Passada a vigésima nona rodada, pela primeira vez não se ouvem mais especialistas relacionando o Vasco a qualquer risco de rebaixamento, como fizeram todos desde antes do início do campeonato, e continuavam, em menor número, mas continuavam, até a vitória aparentemente sem graça no histórico gramado do Serra Dourada
Há algo de promissor
numa vitória por 1 a 0 contra o lanterna, com um gol contra. Um calor
desgraçado no campo enorme do Serra Dourada, maior que o burocrático padrão
Fifa, chato, o time jogando em ritmo de dois pra lá dois pra cá, nosso melhor
zagueiro deixando o campo lesionado, Nenê isolando lançamentos acima do ponto
mais alto das traves do futebol americano e mesmo assim o Vasco saindo com os
três pontos, completando pela primeira vez, depois de cinco anos, três vitórias
seguidas na Série A, tudo isso deve ser efusivamente comemorado.
A chave foi virada.
Passada a vigésima nona rodada, pela primeira vez não se ouvem mais
especialistas relacionando o Vasco a qualquer risco de rebaixamento, como
fizeram todos desde antes do início do campeonato, e continuavam, em menor
número, mas continuavam, até a vitória aparentemente sem graça no histórico
gramado do Serra Dourada, que colocou o time, de vez, na luta pelo
tricampeonato sul-americano. Vitória garantida por Martin Silva lá atrás, com
três ou quatro defesas providenciais, e com gol de novo trabalhado, com a
participação até de Bruno Paulista.
O volante de 1,90m
de altura que se joga ao solo em nove de cada dez disputas de bola, dessa vez
não tinha adversário por perto e, de pé, rolou a bola pra trás, pra Breno, que
tocou para Andrés Rios, que passou a Pikachu, correu pra direita e recebeu de
volta pra fazer o cruzamento de primeira, reto, rasteiro, com a bola triscando
a linha da pequena área, dentro dela. Com Nenê e Mateus Vital atrás, olhando, a
dupla de defensores do Atlético Goianiense completou o serviço, e aqui fica o
registro da suprema coincidência que talvez queira dizer alguma coisa, o fato de
os dois gols contra a favor do Vasco neste Brasileiro terem acontecido fora de
casa, contra rubro-negros, provocados por cruzamentos de jogadores argentinos,
ambos barbudos, Rios contra o Dragão, Escudero contra o Vitória, os dois inaugurando
o placar no primeiro tempo.
Vá saber o que isto
quer dizer, vá saber, mas o fato é que o Vasco conquistou sua terceira vitória
seguida e aqui no blog continuará a ser respeitada, sem a menor pretensão de
tirar onde de pé quente, ainda, a tradição iniciada no texto de apresentação
para a primeira delas, contra o Avaí na Ressacada. O adversário da vez é o
Coritiba, eternamente do goleiro Rafael e seu visual Dennis Hopper em Sem
Destino, bigodudo, cabeludo e fechando o gol no Maracanã lotado por 90 mil
pessoas, pra ver a final do Brasileiro de 85 entre Coritiba e Bangu, no tempo
idílico que parece não voltar mais, de quando o Brasileirão tinha final.
Para o Vasco, no
entanto, o Coritiba será sempre aquele time que nos venceu na melhor de nossas
derrotas, a única que rendeu taça, no caso a Copa do Brasil nunca antes
conquistada, depois de oito anos sem títulos, de onze sem um troféu nacional.
Só que o assunto, como manda a tradição que completa hoje dez dias, é erro de
arbitragem, e nesse caso não há como não repetir a dose do último texto, não há
como deixar de citar mais um pênalti em Nenê não marcado, o derradeiro dos
vários, diversos erros grosseiros de arbitragem contra o Vasco na arrancada
digna de aplausos de pé, sempre, da reta final do Brasileiro de 2015.
Na última rodada do
campeonato, com o Vasco precisando da vitória para não cair e, além disso, da
não derrota do Fluminense para o Figueirense em Santa Catarina, aos 3 minutos
do segundo tempo Bruno Gallo escorrega na hora de chutar, ou passar, na entrada
da área adversária no semi-alagado gramado do Couto Pereira. Gallo consegue
passar, ou chutar, mesmo assim, a bola bate na perna do jogador do Coritiba
dando carrinho e sobe. Dentro da área, Riascos ganha no alto de seu marcador e
cabeceia a bola entre a marca do pênalti e a linha da pequena área, com Nenê de
frente pra ela, entre dois defensores.
Um pela frente,
outro por trás, o sanduíche em Nenê é mais ostensivo que um BigMac fotografado
pra propaganda. O comentarista de arbitragem aí ao lado, por exemplo, não tem dúvidas em afirmar que foi pênalti, claro, mas o juiz, desses agora todo marombados, pertinho do lance,
ostentando boa forma física, prefere nada marcar. Não passa nem um minuto quando
a bolinha vermelha da emissora avisa: gol do Figueirense.
Dezenove anos depois
de ver os vascaínos vencerem, sem qualquer interesse mais no campeonato, dois
de seus adversários diretos na campanha do primeiro rebaixamento de um time
grande carioca, em 1996, o Fluminense fez o que já se esperava dele, e mesmo se
o juiz tivesse marcado o pênalti claro em Nenê no Couto Pereira, mesmo assim o
Vasco seria rebaixado, com boa parte da mídia especializada gostando e
ignorando não só esse, mas todos os outros erros de arbitragem que tiraram do
time, no mínimo, 14 pontos.
A péssima campanha no primeiro turno provocou a
queda e pronto, sem influência de erro de arbitragem, sentenciou a mesma mídia
especializada que previa de novo o Vasco rebaixado em 2017 e agora, depois da
vitória contra o lanterna, com gol contra, é obrigada a guardar suas previsões
na gaveta, as mesmas para o ano que vem, muito provavelmente, em relação ao
Vasco.