sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

É raiz, é inédita, é a Sula


Conmebol: divulgação

Dois apitos básicos, indispensáveis, todos sabem, quando se trata de título deles, sem falar no empurrão no gol decisivo, do super artilheiro dispensado na Europa no zagueiro do River, dois apitos mais um empurrão "na raça", mais a grana toda jorrando e a Liberta, definitivamente, perdeu um pouco de sua graça, abrindo espaço para aquela que hoje realmente importa, a competição mais raiz das Américas, aquela que no Rio ninguém tem, a taça que falta na nossa coleção de títulos continentais, a Sula, querida Copa Sulamericana onde seguimos vivos, adelante y siempre, depois de segurarmos o 0 a 0 fora de casa jogando, no mínimo, como se deve pra garantir a vaga.


Fiel sucessora do Sulamericano de Clubes Campeões de 1948, para todo o sempre o maior de todos os campeonatos, a Taça Libertadores da América, não há como negar, perdeu um pouco de sua aura com a edição do ano passado. A taça difícil de conquistar, para poucos, mítica, ainda mais se vier na semana do Centenário, foi de novo arrebatada simplesmente por la plata, pela grana que jorra de todos os lados dentro dos cofres da Gávea, da tevê levando ao infinito, e além, a diferença entre seu queridinho e o resto, ao desembargador que penhora os recursos do Vasco e libera o dinheiro do “mais querido” na canetada; do Real Madrid pagando de novo os tubos por uma promessa da Gávea, tendo Vinicius Júnior há dois anos tentando, ainda, aprender a chutar, à economia feita até agora com as famílias dos meninos mortos asfixiados, queimados. Tanta grana reunida e o apito dessa vez nem precisou ser circense, espalhafatoso como Wright em 1981. Foi discreto, pontual, no último minuto da ida e no primeiro minuto da volta contra o glorioso Emelec, pioneiro do Sulamericano de 1948, como o Vasco. Dois apitos básicos, indispensáveis, todos sabem, quando se trata de título deles, sem falar no empurrão no gol decisivo, do super artilheiro dispensado na Europa no zagueiro do River, dois apitos mais um empurrão "na raça", mais a grana toda jorrando e a Liberta, definitivamente, perdeu um pouco de sua graça, abrindo espaço para aquela que hoje realmente importa, a competição mais raiz das Américas, aquela que no Rio ninguém tem, a taça que falta na nossa coleção de títulos continentais, a Sula, querida Copa Sulamericana onde seguimos vivos, adelante y siempre, depois de segurarmos o 0 a 0 fora de casa jogando, no mínimo, como se deve pra garantir a vaga.

Parece obsessão, e é, mas vou falar de novo do Sulamericano de 48 pra lembrar que naquela campanha começamos também com uma vitória por um gol de diferença contra um time boliviano, 2 a 1 no extinto Litoral, primeiro campeão nacional da Bolívia. Junta isso com a bola do Oriente Petrolero no travessão no último lance da volta e já temos indícios, sinais aos quais nos agarrar nessa campanha que começou histórica, com a chuva torrencial horas antes do jogo, o engarrafamento de show do U2 e 18.105 presentes quase lotando o Caldeirão de São Januário, entre os quais este aqui que vos fala com dois filhos, um de oito anos e outro de seis, que  percorriam o labirinto de cercas de metal com pés feitos pra tropeçar, pensado por quem é preparado pra tratar gente feito gado, a não ser o patrão, e alugado de quem ganha uma boa grana com isso, corriam os filhos fazendo as curvas a 180 graus com o pai gritando atrás, ‘não tropeça, olha pra baixo!”, quando o Gigante de São Januário urrou, vibrou e o barulho da torcida em festa continuou, barulho já ouvido uma vez fora do estádio, só com o filho mais velho e com Paulinho contra o Universidad Concepcion, barulho de gol em São Januário, gol do Vasco.

Pikachu chutou rente, cruzado, Marrony quase fez um golaço, Werley meteu no travessão, Marcos Júnior também, e antes, no gol mais perdido da partida, na trave. Na volta, Marrony quase fez, de novo, um golaço, evitado pela defesaça do goleiro cagado, que viu a bola de gol de placa de Talles Magno bater caprichosamente no travessão e voltar na mão dele, que defendeu também a bomba de Ribamar e o rebote de Cano, German Cano que fez o gol único de nossa vitória em 180 minutos, emendando de letra trocada, praticamente, o passe primoroso de Talles, tocando cruzado, de leve, só pra desviar do bom goleiro dos caras.

