terça-feira, 26 de setembro de 2017

UM ANO BOM



Janeiro fervia e era preciso comprar um desumidificador, daí a necessidade de sair da agradável umidade do Cosme Velho e pegar o carro até o Leblon. No caminho, já na Lagoa, não dava pra deixar de perceber a quantidade de pessoas vestidas com as cores do “maior do mundo”, e todas caminhando na mesma direção. Grupos enormes de gente reunida, que só aumentavam de tamanho na medida em que o carro se aproximava da sede do time deles, daquelas paredes descascadas que há décadas envolvem o campo de futebol. Estádio? Não, o “maior do mundo” não tem estádio. Tem apenas um campo de futebol, e só horas depois de presenciar aquele espetáculo surreal, que se estendia também pelas ruas do Leblon – todos com as cores do “maior do mundo”, caminhando para o mesmo local –, é que pude constatar, já no trabalho, na tevê da redação, que uma multidão suada se espremia, debaixo de sol, nas precárias instalações do “maior do mundo”, isso por volta das quatro da tarde de um dia de semana. O povo ocupava todo o gramado, voltado para um palco improvisado em que Ivo Meirelles fazia U-hu! Sandra de Sá entoava gritos de guerra e Lecy Brandão cantava um pagode. No auge da festa, surge o “melhor do mundo”, jogador que até já jogou muito bem, mas que nunca decidiu nada na vida, e que, tal qual foca amestrada, faz embaixadinhas e demais gracinhas com uma bola de futebol. A multidão delira, grita, berra e no fim de tudo deixa o saldo de um portão quebrado, deixando ainda mais precárias as instalações do “maior do mundo”. Diante dessas cenas, na tevê da redação, é inevitável pensar:

Vem coisa boa aí.


E o ano começa com um Mundial de Clubes chancelado pela Fifa, um torneio reunindo camisas como as do Barcelona, Milan, Boca Juniors, Sporting de Lisboa, Vasco da Gama, o “timão” e o “maior do mundo”. Na divisão das equipes, feita tal qual num drafting de NBA, o melhor jogador do mundo cai no “timão”, e o maior artilheiro vai vestir as cores do “maior do mundo”. O Vasco fica com dois ou três veteranos da seleção, nenhum deles perto do melhor do mundo, muito menos do grande artilheiro. A Globo se anima, investe no torneio e decide transmitir a final ao vivo, no Esporte Espetacular, só que o Vasco elimina o “timão” nas quartas-de-final, vence o “maior do mundo” na semifinal e vai para a final contra o Sporting de Lisboa. A Globo, então, é obrigada a mostrar, domingão de manhã, a vitória do Vasco, que, pioneiro mais uma vez, conquista o Primeiro Mundial de Clubes de Futebol de Areia. Enquanto isso, o “maior do mundo” celebra uma tal Copinha, vencida graças a um gol de pênalti, daqueles bem marotos, e a CBF decide mudar critérios. Não será o campeão brasileiro Sub-20 o único representante do País na primeira Libertadores Sub-20 da história. Será, sim, só pode ser, o campeão da tal Copinha, e o “maior do mundo” recebe, de mão beijada, a chance de ser pioneiro em alguma coisa pela primeira vez na vida. Com uma geração que, dizem os entendidos, é de ouro, do goleiro aos atacantes, vai para a tal Libertadores Sub-20, a primeira da história, como um dos favoritos.



No futebol profissional, depois da saída de um técnico dado a ataques de histeria e de um vagabundo metido a ídolo, o Vasco começa a se acertar. Ricardo Gomes chega. Diego Souza também. E o time engata uma sequência de goleadas e de ótimas atuações fora de casa, que culminam na conquista da Copa do Brasil, a primeira da história do clube. A volta à Libertadores está garantida. Os três jogos finais são vistos no Bar do Nilson, boteco no coração da zona portuária, reduto cruzmaltino em que brilham figuras como Tião Cachaça, vascaíno típico, negro como boa parte do time de 1923, que garantiu ao Vasco vitórias acachapantes nos primeiros confrontos da história contra seus três rivais da cidade, e que fez com que o time nascesse campeão, conquistando o primeiro campeonato carioca do qual participou. Uma conquista e tanto, se levarmos em conta que o “maior do mundo” nasceu vice, e vice de um time que não existe mais, e que em mais de 100 anos de campeonato só ganhou unzinho, justamente aquele em que o “maior do mundo” nasceu vice, em 1912. E mais: A sede do campeão carioca de 1912 fica, até hoje, em frente à carcomida sede do “maior do mundo”, como uma singela lembrança de como o “maior do mundo” nasceu para o futebol. Nasceu vice, e vice do Paisandu, que não é nem o de Belém do Pará.


