O Vasco é o clube brasileiro que mais tem confrontos contra campeões europeus na história, três no total, um dando baile, chocolate, e outros dois jogando de igual pra igual, mas a mídia especializada, hoje tão tristinha, tadinha, simula amnésia para enaltecer a atuação do queridinho dela que, em 120 minutos de jogo, ficou no zero e teve duas chances reais de gol, mais nada.
Donizete
Pantera deu o lençol em Mijatovic e tocou pra Vagner, que adiantou demais a
devolução e Hierro cortou pra Raul, que tocou pra Karembeu ali pela linha do
meio-campo. Felipe combateu, desarmou, tocou pra Ramon que enfiou pra Luizão já
dentro da área. Ele cruzou, Donizete trombou com o zagueiro e a bola voltou pro
Luizão que, sem ângulo, fuzilou. Goleiro titular da Alemanha campeã do Mundo em
90, Ilgner fez a defesa, espalmou e a bola, de tão forte, subiu pra cair na
quina da grande área, pra ser disputada entre dois caras: Juninho Pernambucano
e Redondo. Com um toque, Juninho dominou e tirou o argentino pra bater em
seguida de trivela, no ângulo. Depois Felipe bateu de fora da área, na veia, e
Ilgner defendeu o chute do lateral que, antes, já tinha partido pra cima do
italiano Panucci, driblado e chutado, cruzado, a bola que saiu perto, mas não
tão perto quanto a outra jogadaça do Felipe que arrancou cortando Hierro pra
dentro, Panucci pra fora e batendo cruzada, de novo, a bola que dessa vez
triscou a trave; e depois do gol fatídico do Real Madrid, vejam vocês, num
contra-ataque, Ramon ainda cabeceou para o zagueiro, desgraçado, salvar em cima
da linha; e pouco mais de um ano depois, num Maraca lotado, o Vasco da Gama,
brasileiro do Rio de Janeiro, fez o que fez com o então campeão europeu,
Manchester United, no primeiro Mundial da Fifa, com dois de Romário e um de
Edmundo, este, até hoje, o mais belo gol da história destes Mundiais.
Por duas
vezes em pouco mais de um ano, o Vasco da Gama, carioca da gema, enfrentou o
campeão europeu de igual pra igual, uma na Copa Intercontinental, Toyota, outra
num Mundial da Fifa. Venceu no Mundial em casa com show de seus craques, gol de
placa, botando o Manchester United na roda, e perdeu a outra com dignidade,fazendo golaço, metendo bola na trave, tomando gol do Real Madrid no contra-ataque
e não desistindo, com o zagueiro deles salvando, no último minuto, em cima da
linha, e hoje a mídia especializada, tristinha, consola-se afirmando
peremptoriamente, com convicção de lava-jato, que nunca antes viu um time brasileiro
atuando contra o campeão europeu como o time dela, querido, que ficou no zero e
teve duas, isso mesmo, duas claras oportunidades de gol durante 120 minutos, e
mais nada.
E se, para
enaltecer seu clube do coração, finge não se lembrar das façanhas desse tal de
Vasco há dezenove, vinte e um anos, claro que a mídia especializada não iria
falar do Torneio de Paris de 1957, quando o Vasco, da mesma cidade do time dela,
se tornou o primeiro e único clube de outro continente a vencer o único pentacampeão
europeu no sentido literal, com cinco taças seguidas, durante esse
pentacampeonato. O Vasco de Orlando, Vavá, Sabará e cia, primeiro e único campeão
sulamericano até então, venceu por 4 x 3 (esse placar santo pra Cruz de Malta) o Real Madrid de Di Stéfano, Gento e Kopa, que tinha acabado de faturar
o bi europeu. Foi a primeira conquista do futebol sulamericano em solo europeu,
um ano antes de Bellini erguer nossa primeira Copa na Suécia, foi o torneio
precursor do Intercontinental de Clubes, que começaria três anos depois, e
poderia ser chamado de Mundial, também, se não tivesse feito parte de algo maior, porque na mesma excursão à Europa de 1957 o Vasco meteu 7
a 2 no Barcelona em pleno Camp Nou, e de quebra faturou a Taça Teresa Herrera,
vencendo, por 4 a 2, o Athletic de Bilbao, aliás, a primeira Teresa Herrera conquistada por um brasileiro..
Enquanto
isso, no Brasil, outra parte do time que não viajou pra Europa, incluindo
Bellini, formou um combinado com o Santos pra atuar num torneio amistoso no
qual um certo Pelé, com 17 aninhos, fez seus primeiros gols no Maracanã, cinco,
todos com a camisa do Vasco, três contra o Belenenses de Portugal, um contra o
Dínamo de Zagreb e outro, vejam vocês, contra o Flamengo. Dali Pelé, pela
primeira vez, foi convocado, para semanas depois marcar seu gol inaugural com a
Seleção, no mesmo Maracanã, na derrota de 2 a 1 para a Argentina.
