sábado, 30 de setembro de 2017

Pontos de vista, puntos de vista, points of view, points de vue, puntos di vista...


Além de gritar indignado que Luis Fabiano não tocou no juiz, o Mirror afirma que “o futebol afunda a um novo nível abaixo, com o juiz brasileiro simulando contato antes de dar o cartão vermelho”. Mas isso, claro, só no resto do mundo, porque por aqui o importante, mesmo, foi o pênalti que não valia nada.

“La surrealista expulsión de Luís Fabiano... tras un piscinazo del árbitro!” Foi esse, com exclamação e tudo, o título do jornal espanhol Marca para falar sobre o jogo entre Vasco e Flamengo em Brasília pela, digamos, fase de grupos da Taça Rio de 2017. “L’arbitre simule un coup de tête et expulse Luis Fabiano”, afirmou o francês La Sueur, e na Itália o La Stampa foi na mesma linha, relatando “una simulazione dell’arbitro dopo una faccia a faccia com Luis Fabiano”.

Em todos os cantos do planeta onde se falou sobre o jogo, em todas as línguas o destaque foi para a ridícula simulação do árbitro Luis Antonio Silva dos Santos. “Un árbitro simula una agresión de Luis Fabiano y lo expulsa”, diz o diário catalão El Periódico, que no subtítulo fala, como o Marca, em “surrealista escena”, e no Brasil, na cidade dos dois times envolvidos, no programa de debates ao vivo na tevê logo após a rodada o ex-craque de Fluminense, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Grêmio abria os trabalhos, na função de apresentador, dizendo que a expulsão do Luis Fabiano era indiscutível.

Bem humorado, o inglês Daily Star exorta o leitor a esquecer os jogadores. “Forget players – referee DIVES to get ex-Brazil international Luis Fabiano sent off”. Dives é mergulha em inglês e estava assim mesmo no título do jornal, todo em caixa alta, enquanto na tevê brasileira os outros dois debatedores do programa do ex-craque concordaram de imediato com ele, afirmando que a expulsão de Luis Fabiano, quando o Vasco obtinha uma segura vitória por 1 a 0, jogando melhor, foi justíssima. Um deles chegou a brincar dizendo que no São Paulo o Luis Fabiano precisava de uma peitada no juiz pra ser expulso, e no Vasco só precisava de uma barrigada, e todos ali riram, achando engraçado o comentário e seguindo adiante, sem nem pensar em iniciar, por exemplo, um debate sobre os motivos de tal diferença, entre a peitada no São Paulo e só a barrigada no Vasco.

“Incredibile in Brasile: Luis Fabiano espulso, a simulare però è... l’arbitro”, afirma o italiano Goal, e na mesa de debates da tevê o ex-craque e os dois jornalistas até ironizaram, sim, a cena aberta do juiz conhecido como o Índio. A imprensa toda, aliás, também brincou com o fato, transformou o relato inacreditável da súmula em letra de Wando, Agepê ou cantor parecido, mas questionar o cartão vermelho, ninguém questionou. Nos jornais cariocas, nas edições do dia seguinte ao jogo não havia nem nas capas nem nas páginas internas qualquer das imagens publicadas mundo afora, da encenação de sua senhoria, o árbitro, que, aliás, não foi a primeira, pois a primeira delas foi também contra o Vasco, por pura coincidência, claro.

A imprensa especializada “da casa” poderia resgatar esse episódio, o encontrão de Luis Antonio Silva dos Santos com o meia Moraes num Vasco e América de dez anos atrás, mas não o fez. “Árbitro finge una falta y expulsa a su supuesto agressor”, conta a revista argentina El Grafico, e ao contrário de seus colegas do resto do mundo, os jornalistas daqui foram unânimes ao escolher outro destaque do jogo, algo pra eles mais raro, mais valioso “jornalisticamente” do que a primeira simulação de um juiz na história do esporte, repercutida em todo o planeta.

O portal britânico NewsNow ressaltou o caráter teatral da atuação do juiz, ao afirmar no título que “theatrical referee fakes being headbutted, sends striker to the showers”. O juiz fingiu ser atingido e mandou o atacante para o chuveiro, segundo o NewsNow, mas os digníssimos funcionários da flapress tinham mais o que fazer do que dar importância ao que deixou estupefatos os jornalistas estrangeiros. Tinham, enfim, um erro crasso de arbitragem a favor do Vasco num jogo contra o Flamengo, um pênalti inexistente marcado no último minuto da partida, algo, na visão deles e dos patrões deles, muito, mas muito mais importante do que a cambaleada programada do árbitro, ainda que o jogo em questão, a propósito, não valesse absolutamente nada.

Não foi uma semifinal de Taça Rio como a de 2010, quando Willians salvou na raça, com a mão do braço levantado e dentro da área, um ataque vascaíno sem que o árbitro da vez marcasse nada. E segue o jogo vencido pelo time da Gávea com um gol... de pênalti, e como sempre no Léo Moura, sujeito que já mergulhava na área antes e continuou a mergulhar depois da passagem de Wagner Diniz, bom lateral, pelo clube de São Januário.

Curiosamente, só o vascaíno teve os pênaltis sofridos, todos contra times pequenos, nenhum em jogo decisivo, nenhum decidindo nem o jogo, no máximo um ou dois duvidosos, mas só o Wagner Diniz teve seus pênaltis contados pela mídia que outro dia mesmo entrevistou o próprio, relembrando tudo em tom bem humorado, insinuando que os pênaltis foram todos cavados. Pra Léo Moura, que conquistou, contando assim de memória, de relance, pelo menos três pênaltis decisivos só contra o Vasco, mergulhando com a desenvoltura de um aqualouco, pra Léo Moura a nossa mídia especializada jamais dispensou qualquer gracinha ou suspeita a esse respeito, nada.

“Árbitro brasileño simuló golpe de Luis Fabiano e lo expulsó”, relata o portal do grupo de comunicação chileno Cooperativa, e no programa do ex-craque esse assunto já estava esquecido e o tom era de revolta, a repercussão toda da partida que terminou empatada em 2 a 2 era focada no pênalti que decretou o empate do Vasco no jogo que, se valia alguma coisa, valia só para o Flamengo, no caso a invencibilidade, que redundaria no título invicto dali a algumas semanas, pra vibração do árbitro da final, que comemorou cerrando o punho, balançando, na raça, o gol ilegal de Guerrero, originado de falta escandalosa de Réver na cara do juizão.

O empate ou a vitória, portanto, valiam exatamente a mesma coisa para o Flamengo que perdia sua invencibilidade em Brasília, via escapar a chance de igualar o Vasco em títulos invictos, e contra o Vasco, perdendo por 1 a 0 e sendo dominado, sem ameaçar em quase nada o gol de Martin Silva apesar da superioridade latente em relação ao adversário, sem termos de comparação de acordo com a mídia especializada. Difícil, muito difícil a situação do super esquadrão futuramente eliminado, pela terceira vez seguida, na fase de grupos da Libertadores, até que o juiz conhecido como Índio entrou em cena.

Com um a mais, o Flamengo conseguiu virar o jogo, e porque tomou o empate com o pênalti inexistente, mesmo sem ter sido eliminado, por exemplo, numa semifinal de Taça Rio, mesmo não alterando em nada sua situação no campeonato com vitória ou empate, mesmo assim a grita foi geral, da mídia, da torcida, do time e do dirigente profissional que tinha sido do Vasco e agora é do Flamengo.

“Luis Fabiano fue expulsado por árbitro que simuló una agresión”, relata o jornal peruano La República, e na entrevista coletiva o cartola moderno, remunerado, mostrava toda a sua revolta e disse, na cara dura, que o time que paga seu salário no momento era “sempre” prejudicado contra o Vasco, ele que em 2010 esbravejava no vestiário vascaíno, defendendo seu patrão na época, e depois enviou ofício à federação reclamando oficialmente do juiz que não dera o pênalti voleiboliano de Willians, e marcara convicto o enésimo mergulho de Léo Moura. Recebeu do então responsável pela arbitragem uma resposta em tom de torcedor sacaneando “chororô”, e no ano seguinte, ainda no Vasco, viu o time perder um campeonato brasileiro, fora o resto todo já relatado aqui num texto mais abaixo, graças a dois pênaltis não marcados contra o rubro-negro da Gávea, um no turno e outro no returno, os dois com o mesmo juiz.

Péricles Bassols era o nome dele e no primeiro turno, nos últimos minutos, com Ricardo Gomes já tendo saído de ambulância entre a vida e a morte, Léo Moura, sempre ele, deu o carrinho dentro da área e com a perna esquerda deu a rasteira atingindo, em cheio, o tornozelo de Bernardo. Bassols mandou o jogo seguir, nada, e teve jornalista que, mesmo não podendo deixar de reconhecer que tinha sido pênalti, claro, mesmo assim ressaltou os braços levantados, além da conta, de Bernardo.