O “maior do mundo” também disputou a Copa do Brasil, e como franco favorito, mas caiu nas quartas-de-final, abatido por uma carroça desembestada num filme já visto outras vezes. Comemorando efusivamente mais uma carioquinha conquistado na fórmula mágica de sempre, os mulambos tomam um sapeca-iá-iá do Ceará dentro de casa, casa aqui em termos figurativos, lógico, porque os mulambos, como se sabe, não têm estádio. No jogo de volta, o “melhor do mundo” começa com tudo, jogando muito, mas depois some do jogo, desaparece, e o Ceará leva a melhor. O juiz deixa de dar um pênalti claro contra o “maior do mundo” e o treinador mulambo, malandro que só ele, reclama do juiz, e continua reclamando semanas depois, em entrevistas coletivas depois dos jogos do Brasileirão, que já estava sendo disputado. Os favoritos ao título? Segundo os entendidos de sempre, eram o “timão” e o “maior do mundo”, que tinha o “melhor do mundo” em seu elenco.



Na Libertadores Sub-20, a primeira da história, “o maior do mundo” se classifica para as quartas-de-final, fica a três jogos do título histórico, mas toma de cinco de um time peruano. Na primeira Libertadores Sub-20, o futebol brasileiro volta pra casa sendo humilhado pelo futebol peruano, e o goleiro mulambo ainda agride o juiz com tapas de Didi Mocó, é obviamente expulso e deixa o campo chorando, aos prantos. Mais um na vasta coleção de vexames internacionais do “maior do mundo”.



Mas no Brasileirão, tudo vem seguindo o script. O “timão” lidera e os mulambos estão logo ali, no encalço, e o “melhor do mundo” vem sendo elogiado por todos os entendidos, que tem de voltar pra seleção, que tem de conduzir o Brasil ao hexa, que é muito melhor que Neymar etc etc etc. Só o que destoa é o Vasco ali, sempre entre os primeiros. Como assim o Vasco? Já conquistou a Copa do Brasil, já tá na Libertadores, e vai disputar o Brasileirão? Vai. E na última rodada do primeiro turno, o Vasco só precisa vencer o “maior do mundo” para assumir a liderança.



Tirando um único lance, em que Fernando Prass faz grande defesa, o jogo é um verdadeiro massacre do Vasco. Logo no começo, o zagueiro mulambo, ruim que só ele, entrega a bola de presente pra Diego Souza. O Camisa 10 do Vascão se livra do zagueiro com extrema facilidade e toma a banda por trás quando partia em direção ao gol, livre, já na meia-lua da grande área. Cartão vermelho obrigatório. Juninho bate a falta na trave e o bombardeio continua até que, no começo do segundo tempo, o técnico Ricardo Gomes sofre um AVC durante a partida e tem de deixar o estádio numa ambulância, em estado gravíssimo. Parte da torcida do “maior do mundo” grita das arquibancadas, com sorrisos nos rostos: Vai morrer! Vai morrer!


Mesmo assistindo a uma cena dessas do gramado, sem saber se seu treinador está vivo ou morto, os jogadores do Vasco continuam dominando amplamente o adversário. Duas, três bolas na trave, o goleiro mulambo fazendo quatro, cinco defesas difíceis, um massacre sem trégua, enquanto Fernando Prass assiste a tudo do gol vascaíno, sem ser incomodado. O “melhor do mundo”? Sumiu do jogo. Desapareceu. E o massacre continua até que, no último minuto, Bernardo domina na área e é atingido direto no tornozelo, por um carrinho com os dois pés do lateral mulambo. Pênalti escandaloso. Mas o juiz não marca. Depois do jogo, todos os entendidos afirmam que de fato, não há como negar, foi pênalti, mas alguns deles resolvem censurar o vascaíno que tomou o carrinho no tornozelo. “Ele abriu demais os braços quando caiu”, dizem, e são levados a sério, e esse tema chega a ser discutido em mesas redondas, tudo dentro da maior seriedade.



