasco, e vendido estará por menos de R$ 100 milhões, sim, por bem menos que o Vinicius Júnior e também, claro, por menos que o Paquetá, e assim vamos seguindo.
Perdemos,
então, o Campeonato Carioca. Depois de duas vitórias incríveis (com destaque
para o gol histórico do vaiado Fabrício na semifinal contra o Fluminense),
menos de quatro dias depois do zero a zero contra o Cruzeiro no Mineirão, pela
Libertadores, quando perdemos Paulinho, depois de ter um jogador expulso aos
trinta e seis do primeiro tempo, o mesmo Fabrício, em sua primeira e única
falta na partida, depois de aguentar por mais de uma hora, com um a menos, o
rival que tivera a semana inteira pra se preparar, descansar, sem viagem muito
menos jogo de Libertadores fora de casa, depois de tudo isso o Vasco tomou o gol
no último minuto e sucumbiu ao Botafogo na decisão por pênaltis. Paciência,
vida que segue e o registro que não pode deixar de ser feito aqui: em 1948, o
Vasco também foi vice do Botafogo no Carioca, naquele ano com a decisão no
lendário gramado de General Severiano, à base de pó-de-mico.
Perdemos o
Estadual, mas ganhamos na estreia do Brasileiro, mais uma virada no último
minuto, empatando aos 41 do segundo, virando aos 53 num pênalti que explica,
logo na primeira rodada, porque o Vasco ficou um Brasileiro inteiro sem um
penaltizinho marcado a favor dele, até a última rodada do ano passado. Rildo
botou na frente, deixou o zagueiro na saudade e caiu quando o defensor chegou
atrasado, batido, desesperado botando pé, canela, joelho e coxa na frente dele
pra tentar parar nosso sobrinho do vento, que pulou pra não ser tocado e, veloz
como só ele, caiu, deixando ao juiz que acompanhava de longe, porque não há
juiz no mundo que acompanhe de perto um contra-ataque puxado por nosso super
Riberildo, legando ao árbitro a certeza, correta, de que Rildo só não ficou de
pé até o fim da jogada pela chegada atabalhoada do zagueirão vendido no lance.
Pênalti
claro, corretamente marcado e abalizado até, pasmem, por Arnaldo César Coelho.
“Se eu fosse juiz também marcaria. O zagueiro foi imprudente”, disse o juiz da
final da Copa do Mundo de 1982, ao vivo, na tevê. Nada que impedisse a grita
dos de sempre, daqueles ex-juízes de garfadas históricas contra nosotros que,
hoje comentaristas, continuam apitando contra o Vasco, e mais ainda dos
especialistas torcedores ferrenhos do queridinho. Todo e qualquer pênalti
marcado a favor do Vasco, para a mídia, é polêmico. Fosse Vinicius Jr. no lugar
de Rildo no lance, e estariam os mesmos especialistas a exaltarem a velocidade
e a sagacidade da joia superfaturada da Gávea, que pulou bem na hora num lance
que, só pela entrada do zagueiro, já caracterizaria o pênalti claro, diriam
todos os comentaristas de arbitragem.
O Vasco
ganhou jogando bem, pressionando o grande Galo mineiro sem desistir até o fim e
arrancando a vitória em casa na raça, e agora vai à Argentina para o mais
difícil dos jogos desta fase da Liberta, contra o Racing. E mesmo que,
porventura, vença hoje, mesmo que empate na atitude, na força, na garra, a
imprensa esportiva continuará a sacar seus cartuchos programados contra o
Vasco, aproveitando essa coincidência incrível dos últimos anos no Judiciário,
de nos casos de interesse da televisão, dos jornais, das rádios e sites de
notícias, em todas as esferas, nesses casos, a Justiça decidir exatamente de
acordo com a vontade da dita grande mídia.
Assim
começamos o ano, com o time classificado pra Libertadores quando todos os
especialistas previam o rebaixamento. Um motivo e tanto para um início de ano
seguinte animado, com boas notícias, só que não pra mídia. HDs apreendidos,
mexidos, devolvidos, urnas impugnadas em dez minutos, sem nem tempo pra leitura
de processo, sem que a mídia especializada gaste uma vírgula pra questionar
qualquer coisa, não, pelo contrário, a mídia abaliza, leva tudo a sério,
inclusive a invenção de um triunvirato esdrúxulo, incluindo o candidato apoiado
incondicionalmente pelos especialistas, ainda que eles não digam quem é o cara,
onde trabalhou, nada, porque o sujeito foi candidato em 2014, foi candidato de
novo em 2017, tem o apoio de dez entre dez especialistas da chamada mídia
esportiva mas não há e nunca houve, até agora, um perfil detalhado publicado
sobre ele seja em site, em jornal, na tevê ou em revista.
O que se
sabe sobre o candidato da mídia para presidir o Vasco é que ele faz parte do
grupo político que não marcou a eleição no tempo devido, simplesmente não marcou
a eleição e hoje clama por democracia, e sem marcar a eleição teve seu mandato
esticado em seis meses pela Justiça, e nesses seis meses confessou dívidas e
mais dívidas pra completar o saldo final de dívidas triplicadas deixado por tal
grupo político, com o clube em ruínas, sem água, com o muro caído, as piscinas
verdes, a base sem alojamento e o apoio irrestrito da mídia.
Sabe-se
também que ele, o tal candidato, deu entrevista coletiva quando ganhou de
presente mais uma decisão-relâmpago da Justiça. Atropelou os Poderes do próprio
Clube, arrotou sobre 119 anos de história não de qualquer outra instituição
esportiva, mas do Vasco da Gama, pra se proclamar presidente e pronto, com a
linguagem de playboy da night travada por algum especialista em marketing,
oratória, mas ainda ali, irremovível. Fora as contradições, de chamar de
desmanche os R$ 10 milhões arrecadados com o reserva Mateus Vital e com Madson,
que é obviamente pior que Pikachu, de chamar isso de desmanche e reclamar, em
seguida, das renovações de contrato que protegeram as duas maiores joias da
base: Paulinho e Evander.