No segundo turno foi Willians quem puxou a camisa de Diego Souza na área, puxão de perseguição de comédia, de número de palhaço de circo, e Bassols de novo nada marcou. Com os pênaltis, os dois empates poderiam ter virado vitórias, mais quatro pontos, passando com folga a diferença de dois pontos do Vasco para o campeão ao fim do certame. Detalhe que, como campeão da Copa da Brasil daquele ano, o Vasco teria conseguido o que os ingleses chamam de double, feito aqui só conquistado pelo Cruzeiro, Copa e Campeonato no mesmo ano, mas não, e o juiz Péricles Bassols, terminada a temporada, foi presenteado pela CBF com a inclusão de seu nome no quadro da Fifa, sem uma vírgula, nem um frame de vídeo de questionamento, por menor que fosse, da mídia.

“Former Brazil international Luis Fabiano sent off as referee ‘dives’ after booking Vasco Da Gama striker”, conta o inglês The Sun, usando o mesmo verbo do Daily Star, mergulhar, ainda que o árbitro não tivesse caído, talvez pelo espalhafato da cena, pela dramatização que os ingleses, particularmente, não costumam tolerar. E o atacante Alecssandro jogava no Vasco em 2011, perdeu o Brasileiro graças, fora o resto, à arbitragem contra o Flamengo e em 2015 estava do outro lado, e saiu esbravejando contra a arbitragem ao ser eliminado pelo Vasco numa semifinal na qual o time dele havia sido o maior beneficiado pelos juízes.

Com honrosas exceções, a imprensa embarcou, insuflando a revolta rubro-negra e usando pra isso dois argumentos. Um deles era o pênalti que decidiu o confronto a favor do Vasco, de Wallace em Serginho, “mais pênalti” que outro bem parecido, marcado pelo mesmo juiz a favor do Flamengo, na final de 2009 contra o Botafogo, e que na época passou ao largo de qualquer questionamento de jornalistas ou comentaristas de arbitragem. O outro argumento era uma escadinha.

No ano anterior houve o gol de falta de Douglas, trinta centímetros pra dentro bem na fuça do juiz de linha e segue o jogo pra dali a vinte, trinta minutos, Elano cobrar falta e Martin Silva defender com o próprio corpo tapando a visão do bandeirinha, das câmeras, de todo mundo de modo a impedir qualquer afirmação com certeza absoluta sobre se a bola entrou ou não. Nada que impedisse juiz e bandeira de correrem pro meio convictos, sem qualquer constrangimento vinte, trinta minutos depois de não validarem o gol de falta do Vasco. Nada que impedisse a mídia de se valer de seus tira-teimas editados, a exemplo das quartas-de-final da Libertadores de 2012, em São Januário, pra cravar que tinha sido gol, sim, e ponto.

O Flamengo venceria o jogo por 2 a 1 e a vitória ajudou o time a levar a vantagem do empate pra final contra o Vasco. No primeiro jogo, o Vasco vencia por a 1 a 0 até que teve um jogador, Éverton Costa, expulso. Aí, então, o Flamengo conseguiu empatar. No segundo jogo o Vasco vencia por 1 a 0 até o último minuto, quando o Flamengo empatou com um gol em impedimento. 

“El árbitro finge una agresión... Y expulsa al jugador!”, tenta acreditar o La Vanguardia, outro jornal catalão, e no ano seguinte ao garfo de 2014 mudou o presidente do Vasco, e o que entrou já via o time ser prejudicado seguidamente por arbitragens na gestão anterior e continuou a ver, da mesma forma que o presidente que saía e todos os outros antes dele. No primeiro jogo da semifinal de 2015, um volante rubro-negro, que tinha o apelido relacionado ao seu colega alemão Schweinsteiger, atingiu o atacante Gilberto com um chute na cara, uma voadora de Bruce Lee. O juiz estava perto do lance, viu tudo, marcou a falta e deu ao flamenguista um cartão amarelo.

Uma semana passa e, no domingo seguinte, Gilberto converte o pênalti reclamado pela flapress, mais pênalti que o de 2009, a favor do Flamengo, este não questionado, jamais. Gilberto jogou o segundo jogo com a marca, ainda nítida, da chuteira do volante rubro-negro na altura do maxilar, e na hora do gol subiu na escada de emergência da arquibancada, pra comemorar nos braços da torcida. Havia a recomendação, no regulamento da competição, de que subir na escadinha dava cartão amarelo, e o técnico flamenguista, profexô malandro, reclamou muito disso no fim do jogo, e o repórter da tevê informava sério, cara fechada em meio à comemoração dos vascaínos no gramado, dizia que tinha isso mesmo no regulamento, o amarelo pra escadinha, dava a informação com leve tom de revolta, como se o certo, no caso, fosse mesmo expulsar, por comemorar o gol com a torcida, o atacante que tinha ainda na cara, ostensiva, a marca da chuteira do adversário que não, não tinha sido expulso pelo golpe de kung fu.

Com a mesma seriedade do repórter televisivo, a mesma revolta do profexô malandro, o cartola remunerado reclamava na coletiva após o jogo da Taça Rio de 2017, do pênalti que não alterava em nada a situação do time dele no campeonato. E no programa da televisão todos também estavam revoltados com erro tão grosseiro, o ex-craque e os dois jornalistas, todos esquecidos completamente, já, da expulsão de Luis Fabiano, pra eles justíssima.

E se em 2010 o representante da federação respondeu em estilo de chacota ao cartola remunerado, então vascaíno, desta feita ele agiu prontamente, suspendendo de imediato o juiz do jogo, mas deixando bem claro que era só por causa do pênalti marcado equivocadamente. Com relação à expulsão que, aliás, tiraria Luis Fabiano da semifinal contra o... Flamengo, quanto à expulsão estava tudo certo.

E o jornal inglês Mirror não escondeu, no título sobre o jogo, a revolta com a simulação do árbitro. “He didn’t touch you! Football sinks to a new low as Brazilian referee simulates contact before giving red car”. Além de gritar indignado que Luis Fabiano não tocou no juiz, o Mirror afirma que “o futebol afunda a um novo nível abaixo, com o juiz brasileiro simulando contato antes de dar o cartão vermelho”. Mas isso, claro, só no resto do mundo, porque por aqui o importante, mesmo, foi o pênalti que não valia nada.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Thalles decide de novo, e a convicção inabalável nos pênaltis contra o Vasco

Foto: Vasco

O Vasco caiu e hoje em dia, quando falam nesta queda, os especialistas lembram das bravatas do presidente vascaíno e nada de esquema de arbitragem, de erros crassos de juízes favorecendo times do mesmo estado, de visitas de cartolas a vestiários de árbitros, nada disso, assim como não se lembram da atuação calamitosa de Paulo César de Oliveira em 1999, só da entrada do então vice-presidente do Vasco em campo.

O Vasco tinha Carlos Germano no gol, Mauro Galvão na zaga, Felipe e Juninho Pernambucano no meio. No ataque, Donizete Pantera e Edmundo. Tinha sido campeão da Libertadores no ano anterior, ganhara o Brasileiro dois anos antes e ganharia de novo no ano seguinte, sem falar na Copa Mercosul. E naquele ano já tinha ganhado o Rio-São Paulo quando recebeu em São Januário, pelo campeonato brasileiro, o valoroso Paraná Clube, oriundo da fusão do valente Colorado com o digníssimo Pinheiros. Abriu o placar aos 37 do primeiro tempo, com Edmundo, e caminhava pra mais uma vitória tranquila em casa, de praxe naquela época, quando o juiz do jogo começou a fazer lambança,

Antes do apito final do primeiro tempo, Paulo César de Oliveira expulsou Juninho Pernambuco por suposta simulação, quando o meia invadiu a área pra disputar a bola com o goleiro saindo em lance que, pênalti ou não, era impossível não ter caído. No segundo tempo, parecia ter completado o serviço ao expulsar Alex Oliveira logo no começo. Com dois a mais em campo, o Paraná conseguiu empatar, mas Paulo César de Oliveira queria mais e resolveu expulsar o terceiro jogador do Vasco, simplesmente Mauro Galvão.

O Paraná viria a ser rebaixado naquele ano, mas, de acordo com a arbitragem de Paulo César de Oliveira, jogou sua melhor partida na temporada pra envolver, em pleno São Januário, o Vasco campeão carioca, brasileiro, da Libertadores, do Rio-São Paulo e futuro campeão brasileiro e da Mercosul, na única vez, aliás, que um time ganhou dois campeonatos desse nível (um nacional e um continental) ao mesmo tempo. Ou isso, ou o mais provável, um juiz determinado a ajudar um lado, pra justificar as três expulsões do Vasco dentro de São Januário, contra o futuro rebaixado Paraná. A torcida então se revoltou, com toda a justiça, e pra evitar uma invasão do campo ou coisa pior, que poderia prejudicar ainda mais o time no decorrer do campeonato, o então vice-presidente do Vasco entrou em campo.

