sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Thalles decide de novo, e a convicção inabalável nos pênaltis contra o Vasco

Foto: Vasco

O Vasco caiu e hoje em dia, quando falam nesta queda, os especialistas lembram das bravatas do presidente vascaíno e nada de esquema de arbitragem, de erros crassos de juízes favorecendo times do mesmo estado, de visitas de cartolas a vestiários de árbitros, nada disso, assim como não se lembram da atuação calamitosa de Paulo César de Oliveira em 1999, só da entrada do então vice-presidente do Vasco em campo.

O Vasco tinha Carlos Germano no gol, Mauro Galvão na zaga, Felipe e Juninho Pernambucano no meio. No ataque, Donizete Pantera e Edmundo. Tinha sido campeão da Libertadores no ano anterior, ganhara o Brasileiro dois anos antes e ganharia de novo no ano seguinte, sem falar na Copa Mercosul. E naquele ano já tinha ganhado o Rio-São Paulo quando recebeu em São Januário, pelo campeonato brasileiro, o valoroso Paraná Clube, oriundo da fusão do valente Colorado com o digníssimo Pinheiros. Abriu o placar aos 37 do primeiro tempo, com Edmundo, e caminhava pra mais uma vitória tranquila em casa, de praxe naquela época, quando o juiz do jogo começou a fazer lambança,

Antes do apito final do primeiro tempo, Paulo César de Oliveira expulsou Juninho Pernambuco por suposta simulação, quando o meia invadiu a área pra disputar a bola com o goleiro saindo em lance que, pênalti ou não, era impossível não ter caído. No segundo tempo, parecia ter completado o serviço ao expulsar Alex Oliveira logo no começo. Com dois a mais em campo, o Paraná conseguiu empatar, mas Paulo César de Oliveira queria mais e resolveu expulsar o terceiro jogador do Vasco, simplesmente Mauro Galvão.

O Paraná viria a ser rebaixado naquele ano, mas, de acordo com a arbitragem de Paulo César de Oliveira, jogou sua melhor partida na temporada pra envolver, em pleno São Januário, o Vasco campeão carioca, brasileiro, da Libertadores, do Rio-São Paulo e futuro campeão brasileiro e da Mercosul, na única vez, aliás, que um time ganhou dois campeonatos desse nível (um nacional e um continental) ao mesmo tempo. Ou isso, ou o mais provável, um juiz determinado a ajudar um lado, pra justificar as três expulsões do Vasco dentro de São Januário, contra o futuro rebaixado Paraná. A torcida então se revoltou, com toda a justiça, e pra evitar uma invasão do campo ou coisa pior, que poderia prejudicar ainda mais o time no decorrer do campeonato, o então vice-presidente do Vasco entrou em campo.

Hoje, quando se lembra do episódio nas páginas ou telas da dita grande mídia, que na editoria de esporte, aqui no Rio, também atende pelo nome de flapress, só se fala na entrada do dirigente campo adentro como mais um episódio deplorável relacionado ao Vasco, dizem os especialistas, que não questionam em uma linha ou centésimo de segundo de vídeo sequer, nunca mais, a arbitragem escandalosa daquele jogo.

Tudo isso pra dizer que o juiz em questão virou comentarista de tevê e foi escalado pra falar da arbitragem do jogo de ontem entre Vila Nova e Vasco, no Serra Dourada, em Goiânia, pela segunda fase da Copa do Brasil. Thalles abriu o placar com um gol de placa (o que mais esse menino precisa fazer pra parar de ser vaiado?) e logo depois veio o lance no qual Paulo César de Oliveira mostrou que continua atuando bem ao gosto da emissora patroa dele.

Um jogador do Vila Nova recebe na esquerda da grande área, cruza e a bola bate no braço de Gilberto, que só não está mais colado ao corpo do que o braço de Vítor, no pênalti arranjado (mais um) com nota fiscal e tudo, pra iniciar a virada do coirmão que mais nos diverte nas Libertadores da vida, rumo ao título carioca de 1986. Este título, aliás, passou para a história muito mais pelas tais notas fiscais comprovando serviços prestados ao clube da Gávea por diletos juízes, notas estas que receberam o singelo nome de papeletas amarelas.