Querem o
quê? Dificultar as vendas? Perguntou o candidato aoiado pela mídia, na cara
dura, sem perder qualquer apoio por isso, na coletiva que mostrou o tamanho de
seu despreparo para o cargo almejado. A ascensão de tal sujeito à Presidência
do Vasco foi evitada na noite histórica do dia 19 de janeiro, na sede da Lagoa. Um gesto dos mais raros em qualquer disputa política, o apoio em
troca de nada, de cargo algum, zero, do presidente do clube tirado do poder
duas vezes por interferência de fora, da Justiça domesticada pela mídia, selou
a derrota e o isolamento político do grupo político mais nocivo ao Vasco. Nada,
no entanto, que arrefeça a sanha da mídia também conhecida como flapress, sanha
pela guerra interna, eterna, no Vasco.
O time está
em semana decisiva, com final de Campeonato Carioca e jogo fundamental pela
Libertadores, fora de casa? Tome notícias sobre HD, possíveis novas eleições ou
coisa parecida. A estreia no Brasileiro foi boa, temos outro jogo decisivo fora
de casa na Libertadores? Que venham as notinhas de bastidores em off, sem
fontes definidas a dizerem que tudo anda tenso dentro de São Januário, que todos
brigam, que Paulinho já está vendido e nunca, nunca mais voltará a jogar no Vasco, e vendido estará por menos de R$ 100 milhões, sim, por bem menos que o Vinicius Júnior e também, claro, por menos que o Paquetá, e assim vamos seguindo.
Por isso
tudo, então, pra tentar entender como chegamos até este momento da história em
que todas as eleições vascaínas vão parar na Justiça, pra marcar a diferença
entre os grandes presidentes dos 120 anos de vida do Vasco e o candidato da
mídia que, por coincidência, claro, faz parte do grupo político que aceitou
passivamente o rebaixamento das cotas de televisão do Vasco, no contrato que
será renovado ou não durante a atual gestão (será por isso tanto empenho da
mídia em apoiar o candidato que ela não diz quem é? Será?), por tudo isso é
mais do que necessário falar agora da política vascaína, iniciada com o
presidente inaugural do clube, Francisco Gonçalves Couto Júnior, e que teve sua
primeira eleição revolucionária logo aos seis de idade, com um negro sendo
alçado à Presidência dezesseis anos depois de abolida a escravatura. Cândido
José de Araújo, talvez quem sabe primo, foi reeleito em 1905 pra ser o
presidente na conquista do primeiro campeonato de remo do clube, então somente
de regatas, e justo no ano da inauguração do Pavilhão da Enseada de Botafogo aí de cima, marco do esporte e da história da cidade, e graças aos deuses não só da bola,
nesse caso, mas de todos os esportes, obrigado por mais esse capricho da nossa
história.
Prova cabal
da miscigenação da Casa Grande com a Senzala que formou a nossa gente, nossa
raça, a imagem aí embaixo, de Cândido José de Araújo, ou Candinho, na fila mais
baixa, no meio do chamado Grupo dos XIII, assim mesmo, com algarismos romanos, deita
por terra as teorias de historiadores, escritores ou especialistas, torcedores,
claro, de outros times, constrangidos com o comecinho das histórias de seus clubes
do coração e que por isso insistem em jogar o Vasco na mesma vala racista dos
outros grandes clubes cariocas. Nada que impeça, lógico, tais historiadores,
escritores e especialistas de continuarem tentando, botando na conta do
português e fingindo não ver o fato por si só inquestionável, a eleição de um
presidente mulato na mesma época em que outros clubes da cidade até aceitavam
negros como jogadores e olhe lá, mas só se estes fossem muito necessários ao
time e não fossem tããão escuros assim, pra que qualquer oh! de espanto de
sócios ou torcedores pudesse ser resolvido na base do talquinho.
O
português, por sua vez, de tamanco ou não, com o lápis atrás da orelha no balcão e
mesmo rico, industrial ou dono de corretora na bolsa de valores, este tinha
também, ora pois, sua cota do vasto, infinito preconceito reproduzido de
geração pra geração da sociedade local em suas altas castas, e mais ainda nas médias. E
tais castas tão plenas de nobreza, segundo elas próprias, não poderiam mesmo
tolerar quietas o Vasco do português chegando na área com um time de pobres,
negros, brancos, mulatos e dando que dando nos rapazes bem-nascidos do América,
do Botafogo, do Flamengo e do Fluminense.
Vasco
campeão em seu primeiro campeonato, marcando com vitórias seus primeiros confrontos
com os outros ditos grandes times da cidade e tendo como vice adivinhem quem: aquele
time da Gávea que onze anos antes havia nascido, vice também, para um tal
Payssandu Cricket Club cuja sede atual fica, olha só, em frente a do rival
derrotado, segundo colocado em seu primeiro campeonato. Veio então a resposta,
irada, das classes abastadas, gerando com a indignação afrontada de sua revolta
a oportunidade para o surgimento de outro presidente histórico do Vasco.
Derrotados
nos gramados, os dirigentes dos outros clubes se apegaram em alguma regra do
campeonato, como era também regra, no caso lei, a escravidão havia menos de
quarenta anos, se apegaram a um ponto qualquer da legislação criada por eles
mesmos pra exigir a expulsão imediata de quase todo o elenco campeão do Vasco,
alegando lá qualquer coisa que acharam mais elegante pra não dizer a verdade,
que a expulsão coletiva se daria porque todos eram pobres, negros ou mulatos. José
Augusto Prestes era o presidente vascaíno no ano de 1924 e é dele a Resposta
Histórica ao presidente da federação da época, que passaria a ter seu sobrenome
relacionado a playboys, herdeiros de milionários.
Na carta de
Prestes, o Vasco informava seu desligamento da liga toda ela, inteira, por ele
derrotada, pra conquistar o bicampeonato em outra liga, proletária,
não-racista, o primeiro dos seis títulos invictos do clube, nenhum deles com
juiz comemorando gol roubado. O texto de José Augusto Prestes em resposta ao
Guinle tricolor ou rubro-negro, dá no mesmo, é o mais antigo, talvez único
registro da democratização do futebol no país ainda agrário, uma ode visionária
em todo o seu humanismo, ode à liberdade que todo menino pobre tem de sonhar em
ser jogador de futebol, mas como já foi falado aqui, na apresentação deste
blog, para a mídia da época, ainda antes de existir O Globo a Resposta
Histórica virou colunão, espremida num canto de página e publicada depois de
uma introdução impaciente, mal-humorada.