Hoje, quando se lembra do episódio nas páginas ou telas da dita grande mídia, que na editoria de esporte, aqui no Rio, também atende pelo nome de flapress, só se fala na entrada do dirigente campo adentro como mais um episódio deplorável relacionado ao Vasco, dizem os especialistas, que não questionam em uma linha ou centésimo de segundo de vídeo sequer, nunca mais, a arbitragem escandalosa daquele jogo.

Tudo isso pra dizer que o juiz em questão virou comentarista de tevê e foi escalado pra falar da arbitragem do jogo de ontem entre Vila Nova e Vasco, no Serra Dourada, em Goiânia, pela segunda fase da Copa do Brasil. Thalles abriu o placar com um gol de placa (o que mais esse menino precisa fazer pra parar de ser vaiado?) e logo depois veio o lance no qual Paulo César de Oliveira mostrou que continua atuando bem ao gosto da emissora patroa dele.

Um jogador do Vila Nova recebe na esquerda da grande área, cruza e a bola bate no braço de Gilberto, que só não está mais colado ao corpo do que o braço de Vítor, no pênalti arranjado (mais um) com nota fiscal e tudo, pra iniciar a virada do coirmão que mais nos diverte nas Libertadores da vida, rumo ao título carioca de 1986. Este título, aliás, passou para a história muito mais pelas tais notas fiscais comprovando serviços prestados ao clube da Gávea por diletos juízes, notas estas que receberam o singelo nome de papeletas amarelas.

Mas voltemos, pois, ao Gilberto, que assim como Kelvin precisa sair do time, é enganador, firulento, incapaz de lançar ou cruzar ou passar uma bola mais longa a um jogador que não esteja com a camisa adversária. Gilberto precisa dar lugar ao Pikachu ou ao Madson, qualquer um dos dois é melhor que ele, que, no entanto, não teve culpa alguma no pênalti de ontem, e não teve porque estava com o braço no lugar certo na hora, colado ao corpo, o que não impediu Paulo César de Oliveira de mostrar certeza absoluta de que o árbitro, sim, estava certo, de que tinha sido pênalti claro.

Impossível, portanto, não remeter a outro comentário, em outro jogo do Vasco, não de um ex-árbitro, mas de um desses jornalistas especialistas que podem usar óculos, redondinhos ou não, e se vestem quase todos da mesma maneira, usam os mesmos termos e têm, todos, em relação ao Vasco, sempre a mesma opinião. O jogo foi um 2 a 2 com o São Paulo em pleno Morumbi, o gol de empate dos donos da casa, depois da virada do Vasco, teve impedimento e falta num defensor vascaíno, mas o especialista, que no caso usava óculos, não lembro se redondinhos, vociferava como se a arbitragem tivesse sido favorável ao Vasco, e tudo por causa de um pênalti, digamos, “mais pênalti” que o do Gilberto, ontem.

Madson recebeu na direita e cruzou a bola que encontraria Jorge Henrique livre, pronto para o arremate na marca do pênalti, não fosse o cotovelo do defensor são-paulino que não, não estava colado ao corpo. O sujeito deu um carrinho de braços abertos dentro da área. Durante o carrinho levantou os braços e na descida deles, o cotovelo do são-paulino, a pelo menos dez centímetros das costelas, pelo menos, desviou a bola que iria para Jorge Henrique. 

O árbitro deu o pênalti, expulsou o tricolor, que já tinha cartão amarelo, e isso foi suficiente para o comentarista afirmar quase aos berros, raivoso, que o juiz que validara o gol ilegal do empate do São Paulo havia beneficiado, na verdade, o Vasco, e isso porque o presidente do Vasco fizera pressão enorme após o jogo anterior do time. E no jogo anterior, contra a Chapecoense no Maracanã, o Vasco tinha sido ainda mais garfado do que no Morumbi.

Vitória sofrida de 1 a 0 até os 40 do segundo tempo, quando o atacante da Chape chuta dentro da área, a bola bate na cintura de Rodrigo, que tinha os braços escondidos atrás das costas, e o juiz dá pênalti. O Vasco sofre o empate e vai pra cima, tenta a vitória ainda e, córner batido, o bravo defensor da equipe catarinense disputa no alto com um vascaíno dentro da área e ganha no braço, estendido acima da cabeça dos dois, o braço esquerdo que desvia a bola na cara do bandeirinha que, por sua vez, segue a acompanhar o lance como se tudo fosse absolutamente normal, do jogo.

Terminada a partida, o presidente do Vasco afirma em entrevista coletiva que existe um esquema de arbitragem para favorecer os clubes de Santa Catarina no campeonato e, em consequência disso, prejudicar o Vasco na luta contra o rebaixamento. Afirma e dá nomes aos bois, no caso um presidente da Federação Catarinense de Futebol que ocupava, à época, uma vice-presidência na CBF. O presidente do Vasco afirma, ainda, que este dirigente catarinense tem o hábito de visitar o vestiário do árbitro momentos antes dos jogos dos times de seu estado

O cartola nega, chama o outro de mentiroso, avisa que vai processar o presidente do Vasco, mas volta atrás, desiste disso, talvez pelo aparecimento de súmulas de mais de um árbitro relatando visitas do citado vice da CBF aos seus vestiários, momentos antes de partidas de times de Santa Catarina. Nos programas esportivos, especialistas até dizem que alguma coisa deve ser investigada, que é estranho, de fato, um cartola visitar juízes em seus vestiários. Dizem isso, mas não se alongam muito no assunto, não, provavelmente pra não atrapalhar um campeonato tão legal, com o Corinthians liderando disparado, o Vasco prestes a ser rebaixado, tudo nos conformes, segundo as previsões deles. Imagina mexer no campeonato por causa de esquema de arbitragem, anular jogos, mudar a classificação, não, melhor deixar pra lá e, três, quatro dias depois do garfo ao Vasco no Maraca, das denúncias de seu presidente, do surgimento das súmulas comprovando as denúncias, menos de uma semana depois disso tudo o comentarista de óculos vociferava na tevê como se o Vasco fosse o time beneficiado pelas arbitragens.

O assunto então morreu enquanto nove entre dez especialistas da imprensa esportiva passaram a celebrar os 10 anos do grande furo de reportagem, a revelação de um esquema de arbitragem na capa da revista que falava em "quadrilha de apostadores que comprava juízes", assim mesmo, no plural, pra revelar um esquema que, na verdade, era de um juiz só, que apitou apenas partidas em que um certo Timão havia sido derrotado. O campeonato parou, jogos foram anulados, as derrotas do tal Timão viraram vitórias e a classificação mudou, caindo o Internacional pra segundo, subindo o Corinthians pra primeiro.

O juiz em questão, por exemplo, apitara a partida entre Santos e Corinthians na Vila Belmiro, vitória avassaladora da equipe da casa, de quatro, com show do veterano Giovanni e nenhum senão em relação à arbitragem. Mas como foi apitado pelo corrupto confesso, o jogo foi anulado e virou, depois, uma vitória por 3 a 2 do Corinthians com um gol irregular para o futuro campeão.

Depois de tudo isso, o Timão precisaria ainda do mais escandaloso erro de arbitragem do campeonato, fora diversos outros a seu favor, pra conseguir ser campeão, e dez anos depois os especialistas celebravam o furo que ajudou a dar o título ao Corínthians sem nem pensar em incomodar o tal juiz, que, aposto, deve viver uma aposentadoria tranqüila em algum canto isolado, ou não, do planeta, sem preocupações financeiras.

E no Brasileiro de 2015 o Vasco seguia sua sina de ser prejudicado pelas arbitragens, iniciada já na terceira rodada, em partida contra o Inter em São Januário na qual deixaram de ser assinalados dois pênaltis a favor do time carioca, um deles, em cima de Guiñazu, claríssimo. Nada que impedisse outros especialistas de, depois da vitória contra a Ponte Preta em Campinas, que marcaria o início de uma arrancada impensável pra eles, cogitarem, num descontraído programa de debates, a possibilidade de o Vasco, por ter mais camisa, vir a ser beneficiado pelos juízes em sua luta à beira do impossível contra a queda.

O questionamento foi feito antes do jogo contra o Cruzeiro no Mineirão, empate por 1 a 1 no qual Willians, do Cruzeiro, fazendo o que já havia feito com a camisa do Flamengo contra o mesmo Vasco, saltou na área de seu time pra cortar com o braço um perigoso cruzamento. Pênalti? Claro que não. Assim como não foi pênalti a cortada do defensor da Chapecoense no Maracanã e o bandeirinha daquele lance, a propósito, foi escalado para o jogo do Figueirense contra a Ponte Preta, em Campinas, a quatro rodadas do fim do campeonato.

O Figueirense, como se sabe, é de Santa Catarina, e disputava a permanência na Séria A ponto a ponto com o Vasco. E o jogo não foi 0 a 0 graças a um pênalti a favor do Figueirense, num cruzamento bem em frente ao bandeirinha que não dera o pênalti da Chape a favor do Vasco. A bola bateu no rosto do zagueiro da Ponte Preta, mas o bandeirinha confirmou a marcação do juiz, e o Figueirense só precisou converter o pênalti e vencer na última rodada o Fluminense.