Com um técnico entre a vida e a morte, sendo treinado por um interino, o Vasco vai cair de produção, dizem os entendidos. Os favoritos continuam sendo os dois de sempre, o “timão” e o “maior do mundo”, que permanece como único invicto da competição até as últimas rodadas do turno, quando toma de quatro, em casa (lembrando sempre do sentido figurativo), do Atlético Goianiense. Daí em diante a mulambada fica quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez jogos sem vencer. Perde pro Avaí, toma sacode do Bahia em casa, perde do Atlético PR num daqueles estádios de aluguel do interior e se afasta da liderança. De segundo cai pra quarto, quinto, sexto, enquanto o “melhor do mundo” distribui carrinhos, entradas desleais e reclama cada vez mais dos juízes, toda hora, a exemplo do treinador mulambo, que reclama até do juiz do jogo contra o Vasco, numa malandragem que dá gosto de ver.



O Vasco? E não é que o Vasco ainda está lá nas cabeças, disputando o título? Pra ser líder, basta ganhar do Figueirense em Florianópolis, e ganha. Faz dois gols e toma só um, mas tem um dos gols anulados. O bandeirinha inventou alguma coisa que até hoje não conseguiu explicar e anulou o gol de Elton. Já o “maior do mundo” consegue vencer finalmente. Depois de tomar um baile do lanterna em casa no primeiro tempo, consegue a virada com um gol em impedimento nos últimos anos. A torcida se ouriça toda e brada: Deixou chegar!



Mas o Vasco continua ali, e não demora para alcançar a liderança, numa goleada de 4 a 0 sobre o Grêmio, com São Januário lotado. Show de Diego Souza, Fágner, Éder Luis e cia. A liderança é mantida por quatro rodadas, até que vem o Inter em Porto Alegre. Jogo difícil, ainda mais quando o Inter faz 1 a 0 no começo do segundo tempo. Mas o Vasco reage, Diego Rosa entra driblando na área e é derrubado. Pênalti claro. Mas o juiz não marca. Logo depois, marca falta inexistente ao lado da área do Vasco. Do cruzamento, sai o segundo do Inter, que ainda faria mais um. O “timão” volta à liderança. Já o “maior do mundo” continua atrás, lá pelo quarto lugar, mas consegue outra vitória nos últimos minutos, num fla-flu, e de virada, graças a uma falta inexistente e ao tradicional pênalti do adversário não marcado. A torcida delira e berra: Deixou chegar! Depois o time empata em casa contra o Palmeiras, com mais um gol irregular. Nessa altura, já toma corpo na mídia esportiva uma estatística que mostra que em todo o campeonato, em sei lá quantos jogos, não foi marcado um pênalti sequer a favor do “maior do mundo”. Mas como? Perguntam os “entendidos”, e debatem o assunto com toda a seriedade, e não conseguem buscar ao longo de tantas rodadas um lance sequer de pênalti que deveria ter sido marcado a favor do “maior do mundo”, e o treinador continua reclamando das arbitragens, malandro toda vida.



