quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Reencontro glorioso, atenção redobrada

Foto: Vasco

Quatro a zero fora de casa, com mão de argentino, e a mídia toda teve de mudar os prognósticos em relação ao respeitável Universidad de Concepción, que deixou de fora o Union Española, vice-campeão de 1975, e a outra Universidad mais conhecida, a Católica, também vice, em 1993, e que só do mais querido da mídia já ganhou quatro ou cinco vezes em Libertadores, lá e aqui. Isso sem falar em outro vice chileno, sumido, o Cobreloa, protagonista, em 1981, daquela que ficou conhecida em toda América, das matas amazônicas do Brasil, do Peru, da Venezuela e da Colômbia aos extremos gelados da Argentina e do Chile, como “la gran final de los chicos”.

Então Lelé, autor dos dois gols da vitória da estreia no Sulamericano, 2 a 1 no Litoral da Bolívia, a sete dias de completar 70 anos, então Lelé encarnou em Evander, Andrés Rios trombou como Ismael, com o requinte do drible de letra, Danilo guiou o passe de Wellington para que Paulinho honrasse Chico, Friaça e Ademir com o calcanhar que deixou ela à feição pra Evander Lelé chegar varado, batendo de primeira, de chapa, na costura da rede, tudo isso aos dois minutos de jogo, no mesmo Chile do ano da graça de 1948. Então, contra todos os prognósticos dos especialistas, o Vasco voltava à Libertadores enfiando 4 a 0 fora de casa, como quem diz aquilo que, com o perdão da sonoridade insuperável da língua espanhola, graças à cultura massificada da qual ninguém é imune, fica melhor em inglês: I’m back.

Augusto, Wilson e Rafagnelli se postaram junto a Erazo e a Ricardo, e quando se abriram as brechas do desentrosamento natural, ainda, entre os zagueiros, Barbosa abençoou Martin Silva. Eli fez Pikachu igualá-lo em tamanho em disputas com adversários bem maiores, assustando até o goleiro quarentão dos caras, que caiu estatelado pra entregar o terceiro gol ao nosso lateral. Jorge iluminou Henrique e RibeRildo justificou o melhor dos apelidos bobos, globalizados, fazendo o que deveria ter feito Diego Souza, outro grande craque vascaíno que um dia voltará.

Quatro a zero fora de casa, com mão de argentino, e a mídia toda teve de mudar os prognósticos em relação ao respeitável Universidad de Concepción, que deixou de fora o Union Española, vice-campeão de 1975, e a outra Universidad mais conhecida, a Católica, também vice, em 1993, e que só do mais querido da mídia já ganhou quatro ou cinco vezes em Libertadores, lá e aqui. Isso sem falar em outro vice chileno, sumido, o Cobreloa, protagonista, em 1981, daquela que ficou conhecida em toda América, das matas amazônicas do Brasil, do Peru, da Venezuela e da Colômbia aos extremos gelados da Argentina e do Chile, como “la gran final de los chicos”.

Antes imbatível em seus domínios de acordo com quase todas as previsões, pelo menos contra o Vasco, a Universidad de Concepción passou a time chinfrim, ridículo, o pior já visto por alguns dos especialistas, que também faziam questão de maximizar a influência da arbitragem na vitória vascaína na mesma medida em que minimizam benefícios muito mais escancarados ao seu time predileto.

Num site, o colunista exaltou Evander, mas logo revelou seus motivos políticos. O pai de Evander é dono do Centro de Treinamento onde o Vasco fez a pré-temporada este ano, e o colunista, matreiro, pergunta se não é inconcebível, estranho ou coisa parecida o pai do Evander ter um CT e o Vasco, não. No programa ao vivo na tevê, o apresentador repercute a pergunta sem citar a fonte e os dois, tanto o colunista do site quanto o apresentador da televisão, como integrantes do exército de formadores da mesma opinião, única, da mídia, os dois apoiam incondicionalmente a volta do grupo político que logo que assumiu o comando do Vasco, pelas mãos da imprensa e da justiça, deixou que o clube perdesse, por falta de pagamento, o CT Vasco Barra, com tudo necessário a um centro de treinamento, bem localizado, que na gestão de Calçada e Eurico o Vasco tinha tomado do queridinho deles, especialistas.

Houve também quem falasse em rebaixamento, sim, isso mesmo. Tal vitória poderia mascarar muita coisa, essa era a teoria, e o Vasco poderia vivenciar a tragédia de ir avançando na Libertadores, imagina, claro que sem a mais ínfima possibilidade de título, não nem pensar, “e a gente tem que saber que tem um brasileiro pela frente, onde haverá sempre o risco de rebaixamento”, disse o cidadão, cujos óculos realçavam o ar inteligente com o qual bambaleava sua argumentação.

Para a mídia não importa o time, a camisa, a torcida, nada, em todo ano haverá risco de rebaixamento para o Vasco, mas nessa fase da Libertadores, contra a Universidad Concepción, todos concordam, sem muita alternativa, que o time já está classificado. O jogo de hoje em São Januário é fava contada e é aí que mora o perigo, até porque houve uma vez uma Libertadores, há dez anos exatos, em que um certo time aqui do Rio também enfiou quatro no adversário estrangeiro no primeiro jogo fora de casa, e na volta foi aquela surpresa diante do craque de sangue índio, paraguaio, do time que, como nosso rival de hoje, também tinha camisa amarela.

Atenção redobrada, portanto, no retorno da Libertadores a São Januário, palco de uma das finais de 1998, contra outro time de camisa amarela. Atenção redobrada hoje e na nossa quase certa viagem à Bolívia, e também até lá e depois, porque mesmo com o time seguindo adiante contra todos os prognósticos, toda a torcida contra dos especialistas obrigados a amargar essa vitória definidora do Vasco no Chile, digerindo ainda até hoje a eliminação do supermegatime estrelado do queridinho com zero ponto fora de casa no ano passado, em qualquer circunstância a mídia estará sempre insuflando a guerra interna no Vasco, com a ajuda inestimável da justiça disposta a tumultuar como pode o ambiente no clube, com decisões sempre favoráveis ao candidato que ninguém diz quem é, e que na entrevista coletiva na qual revelou o quanto é despreparado reclamou abertamente das renovações de contrato de Evander e Paulinho, que, segundo ele, dificultariam negociações futuras.

Diretas Já? Pra botar esse desconhecido no comando do Vasco? Não agora, obrigado. Quem sabe daqui a três anos, com respeito aos sócios votantes e beneméritos e sem nenhum magistrado milionário, com o bolso abarrotado de auxílio-moradia, intervindo no clube pra fazer a vontade da mídia. Que tumultuem outro clube, tipo o Corinthians, de tantas brigas na recente eleição, ou o Flamengo, do vice-presidente preso por suspeita de lavagem de dinheiro, porque no Vasco deve continuar firme, forte, o lema primordial bradado na semana passada.


Liberta Já!

P.S. Não teve o condor de 1948 na camisa, sugerido pelo blog. Tava lá na manga o scudetto da Libertadores com o número 1, de 98, sem qualquer referência nem no peito nem no braço, ao título mais importante da história do clube. O Vasco perde mais uma oportunidade de valorizar o que é só dele. Uma pena. Quem sabe agora nos 80 anos do título, se o time estiver na Libertadores lá, se a estreia for no Chile. Ou então se passarmos pra fase de grupo, no encerramento dela, quando provavelmente jogaremos no mesmo Estádio nacional de Santiago na última rodada...  

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