Por falar
na mídia outrora mera espectadora, torcendo sempre contra, hoje muito mais
ativa, partícipe do negócio, em nome da concisão deste texto que será
inevitavelmente grande pra garay, aqui nos apegamos a estes dois grandes
presidentes do Vasco e pularemos os demais de outras cravadas na pedra da
história, na pele dos rivais de todo o país e do continente, não mais apenas da
cidade, uma cravada como primeiro campeão continental do planeta, com o Expresso
da Vitória, outra como primeiro campeão na Europa, vencendo o único
pentacampeão europeu, hoje com doze taças no saco, durante este pentacampeonato,
e sem Bellini e mais metade do time, que ficou no Rio disputando o torneio no
qual, mesmo tendo jogado somente no Santos no Brasil, no palco sagrado do
Maracanã pré-padrão Fifa surgiu para o mundo, com a camisa cruzmaltina, um
certo Pelé, fazendo gols no Belenenses de Portugal, no Dínamo de Zagreb e no...
Flamengo.
Houve ainda
um 7 a 2 sobre o Barcelona no campo deles, mais uma Teresa Herrera e dois
estaduais de lambuja, o segundo num inédito, até hoje, supersupercampeonato,
dois triangulares contra o Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e contra o
vice, de novo, o rubro-negro da Gávea. Tudo isso com Bellini, Orlando, Vavá,
Sabará, Pinga e Cia, no triênio glorioso de 1956/57/58, mas pularemos este
período positivo de nossa história, e também outros nem tanto, pra falarmos da
política do Vasco de onde começa a memória, no caso o Triênio 1980/81/82,
quando o presidente era Alberto Pires Ribeiro e começava a se consolidar como
personagem forte no clube um sujeito chamado Eurico Miranda.
Com os
louros do retorno triunfal de Roberto Dinamite, dando mais uma de suas voltas
nos colegas rubro-negros que tinham tudo acertado com o futuro pior presidente
da história do Vasco, Eurico se achou em condição de sair da Chapa União
Vascaína, que conseguira vencer Agathyrno da Silva Gomes, há onze anos no cargo.
Lançou-se candidato contra um ex-aliado, Antônio Soares Calçada, e perdeu a
eleição de 1982, que teve ainda Agathyrno em terceiro, na sua primeira e
derradeira tentativa de retomar a Presidência.
Nessa época
ouvia-se sempre aquilo que parecia lenda, que se um dia o Vasco se unisse, se
as diferentes correntes políticas remassem juntas, o clube seria imbatível. Mas
não houve sinal de união na eleição seguinte, em 1985. Eurico tentou de novo,
dessa vez só ele e Calçada, e a diferença bem mais apertada em favor da
situação mostrava o clube dividido, rachado, até que o presidente reeleito, num
dos gestos mais benéficos à história vascaína, chamou Eurico para assumir a
Vice-Presidência de futebol do clube.
Seguiu-se
então um período mágico de paz política e, como rezava a profecia, o Vasco de
fato passou a dominar o cenário. Roberto em fim de carreira, fazendo aquilo
para o qual fora talhado, gols ainda, muitos, e abrindo as portas pra Geovani,
Romário, Bismarck, William, Sorato e o maior de todos eles, Iomar do
Nascimento, Mazinho, e depois pra Edmundo, Valdir Bigode, Carlos Germano,
Pimentel, Helton, Felipe e Pedrinho, a base forte formada ao lado de Bebeto,
dos Juninhos, de Ricardo Rocha, Mauro Galvão, Tita, Luizão, Dunga, de Viola e
de Donizete Pantera, entre outros nomes consagrados, contratados pra manter o
time disputando tudo quase sempre lá em cima, até chegar ao melhor momento de
sua história depois do inigualável Expresso da Vitória.
Campeão
brasileiro, carioca, da Libertadores e do Rio-São Paulo, o Vasco deixava
traumas de nascença em dois dos jornais mais conhecidos da flapress, lançados
nesse período, um em 97, o outro no ano da graça de 1998. A eles, torcedores
nervosos de qualquer adversário do clube, restavam as secadas internacionais, e
somente em nível mundial, como nos vices de 98 e 2000, este último marcando pra
todo o sempre o Vasco como primeiro e até agora único clube carioca a
participar de um Mundial da Fifa, saindo dele invicto, com a lembrança da festa
no Maracanã lotado, da vitória arrasadora sobre o campeão europeu, em casa, com
gol de placa, coisa que nenhum outro time jamais chegou perto de fazer não só
na cidade, mas em todos os outros quatro continentes que não a Europa.
O ano de
2000 foi também o da última eleição pra presidente do Vasco que, cumprindo a
tradição dos 102 anos anteriores, não foi parar na Justiça, a última vez em que
os sócios decidiram os destinos do clube sem interferências de fora. Calçada,
cansado, saiu de cena pra subida natural de Eurico à cabeça da chapa que, como nos
quatro pleitos anteriores, ganhou de lavada. A mídia então investia pesado no
que podia, no caso, o carioquinha roubado de sempre, com jogador do time dela
se jogando e o juiz dando pênalti, falta no último minuto, com o time dela fazendo
mais de sessenta faltas num jogo só, na decisão, e ficando com onze até o fim,
na raça.
E se podia
fazer graça naquele ano com os vices vascaínos no Mundial, no Carioca e no
Rio-São Paulo, a mídia se preocupava nos últimos meses do milênio, porque o
Vasco insistia, chegava à reta final da temporada brigando em duas frentes,
prestes a fazer história como único clube, até hoje, a ganhar ao mesmo tempo um
Brasileiro e um torneio oficial continental, a Copa Mercosul, na maior virada
da história. Mas ainda não tinha ganhado nada, estava perto disso, a quatro
jogos de um campeonato, a dois ou três do outro, quando a mídia virou a chave e
deixou de secar, apenas, pra começar a participar mais ativamente de tudo.
O jogo foi
o primeiro da semifinal do Brasileiro contra o Cruzeiro, em São Januário, e a
matéria era de uma das futuras estrelas do jornalismo esportivo nacional, para o
principal telejornal da área. Corria o mês de dezembro no Rio de Janeiro, um
calor infernal e a polêmica da semana havia sido em relação ao calendário, com
o Vasco, pra variar, sendo mostrado como o mau-mau da historinha, muito malvado
por se recusar a jogar a tabela preparada de acordo com a grade de programação
da TV investigada, sonegadora, que naquela época e bem antes já vivia à base de
propina, de acordo com o FBI.
