Foto: Vasco
Quatro a zero fora de casa, com mão de argentino, e a mídia toda teve de mudar os prognósticos em relação ao respeitável Universidad de Concepción, que deixou de fora o Union Española, vice-campeão de 1975, e a outra Universidad mais conhecida, a Católica, também vice, em 1993, e que só do mais querido da mídia já ganhou quatro ou cinco vezes em Libertadores, lá e aqui. Isso sem falar em outro vice chileno, sumido, o Cobreloa, protagonista, em 1981, daquela que ficou conhecida em toda América, das matas amazônicas do Brasil, do Peru, da Venezuela e da Colômbia aos extremos gelados da Argentina e do Chile, como “la gran final de los chicos”.
Então Lelé,
autor dos dois gols da vitória da estreia no Sulamericano, 2 a 1 no Litoral da
Bolívia, a sete dias de completar 70 anos, então Lelé encarnou em Evander,
Andrés Rios trombou como Ismael, com o requinte do drible de letra, Danilo
guiou o passe de Wellington para que Paulinho honrasse Chico, Friaça e Ademir
com o calcanhar que deixou ela à feição pra Evander Lelé chegar varado, batendo
de primeira, de chapa, na costura da rede, tudo isso aos dois minutos de jogo,
no mesmo Chile do ano da graça de 1948. Então, contra todos os prognósticos dos
especialistas, o Vasco voltava à Libertadores enfiando 4 a 0 fora de casa, como
quem diz aquilo que, com o perdão da sonoridade insuperável da língua espanhola,
graças à cultura massificada da qual ninguém é imune, fica melhor em inglês:
I’m back.
Augusto,
Wilson e Rafagnelli se postaram junto a Erazo e a Ricardo, e quando se abriram
as brechas do desentrosamento natural, ainda, entre os zagueiros, Barbosa abençoou
Martin Silva. Eli fez Pikachu igualá-lo em tamanho em disputas com adversários
bem maiores, assustando até o goleiro quarentão dos caras, que caiu estatelado
pra entregar o terceiro gol ao nosso lateral. Jorge iluminou Henrique e
RibeRildo justificou o melhor dos apelidos bobos, globalizados, fazendo o que
deveria ter feito Diego Souza, outro grande craque vascaíno que um dia voltará.
Quatro a
zero fora de casa, com mão de argentino, e a mídia toda teve de mudar os
prognósticos em relação ao respeitável Universidad de Concepción, que deixou de
fora o Union Española, vice-campeão de 1975, e a outra Universidad mais
conhecida, a Católica, também vice, em 1993, e que só do mais querido da mídia
já ganhou quatro ou cinco vezes em Libertadores, lá e aqui. Isso sem falar em
outro vice chileno, sumido, o Cobreloa, protagonista, em 1981, daquela que
ficou conhecida em toda América, das matas amazônicas do Brasil, do Peru, da
Venezuela e da Colômbia aos extremos gelados da Argentina e do Chile, como “la
gran final de los chicos”.
Antes
imbatível em seus domínios de acordo com quase todas as previsões, pelo menos
contra o Vasco, a Universidad de Concepción passou a time chinfrim, ridículo, o
pior já visto por alguns dos especialistas, que também faziam questão de
maximizar a influência da arbitragem na vitória vascaína na mesma medida em que
minimizam benefícios muito mais escancarados ao seu time predileto.
Num site, o
colunista exaltou Evander, mas logo revelou seus motivos políticos. O pai de
Evander é dono do Centro de Treinamento onde o Vasco fez a pré-temporada este
ano, e o colunista, matreiro, pergunta se não é inconcebível, estranho ou coisa
parecida o pai do Evander ter um CT e o Vasco, não. No programa ao vivo na
tevê, o apresentador repercute a pergunta sem citar a fonte e os dois, tanto o
colunista do site quanto o apresentador da televisão, como integrantes do
exército de formadores da mesma opinião, única, da mídia, os dois apoiam incondicionalmente
a volta do grupo político que logo que assumiu o comando do Vasco, pelas mãos
da imprensa e da justiça, deixou que o clube perdesse, por falta de pagamento,
o CT Vasco Barra, com tudo necessário a um centro de treinamento, bem
localizado, que na gestão de Calçada e Eurico o Vasco tinha tomado do queridinho deles, especialistas.
Houve
também quem falasse em rebaixamento, sim, isso mesmo. Tal vitória poderia
mascarar muita coisa, essa era a teoria, e o Vasco poderia vivenciar a tragédia
de ir avançando na Libertadores, imagina, claro que sem a mais ínfima
possibilidade de título, não nem pensar, “e a gente tem que saber que tem um
brasileiro pela frente, onde haverá sempre o risco de rebaixamento”, disse o
cidadão, cujos óculos realçavam o ar inteligente com o qual bambaleava sua
argumentação.
Para a
mídia não importa o time, a camisa, a torcida, nada, em todo ano haverá risco
de rebaixamento para o Vasco, mas nessa fase da Libertadores, contra a
Universidad Concepción, todos concordam, sem muita alternativa, que o time já
está classificado. O jogo de hoje em São Januário é fava contada e é aí que
mora o perigo, até porque houve uma vez uma Libertadores, há dez anos exatos,
em que um certo time aqui do Rio também enfiou quatro no adversário estrangeiro
no primeiro jogo fora de casa, e na volta foi aquela surpresa diante do craque de
sangue índio, paraguaio, do time que, como nosso rival de hoje, também tinha
camisa amarela.
Atenção
redobrada, portanto, no retorno da Libertadores a São Januário, palco de uma das finais de 1998, contra outro time de camisa amarela. Atenção redobrada hoje
e na nossa quase certa viagem à Bolívia, e também até lá e depois, porque mesmo
com o time seguindo adiante contra todos os prognósticos, toda a torcida contra
dos especialistas obrigados a amargar essa vitória definidora do Vasco no
Chile, digerindo ainda até hoje a eliminação do supermegatime estrelado do
queridinho com zero ponto fora de casa no ano passado, em qualquer
circunstância a mídia estará sempre insuflando a guerra interna no Vasco, com a
ajuda inestimável da justiça disposta a tumultuar como pode o ambiente no
clube, com decisões sempre favoráveis ao candidato que ninguém diz quem é, e
que na entrevista coletiva na qual revelou o quanto é despreparado reclamou
abertamente das renovações de contrato de Evander e Paulinho, que, segundo ele,
dificultariam negociações futuras.
Diretas Já?
Pra botar esse desconhecido no comando do Vasco? Não agora, obrigado. Quem sabe
daqui a três anos, com respeito aos sócios votantes e beneméritos e sem nenhum
magistrado milionário, com o bolso abarrotado de auxílio-moradia, intervindo no
clube pra fazer a vontade da mídia. Que tumultuem outro clube, tipo o
Corinthians, de tantas brigas na recente eleição, ou o Flamengo, do
vice-presidente preso por suspeita de lavagem de dinheiro, porque no Vasco deve
continuar firme, forte, o lema primordial bradado na semana passada.
Liberta Já!
P.S. Não teve o condor de 1948
na camisa, sugerido pelo blog. Tava lá na manga o scudetto da Libertadores com
o número 1, de 98, sem qualquer referência nem no peito nem no braço, ao título
mais importante da história do clube. O Vasco perde mais uma oportunidade de
valorizar o que é só dele. Uma pena. Quem sabe agora nos 80 anos do título, se
o time estiver na Libertadores lá, se a estreia for no Chile. Ou então se passarmos pra fase de grupo, no encerramento dela, quando provavelmente jogaremos no mesmo Estádio nacional de Santiago na última rodada...