...mesmo com a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz, até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é Vaaaassco...
Quando Nenê bateu o
escanteio fechado e Mateus Galdezani, do Coritiba, cabeceou pra dentro da rede,
logo aos quinze do primeiro tempo, não deve ter faltado vascaíno otimista pensando
em torcer com fervor pelo Botafogo contra o Corinthians, ainda mais com o super
líder dando mostras e mais mostras de que pode, sim, deixar escapar o título.
Quatro vitórias seguidas, uma delas num clássico, outras duas fora de casa e as
duas últimas graças a um gol contra, tudo isso seria um sinal cabal,
inquestionável, de que os deuses da bola estariam voltando a atuar, unidos, a
nosso favor. Mas veio o chute de Rildo no segundo tempo, o desvio no peito de
Breno que tirou Martin Silva da bola e o terceiro gol contra, pode-se dizer, em
dois jogos, este um pouco demais, ao decretar o empate que, apesar de
frustrante, acabou por deixar o Vasco a uma vitória simples de entrar na zona
de classificação pra Libertadores, tirando dali o Flamengo.
Munidos de dois fla
x flus pelas quartas-de-final da Copa Sulamericana, de olho na briga pelo
título, na luta contra o rebaixamento, no Grêmio enfrentando o Barcelona no
solo sagrado do Monumental de Guaiaquil, onde Mauro Galvão gritou o Casaca embaixo da Libertadores, focando em todos esses assuntos importantes os
especialistas conseguiram, na análise da rodada passada do Brasileiro, passar
ao largo com a exceção de comentários esparsos, sumidos, deste fato
curiosíssimo, de o time apontado como virtual rebaixado antes do campeonato
estar a uma vitória, no confronto direto, de trocar de lugar com o
supermegatime milionário, candidato, nas previsões de início do ano, a todos os
títulos possíveis e imagináveis, mesmo com Pará na lateral e Rafael Vaz na
zaga.
E o técnico do Vasco
ainda é o ex-técnico do Flamengo, escorraçado de lá pela própria torcida,
indignada com o fato de o supermegatime milionário ter sido eliminado na fase
de grupos da Libertadores, pela terceira vez seguida, e não conseguir sentir
nem cheirinho do líder do campeonato. Pois Zé Ricardo tem mesmo a chance de
fazer história de maneira agradabilíssima pra nós, vascaínos, e diante disso é
impossível não se lembrar do programa de debates visto depois da rodada na qual
o Vasco venceu o Grêmio e o Flamengo perdeu para o Botafogo.
Um dos
especialistas, rindo, pedindo licença pra fantasiar, imaginou a hipótese de o
Zé Ricardo botar o Vasco na Libertadores tirando o Flamengo, o que causou entre
os quatro ou cinco outros debatedores expressões senão de desagrado, de
surpresa, de como alguém poderia propor um disparate daqueles com uma
diferença, ali, de quatro pontos, e logo o assunto foi abafado pra discussões,
na visão deles, mais importantes. Hoje, nesta semana em que a diferença é de
três pontos, com o mesmo número de vitórias pra cada lado, o comportamento da
flapress vem sendo semelhante, e isso tem muito a ver com o ar blasé adotado
pelo lado de lá, sempre disposto a minimizar rivalidades acreditando que, desse
jeito, mostra algum tipo de superioridade, comportamento que surtiria muito
mais efeito se eles não dessem tanta bandeira.
Iiiisso aqui não é
Vaaaassco, canta a torcida rubro-negra em todos os jogos de seu time, podendo
cantar qualquer outro possível adversário do Rio, do Brasil ou do planeta, mas
escolhendo o Vasco, sempre, por algum motivo que a tal “indiferença” com
relação ao clássico não explica. Foi também por causa do Vasco que a torcida do
Flamengo inventou, com a Fla-Madrid, as camisas que nada mais são do que a
prova física, o registro pra história do uso deliberado de instrumentos alheios
com o intuito de atingir prazeres por si só impossíveis de conquistar, o que
pode ser muito melhor traduzido com o popular e chulo “gozar com o pau dos
outros”.
