sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Felicidade, sim





Não é pra ficar feliz, não, avisa o especialista certamente mal humorado, já no título de sua coluna, e na matéria da página seguinte, também no título, em letras mais garrafais ainda, o jornal define a campanha vascaína como “medíocre”, acima do subtítulo onde, ao lado do Ceará “exausto”, diz que o Vasco foi “incapaz de produzir perigo”, e todo vascaíno que viu o jogo de domingo deve ter se lembrado, ao ler isso, da melhor oportunidade da partida, que foi nossa, sim, num rápido contra-ataque, na bela troca de passes que deixou Marrony livre, dentro da área, cara a cara com o goleiro do Vozão que, com a perna, defendeu o chute do garoto, afastando pra longe o perigo.

Foi por pouco. Foi quase. Um golzinho só do Ceará no Castelão lotado, com quase toda a torcida a seu favor, tirando os vascaínos de coração valente da foto acima, e o Vasco cairia, sim, pela quarta vez em sua história seria rebaixado no Brasileirão, e não com a mesma verba de clube sempre grande, não, dessa vez cairia com corte substancial na grana da televisão. Esse era o argumento, essa era a grande questão para o especialista ver ameaçada a sobrevivência, simplesmente, do Club de Regatas Vasco da Gama, como fez há alguns meses, quando entramos na zona de rebaixamento com menos jogos que os adversários, pra dela sair logo, rápido, ainda com mais pontos a disputar que os outros times todos na competição.

O Vasco, efetivamente, ficou muito pouco tempo entre os quatro últimos do Brasileirão, mas teve o pênalti em Giovanni Augusto não marcado contra o Sport em Pernambuco, no último minuto, teve a furada do Raul contra o Atlético Paranaense, também no lance derradeiro da partida, assim como a falha contra o Grêmio do maior injustiçado nessa campanha, Martin Silva, depois do que já fez pelo clube esse ano mesmo, aqui, no Chile, na Argentina e na Bolívia, teve ainda os roubos já esperados, tão certos no calendário quanto o Natal e a Páscoa, contra o mais querido dos especialistas (gol deles com impedimento, no turno) e o timão da mídia (dois pênaltis não marcados, um deles confirmado até pelo Gaciba, no returno), teve tudo isso e chegamos à rodada final com a chance tenebrosa de rebaixamento, ainda.

“Sentença de morte”, assim, entre aspas, foi disso que o Vasco escapou ao empatar com o Vozão, diz, na matéria sobre a partida, o mesmo jornal onde o especialista botou em dúvida se o primeiro clube campeão continental da história do futebol poderia acabar, ou não. O jornal, a propósito, é do mesmo grupo da tevê que comprou o campeonato, que poderia ter em 2019 a mesma audiência maciça da torcida vascaína, na casa das dezenas de milhões de pessoas espalhadas por todo o território nacional, por um quinto, pelo menos, do preço, isso com o time na Série B, pra reforçar o discurso do fim iminente, talvez, do clube que tem o maior número de gols marcados num jogo só de Copa do Mundo, e no quadrangular final, nos 7 a 1 contra a Suécia em 50, quatro de Ademir, dois de Chico e um de Maneca, todos do Expresso da Vitória num Maraca novinho, abarrotado.

Liderança absoluta garantida durante noventa minutos, duas vezes por semana, baratinha, em dias e horários diferentes, sem bater com os dos jogos do queridinho, que receberia muito além de dez vezes mais do que o Vasco, com um pouquinho só a mais de audiência, às vezes até menos, e pra isso só faltou um golzinho do Ceará que estava, ficamos sabendo em letra grande, no subtítulo da tal matéria do jornalão, “exausto”.

O Ceará teve semana cheia pra se preparar pro jogo, e não viajou, jogou em casa. Só precisava de um gol pra ir à Sulamericana, mas “pareceu não ter mais força física pra exercer uma pressão até o final”, diz o jornal na matéria, e na página anterior outro especialista, igualmente flamenguista, vejam só que coincidência, faz coro à ladainha. “Nem sempre o rival da última rodada será um time sem tanto fôlego no segundo tempo”, afirma o cara, puto com o Vasco desde a rodada passada, quando viu ruir, de vez, o sonho de ver o time amado do coração, xodó de toda a mídia, campeão, mas não, o Vasco desgraçado perdeu do Palmeiras e o vice, de novo, foi o mengão.

Como compensação, pro cara, com a derrota veio a possibilidade da quarta queda do nosso Vascão, que decretaria a morte, quem sabe, da instituição, no entender de especialistas e da matéria do jornalão, e pra isso só faltou um gol do Vozão que arrancou bonito na parte final do campeonato, de rebaixado com quase toda a certeza ganhou do Flamengo, do Corinthians, do Inter e de outros grandões, e tinha acabado de garantir a permanência na elite uma semana antes, ao empatar fora de casa com o todo-poderoso Furacão, e tinha um estádio completamente lotado, só precisava de um golzinho pra completar a festa, tinha jogado melhor no segundo tempo dos dez ou onze jogos anteriores mas, de repente, segundo a mídia especializada, ficou cansadão.

Éder Luis entrou e gelou dez entre dez vascaínos de coração. Ciscou ali pela direita uma hora e Werley evitou o gol, apesar de ter cometido o pecado capital, para um zagueiro, de vibrar intensamente quando apenas cumpriu sua função, e ainda era escanteio pra eles. Em outra boa jogada do ataque cearense, quem salvou foi Desábato, e não vibrou, bom. Teve o chute de longe defendido pelo Fernando Miguel e, de resto, ao custo de nossos corações espancados, o esquema defensivo, a retranca propriamente dita, funcionou.