Ao contrário do Vasco em 1996, que sem qualquer interesse no campeonato ganhou os dois últimos jogos contra dois adversários dos tricolores em sua briga contra a primeira queda de um grande clube carioca à segunda divisão, o Fluminense fez o que se espera da nobre estirpe dele nessas horas. Perdeu o jogo, e o Vasco, de novo, deixou de ter um pênalti claro a seu favor assinalado, em Nenê, e só empatou com o Coritiba fora de casa.

O Vasco caiu e hoje em dia, quando falam nesta queda, os especialistas lembram das bravatas do presidente vascaíno e nada de esquema de arbitragem, de erros crassos de juízes favorecendo times do mesmo estado, de visitas de cartolas a vestiários de árbitros, nada disso, assim como não se lembram da atuação calamitosa de Paulo César de Oliveira em 1999, só da entrada do então vice-presidente do Vasco em campo.

O jogo de ontem? Se encaminharia pra decisão por pênaltis se Thalles (sempre ele) não acertasse um cruzamento desesperado bem na cabeça de um zagueiro do Vila Nova que fez o imenso favor de cabecear da melhor maneira possível para que Wagner, na pequena área, cabeceasse para o gol decretando a vitória e a classificação do Vasco, apesar de mais um erro grave da arbitragem contra a equipe cruzmaltina, de novo com o beneplácito da mídia especializada.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Vaias ao Thalles, palmas pra Kelvin e a burrice crônica do vascaíno guiado pela 'grande mídia'

Foto: Carlos Gregório/Vasco

 Alan Kardec continuou a fazer gols pontuais e a ser vaiado, ridicularizado por parte de sua própria torcida até ser vendido a preço de banana pela administração do presidente Roberto Dinamite. Hoje, essa certa má vontade de vascaínos com o Vasco continua, tem a mesma origem, e o alvo da vez é Thalles.


Há uma certa má vontade com o Vasco, de certa parte de sua própria torcida, e não é de hoje. Vem dos tempos em que Alan Kardec, prata da casa, artilheiro desde criança, integrante de varias seleções da base, de Mundial Sub 20 inclusive, era efusivamente vaiado, ridicularizado até, por boa parte da torcida vascaína. Na primeira vez como profissional, no Maracanã, Kardec entrou no fim de uma semifinal maluca em que o Vasco perdia por 4 a 3 para o Botafogo. Com uma de suas especialidades, a cabeçada certeira, empatou a disputa que o Vasco perderia nos pênaltis. No ano seguinte, em outra semifinal, essa contra o maior rival, abriu o placar no Maracanã de novo lotado com um gol de placa, o drible desconcertante no marcador e a varada no ângulo, de fora da área. Ajudado pelo apito de quase sempre, o Flamengo empatou com um gol ilegal e depois virou a partida, e Alan Kardec continuou a fazer gols pontuais e a ser vaiado, ridicularizado por parte de sua própria torcida até ser vendido a preço de banana pela administração do presidente Roberto Dinamite. Hoje, essa certa má vontade de vascaínos com o Vasco continua, tem a mesma origem, e o alvo da vez é Thalles.

Como Kardec, Thalles é cria do Vasco, artilheiro desde criança, integrou seleções de base e na prova de fogo, na primeira vez como profissional em jogo decisivo no Maraca, fez dois gols nas duas primeiras oportunidades, a segunda conduzindo até a entrada da área e dali fuzilando, no ângulo. Depois o gordinho Walter fez uma jogadaça no primeiro gol do Goiás e o Vasco acabou eliminado nas quartas-de-final da Copa do Brasil, graças tambem à anulação do gol legal de Luan pelo irmão do hoje comentarista de arbitragem da Grobo, Paulo César de Oliveira, e à falha do goleiro escolhido entre os três ruins pra ir até o fim da temporada, que viria a ser decisivo, também, no rebaixamento do time dali a dois, três meses.
Alessandro era menos ruim que Michel Aves, mas pior ainda que Diogo Silva, que garantiu pelo menos seis pontos naquele campeonato nas vitórias de 1 a 0 sobre o Coritiba, no Couto Pereira, e o Fluminense, em Santa Catarina. Diogo Silva fez defesas difíceis nestes e em outros jogos, mas falhou bisonhamente em outros, como no frangaço na derrota em casa para o São Paulo, e dos três goleiros era o mais vaiado, o mais ridicularizado pelo tipo de torcedor que anteontem, na social de São Januário, pedia a saída de Thalles e vibrava com Kelvin.
Pelo terceiro jogo seguido, Kelvin armou lá seu salseiro pelos lados do campo, foi intensamente aplaudido e não conseguiu nem criar, nem participar, nem concluir uma jogada de gol sequer, nem ele nem Gilberto, se bem que este criou ótima oportunidade sozinho, roubando a bola e entrando na área sem ângulo no segundo tempo, com chute triscando a junção do travessão com a trave.
Contra o Santos do Amapá, Gilberto e Kelvin entraram no segundo tempo e armaram várias jogadas, de fato, mas nenhuma que tenha resultado em gol. Em 45 minutos, Kelvin perdeu cinco gols, três deles feitos, sozinho, e saiu de campo ovacionado, tido como "liso" e demais adjetivos do gênero. Começou como titular no outro jogo, ele e Gilberto, e os dois de novo tramaram diversas jogadas, e nenhuma delas de novo resultou em gol, e o Vasco perdeu para o Volta Redonda por 1 a 0.
O Vasco passou a precisar vencer a Portuguesa pra garantir a classificação e lá estava Kelvin, pela primeira vez em São Januário, sendo incansavelmente apoiado pela torcida. E ao lado dele estava Thalles, que depois do começo avassalador daquele jogo contra o Goiás no Maracanã continuou a fazer seus gols pontuais, mas decidiu comemorar o sucesso caindo na night, criando bunda e barriga. Deixou de ser convocado para as seleções de base bem antes do Mundial Sub 20 e teve um ano de 2015 pra se esquecer, até receber uma bronca pública do técnico Jorginho.
Daí parece ter resolvido agarrar o que era sua última chance e começou 2016 muito bem, perdendo peso, fazendo gols como o da vitória contra o Botafogo na Colina, com passe primoroso de Nenê, fundamental para a conquista da Taça Guanabara depois de 13 anos. Veio o bicampeonato carioca, invicto, e começou a Série B com Thalles marcando contra o Bahia e mais nada, não conseguindo se firmar no time e ensaiando nova desandada.
Pouco importa que no duro jogo contra o Goiás fosse ele, Thalles, a recuperar sentado uma bola dada como perdida e a deixar nos pés de Nenê, para o passe sob medida a Adrezinho, que fez o gol único da vitória sofrida. Boa parte da torcida vascaína não via nada disso e vaiava, como vaiou durante quase todo o segundo tempo contra o Criciúma em São Januário, até Thalles, lá pelos trinta e tanto do segundo, fazer o gol da vitória suada.
Na reta final da Série B, Thalles foi o cara. Decidiu contra o Paraná e o Bragantino, fez gol contra o Luverdense e garantiu de vez o acesso com os dois gols da vitória contra o Ceará. As vaias pararam por um tempo, mas também porque àquela altura do campeonato, boa parte da torcida vascaína, a que acredita na "grande mídia", estava mais interessada em protestar.
Terminava a temporada na qual o Vasco tinha sido bicampeão carioca, retomando o posto de maior campeão invicto da história do estadual, acabava o ano com o time tendo quebrado o próprio recorde de invencibilidade em jogos oficiais ou não de sua história, superando, por exemplo, em um jogo a melhor marca do freguês da Gávea em partidas valendo ponto, e a torcida, guiada por campanhas insufladas pelos sites, programas de televisão e jornais esportivos, preferia protestar, e contra a diretoria.
O ano terminava com o Vasco se superando numa situação nunca antes vivida por nenhum outro dos ditos grandes clubes do país a não ser o Grêmio e sua batalha dos Aflitos. Um jogo pesado pela chance de não subir, um Maracanã lotado e o adversário abrindo o placar na falha do goleiro ídolo do time, que em menos de mágicos cinco minutos se recupera e vira com dois gols dele, Thalles, na volta para o segundo tempo. A festa, o alívio, os gritos ridículos pelo Oeste pra gáudio da triste "grande mídia" que tanto queria, coitadinha, cobrir com toda emoção a "tragédia" do não acesso do Vasco, e daí, mais pro fim do jogo e após o apito final, os protestos enraivecidos que foram diferentes dos de 2014, em situação parecida.
Em 2013 o Vasco caiu por causa da escolha errada do goleiro menos ruim e, no fim das contas, por conta da diretoria, que manteve o time em campo sem policiamento, fazendo a vontade, complacente, de todos que queriam o tetracampeão caindo mais uma vez. Na Série B o time jamais chegou à liderança e tomou de 5 do Avaí, em casa. E enquanto o campeonato rolava a diretoria priorizava a prorrogação do próprio mandato na Justiça, com o apoio da mídia amiga que insuflava denúncias ridículas, como o tal "mensalão vascaíno".
Um grupo então na oposição e atuante há pelo menos 13 anos na política vascaína, denominado Casaca, fez uma campanha de associação em massa, a maior da história do clube, que rendeu cerca de R$ 1,3 milhão aos cofres do Vasco. Pois bem, esse foi o motivo da denúncia que possibilitou o adiamento das eleições sem maiores argumentos da Justiça, a não ser a generalidade do juridiquês das liminares que deram tempo, para a diretoria, de criar dívidas e mais dívidas, de confessar pendências milionárias no tempo extra de mandato concedido à administração bananamite pela Justiça.
Abandonado, o time de 2014 chegou à penúltima rodada precisando do empate contra o Icasa no Maracanã lotado, e foi o que aconteceu, com Kleber Gladiador abrindo o placar, os cearenses empatando e perdendo um gol feito no último minuto, antes do apito final e das vaias que, curiosamente, não foram direcionadas daquela vez à diretoria. Time sem vergonha, gritou o torcedor para Douglas, Martin Silva, Luan e cia, poupando o presidente, os vices e diretores que deixaram o clube na penúria, com o patrimônio em ruínas e o time, com salários frequentemente atrasados, à deriva.
Já no ano passado, o Vasco, além do bicampeonato invicto, da sequência de traulitadas no eterno freguês da Gávea e nos demais grandes do Rio, liderou do inicio até o meio do segundo turno a Série B de 2016, quando desanimou ao ser eliminado com o garfo de quase sempre da Copa do Brasil, grande objetivo do ano, contra o Santos. Daí o time perdeu o prumo, mas não saiu, jamais, do G4, apesar de chegar à ultima rodada com o risco, ainda, de não subir.
Mas Thalles estava lá pra garantir e, com o apito final, consumada a vitória e o acesso que ninguém, a não ser quem é vascaíno, queria, veio a vaia estrondosa de boa parte da torcida vascaína direcionada ao Diguinho, sim, também a Julio César e cia, todos com salário em dia, mas muito, muito mais à diretoria, até porque o torcedor do Vasco denominado bovino, aquele que acredita na mídia corporativa, estava pautado pra isso, assim como o torcedor da social que assistia Kelvin deixar passar por baixo, pra lateral, o passe longo de Nenê ligando o contra-ataque e aplaudia, esperançoso, e mais animado ainda ficava com mais um quase-gol do novo ídolo, o cruzamento do escanteio e ele, "liso", subindo livre pra cabecear a bola na trave, quase. Enquanto isso Thalles só recebia apupos e a impaciência do torcedor que chamava de burro o técnico por mantê-lo, em outra das obsessões dessa mesma parte da torcida, contra o Cristóvão, que aliás tem tudo a ver com as vaias muito mais contundentes contra o menos ruim dos três goleiros fracos, único a garantir seis pontos com duas atuações de gala na tortuosa campanha de 2013.
Com o 0 a 0 mantido no primeiro tempo e o segundo já passando dos 15 sem nada de gol, o clima na social de São Januário só piorava, torcedores revoltados gritavam impropérios, insultavam Cristóvão e pediam a saída da prata da casa enquanto poupavam o parceiro dele no ataque, recém chegado, até que Escudero recebeu na esquerda e cruzou para a cabeçada do camisa 9 meio que em cima do goleiro, mas forte. O goleiro Luciano tocou na bola, ainda, mas ela morreu na lateral da rede, decretando o placar final aos 17 do segundo tempo: Vasco um, Portuguesa zero, gol de Thalles.
Que Thalles continue a decidir jogos em favor do Vasco, que Kelvin seja definitivamente desmascarado, o mais breve possível, pra não atrapalhar mais ainda o time, que Pikachu retome a posição de Gilberto e que cada vez mais torcedores do nosso muy amado Club de Regatas Vasco da Gama tenham em mente, com a licença de Euclides da Cunha, que o vascaíno que acredita na chamada “grande imprensa” é, antes de tudo, um otário.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O OUTONO DO CRAQUE