Eis que, faltando sete rodadas para o final, o Vasco volta à liderança com uma vitória sobre o Bahia na Bahia, bela atuação de Felipe, mais um jogaço de Diego Souza. A fase é tão boa que o Vasco ganha até o Brasileiro de Showbol, com show de Pedrinho. No jogo seguinte pelo Brasileiro, em São Januário, o time pressiona o São Paulo o jogo inteiro, mas o gol não sai, até que, nos últimos minutos, Allan domina a bola dentro da área e sofre uma espécie de golpe de jiu jitsu do lateral são-paulino, que caiu por cima do meia vascaíno segurando o braço dele. O juiz manda seguir o jogo e, com o empate garantido, o “timão” volta à liderança. Enquanto isso, o “maior do mundo” tem um jogo difícil no Sul. Depois de esnobar o clube que o formou, que o auxiliou nos primeiros passos na carreira, o “melhor do mundo” volta pela primeira vez ao estádio do clube que abandonou uma vez, e que traiu uma segunda vez, quando já tinha um contrato apalavrado mas resolveu, por grana, fechar com o “maior do mundo”. O jogo promete ser muito difícil. A torcida gremista investe em várias provocações e durante a semana só se fala em como o “melhor do mundo” reagirá. E ele até começa bem, ajudando seu time a abrir 2 a 0. Mas depois some do jogo, desaparece, e o “maior do mundo” acaba caindo de quatro, de novo.



Aí vem a Copa Sulamericana, e o “maior do mundo” resolve colocar suas estrelas em campo, inclusive o “melhor do mundo”, para o jogo contra a Universidad do Chile, La U para os íntimos, e desde o ano passado o “maior do mundo” é bem íntimo da La U, porque foi eliminado da Taça Libertadores pelos chilenos, com derrota no Maracanã jogando meio tempo com um a mais, o que completou uma triste estatística: O “maior do mundo” não vence um mata-mata de Libertadores contra time estrangeiro desde 1993, quando conseguiu vencer um time venezuelano qualquer nas oitavas. E só. De lá pra cá foram quatro confrontos, contando o vexame da Sub-20 no Peru, e quatro eliminações. Mas o “maior do mundo” tem a chance da vingança. Escala o time titular no jogo de ida, em casa (sentido figurado, não esqueçam) e.... Toma de quatro. Isso mesmo. Quatro a zero. Simplesmente a maior derrota da história do futebol brasileiro para o futebol chileno em território nacional. Mais um vexame pra coleção. O Vasco? E não é que o Vasco resolveu disputar também a Sulamericana e acabou caindo nas semifinais pela mesma La U, só que por 2 a 0 fora de casa, depois de empatar em casa, com o time todo morto de cansaço e sem três titulares. Eliminação digna, numa campanha que ainda serviu para redimir um pouco o vexame do futebol brasileiro no Peru, já que o Vasco meteu cinco gols no Universitário de Lima, conquistando a classificação para as semifinais numa daquelas viradas que só o Vasco consegue. Bom pra mostrar que nem só do “maior do mundo” vive o futebol brasileiro nas competições internacionais. Ainda bem. Aliás, da Sul-americana o que fica é a frase do técnico da La U antes de enfrentar o Vasco. Questionado sobre um suposto favoritismo de La U, depois do time ter vindo ao Rio para aplicar uma goleada vexatória no “maior do mundo”, o técnico argentino que treina o time chileno foi bem claro na resposta. “Vasco não é flamengo. Se passarmos pelo Vasco atingiremos outro patamar”.



Voltando ao Brasileirão, o Vasco vai enfrentar o Santos de Neymar, Ganso e cia. O Santos não quer mais nada no campeonato, mas resolve ir de força máxima. Neymar e Ganso juntos, e os dois jogam muito. O Santos faz 1 a 0 com um gol contra de Renato Silva, em falta batida por Neymar. Ainda no primeiro tempo, o Vasco empata. Diego Souza de cabeça. Mas o juiz vê a falta mais sutil do campeonato e anula o gol, por causa de um leve roçar de braço entre Diego e o zagueiro santista. Uma falta que, se fosse marcada sempre, prejudicaria bastante a carreira de um certo imperador, cuja maioria esmagadora dos gols foi conquistada na disputa pelo alto com os zagueiros, quando várias vezes os defensores se estatelavam no chão no choque com o imperador, que sempre jogou de braços bem abertos. Nesses casos, nunca foi marcada a tal falta. Os zagueiros caíam, segundo a opinião geral, porque o imperador era forte. Diego Souza, ao que parece, não é tão forte, e o juiz resolveu anular o gol. No segundo tempo, ainda com o placar de 1 a 0 Santos, o outro zagueiro santista resolve cortar um cruzamento com o braço, dentro da área. A bola ia fugindo de seu alcance e ele estica o braço pra rebatê-la. Mas o juiz nada marca. Depois, Felipe Bastos sofre falta no ataque do Vasco, o juiz, de novo, resolve não marcar e no contra-ataque o Santos faz 2 a 0, selando a derrota vascaína.