E na transmissão, e depois nas mesas redondas, todos os especialistas falaram que Cano estava impedido, e continuaram falando mesmo após surgir a imagem que mostrava que não era bem assim, que Cano poderia muito bem estar na mesma linha que o último defensor se a medição fosse feita pela tal paralaxe da Nasa e do VAR, que já sumiu do noticiário, mas virou estrela naquela semana em que a mídia especializada teve que explicar a validação do gol em impedimento de Bruno Henrique, fundamental para os três pontinhos da tal campanha espetacular, no 1 a 0 sofrido deles em cima da Chape fora de casa, e a anulação na mesma rodada do gol legal de Werley na mesma linha contra o Corinthians.

Se o gol legal de Werley fosse validado era muito provável que o Vasco ganhasse, e aí o Corinthians, que terminou o campeonato em oitavo, com 56 pontos, cairia pra 53, e o Vasco, que terminou com 49, subiria pra 52. Bastaria que o VAR tivesse atuado no empate claramente acertado pra pagar bem em jogo de aposta contra o CSA em Cariacica, com o juizão deixando de marcar falta pro Vasco na meia lua da grande área pra dar vantagem, depois do zagueiro faltoso bicar a bola que sobrou pra um jogador vascaíno na intermediária. Bastaria não anular o golaço do Pikachu na casa do Grêmio, ou não inventar a falta na escorregada de Gérson pro gol no qual Rafinha previu que o time dele, àquela noite, levaria quatro do Vasco. Bastaria só que a regra do futebol fosse respeitada em um desses casos e o Vasco estaria na pré-Libertadores, mas fomos novamente prejudicados, tantas vezes, pela arbitragem, e quem ganhou a vaga foi o Corinthians, para se tornar o único clube brasileiro  duas vezes eliminado numa pré-Libertadores e virar, para todo o sempre, freguês do Guarani do Paraguai.

O Vasco acabou na Copa Sulamericana onde não tem título, mas tem história. Ou não é história a virada espetacular sobre o Lanús, 2 a 0 pra eles lá e 3 a 0 pra gente em São Januário, com gol no último minuto daquele traíra chamado Leandro Amaral? E a goleada de 8 no Aurora, virando de 3 a 1 pra eles na Bolívia? E o show de Dedé nos 5 a 2 antológicos contra o Universitário do Peru? Tudo história, mas sem taça e esse ano, vou te falar, a Sula tá mais gata. Em 2007 seria a loucura das loucuras ser campeão tendo como craque e técnico, ao mesmo tempo, Romário. Em 2011 estávamos disputando o título brasileiro e sendo roubados contra Figueirense, Palmeiras, São Paulo, Inter e, claro, Flamengo. Em 2018 seria prêmio de consolo e agora, esse ano, jogando ela desde o início, a Copa Sulamericana tá linda, muito mais gata.

Temos estádio, temos Guarin pra entrar no meio-campo e temos história. Somos do único time que já era campeão sulamericano antes de existir a Libertadores, tão íntimo da América que começou sua relação com ela quando não existia taça, assim no feminino, só campeonato, no masculino mesmo, sem o menor problema que aqui é Vasco, e o Vasco agora tá olhando pra Sula achando ela a mais bela das taças, muito, muito gata, e a Copa Sulamericana, que já teve como campeões o Cienciano, o Arsenal de Sarandi, o Pachuca do México e o Atlético Paranaense, deve tá olhando pro Vasco agora como quem diz: é só chegar.  

Pitacos em itálico


Não é mais a paralaxe que validou o gol impedido de Bruno Henrique e anulou o gol legal de Werley na mesma rodada, ninguém mais fala na tal paralaxe, mas no dia seguinte, no mesmo jornal que tinha falado da tal tecnologia da Nasa hoje esquecida, enterrada, estava lá a matéria sobre a nova tecnologia que anulara o gol de Ribamar, esta sim infalível, segundo a nossa mídia especializada, e decidindo, como de praxe, para o mesmo lado.