As pernas já não obedeciam como antigamente. O fôlego, já não era o mesmo há alguns anos, e as atuações antológicas, os golaços de voleio, as tabelas com o maior de todos os tempos dentro da área e aquele toque de chapa, mortal, preciso, ficaram no passado. Mas como abandonar tudo isso assim, de repente, de uma hora pra outra? Como deixar de ser tratado como ídolo, num clube de massa, depois de tantas glórias, de tantos gols?

A carreira de Bebeto estava prestes a acabar quando a matéria foi feita, na casa dele, arrumada por um assessor de imprensa que "vendeu" a pauta para a revista; e o sujeito que anos antes deveria lidar com uns vinte pedidos de entrevista por semana me recebeu sorridente, feliz da vida, porque estava voltando a um grande clube, no caso, o Vasco.

Dois anos depois de sua última passagem pelo Rio, no Botafogo, onde quase ganhou uma Copa do Brasil, Bebeto retornava de duas breves temporadas frustradas no exterior, uma no México, de onde saiu correndo com medo de ameaças veladas do presidente de um clube sem qualquer tradição, e outra no Japão, onde foi obrigado a treinar conclusões a gol exaustivamente como se fosse um iniciante, ele que formou com Romário a maior dupla de atacantes que uma geração inteira viu jogar com a camisa da seleção brasileira.


E foi o parceiro da Copa América de 1989, e depois do Tetra, em 94, quem levou de volta ao Vasco o artilheiro do Brasileiro de 92, o campeão do Brasileiro de 89. Bebeto agradecia muito ao Romário na entrevista, e sorria, feliz com a oportunidade. No tempo parado, sem clube, tinha treinado na quadra e na piscina do condomínio, com um personal trainer. Garantia que estava em forma, com um entusiasmo de início de carreira. O problema eram os 37 anos, porque é preciso ser muito acima da média, é preciso ser gênio, lendário, para jogar em alto nível depois dos 37.

Bebeto não virou lenda como o parceiro Romário, que aos 41 anos registrou média de um gol por jogo em 14 jogos de campeonato; mas Bebeto foi grande, enorme. Antes de sair para o All-Ittihad, da Arábia Saudita, onde encerrou a carreira sem pompa nem circunstância, fez apenas dois gols nessa última passagem pelo Vasco, em dois empates no Brasileiro de 2001. Tudo bem.


O que fica na memória são as atuações antológicas, os golaços de voleio, as tabelas com o maior de todos os tempos dentro da área e aquele toque de chapa, mortal, preciso, fundamental para que o Vasco encerrasse o maior jejum de títulos nacionais de sua história, igual ao do São Paulo, entre 1991 e 2006, e inferior a todas as maiores secas dos demais ditos grandes clubes brasileiros. E o título não seria possível sem os dois gols da vitória contra o Inter no Beira-Rio, na última rodada, sem o gol do empate na virada contra o Santos na Vila Belmiro, logo na estreia dele, que fez o corta-luz de letra para que Marco Antônio Boiadeiro decretasse a vitória por 2 a 1, sem o gol de falta que abriu outra virada, contra o Goiás na primeira vez dele em São Januário, na goleada de 4 a 1, e também sem esse aí ao lado, que sacramentou outra vitória de 4 em São Janu, a 2, contra o Náutico, ele que já tinha feito o segundo, na cabeçada cumprimentando de lado, como se fosse fácil, o cruzamento de Tita.

Abaixo, a matéria.

Revista Istoé Gente, edição número 109, de 1 de setembro de 2001

“O presidente deles prometeu que iria contratar mais três brasileiros, mas não fez nada disso. Ele disse que eu não sabia do que ele era capaz. Me mandei com meus filhos. Não sabia se ele era mafioso."

Desde janeiro, José Roberto Gama de Oliveira, 37 anos, ilustre morador do luxuoso condomínio Santa Marina, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, vinha cumprindo uma rotina árdua para manter a forma física. Diariamente, passava duas horas e meia com o preparador físico Ronaldo Torres exercitando-se na piscina, na academia de ginástica e no campo de futebol. Tudo sem sair do condomínio. A recompensa veio no início de agosto, quando José Roberto, ou Bebeto, o atacante tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994, acertou sua volta ao Vasco da Gama, após uma negociação que incluiu declarações públicas de Romário pedindo sua contratação. No domingo 26, o craque não fez gol, mas entrou em campo no segundo tempo e ajudou o Vasco a golear o Atlético Paranaense por 4 a 0.
Foi o fim de oito meses de inatividade e de pesadelos como as temporadas frustrantes no México e no Japão. Artilheiro e ídolo de clubes como o Vitória, Vasco, Flamengo e La Coruña da Espanha, Bebeto começou seu calvário em 1999, quando deixou o Botafogo para assumir o desafio de transformar o desconhecido time mexicano do Toros Neza numa grande equipe. “O presidente deles (Juan Antonio Hernandez) prometeu que iria contratar mais três brasileiros, mas não fez nada disso.” Para piorar a situação, só Bebeto recebia salário na equipe. Ao entrar na briga pelo pagamento dos companheiros, acabou afastado do time, mas ganhou o respeito dos jogadores mexicanos. “Num jogo do Toros contra o Puma, os dois times exibiram camisas de apoio a mim na entrada em campo”, conta, orgulhoso.
O estopim para a saída do México foi uma ameaça velada do presidente do Toros, diante da insistência de Bebeto em brigar pelos salários. “Ele disse que eu não sabia do que ele era capaz.” Foi a senha para que o atacante deixasse o país com sua família. “Me mandei com meus filhos. Não sabia se ele era mafioso.”
Casado há 14 anos com a ex-jogadora de vôlei Denise, 32, e pai de três filhos – Roberto Nilton, 11, Stephannie, 10, e Matheus, 7 –, Bebeto tem fama de bom moço e dificilmente fala mal de alguém. Prova disso foi a passagem pelo Kashima Antlers do Japão, no ano passado. Obrigado a treinar chutes a gol durante duas horas, pelo técnico e ex-jogador da seleção brasileira Toninho Cerezo, sofreu uma lesão por estresse nos ligamentos do joelho. Nada que o fizesse ficar aborrecido com Cerezo. “Não guardei mágoa dele”, afirma.