Depois de mais uma boa vitória, dessa vez sobre o Botafogo, o Vasco volta a jogar em São Paulo, contra o Palmeiras. Começa logo fazendo 1 a 0, Dedé de cabeça. Mas cede o empate no segundo tempo. Depois parte pra cima, tentando a vitória, e poderia até consegui-la, se o juiz marcasse o pênalti sobre Felipe, que, dentro da área, passou a não conseguir se mexer, pois um defensor do Palmeiras resolveu se jogar em cima dele. Nessa altura do campeonato, a CBF já tinha transferido a festa do título do Rio, onde a cerimônia sempre foi realizada, para São Paulo, terra do “timão”. Pra completar, o presidente da entidade, El Capo Teixeira, anuncia que o novo manda-chuva da CBF, abaixo apenas dele na hierarquia da confederação, será... o presidente do “timão”. Enquanto isso o Vasco tem mais dois gols legais anulados, um contra o Avaí e outro contra o Fluminense, mas chega à ultima rodada ainda brigando pelo título, apesar da situação difícil. Quando chega dezembro, o Vasco precisa vencer o “maior do mundo” e torcer para que o “timão” perca para o Palmeiras para ser campeão brasileiro. O “maior do mundo”? Não tem mais chance de título há algum tempo. Depois de ser exaltado como favorito ao título durante meses, depois de sua torcida gritar Deixou chegar! algumas vezes, depois das vitórias sofridas, sempre com um golzinho em impedimento, com um pênaltizinho não marcado para o adversário, o "maior do mundo" chega ao fim do ano com o incontestável título de maior cavalo paraguaio da era dos pontos corridos. Precisa de um empate pra garantir uma vaguinha na pré-Libertadores, ou de uma vitória e de uma derrota do Fluminense para entrar direto na fase de grupos da competição. E só.



Lembram do primeiro jogo? Do juiz que não marcou o pênalti escandaloso no último minuto? Acreditariam se eu dissesse que o mesmo juiz foi escalado para o segundo jogo entre o Vasco e o “maior do mundo”? Pois foi. E se eu dissesse que o mesmo juiz, de novo, deixou de dar um pênalti escandaloso a favor do Vasco? Contando ninguém acredita, né? Mas foi isso mesmo que aconteceu. Diego Souza entrou na área pronto pra chutar e sofreu um puxão de camisa daqueles de anúncio de gelol. O tal do Willians, jogador que, acreditem, chegou a ser cotado para a seleção, sequer se preocupou em tentar ser discreto. Esticou o braço todo, agarrou na camisa do vascaíno desesperado e puxou com força, com tanta força que o Diego Souza caiu para trás. E o juiz, o mesmo juiz que não deu o outro pênalti escandoloso no outro jogo, não marcou nada de novo. Update: O tal juiz, ao fim da temporada, recebeu o escudinho Fifa. Outro juiz, que perdeu o tal escudinho, saiu esbravejando denúncias sobre favorecimento da arbitragem a determinados times, entre eles citou explicitamente o "timão". As denúncias já caíram no vazio.



Mas mesmo assim, de novo, mais uma vez, o Vasco dominou amplamente o “maior do mundo”. Fez 1 a 0 com o mesmo Diego Souza, de cabeça, e só não foi para o intervalo com um placar mais elástico por capricho, e por causa do pênalti não marcado, lógico. Ainda no primeiro tempo, mais dois lances chamaram a atenção com relação à arbitragem. No primeiro, Jumar tomou cartão amarelo por uma falta que não existiu. No segundo, o mesmo Willians do pênalti se jogou na direção de Felipe quando este partia para um contra-ataque. Willians não achou nada, se jogou no vazio sem encostar em Felipe e se estatelou no chão. O meia vascaíno se viu livre, com a bola dominada e com várias opções de passe, com a defesa batendo cabeça, sem saber para onde correr, até que o juiz, rápido como só ele, soprou o apito e seguiu uma antiga tradição entre os árbitros brasileiros, sobretudo os do Rio de Janeiro, inventando mais uma falta a favor do “maior do mundo” e livrando a defesa mulamba do perigo de gol. O cartão amarelo do Jumar? Virou uma expulsão no começo do segundo tempo, numa falta que merecia apenas o cartão amarelo. Como foi o segundo cartão, graças àquele primeiro inventado do primeiro tempo, o Vasco se viu, mais uma vez na história dos confrontos com o “maior do mundo”, com um a menos em campo, isso logo depois do gol de empate do “maior do mundo”, numa jogada que, à primeira vista, pareceu impedimento. O tira-teima da Globo mostrou que o Deivid estava na mesma linha de um zagueiro vascaíno. De qualquer maneira, foi um gol muito mais anulável do que qualquer dos seis tentos legítimos do Vasco anulados na reta final do Brasileirão.