Tal tabela
dizia que o Vasco deveria fazer o segundo jogo da decisão da Copa Mercosul
contra o Palmeiras, em São Paulo, na terça-feira, aí descansava e viajava no
mesmo dia, talvez, pra jogar na quinta contra o Cruzeiro, no Rio. Isso mesmo:
final da Mercosul na terça, em São Paulo, e semifinal de Brasileiro na quinta,
no Rio, e por não aceitar isso o Vasco foi alvo da tentativa de ironia do
repórter, que chega a dizer, num dado momento da matéria, que teria sido melhor
jogar na quinta porque seria à noite, não haveria sol.
Sorridente,
bem-humorado, o renomado jornalista não esconde sua alegria ao gravar a
passagem com o jogo encerrado, depois de o Vasco abrir 2 a 0 no placar e deixar
o Cruzeiro igualar, sendo obrigado a partir dali a vencer no Mineirão ou
empatar por três a três. Pra completar teve a demissão de Oswaldo de Oliveira
no vestiário, nova oportunidade pra retocar, reforçar o personagem do ditador
irascível ao comentar a decisão de Eurico que certamente, garantiam os
especialistas, abalava o time, tornando tudo mais difícil, tese mais que
comprovada no intervalo da final da Mercosul, com mais um vice encaminhado e a
alegria da mídia em geral a transitar entre o suspiro aliviado de alguns por
ter-se evitado a tragédia, ao êxtase daqueles que até gargalhavam, prevendo
novas ironias.
Então
Jorginho Paulista foi ungido, tocado pelos deuses da Bola assim como o xará
dele, do Tetra, futuro técnico campeão invicto, e também Paulo Miranda,
Clébson, Odvan e todos que ninguém cita quando fala desse jogo, inclusive Nasa
e Júnior Baiano, este o responsável maior pelo drama todo da coisa. Aconteceu
aquilo que nunca nenhum outro time do planeta tinha feito e atônita, com o
grito entalado de vice na garganta a mídia mal teve tempo de absorver o “vice é
o caralho” gritado por Odvan e Juninho Paulista no alto do alambrado, junto com
a torcida na arquibancada do Parque Antárctica, nas janelas de todo o Brasil e
onde quer que houvesse um vascaíno no planeta naquele dia, àquela hora.
Nem bem
três dias depois, com atuação impecável de Euller, Romário, Juninho
Pernambucano e dele, Júnior Baiano, vieram os 3 a 1 sobre o Cruzeiro em pleno
Mineirão e o que era ironia, ou tentativa de, virou guerra, “jornalismo de
guerra contra o Vasco”, como confessouum dos especialistas, em entrevista a
outro, ao vivo.
Muita, mas
muita gente mesmo, quando fala ou pensa, ou comenta ou se lembra da final do
Brasileiro de 2000 acha que o jogo da queda do alambrado foi em São Januário
por exigência do Vasco, e não porque o Maracanã estava incrivelmente
impossibilitado, sabe-se lá por quê, de receber uma decisão do principal
campeonato nacional marcada para o Rio e Janeiro. Isso é fruto do tal
“jornalismo de guerra”, declarado contra o Vasco e contra Eurico, sem trégua,
depois daquela que bem poderia ser chamada de segunda Resposta Histórica do
clube, dada inevitavelmente ao vivo, pra todo o país, no dia, impossível não
dizer aqui, desculpe, mas no dia do aniversário de vinte e nove aninhos deste
que vos escreve, comemorado ao som do ritmúúúúú..... ritmo de festa da
arquibancada que entoava ainda loas a Elke Maravilha, Aracy de Almeida e Pedro
de Lara.
Vasco
tetracampeão brasileiro com a marca do SBT na camisa, e também campeão nacional
e continental de basquete, masculino e feminino, único clube do continente que,
vencedor do verdadeiro Mundial Fiba ao bater o campeão da Ásia/Oceania e,
depois, o da Europa, disputou uma partida oficial contra um time campeão da
NBA, no caso o San Antonio Spurs das Torres Gêmeas, Tim Duncan e David
Robinson, na final do Mc Donald’s Championship de 1999, em Milão, e não em dois
jogos numa casa de espetáculos da Barra contra um time israelense de férias,
cansado.
Na virada
do milênio, o Vasco era ainda campeão da Liga Futsal com Manoel Tobias, tinha
Gustavo Borges na natação, Rodrigo Pessoa no hipismo e com eles a maior
delegação de um clube apenas nos Jogos Olímpicos de Sidney, e não tinha sido
vice de novo no futebol como queria a mídia, não, tinha acabado de ganhar dois
campeonatos ao mesmo tempo, um nacional, outro continental, e o sentimento da
maioria esmagadora dos especialistas em relação àquela equipe pode ser medido
alguns anos depois, com o lançamento de mais um ranking baseado na vontade de
jornalistas, pra agradar as torcidas de sempre.
Lançada em
1970, a revista Placar teve enorme relevância na infância e adolescência, mas
já estava decadente quando saiu na capa com o ranking dos melhores times do
Brasil desde o nascimento da publicação, que tinha no topo, claro, o time de
Leandro, Andrade e José Roberto Wright, de Adílio, Anselmo e do soco por trás
em Mario Soto, na covardia, de Zico, do ladrilheiro e das papeletas amarelas.
Aquele Vasco de Helton, dos Juninhos, dos Jorginhos, de Felipe, Mauro Galvão e
Viola na reserva? Aquele Vasco ficou pra lá do décimo lugar, segundo a Placar,
atrás do Corinthians de 90, de Neto, Wilson Mano e Tupãzinho.
Foi da
mesma revista outro ranking, este dos 100 maiores jogadores brasileiros da
história, no qual não figurava o maior artilheiro de todos os campeonatos
brasileiros juntos, desde a Taça Brasil de 1959, e que também é até hoje o
maior goleador de todos os cariocas. Sim, a revista listou os 100 jogadores
brasileiros mais relevantes do século e não incluiu o maior artilheiro da
história do Vasco, dando a bandeira final, se entregando no editorial que
tentava justificar aquilo com a pergunta na primeira linha: cadê o Roberto
Dinamite?