O craque deixou o Japão e voltou para a casa no Rio, que divide com a família e sete cachorros, entre eles o yorkshire Campeão. “Em Kashima não tinha nem escola para meus filhos. Tinha que contratar professora particular.” Quarto artilheiro da história da seleção brasileira, com 50 gols, atrás apenas de Pelé, Romário e Zico, o atacante contou com a ajuda de dois companheiros dos bons tempos, os também tetracampeões mundiais e agora colegas no Vasco Romário e Jorginho.
Jorginho foi o primeiro a telefonar para o amigo. Romário fez ainda mais. Depois da estréia do Vasco no campeonato brasileiro contra o Gama, no dia 1º de agosto, deu entrevistas pedindo a contratação do antigo parceiro. A atitude dobrou até o presidente vascaíno Eurico Miranda, que fechara as portas do clube para Bebeto depois que, em 1996, o atacante preferira voltar da Espanha para o Flamengo. “Fiquei emocionado. Sempre tive carinho pelo Romário e juntos ganhamos tudo.” Agora, o artilheiro que fez mais de 500 gols desde 1983 só quer jogar futebol: “Parece que ele assinou seu primeiro contrato profissional. A garra dele é de um iniciante”, resume Ronaldo Torres, o preparador físico que ajudou o craque quando ele estava sem clube.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

UM ANO BOM



Janeiro fervia e era preciso comprar um desumidificador, daí a necessidade de sair da agradável umidade do Cosme Velho e pegar o carro até o Leblon. No caminho, já na Lagoa, não dava pra deixar de perceber a quantidade de pessoas vestidas com as cores do “maior do mundo”, e todas caminhando na mesma direção. Grupos enormes de gente reunida, que só aumentavam de tamanho na medida em que o carro se aproximava da sede do time deles, daquelas paredes descascadas que há décadas envolvem o campo de futebol. Estádio? Não, o “maior do mundo” não tem estádio. Tem apenas um campo de futebol, e só horas depois de presenciar aquele espetáculo surreal, que se estendia também pelas ruas do Leblon – todos com as cores do “maior do mundo”, caminhando para o mesmo local –, é que pude constatar, já no trabalho, na tevê da redação, que uma multidão suada se espremia, debaixo de sol, nas precárias instalações do “maior do mundo”, isso por volta das quatro da tarde de um dia de semana. O povo ocupava todo o gramado, voltado para um palco improvisado em que Ivo Meirelles fazia U-hu! Sandra de Sá entoava gritos de guerra e Lecy Brandão cantava um pagode. No auge da festa, surge o “melhor do mundo”, jogador que até já jogou muito bem, mas que nunca decidiu nada na vida, e que, tal qual foca amestrada, faz embaixadinhas e demais gracinhas com uma bola de futebol. A multidão delira, grita, berra e no fim de tudo deixa o saldo de um portão quebrado, deixando ainda mais precárias as instalações do “maior do mundo”. Diante dessas cenas, na tevê da redação, é inevitável pensar:

Vem coisa boa aí.


E o ano começa com um Mundial de Clubes chancelado pela Fifa, um torneio reunindo camisas como as do Barcelona, Milan, Boca Juniors, Sporting de Lisboa, Vasco da Gama, o “timão” e o “maior do mundo”. Na divisão das equipes, feita tal qual num drafting de NBA, o melhor jogador do mundo cai no “timão”, e o maior artilheiro vai vestir as cores do “maior do mundo”. O Vasco fica com dois ou três veteranos da seleção, nenhum deles perto do melhor do mundo, muito menos do grande artilheiro. A Globo se anima, investe no torneio e decide transmitir a final ao vivo, no Esporte Espetacular, só que o Vasco elimina o “timão” nas quartas-de-final, vence o “maior do mundo” na semifinal e vai para a final contra o Sporting de Lisboa. A Globo, então, é obrigada a mostrar, domingão de manhã, a vitória do Vasco, que, pioneiro mais uma vez, conquista o Primeiro Mundial de Clubes de Futebol de Areia. Enquanto isso, o “maior do mundo” celebra uma tal Copinha, vencida graças a um gol de pênalti, daqueles bem marotos, e a CBF decide mudar critérios. Não será o campeão brasileiro Sub-20 o único representante do País na primeira Libertadores Sub-20 da história. Será, sim, só pode ser, o campeão da tal Copinha, e o “maior do mundo” recebe, de mão beijada, a chance de ser pioneiro em alguma coisa pela primeira vez na vida. Com uma geração que, dizem os entendidos, é de ouro, do goleiro aos atacantes, vai para a tal Libertadores Sub-20, a primeira da história, como um dos favoritos.



No futebol profissional, depois da saída de um técnico dado a ataques de histeria e de um vagabundo metido a ídolo, o Vasco começa a se acertar. Ricardo Gomes chega. Diego Souza também. E o time engata uma sequência de goleadas e de ótimas atuações fora de casa, que culminam na conquista da Copa do Brasil, a primeira da história do clube. A volta à Libertadores está garantida. Os três jogos finais são vistos no Bar do Nilson, boteco no coração da zona portuária, reduto cruzmaltino em que brilham figuras como Tião Cachaça, vascaíno típico, negro como boa parte do time de 1923, que garantiu ao Vasco vitórias acachapantes nos primeiros confrontos da história contra seus três rivais da cidade, e que fez com que o time nascesse campeão, conquistando o primeiro campeonato carioca do qual participou. Uma conquista e tanto, se levarmos em conta que o “maior do mundo” nasceu vice, e vice de um time que não existe mais, e que em mais de 100 anos de campeonato só ganhou unzinho, justamente aquele em que o “maior do mundo” nasceu vice, em 1912. E mais: A sede do campeão carioca de 1912 fica, até hoje, em frente à carcomida sede do “maior do mundo”, como uma singela lembrança de como o “maior do mundo” nasceu para o futebol. Nasceu vice, e vice do Paisandu, que não é nem o de Belém do Pará.


O “maior do mundo” também disputou a Copa do Brasil, e como franco favorito, mas caiu nas quartas-de-final, abatido por uma carroça desembestada num filme já visto outras vezes. Comemorando efusivamente mais uma carioquinha conquistado na fórmula mágica de sempre, os mulambos tomam um sapeca-iá-iá do Ceará dentro de casa, casa aqui em termos figurativos, lógico, porque os mulambos, como se sabe, não têm estádio. No jogo de volta, o “melhor do mundo” começa com tudo, jogando muito, mas depois some do jogo, desaparece, e o Ceará leva a melhor. O juiz deixa de dar um pênalti claro contra o “maior do mundo” e o treinador mulambo, malandro que só ele, reclama do juiz, e continua reclamando semanas depois, em entrevistas coletivas depois dos jogos do Brasileirão, que já estava sendo disputado. Os favoritos ao título? Segundo os entendidos de sempre, eram o “timão” e o “maior do mundo”, que tinha o “melhor do mundo” em seu elenco.



Na Libertadores Sub-20, a primeira da história, “o maior do mundo” se classifica para as quartas-de-final, fica a três jogos do título histórico, mas toma de cinco de um time peruano. Na primeira Libertadores Sub-20, o futebol brasileiro volta pra casa sendo humilhado pelo futebol peruano, e o goleiro mulambo ainda agride o juiz com tapas de Didi Mocó, é obviamente expulso e deixa o campo chorando, aos prantos. Mais um na vasta coleção de vexames internacionais do “maior do mundo”.



Mas no Brasileirão, tudo vem seguindo o script. O “timão” lidera e os mulambos estão logo ali, no encalço, e o “melhor do mundo” vem sendo elogiado por todos os entendidos, que tem de voltar pra seleção, que tem de conduzir o Brasil ao hexa, que é muito melhor que Neymar etc etc etc. Só o que destoa é o Vasco ali, sempre entre os primeiros. Como assim o Vasco? Já conquistou a Copa do Brasil, já tá na Libertadores, e vai disputar o Brasileirão? Vai. E na última rodada do primeiro turno, o Vasco só precisa vencer o “maior do mundo” para assumir a liderança.