Primeiro
clube campeão continental da história do futebol, dono desta condição que é
eterna, o Vasco vive certo anticlímax em relação a títulos, qualquer título,
desde 1948, sensação que veio a ser reforçada nove anos depois, com o ano da
graça de 1957. Esse anticlímax, no entanto, tem efeito invertido, apaziguador,
pra quem sabe apreciar a história, cada história de cada taça, como a da Taça
Guanabara deste ano, por exemplo, nosso único troféu de 2019, conquistado pela
nossa torcida na marra, no nosso lado de sempre no Maraca, contra o time que sorrateiramente,
no tapetão, tungou o direito conquistado em campo pelo Vasco, primeiro clube campeão
no estádio, isso semanas antes de o governador genocida entregar o bem público ao rubro-negro
do VAR e da Gávea, um presente e tanto meses depois de, nas instalações do clube
agraciado, morrerem dez meninos, queimados.
Primeiro, único, quantas vezes essas palavras já foram repetidas nesta reflexão rápida. Primeiro e único campeão do torneio precursor da Libertadores, primeiro e único campeão da taça precursora do Mundial, primeiro campeão do Maracanã, único a ter Pelé com sua camisa nas origens do melhor do mundo, fazendo cinco gols, um deles contra o maior rival, primeiro do Brasil a ter um jogador seu levantando a primeira de nossas Copas. O tempo não para, o que passou tá passado, lavrado na pedra do eterno, e no que se refere à História, assim, com H maiúsculo, o Vasco está em outro patamar e isso é pra sempre, não volta.
Primeiro, único, quantas vezes essas palavras já foram repetidas nesta reflexão rápida. Primeiro e único campeão do torneio precursor da Libertadores, primeiro e único campeão da taça precursora do Mundial, primeiro campeão do Maracanã, único a ter Pelé com sua camisa nas origens do melhor do mundo, fazendo cinco gols, um deles contra o maior rival, primeiro do Brasil a ter um jogador seu levantando a primeira de nossas Copas. O tempo não para, o que passou tá passado, lavrado na pedra do eterno, e no que se refere à História, assim, com H maiúsculo, o Vasco está em outro patamar e isso é pra sempre, não volta.
No
Brasileiro, fadado, segundo a mídia, à luta ferrenha contra o rebaixamento, acabaríamos
na Libertadores, não fosse o apito de sempre, agora turbinado pelo VAR. O
golaço de Pikachu contra o Grêmio, 2 a 0 no comecinho do segundo tempo, foi
anulado, o de Werley na Arena Corinthians, também, no roubo que já tá no
Calendário, todo ano, sem falta; o juiz do jogo com o CSA em Cariacica tava
acertado com o empate e no Ceará, a linha do VAR atuou, de novo. Dez pontos, no
mínimo, sem contar a falta inventada no Gerson pro primeiro empate da mulambada
em outra atuação do Vasco repleta de significados. Tivemos
Marrony, Talles Magno, era pra ficarmos na Libertadores, mas acabamos na Sula e
isso pode ser ótimo, um caminho menos difícil, quem sabe, contra todos os prognósticos, para
mais duelos intercontinentais. No mesmo patamar que o Santos e o São Paulo, o Vasco é o clube brasileiro que mais tem confrontos contra campeões europeus na história, três no total, um dando baile, chocolate, e outros dois jogando
de igual pra igual, mas a mídia especializada, que em 98 tratou em tom de
escárnio nossa derrota para o Real, hoje tão tristinha, tadinha, simula amnésia
para enaltecer a atuação do queridinho dela que, em 120 minutos de jogo, teve goleiro fazendo cera, o juiz e o VAR sempre a postos, e ficou no zero, com duas chances reais de gol e mais nada.
Pitacos em itálico
Vinte e um anos de diferença é muto tempo, todos concordavam, e diante da evidência registrada, a cores e em preto e branco, um deles, com o mérito indiscutível de nessa hora não gaguejar, propôs sofisticar o debate, e talvez por isso, vá saber, as argumentações, e aí com muita gente gaguejando (fazer o quê?) chegaram à internet, à não existência do WhatsApp e ao ICQ.
Vinte e um anos de diferença é muto tempo, todos concordavam, e diante da evidência registrada, a cores e em preto e branco, um deles, com o mérito indiscutível de nessa hora não gaguejar, propôs sofisticar o debate, e talvez por isso, vá saber, as argumentações, e aí com muita gente gaguejando (fazer o quê?) chegaram à internet, à não existência do WhatsApp e ao ICQ.
E agora, meus caros, para todo o sempre temos uma imagem, a cena que comprova ao vivo, in loco, no ato, a existência daquela entidade tão evidente a todos, há tanto tempo, mas ainda assim, na cara dura, negada. O editor de esportes, a dar plantão com o “manto sagrado”, tira a camisa e corre pela redação aos pulos, aos berros, alucinado, enquanto outro funcionário da mesma redação, também vestido com o “manto”, chega a chorar de emoção, e os dois, no fim, se abraçam. Eis, em seu habitat, em pleno ato, a flapress tão escancarada há tanto tempo, e, no entanto, pateticamente, entre evasivas e mudanças bruscas de assunto, sempre negada.