Mais uma
dessas coincidências contra o Vasco, muito provavelmente, mas logo sanada, com
Roberto passando a ser exaltado pela revista e por todos os especialistas que
começaram a se lembrar muito mais dele e a elogiá-lo não só como o grande
artilheiro que foi, mas como candidato a presidente de um clube de massa,
bicampeão sulamericano, mais que centenário. Em torno do ex-ídolo aglutinou-se
toda a oposição vascaína, com apoio incondicional da mídia, e assim, quinze
anos depois de iniciada, com o saldo da Libertadores no Centenário, do
reconhecimento do Sulamericano de 48, da Mercosul, de três Brasileiros, um
Rio-São Paulo, de seis Cariocas, seis Taças Rio e sete Taças Guanabara, mais
cinco títulos continentais de basquete, quatro no masculino, um no feminino,
outros dois campeonatos brasileiros com Charles Byrd, Vargas e Rogério, mais um
com Janeth e títulos às pencas no remo, no futsal e em várias outras
modalidades, com o Vasco na condição de campeão nacional de futebol, futsal e
basquete, só isso, estava encerrado o glorioso período de paz na política
vascaína.
Pleito
inaugural dos tempos de guerra, no qual Eurico Miranda venceu Roberto por um
placar mais apertado que sua derrota pra Calçada em 85, a eleição de 2003 foi a
primeira da história do clube a parar na Justiça, que tinha algum prurido,
ainda, algum apego aos autos, aos fatos, e por isso manteve o resultado, sem
pensar em desrespeitar a soberania de um clube do tamanho do Vasco. Aqui é
preciso confessar que eu mesmo, aos trinta e um de idade, vivendo e trabalhando
no entorno da grande mídia na época, eu mesmo votei em Dinamite em 2003, tal
era o clima criado pelo jornalismo de guerra. Mas não em 2006, quando as
intenções, alianças e desejos da “turma do bem” para o clube, segundo quase
todos os especialistas, já estavam bem nítidos e por isso a diferença de votos
em favor de Eurico foi ainda maior, na eleição que teve participação efetiva,
decisiva, da mídia, fazendo sua guerra com algo que não podemos, por favor,
chamar de jornalismo, e por isso chamaremos, por assim dizer, de
jornalgolpismo, uma maneira de praticar a profissão de jornalista muito em voga
hoje em dia, aliás, em várias editorias.
Um dos
jornais da flapress com trauma de nascença, no caso o de 97, escalou um
repórter que era sócio do clube e não pagava mensalidade há um certo tempo, sem
condições, portanto, de votar. Muito esperto, malandro, o repórter passou pela
triagem inicial com seu crachá de imprensa, sem mostrar que era sócio, o que só
fez no local de votação, onde escondeu o crachá do jornal traumatizado por
tomar de quatro recém-nascido, com Edmundo rebolando, mostrando a língua, e o
Vasco tricampeão brasileiro.
Ah,
moleque! Deve ter pensado o repórter esperto, malandro, ao conseguir votar
escoltado por sujeitos com a camisa da oposição, como se o protegessem. A capa
“bombástica” do diário traumatizado, moleque, reforçou a segunda ação na
Justiça da oposição, em sua segunda eleição, e Eurico, que também tinha lá sua
parcela de culpa pelo clima beligerante, ficou no cargo por um ano e meio até
que a Justiça marcou nova eleição sem julgar o mérito da ação, no caso a mesma
alegação de agora, uma tal urna a ser impugnada, onde votou o tal repórter e
este que vos escreve, que já contou aqui esse caso, três ou quatro textos
abaixo, e que, sem ter o seu nome na lista de votantes, assinou em separado ao
chegar na segunda triagem, como deve ter feito o repórter esperto, com a
diferença de que eu mostrei minha carteira de sócio na entrada, com os devidos
comprovantes de pagamento.
Veio então
o golpe, a mudança de diretoria no meio de um campeonato Brasileiro e o time
que tinha ficado em sexto em 2006, a um travessão da Libertadores mesmo com as
arbitragens contrárias de sempre, e que no ano seguinte chegara a liderar o
campeonato, caindo depois de um turno inteiro no G4 pra terminar em décimo, sem
nem flertar com a zona da degola, esse mesmo time que em 2008 já havia ganhado
do futuro vice, Grêmio, e figurava em nono lugar no meio do primeiro turno,
quando Roberto e sua trupe assumiram, esse time em três ou quatro rodadas
estaria na zona de rebaixamento, num processo de depreciação e desmonte
acelerado, que olhando de hoje parece até premeditado, com o discurso pronto
pra tragédia anunciada.
Saíram logo
Jean e Morais, antes da demissão do técnico Antônio Lopes, multicampeão pelo
Vasco, porém ligado demais a Eurico, rezava o ódio calculado, a política de
terra arrasada que alçou Tita ao cargo de treinador vascaíno, ele e sua agência
de jogadores, nenhum deles de muito destaque nem talento, mas vários
contratados para o resto do campeonato, assim como o suposto grande reforço
apresentado de cara pela nova diretoria, o ex-zagueiro rubro-negro Fernando,
algo como o Márcio Araújo da época, ele, Márcio, que saiu da Gávea este ano,
finalmente, e em todas as matérias sobre sua despedida na mídia estava lá o gol
do título do carioca de 2014, e nenhuma delas mencionava mais, nem quatro anos
depois do fato, que o gol foi marcado em clamoroso impedimento.
Sete anos
depois de encerrada a paz política no Vasco, o time foi rebaixado pela primeira
vez na sua história e a culpa não era da diretoria apoiada pela mídia, alçada
ao comando do clube pela Justiça no meio de um certame pra desmontar a equipe
que, há nem dois anos, tinha ficado em sexto. Não, a culpa era do Eurico, e não
da diretoria que vestiu o Vasco com um abadá ridículo, fabricado por uma tal
Champs, muito menos do primeiro vice-presidente jurídico dessa diretoria, o
primeiro de todos na história do clube a pedir remuneração pelo cargo, coisa de
50 mil por mês na época, em nome, dizia ele, do profissionalismo, e o primeiro
também a ser responsável pela eliminação do Vasco numa competição, no caso a
Taça Guanabara de 2009, quando a equipe, classificada no campo para as
semifinais, perdeu a vaga por escalar um jogador irregularmente na primeira
rodada, e numa derrota, fiando-se na garantia dada pelo vice-presidente profissional,
remunerado.