Tirando um único lance, em que Fernando Prass faz grande defesa, o jogo é um verdadeiro massacre do Vasco. Logo no começo, o zagueiro mulambo, ruim que só ele, entrega a bola de presente pra Diego Souza. O Camisa 10 do Vascão se livra do zagueiro com extrema facilidade e toma a banda por trás quando partia em direção ao gol, livre, já na meia-lua da grande área. Cartão vermelho obrigatório. Juninho bate a falta na trave e o bombardeio continua até que, no começo do segundo tempo, o técnico Ricardo Gomes sofre um AVC durante a partida e tem de deixar o estádio numa ambulância, em estado gravíssimo. Parte da torcida do “maior do mundo” grita das arquibancadas, com sorrisos nos rostos: Vai morrer! Vai morrer!


Mesmo assistindo a uma cena dessas do gramado, sem saber se seu treinador está vivo ou morto, os jogadores do Vasco continuam dominando amplamente o adversário. Duas, três bolas na trave, o goleiro mulambo fazendo quatro, cinco defesas difíceis, um massacre sem trégua, enquanto Fernando Prass assiste a tudo do gol vascaíno, sem ser incomodado. O “melhor do mundo”? Sumiu do jogo. Desapareceu. E o massacre continua até que, no último minuto, Bernardo domina na área e é atingido direto no tornozelo, por um carrinho com os dois pés do lateral mulambo. Pênalti escandaloso. Mas o juiz não marca. Depois do jogo, todos os entendidos afirmam que de fato, não há como negar, foi pênalti, mas alguns deles resolvem censurar o vascaíno que tomou o carrinho no tornozelo. “Ele abriu demais os braços quando caiu”, dizem, e são levados a sério, e esse tema chega a ser discutido em mesas redondas, tudo dentro da maior seriedade.



Com um técnico entre a vida e a morte, sendo treinado por um interino, o Vasco vai cair de produção, dizem os entendidos. Os favoritos continuam sendo os dois de sempre, o “timão” e o “maior do mundo”, que permanece como único invicto da competição até as últimas rodadas do turno, quando toma de quatro, em casa (lembrando sempre do sentido figurativo), do Atlético Goianiense. Daí em diante a mulambada fica quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez jogos sem vencer. Perde pro Avaí, toma sacode do Bahia em casa, perde do Atlético PR num daqueles estádios de aluguel do interior e se afasta da liderança. De segundo cai pra quarto, quinto, sexto, enquanto o “melhor do mundo” distribui carrinhos, entradas desleais e reclama cada vez mais dos juízes, toda hora, a exemplo do treinador mulambo, que reclama até do juiz do jogo contra o Vasco, numa malandragem que dá gosto de ver.



O Vasco? E não é que o Vasco ainda está lá nas cabeças, disputando o título? Pra ser líder, basta ganhar do Figueirense em Florianópolis, e ganha. Faz dois gols e toma só um, mas tem um dos gols anulados. O bandeirinha inventou alguma coisa que até hoje não conseguiu explicar e anulou o gol de Elton. Já o “maior do mundo” consegue vencer finalmente. Depois de tomar um baile do lanterna em casa no primeiro tempo, consegue a virada com um gol em impedimento nos últimos anos. A torcida se ouriça toda e brada: Deixou chegar!



Mas o Vasco continua ali, e não demora para alcançar a liderança, numa goleada de 4 a 0 sobre o Grêmio, com São Januário lotado. Show de Diego Souza, Fágner, Éder Luis e cia. A liderança é mantida por quatro rodadas, até que vem o Inter em Porto Alegre. Jogo difícil, ainda mais quando o Inter faz 1 a 0 no começo do segundo tempo. Mas o Vasco reage, Diego Rosa entra driblando na área e é derrubado. Pênalti claro. Mas o juiz não marca. Logo depois, marca falta inexistente ao lado da área do Vasco. Do cruzamento, sai o segundo do Inter, que ainda faria mais um. O “timão” volta à liderança. Já o “maior do mundo” continua atrás, lá pelo quarto lugar, mas consegue outra vitória nos últimos minutos, num fla-flu, e de virada, graças a uma falta inexistente e ao tradicional pênalti do adversário não marcado. A torcida delira e berra: Deixou chegar! Depois o time empata em casa contra o Palmeiras, com mais um gol irregular. Nessa altura, já toma corpo na mídia esportiva uma estatística que mostra que em todo o campeonato, em sei lá quantos jogos, não foi marcado um pênalti sequer a favor do “maior do mundo”. Mas como? Perguntam os “entendidos”, e debatem o assunto com toda a seriedade, e não conseguem buscar ao longo de tantas rodadas um lance sequer de pênalti que deveria ter sido marcado a favor do “maior do mundo”, e o treinador continua reclamando das arbitragens, malandro toda vida.



Eis que, faltando sete rodadas para o final, o Vasco volta à liderança com uma vitória sobre o Bahia na Bahia, bela atuação de Felipe, mais um jogaço de Diego Souza. A fase é tão boa que o Vasco ganha até o Brasileiro de Showbol, com show de Pedrinho. No jogo seguinte pelo Brasileiro, em São Januário, o time pressiona o São Paulo o jogo inteiro, mas o gol não sai, até que, nos últimos minutos, Allan domina a bola dentro da área e sofre uma espécie de golpe de jiu jitsu do lateral são-paulino, que caiu por cima do meia vascaíno segurando o braço dele. O juiz manda seguir o jogo e, com o empate garantido, o “timão” volta à liderança. Enquanto isso, o “maior do mundo” tem um jogo difícil no Sul. Depois de esnobar o clube que o formou, que o auxiliou nos primeiros passos na carreira, o “melhor do mundo” volta pela primeira vez ao estádio do clube que abandonou uma vez, e que traiu uma segunda vez, quando já tinha um contrato apalavrado mas resolveu, por grana, fechar com o “maior do mundo”. O jogo promete ser muito difícil. A torcida gremista investe em várias provocações e durante a semana só se fala em como o “melhor do mundo” reagirá. E ele até começa bem, ajudando seu time a abrir 2 a 0. Mas depois some do jogo, desaparece, e o “maior do mundo” acaba caindo de quatro, de novo.



Aí vem a Copa Sulamericana, e o “maior do mundo” resolve colocar suas estrelas em campo, inclusive o “melhor do mundo”, para o jogo contra a Universidad do Chile, La U para os íntimos, e desde o ano passado o “maior do mundo” é bem íntimo da La U, porque foi eliminado da Taça Libertadores pelos chilenos, com derrota no Maracanã jogando meio tempo com um a mais, o que completou uma triste estatística: O “maior do mundo” não vence um mata-mata de Libertadores contra time estrangeiro desde 1993, quando conseguiu vencer um time venezuelano qualquer nas oitavas. E só. De lá pra cá foram quatro confrontos, contando o vexame da Sub-20 no Peru, e quatro eliminações. Mas o “maior do mundo” tem a chance da vingança. Escala o time titular no jogo de ida, em casa (sentido figurado, não esqueçam) e.... Toma de quatro. Isso mesmo. Quatro a zero. Simplesmente a maior derrota da história do futebol brasileiro para o futebol chileno em território nacional. Mais um vexame pra coleção. O Vasco? E não é que o Vasco resolveu disputar também a Sulamericana e acabou caindo nas semifinais pela mesma La U, só que por 2 a 0 fora de casa, depois de empatar em casa, com o time todo morto de cansaço e sem três titulares. Eliminação digna, numa campanha que ainda serviu para redimir um pouco o vexame do futebol brasileiro no Peru, já que o Vasco meteu cinco gols no Universitário de Lima, conquistando a classificação para as semifinais numa daquelas viradas que só o Vasco consegue. Bom pra mostrar que nem só do “maior do mundo” vive o futebol brasileiro nas competições internacionais. Ainda bem. Aliás, da Sul-americana o que fica é a frase do técnico da La U antes de enfrentar o Vasco. Questionado sobre um suposto favoritismo de La U, depois do time ter vindo ao Rio para aplicar uma goleada vexatória no “maior do mundo”, o técnico argentino que treina o time chileno foi bem claro na resposta. “Vasco não é flamengo. Se passarmos pelo Vasco atingiremos outro patamar”.