Mesmo assim, mesmo com
a torcida vascaína dividindo meio e meio um estádio lotado em Manaus, coisa que
nem Botafogo nem Fluminense jamais imaginariam fazer, mesmo com o Vasco tendo o
dobro de campeonatos continentais que seu maior rival na cidade, sem falar na
nossa Copa Mercosul muito, mas muito mais bonita que a deles, conquistada
daquele jeito na virada não de um século, mas de todo um milênio, mesmo com
tudo isso quatro especialistas concordavam ao vivo, em outro programa de
debates, no dia do Fla x Flu da Sulamericana, a três do Fla x Vasco que pode
inverter as posições na tabela, concordavam todos que não existe o “maior
rival” do Flamengo no Rio de Janeiro. E em todo jogo do Flamengo a nação incapaz,
até hoje, de construir um estádio grita alto, na raça: iiiisso aqui não é
Vaaaassco...
No mesmo programa, o
especialista que não é flamenguista nem vascaíno, nem tricolor, nem Olaria, nem
Bangu nem América, o autor de uma das melhoras crônicas do título brasileiro de
1997, no Jornal do Brasil, disse que Botafogo e Vasco respeitam o Flamengo
demais e o Fluminense, nem tanto. Por isso, na tese desse especialista, o Flu
jogaria melhor do que os outros dois contra o Fla. E ouvindo isso fica difícil
não perguntar o que tem a ver com respeito uma bola entrar mais de 30 centímetros
e o gol não ser validado, ou um impedimento clamoroso no gol do título, no
minuto final, ou a anulação de um gol legítimo como o de Dodô na final de 2007,
ou qualquer outro das dezenas de erros de arbitragens que, nos jogos decisivos,
por uma dessas “coisas do futebol”, favorecem sempre o mesmo time.
Que os vascaínos não
se revoltem com essas coisas, que, pelo contrário, se divirtam com esse tipo de
comentário, porque eles podem até sumir de vez em quando, como ali entre os
anos de 1997 e 2000, mas sempre voltam, fazem parte de um receituário antigo, a
mistura de muita exaltação de um lado, com vista grossa pra comemorações de
árbitro em gols ilegais e sopradas no ouvido do juiz de terno e gravata, e do
outro lado o desdém calculado, adicionado à dose exagerada da ingenuidade em
achar que falando, repetindo, superdimensionando campeonatos cariocas
conquistados com faltas inexistentes ou minimizando um torneio continental, o
primeiro deles, pode-se mudar algo há tanto tempo estabelecido pelos deuses da
bola, desde o primeiro confronto, em 1923, com vitória vascaína, e de virada,
no ano de estreia do Vasco na primeira divisão carioca, estreia como campeão e
tendo como vice, o Flamengo.
Depois de uma
sequência feliz de três vitórias seguidas e quatro textos, sempre nos dias dos
jogos, o A pauta é Vasco entra agora no ritmo da semana cheia, no qual o post
do dia útil, sem jogo do Vasco, pode ser publicado na segunda, na terça, na
quarta, na quinta ou na sexta, a depender do humor, do tempo disponível, dos
graus das febres dos filhos etc. Fora isso haverá sempre o texto do dia do
jogo, com um erro de arbitragem marcado contra o Vasco, a favor do adversário
da vez, cronograma a ser seguido por aqui, com a disciplina de um militar rastafári,
até o fim do campeonato.
No mais, com relação
ao último jogo, fica o lamento por Wellington não ter tocado pra trás aquela
bola que ele preferiu carimbar no goleiro, e a decisão de voltar atrás
novamente em termos editoriais, nessa metamorfose constante que é o blog.
Depois de questionar a escalação de Wagner e ele fazer aquele golaço contra o
Avaí, depois de tentar o mesmo com Thalles e ele dessa vez confirmar minhas
previsões de brincadeirinha, depois de decidir não dar mais pitacos sobre
jogadores específicos e ver o time marcar dois gols contra em dois jogos, e
mais nada, tenho a dizer que contra o Flamengo espero de Mateus Vital aquela
jogada na raça a partir da intermediária, ganhando de um na dividida, do outro
no carrinho e se levantando pra fazer o gol de fora da área, pegando na veia. E
de Andrés Ríos espero nova expulsão, mas dessa vez levando alguém do outro lado
junto, de preferência o Juan.