Em 2009,
com o Vasco na segunda divisão, não havia mais jornalismo de guerra. A mídia
dava apoio incondicional à diretoria do clube que conseguiu até a raridade de
ser ajudado pela arbitragem, mas somente na Série B, não na semifinal da Copa
do Brasil contra o Corinthians de Ronaldo Fenômeno, na qual deixou de ser
marcado pênalti de Chicão em Elton, ignorado pelo juiz em frente ao lance, o
mesmo árbitro que já tinha deixado de marcar dois pênaltis claros em dois
empates do Vasco em 2006, ambos em São Januário, um em cima de Jean, contra a
Ponte Preta, outro em Leandro Amaral, contra o Santos, e que, terminada a
carreira, teria emprego garantido de comentarista na emissora
investigada,segundo o FBI, por pagar propinas e mais propinas, muita propina
pelos diretos de transmissão do futebol brasileiro.
Entre
desvios de direitos de jovens da base negociados no exterior, comprovados com
extrato bancário da conta no paraíso fiscal, do amigo do presidente, destruindo
gradativamente os alojamentos dessa base em São Januário, o ginásio e o parque
aquático, a nova diretoria seguiu com apoio incondicional da mídia e em dado
momento, como sói acontecer na história do Vasco, foi beneficiada pela ação dos
torcedores mais influentes do nosso amadoclube, no caso, os deuses da Bola.
Sem pagar
quase nada a ninguém, triplicando dívidas milionárias o Vasco formou, em 2011,
um timaço, o melhor desde o ritmo de festa de janeiro de 2001. Fernando Prass,
Allan, Dedé, Anderson Martins, Ramon, Eduardo Costa, Rômulo, Felipe, Diego
Souza, Éder Luís, Alecssandro, mais Fágner, Bernardo, Élton, Cristóvão Borges,
Ricardo Gomes e todos os que abriram os caminhos da Copa do Brasil para o Vasco
da Gama formaram o único elenco campeão nacional no meio do ano, na maior de
nossas derrotas na fria noite de Curitiba, que seguiu disputando o Brasileiro,
até o fim, ponto a ponto com o segundo time preferido da mídia, o Corinthians,
que disputa cabeça a cabeça com o Flamengo a preferência da torcida entre os
especialistas.
Seis, sete
gols legais anulados, mais sete, oito pênaltis não marcados, dois contra o
mesmo time, um no turno, outro no returno, com o mesmo juiz que ganhou de
presente o escudinho da Fifa findo o campeonato, com o Vasco a três pontos de
igualar o feito do Cruzeiro vencendo Copa e Brasileirão no mesmo ano, mas não, mostrando
que não importava a diretoria, nem o presidente, que o time continuava a ser
prejudicado sistemática e escancaradamente pelas arbitragens simplesmente
porque é o Vasco do português, do pobre branco, negro ou mulato lá de trás.
No ano
seguinte, na Libertadores, foi preciso de novo a ajuda da arbitragem pra
decidir quem seguiria dali, das quartas-de-final, rumo ao título mundial, se o
Vasco ou o Corinthians. Paulinho fez de cabeça a dois minutos do fim do jogo,
Cássio defendeu o chute de Diego Souza no Pacaembu, mas antes disso, no jogo de
ida em São Januário, Alecssandro marcou de cabeça fora da pequena área, o quase
xará dele Alessandro dava condição caminhando lá na lateral direita, atrás da
linha da pequena área, e o bandeirinha marcou impedimento. Comentaristas,
câmeras e computadores de todas as emissoras confirmaram o gol legal e seguiu o
jogo com mais esse erro decisivo em favor do mesmo time de sempre num confronto
entre Corinthians e Vasco. Então alguém da maior emissora, que leva ou vai com
as outras pro mesmo lado, sempre, porque todas torcem contra o mesmo time,
alguém deve ter pensado que ficava mal, depois do que acontecera no Brasileiro
de 2011, ratificar assim, pra sempre, mais este lapso de um juiz contra o
primeiro campeão continental do planeta, ali, como agora, em busca do Tri
sulamericano.
Faltando menos
de cinco minutos pra terminar o tempo regulamentar, a bola rola em algum lugar
do gramado e o narrador anuncia espantado, empolgado até, falando algo parecido
com: gente, olha só, tem um tira-teima novo, um ângulo novo que só nós
conseguimos pegar com nossa supermegatecnologia... E a curva exibida chega a
envergonhar, a imagem congelada com a bola já tendo saído da cabeça de Diego Souza e todo mundo fingindo não perceber esse pequeno detalhe, o congelamento não no momento do toque, como se deve em casos de impedimento, mas um pouquinho só depois, porque senão não dava nem pra enganar com o tira-teima inacreditável, a cara-de-pau computadorizada mostrando que Alecssandro estava,
sim, impedido, coisa de milímetros, segundo o tira-tema versão remix logo
reproduzido por todas as outras emissoras que também tinham dado o gol como
legal, mal anulado, e que se retificavam felizes, convictas, pra dizer que o
time delas venceu sem ajuda do apito o confronto que, de acordo com as regras
da International Board, deveria ter sido decidido nos pênaltis.
A essa altura
o time tinha a volta de Juninho Pernambucano, jogando ainda muito, e começara o
Brasileiro pulando na liderança isolada com quatro vitórias nos quatro
primeiros jogos, e um empate contra o Palmeiras em São Paulo no quinto, e foi
mais ou menos por aí que o crédito começou a acabar, com o time disputando
palmo a palmo a liderança com o Galo de Ronaldinho Gaúcho, e o Fluminense que
quase faliu a Unimed um pouquinho atrás. Quem tinha botado algum na montagem
daquele timaço quis logo o seu de volta sem pensar em possível título nacional,
conquistado pela última vez havia doze anos, e o candidato natural ao
Brasileirão de 2012, que já tinha perdido Rômulo, perdeu Allan, Fágner e Diego
Souza e mesmo assim continuou disputando até o jogo contra o futuro campeão na
última rodada do turno, com mais uma arbitragem daquelas, do juiz que é uma
mistura de José Roberto Wright, José de Assis Aragão e Armando Marques dos
novos tempos.