Mas voltemos, pois, ao Gilberto, que assim como Kelvin precisa sair do time, é enganador, firulento, incapaz de lançar ou cruzar ou passar uma bola mais longa a um jogador que não esteja com a camisa adversária. Gilberto precisa dar lugar ao Pikachu ou ao Madson, qualquer um dos dois é melhor que ele, que, no entanto, não teve culpa alguma no pênalti de ontem, e não teve porque estava com o braço no lugar certo na hora, colado ao corpo, o que não impediu Paulo César de Oliveira de mostrar certeza absoluta de que o árbitro, sim, estava certo, de que tinha sido pênalti claro.

Impossível, portanto, não remeter a outro comentário, em outro jogo do Vasco, não de um ex-árbitro, mas de um desses jornalistas especialistas que podem usar óculos, redondinhos ou não, e se vestem quase todos da mesma maneira, usam os mesmos termos e têm, todos, em relação ao Vasco, sempre a mesma opinião. O jogo foi um 2 a 2 com o São Paulo em pleno Morumbi, o gol de empate dos donos da casa, depois da virada do Vasco, teve impedimento e falta num defensor vascaíno, mas o especialista, que no caso usava óculos, não lembro se redondinhos, vociferava como se a arbitragem tivesse sido favorável ao Vasco, e tudo por causa de um pênalti, digamos, “mais pênalti” que o do Gilberto, ontem.

Madson recebeu na direita e cruzou a bola que encontraria Jorge Henrique livre, pronto para o arremate na marca do pênalti, não fosse o cotovelo do defensor são-paulino que não, não estava colado ao corpo. O sujeito deu um carrinho de braços abertos dentro da área. Durante o carrinho levantou os braços e na descida deles, o cotovelo do são-paulino, a pelo menos dez centímetros das costelas, pelo menos, desviou a bola que iria para Jorge Henrique. 

O árbitro deu o pênalti, expulsou o tricolor, que já tinha cartão amarelo, e isso foi suficiente para o comentarista afirmar quase aos berros, raivoso, que o juiz que validara o gol ilegal do empate do São Paulo havia beneficiado, na verdade, o Vasco, e isso porque o presidente do Vasco fizera pressão enorme após o jogo anterior do time. E no jogo anterior, contra a Chapecoense no Maracanã, o Vasco tinha sido ainda mais garfado do que no Morumbi.

Vitória sofrida de 1 a 0 até os 40 do segundo tempo, quando o atacante da Chape chuta dentro da área, a bola bate na cintura de Rodrigo, que tinha os braços escondidos atrás das costas, e o juiz dá pênalti. O Vasco sofre o empate e vai pra cima, tenta a vitória ainda e, córner batido, o bravo defensor da equipe catarinense disputa no alto com um vascaíno dentro da área e ganha no braço, estendido acima da cabeça dos dois, o braço esquerdo que desvia a bola na cara do bandeirinha que, por sua vez, segue a acompanhar o lance como se tudo fosse absolutamente normal, do jogo.

Terminada a partida, o presidente do Vasco afirma em entrevista coletiva que existe um esquema de arbitragem para favorecer os clubes de Santa Catarina no campeonato e, em consequência disso, prejudicar o Vasco na luta contra o rebaixamento. Afirma e dá nomes aos bois, no caso um presidente da Federação Catarinense de Futebol que ocupava, à época, uma vice-presidência na CBF. O presidente do Vasco afirma, ainda, que este dirigente catarinense tem o hábito de visitar o vestiário do árbitro momentos antes dos jogos dos times de seu estado

O cartola nega, chama o outro de mentiroso, avisa que vai processar o presidente do Vasco, mas volta atrás, desiste disso, talvez pelo aparecimento de súmulas de mais de um árbitro relatando visitas do citado vice da CBF aos seus vestiários, momentos antes de partidas de times de Santa Catarina. Nos programas esportivos, especialistas até dizem que alguma coisa deve ser investigada, que é estranho, de fato, um cartola visitar juízes em seus vestiários. Dizem isso, mas não se alongam muito no assunto, não, provavelmente pra não atrapalhar um campeonato tão legal, com o Corinthians liderando disparado, o Vasco prestes a ser rebaixado, tudo nos conformes, segundo as previsões deles. Imagina mexer no campeonato por causa de esquema de arbitragem, anular jogos, mudar a classificação, não, melhor deixar pra lá e, três, quatro dias depois do garfo ao Vasco no Maraca, das denúncias de seu presidente, do surgimento das súmulas comprovando as denúncias, menos de uma semana depois disso tudo o comentarista de óculos vociferava na tevê como se o Vasco fosse o time beneficiado pelas arbitragens.