Com um a mais, o “maior do mundo” bem que poderia tentar a vitória. Bastava um gol contra o Vasco e mais um do Botafogo contra o Fluminense (estava 1 a 1 lá também) para pular de fase na Libertadores. Em vez de se classificar pra pré, passar direto pra fase de grupos e trocar de lugar com os tricolores. Mas o “maior do mundo”, mesmo com um a mais em campo, preferiu segurar o resultado. O goleiro, por exemplo, fazia cera sempre que tinha oportunidade para isso. Com o empate entre o “timão” e o Palmeiras, e o apito final no Engenhão, o Vasco perdeu o campeonato brasileiro. Depois de perder seu técnico no meio do campeonato, de ter seis gols legítimos anulados e seis pênaltis a seu favor não assinalados pelos árbitros, que poderiam dar à equipe, no barato, mais doze pontos, o Vasco termina a competição em segundo lugar, a dois pontos do campeão. Enquanto isso, depois de passar todo o campeonato sonhando com o título, depois de gritar Deixou chegar por várias semanas, toda vez que o time conseguia uma vitoriazinha, e depois de ver seu time chegar a lugar algum, provando mais uma vez, de novo, que o melhor slogan para definir o “melhor do mundo” seria Deixou chegar, tem que entregar, a torcida rubro-negra sai do estádio feliz da vida. Em menor número no estádio, até tenta “sacanear” os vascaínos com a tal história do vice que eles tanto adoram – ainda que tenham mais vices que o Vasco, ainda que o time deles seja mais vice do Vasco do que o Vasco é dele –, mas é abafada pelo gritos de incentivo da torcida vascaína aos seus jogadores, como reconhecimento da brilhante temporada do time, campeão da Copa do Brasil, garantido na fase de grupos da Libertadores. De qualquer maneira, os torcedores do “maior do mundo” vão as ruas celebrar ao fim do campeonato, e celebrar pelo simples fato de o Vasco não ter sido campeão. O “melhor do mundo” também tenta tripudiar dos vascaínos. Depois de completar seu nono ou décimo clássico em branco, sem marcar um golzinho sequer, ele desce os degraus para o vestiário gesticulando para a torcida vascaína. E depois diz que quer ficar no “maior do mundo” para o ano que vem. Em janeiro, logo na volta das férias, o “maior do mundo” enfrentará um time boliviano por uma vaga na Libertadores. Vem mais coisa boa aí.



O Vasco entrará direto na competição em fevereiro, na fase de grupos, graças a um time que, ao longo do ano, jogou muita bola, e aqui vai uma ligeira resvalada no pessoal, um agradecimento especial a Fernando Prass, Allan, Fágner, Dedé, Anderson Martins, Renato Silva, Jumar, Rômulo, Eduardo Costa, Felipe, Juninho Pernambucano, Diego Souza, Éder Luis, Alecssandro, Felipe Bastos, Bernardo, Élton, Ricardo Gomes, Cristóvão e cia, por fazerem do Vasco um dos melhores times do país no ano do nascimento do filho deste torcedor insano. Dante chegou na quarta-feira, 22 de junho de 2011, exatos quinze dias depois da melhor de nossas derrotas, na fria e inesquecível noite de Curitiba. Nasceu campeão, como o próprio Vasco.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...