Marcelo de
Lima Henrique ficou famoso com o pênalti que garantiu ao mais querido da mídia
a Taça Guanabara de 2008. Um a zero Botafogo, jogo duro, sem ameaças ao gol
alvinegro até o cruzamento no bololô da área, a queda obviamente pra baixo do
jogador flamenguista com o puxão na camisa no agarra-agarra, pra cima, e o
apito rápido, na hora, como que ensaiado pra garantir a festa da torcida. Dois
anos depois, com Marcelo de Lima Henrique sendo considerado o melhor árbitro do
campeonato pela mídia local, o Botafogo seria recompensado pelo juiz na mesma
final da Taça Guanabara, mas não contra o Flamengo, claro, contra o Vasco, o
mesmo Vasco de Diego Souza, que na penúltima rodada do Brasileiro de 2011 teve
seu gol anulado no primeiro minuto de jogo, com a invenção de um impedimento
decretada pelo juiz elogiado a toda hora pela mídia.
Com Marcelo
de Lima Henrique o Flamengo bi vice do Independiente, alijado da Libertadores
na fase de grupos ano sim outro também e um terceiro ainda, seguidos, o
rubro-negro eliminado pelo San Lorenzo, pela Universidad Católica, pelo Léon,
pelo Bolívar, pelo Olímpia, Boca, Peñarol, Nacional, pelo Defensor, pelo Once
Caldas, pelo River Plate, pelo Argentinos Juniors, pelo América do México e
pelo Palestino, e tem mais, mas não dá pra falar tudo, não há ar suficiente e
seria enfadonho citar num só texto, mesmo enorme como esse, todos os times
estrangeiros que já eliminaram o clube que, com Marcelo de Lima Henrique, numa
dessas coincidências danadas do futebol, tem retrospecto de Bayern de Munique.
Pois tal
juiz, capaz de transmitir superpoderes ao clube da Gávea, naquele Vasco x
Fluminense de 2012, decisivo, abriu os braços e mandou seguir o jogo como quem
diz internamente, é agora, quando o lateral tricolor cortou o cruzamento
perigoso com o tapa de mão aberta dentro da área, iniciando o contra-ataque que
redundaria no primeiro gol do Fluminense. Depois, com o jogo empatado, no
último minuto um jogador tricolor, muito esperto, empurrou o primeiro homem da
barreira do Vasco e a bola passou justamente ali, naquele ponto, pra entrar no
gol vascaíno e Marcelo de Lima Henrique, nada, nada marcou a não ser o gol que
fez o Flu pular de vez pra liderança até o fim do campeonato, e o Vasco dar seu
último suspiro como grande time, entrando de vez no declínio que foi dar na
segunda queda, sem que dessa vez fosse tão fácil quanto a outra pra gritar que
a culpa era do Eurico.
A queda num
jogo sem policiamento, no qual a segurança era tipo de matinê de boate, com
parentes de jogadores do Vasco na arquibancada agredidos ou ameaçados de na
batalha campal entre torcidas organizadas e a covardia mostrada na hora em que
tinha de tirar o time de campo sepultaram politicamente, espero que para todo o
sempre, o ex-ídolo Roberto Dinamite, que fez a vontade de todos ali, menos do
Vasco, acovardou-se bananamente na hora H pela enésima vez, e o clube que
presidia havia cinco anos foi rebaixado sem que o procurador do STJD se
preocupasse a mínima com parente de jogador em campo podendo ser agredido na
arquibancada, falta de policiamento, briga generalizada, chute na cabeça, nada.
O
importante era o outro caso, pra salvar o Fla e o Flu afundando a Portuguesa, a
entrada de um jogador sabidamente irregular em campo a mando não do técnico,
mas do presidente do clube. Estranho, estranho demais, mas não pra mídia, que
nunca mais tocou no assunto, talvez porque o caso envolva a dupla da moral e dos
bons costumes, segundo ela, o Fla e o Flu, fundados, ambos, por racistas, que
também são (ô, coincidência...) os únicos clubes a vencerem campeonatos
brasileiros com adversários entregando dois jogos pra cada um deles, na reta
final.
Teve também
o roubo espalhafatoso do Carioca de 2014, com a incrível bola que entrou pra caralho à beça na fuça de um vendido que atuava como juiz de linha, seguida da falta que ninguém viu se entrou ou não, que o Martin Silva rebateu, escondeu a bola do vetê com o corpo todo dele, sem dar chance pra ninguém saber mesmo, com certeza, se ela entrou ou não, mas o queridinho tava perdendo de um a zero, então o tira-teima mostrou, o narrador opinou e o comentarista de arbitragem ratificou: gol, na raça, sem discussão, menos de vinte minutos depois da bola que entrou trinta centímetros e nada, segue o jogo.
E na final do mesmo campeonato, a cena final foi dele, Marcelo de
Lima Henrique, validando o gol que os jornais hoje nem falam mais que foi muito
impedido, e a mídia continuava em trégua com a diretoria que se desfizera de
Rômulo, Allan, Diego Souza, Dedé, Fernando Prass, de um timaço inteiro e
deixava o clube em frangalhos, com água cortada, patrimônio abandonado, sem
time de basquete durante toda a gestão, com as dívidas triplicadas e a ideia
genial de, no finzinho do mandato, contratar um advogado flamenguista pra
tentar tirar o título do Flamengo sabe onde? Na Justiça Desportiva.
Até
entrevista coletiva teve pra abertura da ação, com o advogado falando,
mas claro que não deu certo, o que não diminuiu em nada o apoio da mídia não
mais a Roberto Dinamite, que não dava, mas ao grupo político em torno dele, que
como legado deixou também a drástica redução das cotas de televisão para o
Vasco em relação ao Corinthians e ao Flamengo, ao aceitar passivamente a
implosão do Clube dos Treze orquestrada por Ricardo Teixeira, outro antigo
aliado da mídia durante anos, décadas de propinas e mais propinas, de acordo
com o FBI. No tempo do Clube dos Treze, o Vasco estava no grupo dos cinco
clubes mais bem pagos, igualmente. Com a negociação individual, a Globo pode
oferecer bem mais aos seus dois clubes mais queridos, com a diferença para os
outros aumentando a cada ano.
E mesmo com
a morte de um menino da base expulsa de São Januário, terceirizada, o apoio da
mídia não cessou ao grupo alçado ao comando do Vasco no embrião de todos os
golpes jurídico-midiáticos que jogaram o país no atual estado de exceção,
policial, com pobres e classe média quietos, dezenas de milhões deles
desempregados, com medo, calados, vendo na tevê apresentadores sorridentes, não
mais com o ranger de dentes de outrora, como se agora, sob a administração de
uma quadrilha de ladrões, com juizecos e procuradores messiânicos entregando a
economia nacional ao estrangeiro, com os ricos enriquecendo mais e mais, rápido, e o resto só vendo, como se agora estivesse tudo
bem.