Voltando ao Brasileirão, o Vasco vai enfrentar o Santos de Neymar, Ganso e cia. O Santos não quer mais nada no campeonato, mas resolve ir de força máxima. Neymar e Ganso juntos, e os dois jogam muito. O Santos faz 1 a 0 com um gol contra de Renato Silva, em falta batida por Neymar. Ainda no primeiro tempo, o Vasco empata. Diego Souza de cabeça. Mas o juiz vê a falta mais sutil do campeonato e anula o gol, por causa de um leve roçar de braço entre Diego e o zagueiro santista. Uma falta que, se fosse marcada sempre, prejudicaria bastante a carreira de um certo imperador, cuja maioria esmagadora dos gols foi conquistada na disputa pelo alto com os zagueiros, quando várias vezes os defensores se estatelavam no chão no choque com o imperador, que sempre jogou de braços bem abertos. Nesses casos, nunca foi marcada a tal falta. Os zagueiros caíam, segundo a opinião geral, porque o imperador era forte. Diego Souza, ao que parece, não é tão forte, e o juiz resolveu anular o gol. No segundo tempo, ainda com o placar de 1 a 0 Santos, o outro zagueiro santista resolve cortar um cruzamento com o braço, dentro da área. A bola ia fugindo de seu alcance e ele estica o braço pra rebatê-la. Mas o juiz nada marca. Depois, Felipe Bastos sofre falta no ataque do Vasco, o juiz, de novo, resolve não marcar e no contra-ataque o Santos faz 2 a 0, selando a derrota vascaína.


Depois de mais uma boa vitória, dessa vez sobre o Botafogo, o Vasco volta a jogar em São Paulo, contra o Palmeiras. Começa logo fazendo 1 a 0, Dedé de cabeça. Mas cede o empate no segundo tempo. Depois parte pra cima, tentando a vitória, e poderia até consegui-la, se o juiz marcasse o pênalti sobre Felipe, que, dentro da área, passou a não conseguir se mexer, pois um defensor do Palmeiras resolveu se jogar em cima dele. Nessa altura do campeonato, a CBF já tinha transferido a festa do título do Rio, onde a cerimônia sempre foi realizada, para São Paulo, terra do “timão”. Pra completar, o presidente da entidade, El Capo Teixeira, anuncia que o novo manda-chuva da CBF, abaixo apenas dele na hierarquia da confederação, será... o presidente do “timão”. Enquanto isso o Vasco tem mais dois gols legais anulados, um contra o Avaí e outro contra o Fluminense, mas chega à ultima rodada ainda brigando pelo título, apesar da situação difícil. Quando chega dezembro, o Vasco precisa vencer o “maior do mundo” e torcer para que o “timão” perca para o Palmeiras para ser campeão brasileiro. O “maior do mundo”? Não tem mais chance de título há algum tempo. Depois de ser exaltado como favorito ao título durante meses, depois de sua torcida gritar Deixou chegar! algumas vezes, depois das vitórias sofridas, sempre com um golzinho em impedimento, com um pênaltizinho não marcado para o adversário, o "maior do mundo" chega ao fim do ano com o incontestável título de maior cavalo paraguaio da era dos pontos corridos. Precisa de um empate pra garantir uma vaguinha na pré-Libertadores, ou de uma vitória e de uma derrota do Fluminense para entrar direto na fase de grupos da competição. E só.



Lembram do primeiro jogo? Do juiz que não marcou o pênalti escandaloso no último minuto? Acreditariam se eu dissesse que o mesmo juiz foi escalado para o segundo jogo entre o Vasco e o “maior do mundo”? Pois foi. E se eu dissesse que o mesmo juiz, de novo, deixou de dar um pênalti escandaloso a favor do Vasco? Contando ninguém acredita, né? Mas foi isso mesmo que aconteceu. Diego Souza entrou na área pronto pra chutar e sofreu um puxão de camisa daqueles de anúncio de gelol. O tal do Willians, jogador que, acreditem, chegou a ser cotado para a seleção, sequer se preocupou em tentar ser discreto. Esticou o braço todo, agarrou na camisa do vascaíno desesperado e puxou com força, com tanta força que o Diego Souza caiu para trás. E o juiz, o mesmo juiz que não deu o outro pênalti escandoloso no outro jogo, não marcou nada de novo. Update: O tal juiz, ao fim da temporada, recebeu o escudinho Fifa. Outro juiz, que perdeu o tal escudinho, saiu esbravejando denúncias sobre favorecimento da arbitragem a determinados times, entre eles citou explicitamente o "timão". As denúncias já caíram no vazio.



Mas mesmo assim, de novo, mais uma vez, o Vasco dominou amplamente o “maior do mundo”. Fez 1 a 0 com o mesmo Diego Souza, de cabeça, e só não foi para o intervalo com um placar mais elástico por capricho, e por causa do pênalti não marcado, lógico. Ainda no primeiro tempo, mais dois lances chamaram a atenção com relação à arbitragem. No primeiro, Jumar tomou cartão amarelo por uma falta que não existiu. No segundo, o mesmo Willians do pênalti se jogou na direção de Felipe quando este partia para um contra-ataque. Willians não achou nada, se jogou no vazio sem encostar em Felipe e se estatelou no chão. O meia vascaíno se viu livre, com a bola dominada e com várias opções de passe, com a defesa batendo cabeça, sem saber para onde correr, até que o juiz, rápido como só ele, soprou o apito e seguiu uma antiga tradição entre os árbitros brasileiros, sobretudo os do Rio de Janeiro, inventando mais uma falta a favor do “maior do mundo” e livrando a defesa mulamba do perigo de gol. O cartão amarelo do Jumar? Virou uma expulsão no começo do segundo tempo, numa falta que merecia apenas o cartão amarelo. Como foi o segundo cartão, graças àquele primeiro inventado do primeiro tempo, o Vasco se viu, mais uma vez na história dos confrontos com o “maior do mundo”, com um a menos em campo, isso logo depois do gol de empate do “maior do mundo”, numa jogada que, à primeira vista, pareceu impedimento. O tira-teima da Globo mostrou que o Deivid estava na mesma linha de um zagueiro vascaíno. De qualquer maneira, foi um gol muito mais anulável do que qualquer dos seis tentos legítimos do Vasco anulados na reta final do Brasileirão.



Com um a mais, o “maior do mundo” bem que poderia tentar a vitória. Bastava um gol contra o Vasco e mais um do Botafogo contra o Fluminense (estava 1 a 1 lá também) para pular de fase na Libertadores. Em vez de se classificar pra pré, passar direto pra fase de grupos e trocar de lugar com os tricolores. Mas o “maior do mundo”, mesmo com um a mais em campo, preferiu segurar o resultado. O goleiro, por exemplo, fazia cera sempre que tinha oportunidade para isso. Com o empate entre o “timão” e o Palmeiras, e o apito final no Engenhão, o Vasco perdeu o campeonato brasileiro. Depois de perder seu técnico no meio do campeonato, de ter seis gols legítimos anulados e seis pênaltis a seu favor não assinalados pelos árbitros, que poderiam dar à equipe, no barato, mais doze pontos, o Vasco termina a competição em segundo lugar, a dois pontos do campeão. Enquanto isso, depois de passar todo o campeonato sonhando com o título, depois de gritar Deixou chegar por várias semanas, toda vez que o time conseguia uma vitoriazinha, e depois de ver seu time chegar a lugar algum, provando mais uma vez, de novo, que o melhor slogan para definir o “melhor do mundo” seria Deixou chegar, tem que entregar, a torcida rubro-negra sai do estádio feliz da vida. Em menor número no estádio, até tenta “sacanear” os vascaínos com a tal história do vice que eles tanto adoram – ainda que tenham mais vices que o Vasco, ainda que o time deles seja mais vice do Vasco do que o Vasco é dele –, mas é abafada pelo gritos de incentivo da torcida vascaína aos seus jogadores, como reconhecimento da brilhante temporada do time, campeão da Copa do Brasil, garantido na fase de grupos da Libertadores. De qualquer maneira, os torcedores do “maior do mundo” vão as ruas celebrar ao fim do campeonato, e celebrar pelo simples fato de o Vasco não ter sido campeão. O “melhor do mundo” também tenta tripudiar dos vascaínos. Depois de completar seu nono ou décimo clássico em branco, sem marcar um golzinho sequer, ele desce os degraus para o vestiário gesticulando para a torcida vascaína. E depois diz que quer ficar no “maior do mundo” para o ano que vem. Em janeiro, logo na volta das férias, o “maior do mundo” enfrentará um time boliviano por uma vaga na Libertadores. Vem mais coisa boa aí.



O Vasco entrará direto na competição em fevereiro, na fase de grupos, graças a um time que, ao longo do ano, jogou muita bola, e aqui vai uma ligeira resvalada no pessoal, um agradecimento especial a Fernando Prass, Allan, Fágner, Dedé, Anderson Martins, Renato Silva, Jumar, Rômulo, Eduardo Costa, Felipe, Juninho Pernambucano, Diego Souza, Éder Luis, Alecssandro, Felipe Bastos, Bernardo, Élton, Ricardo Gomes, Cristóvão e cia, por fazerem do Vasco um dos melhores times do país no ano do nascimento do filho deste torcedor insano. Dante chegou na quarta-feira, 22 de junho de 2011, exatos quinze dias depois da melhor de nossas derrotas, na fria e inesquecível noite de Curitiba. Nasceu campeão, como o próprio Vasco.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...