O Vasco conseguiu controlar o jogo, na raça, na força de sua camisa, de sua história, e dá bem pra imaginar o especialista rubro-negro, qualquer um deles, na frente da tevê, ansioso, esperando pelo golzinho só que faltava pra confirmar a previsão dele e de seus colegas, todos, com um ano de atraso, na verdade, porque todos previram a queda em 2017 e tiveram de engolir a Libertadores. Agora só faltava um golzinho do Ceará que só pode ter cansado, só pode ter sido isso pra esse time não vazar uma vez sequer a defesa do Vasco, tão achincalhada ao longo do ano, de vez em quando até com certa razão, pensava, imaginemos, o especialista, mas só depois do apito final, de consumado o fato, porque antes ele era só torcida, olhos grudados na tela, pronto pra exaltar em algum momento de seu texto a bravura do time nordestino, que lutou até o fim para aumentar sua glória nesse campeonato, pra mudar definitivamente de destino, enquanto o time de Bellini, no momento de erguer a Jules Rimet pela primeira vez, cairia de novo e, muito provavelmente, agonizaria até o fim, sempre abaixo dos Cearás da vida, só que não veio o gol esperado, sonhado, e na hora de escrever sua coluna o especialista não viu a raça nem a força da camisa e da história do início desse paragrafão, não, viu só cansaço, incompetência desse time safado que jogando em casa, e precisando, não foi capaz de fazer a porra do gol que faltou.

Não é pra ficar feliz, não, avisa o especialista certamente mal humorado, já no título de sua coluna, e na matéria da página seguinte, também no título, em letras mais garrafais ainda, o jornal define a campanha vascaína como “medíocre”, acima do subtítulo onde, ao lado do Ceará “exausto”, diz que o Vasco foi “incapaz de produzir perigo”, e todo vascaíno que viu o jogo de domingo deve ter se lembrado, ao ler isso, da melhor oportunidade da partida, que foi nossa, sim, num rápido contra-ataque, na bela troca de passes que deixou Marrony livre, dentro da área, cara a cara com o goleiro do Vozão que, com a perna, defendeu o chute do garoto, afastando pra longe o perigo.

E na nossa “campanha medíocre” dá pra lembrar com orgulho das vitórias todas em nosso caldeirão sagrado, São Januário, na maioria das vezes lotado, contra o Galo, o Cruzeiro, o América, o Paraná, o Sport, o Bahia, a Chape, o Grêmio e o São Paulo, além daquela de praxe, contra o velho freguês das Laranjeiras, no lado errado do Maraca.

Teve ainda bons empates fora de casa, contra o Cruzeiro, o Galo, a Chape, o Santos e, por último, o Ceará, e desculpa aí, especialista, mas vou ficar feliz, claro, com o fato de meu time não ter caído nesse ano difícil, que começou com a Justiça fazendo das suas novamente, metendo o bedelho dela única e exclusivamente no Club de Regatas Vasco da Gama e em nenhum outro, mais uma vez o Judiciário intervindo no nosso amado clube, inventando até um triunvirato dessa vez, ridículo, e com ampla cobertura da mídia crente, sem contestar nada, tratando absurdos jurídicos com a maior naturalidade durante toda a temporada, falando de eleição, anulação e apoiando sempre o mesmo grupo político, aquele que tem como meta primordial, ao que parece, manter viva a guerra interna no Vasco, que por uma dessas coincidências incríveis, começou logo depois do Tetra brasileiro com o SBT na camisa, que vale, na opinião deste blog, vinte e três milhões, quinhentos e setenta e sete mil e trezentos e quarenta e oito rebaixamentos, no mínimo.

”Foi fundamental um goleiro mais seguro que Martin Silva nos últimos jogos”, diz a matéria não assinada do jornalão, sem noção, nem do uso correto da língua, do nosso vocabulário, e muito menos de futebol. A mídia quer o pior possível para o Vasco, por isso afirma sem constrangimento, no preto no branco do jornal, que Martin Silva é pior que Fernando Miguel, e seria só engraçado, ver a que ponto os caras chegam, se não houvesse ainda tanto vascaíno que acredita, sim, por mais incrível que possa parecer acredita ainda nessa mídia esportiva inacreditável e dela, igual cordeirinho, vai atrás.

O blog aqui, não, ao contrário. Se a mídia especializada diz uma coisa sobre o Vasco, pode ir na direção oposta sem receio, vascaíno camarada. Se os especialistas dizem que Fernando Miguel, com todo o respeito que merece, até pelas últimas atuações, é a melhor opção para guardar a meta cruzmaltina, lembrem que temos Martin Silva, ora pois, e que entre os dois não dá nem pra comparar.

Se afirmam os colunistas, revoltados, que não é pra ficar feliz com o Vasco não sendo rebaixado, que fiquemos todos nós, vascaínos, sim, felizes, plenos deste sentimento que só nós temos, de torcer para o clube campeão da Libertadores não no ano, nem no mês, mas na semana do Centenário, de amar loucamente o time da maior virada da história, na virada não do século, mas de todo um milênio, de envergar a camisa com a qual um tal de Pelé fez seus primeiros gols no Maraca, e daí foi convocado pela primeira vez para a Seleção, para logo na estreia, no mesmo Maracanã, deixar sua marca, fazendo o dele na derrota de 2 a 1 para a Argentina.

Isso tudo é Vasco, só Vasco e mais nada, e se um time desses, com essa história, ainda por cima não cai, quando todos os especialistas esperavam, torciam por isso, aí, na boa, é pra ficar feliz ao quadrado, que o diga o trompetista da varanda, bom demais.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

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