Com Roberto
não dava mais, era preciso uma cara nova pra seguir apoiando e surgiu então
Julio Brant, um rosto completamente desconhecido que era empresário, diziam, ou
executivo de uma grande empreiteira, afirmavam outros, e que era amigo do
Edmundo, o que dava pra ver pelo jogador sempre ali com ele, nas fotos, usando
a mesma malfadada estratégia de atrelar um grande ídolo dos gramados à
política, com o intuito claro, banal, de enganar a torcida.
A primeira
tentativa de emplacar o desconhecido não deu certo. No calor ainda do desastre
completo da administração Dinamite, a vitória na eleição de 2014 foi de Eurico
Miranda com o dobro da votação dos outros dois candidatos, com cerca de 3 mil
votos enquanto Brant e o outro candidato da oposição dividida, Roberto
Monteiro, tiveram cerca de 1,5 mil cada, com o candidato da flapress um
pouquinho só à frente. Era esse o quadro eleitoral do Vasco com Fernando Horta
apoiando Eurico, com a promessa, diz ele, de encabeçar a chapa na eleição
seguinte. Só que não, no entender do Eurico.
O então
presidente vascaíno, que conquistara o bicampeonato estadual depois de 12 anos sem títulos, o segundo deles invicto, e em contrapartida não conseguiu evitar o rebaixamento fundamentalmente causado por erros e mais erros de arbitragem contra a gente, o presidente Eurico Miranda cometeu o erro de anunciar sua candidatura à reeleição
durante a coletiva pra mostrar a todos as provas, documentos, nada de
powerpoint nem convicção de procurador beato, não, provas mesmo de desvios de
direitos federativos, confissões absurdas de dívidas milionárias, tudo feito
pela antiga administração Bananamite, do grupo político de Júlio Brant, nos
seis meses de lambuja em que permaneceu no comando do Vasco, graças à Justiça,
tudo isso ofuscado pelo lead óbvio dado à imprensa inimiga pelo próprio Eurico.
Ao se
lançar candidato, Eurico perdeu de imediato o apoio de Horta, e mesmo assim
ganharia a eleição de 2017 se o quadro fosse mantido com dois candidatos de
oposição, Júlio Brant, de novo, pelos amarelinhos, e Alexandre Campello no
lugar de Roberto Monteiro, pelos verdinhos. Os dois então se uniram, no último
minuto, e a vontade da mídia foi feita com a cabeça da chapa ficando com seu
queridinho, em detrimento do outro candidato que, ao contrário do escolhido,
era ao menos conhecido, com trajetória de décadas como médico do clube, num
período dos mais vitoriosos.
E mesmo com
essa união, Eurico venceria o pleito de 2017, mesmo com Fernando Horta
candidato até o dia da eleição, com 400 votos na boca de urna enquanto Eurico e
Brant já tinham passado dos mil quando o último colocado decidiu, no dia da
eleição, anunciar também apoio a Brant, abaixando a cabeça aos interesses de
mídia e muito provavelmente enterrando assim, com essa vergonhosa submissão a
um completo desconhecido, qualquer possibilidade de um dia presidir o clube.
E mesmo com
tudo isso, Eurico venceu a eleição. Foi preciso a artimanha na Justiça, prima
do golpe jurídico-midiático de 2006-2008, precursor de todos os golpes que nos
trouxeram até aqui no país, neste estado das coisas. Foi preciso impugnar votos
calculados, com a ajuda até de uma teoria simplória, tatibitati, de um tal
matemático, foi preciso nova interferência de fora pra que a mídia fizesse a
vontade dela em relação ao Vasco. Só não contavam com a astúcia do Eurico, e
também do Campello, ou melhor, do Roberto Monteiro.
No acordo de
última hora pra tentar vencer Eurico, no desespero pra unir as chapas de
oposição, Monteiro e Campello cederam a cabeça da chapa, mas garantiram metade
das 120 cadeiras destinadas ao grupo vencedor da eleição. Eurico, como segundo
colocado, tinha 30, mais a maioria esmagadora na outra metade do colégio
eleitoral, a do Conselho dos Beneméritos. Eurico ofereceu apoio a Campello em troca de
nenhum cargo, nada, Campello entendeu a situação e usou muito bem seus 60
conselheiros pra se eleger presidente, evitando assim o mal maior que seria,
indubitavelmente, a eleição do playboy desconhecido, apoiado, dizem, por
conselheiro do Flamengo, o candidato ideal, na opinião da mídia esportiva, pra
presidir o Vasco em momento de renovação de contratos televisivos.
O que
aconteceu na noite de 19 de janeiro, no salão da Sede Náutica da Lagoa, foi
histórico, algo que pode equivaler, quem sabe, ao gesto de Calçada chamando à
união com Eurico. Um novo e longevo período de paz no Vasco, é o que deveria
almejar todos os vascaínos, sobretudo quem presenciou os áureos tempos de
1986-2001, mas não é o que quer a mídia. A mídia esportiva semeou, insuflou e
manteve à base de denúncias mastigadinhas, ridículas, a guerra interna eterna
no Vasco e analisou o resultado da eleição da Lagoa com muita raivinha, bufando
pela derrota de seu candidato inacreditável, misterioso, desconhecido.
Foi
artimanha, traição e tudo mais de ruim, bradaram vários especialistas, chegando
a citar uma tal vontade do sócio do clube, mas não a vontade que ganhou, de
fato, a eleição, e sim a vontade imposta pela Justiça. Em nome dessa vontade
conquistada no reino das benesses com dinheiro público, do auxílio-moradia e da
toga, especialistas bradam ainda hoje, com o time a horas, agora, de entrar em
campo na Argentina contra o Racing, onde aliás já vencemos. Bradam comentaristas cariocas e paulistas
sobre a eleição do Vasco, defendendo todos o mesmo candidato despreparado, querendo novas eleições, mais decisões da Justiça, tudo pra tumultuar o máximo possível, pra não dar trégua nem com jogo decisivo em Copa do Brasil, nem em Brasileiro, nem em Libertadores. Não querem a paz, não no Vasco, nunca. Sabem muito bem, todos eles, do que, em paz, o Vasco é capaz.