sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Dois gols contra é bom, três é demais, e o ar blasé que dá bandeira


...mesmo com a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz, até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é Vaaaassco...

Quando Nenê bateu o escanteio fechado e Mateus Galdezani, do Coritiba, cabeceou pra dentro da rede, logo aos quinze do primeiro tempo, não deve ter faltado vascaíno otimista pensando em torcer com fervor pelo Botafogo contra o Corinthians, ainda mais com o super líder dando mostras e mais mostras de que pode, sim, deixar escapar o título. Quatro vitórias seguidas, uma delas num clássico, outras duas fora de casa e as duas últimas graças a um gol contra, tudo isso seria um sinal cabal, inquestionável, de que os deuses da bola estariam voltando a atuar, unidos, a nosso favor. Mas veio o chute de Rildo no segundo tempo, o desvio no peito de Breno que tirou Martin Silva da bola e o terceiro gol contra, pode-se dizer, em dois jogos, este um pouco demais, ao decretar o empate que, apesar de frustrante, acabou por deixar o Vasco a uma vitória simples de entrar na zona de classificação pra Libertadores, tirando dali o Flamengo.

Munidos de dois fla x flus pelas quartas-de-final da Copa Sulamericana, de olho na briga pelo título, na luta contra o rebaixamento, no Grêmio enfrentando o Barcelona no solo sagrado do Monumental de Guaiaquil, onde Mauro Galvão gritou o Casaca embaixo da Libertadores, focando em todos esses assuntos importantes os especialistas conseguiram, na análise da rodada passada do Brasileiro, passar ao largo com a exceção de comentários esparsos, sumidos, deste fato curiosíssimo, de o time apontado como virtual rebaixado antes do campeonato estar a uma vitória, no confronto direto, de trocar de lugar com o supermegatime milionário, candidato, nas previsões de início do ano, a todos os títulos possíveis e imagináveis, mesmo com Pará na lateral e Rafael Vaz na zaga.

E o técnico do Vasco ainda é o ex-técnico do Flamengo, escorraçado de lá pela própria torcida, indignada com o fato de o supermegatime milionário ter sido eliminado na fase de grupos da Libertadores, pela terceira vez seguida, e não conseguir sentir nem cheirinho do líder do campeonato. Pois Zé Ricardo tem mesmo a chance de fazer história de maneira agradabilíssima pra nós, vascaínos, e diante disso é impossível não se lembrar do programa de debates visto depois da rodada na qual o Vasco venceu o Grêmio e o Flamengo perdeu para o Botafogo.

Um dos especialistas, rindo, pedindo licença pra fantasiar, imaginou a hipótese de o Zé Ricardo botar o Vasco na Libertadores tirando o Flamengo, o que causou entre os quatro ou cinco outros debatedores expressões senão de desagrado, de surpresa, de como alguém poderia propor um disparate daqueles com uma diferença, ali, de quatro pontos, e logo o assunto foi abafado pra discussões, na visão deles, mais importantes. Hoje, nesta semana em que a diferença é de três pontos, com o mesmo número de vitórias pra cada lado, o comportamento da flapress vem sendo semelhante, e isso tem muito a ver com o ar blasé adotado pelo lado de lá, sempre disposto a minimizar rivalidades acreditando que, desse jeito, mostra algum tipo de superioridade, comportamento que surtiria muito mais efeito se eles não dessem tanta bandeira.

Iiiisso aqui não é Vaaaassco, canta a torcida rubro-negra em todos os jogos de seu time, podendo cantar qualquer outro possível adversário do Rio, do Brasil ou do planeta, mas escolhendo o Vasco, sempre, por algum motivo que a tal “indiferença” com relação ao clássico não explica. Foi também por causa do Vasco que a torcida do Flamengo inventou, com a Fla-Madrid, as camisas que nada mais são do que a prova física, o registro pra história do uso deliberado de instrumentos alheios com o intuito de atingir prazeres por si só impossíveis de conquistar, o que pode ser muito melhor traduzido com o popular e chulo “gozar com o pau dos outros”.

Mesmo assim, mesmo com a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz, até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é Vaaaassco...

No mesmo programa, o especialista que não é flamenguista nem vascaíno, nem tricolor, nem Olaria, nem Bangu nem América, o autor de uma das melhoras crônicas do título brasileiro de 1997, no Jornal do Brasil, disse que Botafogo e Vasco respeitam o Flamengo demais e o Fluminense, nem tanto. Por isso, na tese desse especialista, o Flu jogaria melhor do que os outros dois contra o Fla. E ouvindo isso fica difícil não perguntar o que tem a ver com respeito uma bola entrar mais de 30 centímetros e o gol não ser validado, ou um impedimento clamoroso no gol do título, no minuto final, ou a anulação de um gol legítimo como o de Dodô na final de 2007, ou qualquer outro das dezenas de erros de arbitragens que, nos jogos decisivos, por uma dessas “coisas do futebol”, favorecem sempre o mesmo time.

Que os vascaínos não se revoltem com essas coisas, que, pelo contrário, se divirtam com esse tipo de comentário, porque eles podem até sumir de vez em quando, como ali entre os anos de 1997 e 2000, mas sempre voltam, fazem parte de um receituário antigo, a mistura de muita exaltação de um lado, com vista grossa pra comemorações de árbitro em gols ilegais e sopradas no ouvido do juiz de terno e gravata, e do outro lado o desdém calculado, adicionado à dose exagerada da ingenuidade em achar que falando, repetindo, superdimensionando campeonatos cariocas conquistados com faltas inexistentes ou minimizando um torneio continental, o primeiro deles, pode-se mudar algo há tanto tempo estabelecido pelos deuses da bola, desde o primeiro confronto, em 1923, com vitória vascaína, e de virada, no ano de estreia do Vasco na primeira divisão carioca, estreia como campeão e tendo como vice, o Flamengo.

Depois de uma sequência feliz de três vitórias seguidas e quatro textos, sempre nos dias dos jogos, o A pauta é Vasco entra agora no ritmo da semana cheia, no qual o post do dia útil, sem jogo do Vasco, pode ser publicado na segunda, na terça, na quarta, na quinta ou na sexta, a depender do humor, do tempo disponível, dos graus das febres dos filhos etc. Fora isso haverá sempre o texto do dia do jogo, com um erro de arbitragem marcado contra o Vasco, a favor do adversário da vez, cronograma a ser seguido por aqui, com a disciplina de um militar rastafári, até o fim do campeonato.

No mais, com relação ao último jogo, fica o lamento por Wellington não ter tocado pra trás aquela bola que ele preferiu carimbar no goleiro, e a decisão de voltar atrás novamente em termos editoriais, nessa metamorfose constante que é o blog. Depois de questionar a escalação de Wagner e ele fazer aquele golaço contra o Avaí, depois de tentar o mesmo com Thalles e ele dessa vez confirmar minhas previsões de brincadeirinha, depois de decidir não dar mais pitacos sobre jogadores específicos e ver o time marcar dois gols contra em dois jogos, e mais nada, tenho a dizer que contra o Flamengo espero de Mateus Vital aquela jogada na raça a partir da intermediária, ganhando de um na dividida, do outro no carrinho e se levantando pra fazer o gol de fora da área, pegando na veia. E de Andrés Ríos espero nova expulsão, mas dessa vez levando alguém do outro lado junto, de preferência o Juan.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...