E agora também documentada, pra toda a eternidade, pela comparação das primeiras páginas dos jornais dela, flapress, em situações quase idênticas do time dela e do Vasco, quase porque o Vasco não estava megahipeturbinado por muito mais grana em relação aos rivais nacionais como está hoje o rubro-negro da Gávea, nem tinha em seu plantel ninguém dopado, e ainda assim jogou muito mais contra o Real Madrid de Ilgner, Roberto Carlos, Redondo, Seedorf e Raul do que jogou, contra o Liverpool de Alisson, Van Dijk, Salah, Mané e Firmino, o rubro-negro do ex-juiz, do narrador, dos comentaristas, do repórter de campo e das papeletas amarelas, e também de nove entre dez dos especialistas que ao vivo na telinha, na lata, tentavam explicar. Vinte e um anos de diferença é muito tempo, todos concordavam, e diante da evidência registrada, a cores e em preto e branco, um deles, com o mérito indiscutível de nessa hora não gaguejar, propôs sofisticar o debate, e talvez por isso, vá saber, as argumentações, e aí com muita gente gaguejando (fazer o quê?), chegaram à internet, à não existência do WhatsApp e ao ICQ.
*Sabe o Bruno Henrique, que foi eleito o melhor do Brasileiro, o melhor
da Libertadores, apontado por dez entre dez especialistas como o jogador mais
decisivo do ano, enaltecido por todos pela velocidade impressionante e que,
contra o Vasco, no histórico 4 a 4, fez dois golaços arrancando disparado no
segundo tempo, aos 29 anos, sem registro de nada parecido com esses lances
incríveis no início da carreira, antes de começar a aplicar um certo colírio?
Pois Bruno Henrique foi pego no exame antidoping justamente no 4 a 4 com o
Vasco, uma substância proibida que apareceu, mas que não era nada, não tinha
nada de errado, apressou-se em explicar a mídia especializada, com a
justificativa de que o clube querido dela pediu autorização para usar o
remedinho num tratamento médico do atleta, e a CBF, amiga, parceira, autorizou.
Doping autorizado e pronto, assunto encerrado, e Bruno Henrique continuou a ser
enaltecido pela mídia especializada, exaltado como craque com velocidade
inigualável, incrível, ele que, aos 29 anos de idade, pelo desempenho bem abaixo
do atual nos primeiros oito ou nove anos de sua carreira, quando, tudo indica,
deveria ser ainda mais veloz, mas não era, continua com menos gols na vida toda
do que nosso lateral, Yago Pikachu, que é dois anos mais novo.
*A propósito do 4 a 4, postei no Facebook o texto abaixo. O especialista em questão foi um dos que cravou ontem que o time dele jogou de igual pra igual contra o Liverpool.
Sem apito, pros caras, realmente não rola, mas o supertime estava jogando muito e a mídia, empolgada, só disso falava, e o comentarista de arbitragem, ex-árbitro, achou difícil, muito difícil ver o rapa de Rodrigo Caio em Pikachu depois de nosso capitão meter uma caneta de letra no espanhol do B da zaga deles, levando junto o tal do Gérson que deu cinco, seis pegadas, sola no tornozelo, agarrão por trás, rasteira, até finalmente, depois dos 30 do segundo tempo, tomar o amarelo. Difícil, muito difícil ver o rapa de Rodrigo Caio em Pikachu, mas o comentarista de arbitragem viu falta em Rafinha no primeiro gol do Vasco. Danilo Barcellos tomou a bola por trás e o lateral de capacete dobrou os joelinhos como fez, fora da área, contra o Emelec. Jogou-se como a camélia que caiu do galho e o ex-árbitro da tevê, na cara dura, viu falta, assim como viu o toque sutil, muito sutil no lance em que o próprio locutor narrou que Gerson escorregou e caiu. Como se sabe, com eles, sem apito não rola. Bruno Henrique é foda, cracaço, dizia, em outras palavras, o especialista que definiu a atuação de seu time com palavras dignas de torcedor puto com o empate que era vitória até o minuto final, sofrível, ridícula, definia o comentarista que não pronunciou o nome de Ribamar e batia pé, afirmava que não, não e não, o Vasco não jogou de igual pra igual, não pode. E o jogo foi 4 a 4.
*Sabe a paralaxe do VAR, citada aqui no texto anterior, aquela supertecnologia da Nasa que fazia com que, segundo o jornal do grupo dono do campeonato, o que fosse visto no vídeo não correspondesse, às vezes, a depender da cor da camisa, à realidade? Sabe o equipamento sensacional que permitiu ver que o gol em impedimento da vitória magra de 1 a 0 do superfla contra a Chape foi, na verdade, legal, e que o gol legal de Werley contra o Corinthians tinha mesmo que ser anulado? Pois o mesmo jornal que falou isso, terminado o campeonato, revelou que não era bem assim, que o equipamento do VAR, na verdade, era obsoleto e que os problemas principais,mais graves, eram, vejam vocês, na linha do impedimento.