*O Piauí é Vasco, dizia a faixa na arquibancada lotada do Albertão, no empate com o Altos em 1 a 1 que garantiu a vaga pra segunda fase da Copa do Brasil. German Cano, de novo, fez o gol, o time perdeu outros tantos e o goleiro do Altos, Rodrigo Ramos, teve sua noite de glória aos 39 anos. A mídia caiu de pau, claro, dizendo que o time não jogou nada, certamente muito puta ainda, a mídia, com a cabeçada isolada pelos caras no último minuto, com a não eliminação do Vasco, mas o que importa é que veio a vaga. Mais que isso, o que importa é constatar de novo o tamanho da torcida do Vasco, o quanto estamos espalhados por todo o território nacional, prontos pra lotar um estádio no Piauí, se for o caso, e estender lá a faixa dizendo que o Piauí é Vasco.

*"Torcedores do setor Sul, não joguem bombas!". O anúncio nos altos falantes do Maracanã foi repetido três ou quatro vezes naquela entonação de sempre, logo depois de o VAR atuar novamente a favor do Flamengo no clássico dos times reservas contra o Vasco pela Taça Guanabara. Com um minuto de jogo, Tiago Reis jogou pra área, o zagueirão do mengão se atrapalhou todo e a bola sobrou pra Ribamar que encobriu o goleiro deles com categoria pra fazer 1 a 0, de novo Ribamar contra o flamengo e o VAR dessa vez não deixou, não, atuou. A torcida do Vasco comemorou, a bola foi pro meio e o juizão, antes de autorizar a saída, fez o gesto que ajudou o queridinho da mídia até no Catar no ano passado e esse ano começou ajudando logo contra o Vasco. Gol anulado e, em nome da transparência, o telão mostrou o lance do VAR, mas sem foco e com a bola já tendo saído do pé de Tiago Reis. Não é mais a paralaxe que validou o gol impedido de Bruno Henrique e anulou o gol legal de Werley na mesma rodada, ninguém mais fala na tal paralaxe, mas no dia seguinte, no mesmo jornal que tinha falado da tal tecnologia da Nasa hoje esquecida, enterrada, estava lá a matéria sobre a nova tecnologia que anulara o gol de Ribamar, esta sim infalível, segundo a nossa mídia especializada, e decidindo, como de praxe, para o mesmo lado. A torcida do Vasco se revoltou no Maraca, claro, e o alto-falante ecoou sua mensagem, como quem diz: "vascaínos, por favor, sejam roubados e fiquem quietos, calados". 

*Eu estava no Maraca e o Vasco tinha no time Donato, Mazinho, Geovani, Romário e Roberto, voltando de contusão, mas quem roubou a bola na intermediária e saiu correndo foi o mais improvável dos autores de golaços decisivos em clássicos. Grandalhão, meio desajeitado, Henrique interceptou o passe de um defensor rubro-negro e saiu correndo, deixando pra trás quatro flamenguistas mais preocupados com Roberto, Bismarck e Romário. Henrique foi avançando, entrou na área e tocou entre as pernas do goleiro Zé Carlos. Titular na reta final do Carioca de 87, substituindo Dunga, que fora para a Itália, Henrique se firmou para formar com Zé do Carmo e Geovani o meio-campo bicampeão carioca em 88. O gol dele contra o Flamengo, aliás, foi o primeiro da famosa Quina, as cinco vitórias seguidas em jogos oficiais contra o freguês da Gávea, mais um desses feitos no clássico que só o Vasco tem, como o 7 a 0, a virada no primeiro de todos os jogos, a maior invencibilidade, de seis anos sem perder, a inauguração do campinho da Gávea e tantas outras que a mídia esquece rapidinho. Henrique faleceu esta semana, aos 57 anos. Na foto ele aparece junto com outro colega já falecido, o ex-goleiro Zé Carlos, e aqui fica a homenagem de quem, aos 16 de idade, viu da arquibancada do Maraca, atrás do gol de Acácio, o grande momento do cara, o golaço que decidiu, mais uma vez a favor do Vasco, um clássico contra o rival das papeletas amarelas e, agora,do VAR.

O Vasco, a imprensa e um blog no meio

Vassalo de nobrezas perdidas, a valorizar vitrais e troféus por bom comportamento, entregues por príncipes em nome da fidalguia, o Flum...