O assunto então morreu enquanto nove entre dez especialistas da imprensa esportiva passaram a celebrar os 10 anos do grande furo de reportagem, a revelação de um esquema de arbitragem na capa da revista que falava em "quadrilha de apostadores que comprava juízes", assim mesmo, no plural, pra revelar um esquema que, na verdade, era de um juiz só, que apitou apenas partidas em que um certo Timão havia sido derrotado. O campeonato parou, jogos foram anulados, as derrotas do tal Timão viraram vitórias e a classificação mudou, caindo o Internacional pra segundo, subindo o Corinthians pra primeiro.

O juiz em questão, por exemplo, apitara a partida entre Santos e Corinthians na Vila Belmiro, vitória avassaladora da equipe da casa, de quatro, com show do veterano Giovanni e nenhum senão em relação à arbitragem. Mas como foi apitado pelo corrupto confesso, o jogo foi anulado e virou, depois, uma vitória por 3 a 2 do Corinthians com um gol irregular para o futuro campeão.

Depois de tudo isso, o Timão precisaria ainda do mais escandaloso erro de arbitragem do campeonato, fora diversos outros a seu favor, pra conseguir ser campeão, e dez anos depois os especialistas celebravam o furo que ajudou a dar o título ao Corínthians sem nem pensar em incomodar o tal juiz, que, aposto, deve viver uma aposentadoria tranqüila em algum canto isolado, ou não, do planeta, sem preocupações financeiras.

E no Brasileiro de 2015 o Vasco seguia sua sina de ser prejudicado pelas arbitragens, iniciada já na terceira rodada, em partida contra o Inter em São Januário na qual deixaram de ser assinalados dois pênaltis a favor do time carioca, um deles, em cima de Guiñazu, claríssimo. Nada que impedisse outros especialistas de, depois da vitória contra a Ponte Preta em Campinas, que marcaria o início de uma arrancada impensável pra eles, cogitarem, num descontraído programa de debates, a possibilidade de o Vasco, por ter mais camisa, vir a ser beneficiado pelos juízes em sua luta à beira do impossível contra a queda.

O questionamento foi feito antes do jogo contra o Cruzeiro no Mineirão, empate por 1 a 1 no qual Willians, do Cruzeiro, fazendo o que já havia feito com a camisa do Flamengo contra o mesmo Vasco, saltou na área de seu time pra cortar com o braço um perigoso cruzamento. Pênalti? Claro que não. Assim como não foi pênalti a cortada do defensor da Chapecoense no Maracanã e o bandeirinha daquele lance, a propósito, foi escalado para o jogo do Figueirense contra a Ponte Preta, em Campinas, a quatro rodadas do fim do campeonato.

O Figueirense, como se sabe, é de Santa Catarina, e disputava a permanência na Séria A ponto a ponto com o Vasco. E o jogo não foi 0 a 0 graças a um pênalti a favor do Figueirense, num cruzamento bem em frente ao bandeirinha que não dera o pênalti da Chape a favor do Vasco. A bola bateu no rosto do zagueiro da Ponte Preta, mas o bandeirinha confirmou a marcação do juiz, e o Figueirense só precisou converter o pênalti e vencer na última rodada o Fluminense.

Ao contrário do Vasco em 1996, que sem qualquer interesse no campeonato ganhou os dois últimos jogos contra dois adversários dos tricolores em sua briga contra a primeira queda de um grande clube carioca à segunda divisão, o Fluminense fez o que se espera da nobre estirpe dele nessas horas. Perdeu o jogo, e o Vasco, de novo, deixou de ter um pênalti claro a seu favor assinalado, em Nenê, e só empatou com o Coritiba fora de casa.

O Vasco caiu e hoje em dia, quando falam nesta queda, os especialistas lembram das bravatas do presidente vascaíno e nada de esquema de arbitragem, de erros crassos de juízes favorecendo times do mesmo estado, de visitas de cartolas a vestiários de árbitros, nada disso, assim como não se lembram da atuação calamitosa de Paulo César de Oliveira em 1999, só da entrada do então vice-presidente do Vasco em campo.

O jogo de ontem? Se encaminharia pra decisão por pênaltis se Thalles (sempre ele) não acertasse um cruzamento desesperado bem na cabeça de um zagueiro do Vila Nova que fez o imenso favor de cabecear da melhor maneira possível para que Wagner, na pequena área, cabeceasse para o gol decretando a vitória e a classificação do Vasco, apesar de mais um erro grave da arbitragem contra a equipe cruzmaltina, de novo com o beneplácito da mídia especializada.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...